Capítulo XIX - Por Pouco.
NOTAS INICIAIS
Oieee, FELIZ ANO NOVO PESSOAL! E vamos de capítulo novo, porque fevereiro já está aí. Boa leitura!!!
CAPÍTULO XIX — Por Pouco.
"Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a pena!"
— Clarice Lispector.
Condado de Oxford, Inglaterra.
Município de Pinewood.
02/07 - Quinta-feira.
10:27 A.M.
A entrada da área administrativa do Instituto Ólympus lembrava uma recepção. Tratava-se de um salão amplo, conectando diversos corredores, que levavam para os departamentos financeiros e logísticos do colégio.
O chão em mármore branco refletia os desenhos gregos pintados no teto, que era muito alto, impossibilitando a visão clara dos detalhes da obra. Neste piso, os sapatos de Kendall Viegas emitiram um som alto. Afinal, além de ser uma bota de salto médio, ela também esforçava-se para bater os pés, atraindo atenção para si enquanto caminhava.
—Isso é um absurdo! — Vociferou. —Eu exijo falar com alguma autoridade, imediatamente!!! — Seu rosto estava vermelho, contrastando pouco com os cabelos ruivos. Fez questão de vestir a camiseta do uniforme, evidenciando-a ao não usá-la em conjunto com nenhuma jaqueta ou outro acessório.
Uma coordenadora, que atuava na parte de metodologia e educação, veio ao seu encontro. Sentiu cheiro de confusão ao longe e, dada a presença de alguns funcionários e personalidades importantes por perto, simplesmente não tinha como deixar uma jovem fazer cena perante a todos.
—Olá, minha cara. — Sorriu cordialmente. —Está com algum problema?
—Se estou com algum problema? — Cerrou os punhos, enfurecida. —Se estou com algum problema?!
Kendall fez uma pausa dramática, respirando fundo algumas vezes.
—Eu estou com TRÊS... — Fez o número com a mão direita. —...Problemas! TRÊS!
A coordenadora, Clarice, suspirou. Quis massagear as têmporas, com a cabeça começando a doer, mas se conteve.
—E quais seriam eles, minha querida? Quer se sentar um pouco, para podermos conversar? — Indicou o conjunto de sofás brancos que formava uma pequena área de convivência na extremidade direita do cômodo. Também havia uma mesa de centro, e um tapete elegante compondo o ambiente.
—Eu não quero sentar coisa nenhuma! — Esbravejou. —Quero providências, agora!
—Não posso tomar providências, se a senhorita não me contar o que está acontecendo... — Lutava para permanecer calma. As vezes, adolescentes conseguiam acabar com a sua paciência.
Kendall precisou esperar um pouco. Olhou em volta, procurando pela dupla de quem deveria chamar atenção, mas não os viu. Foi obrigada a estender a própria cena, jogando no ar mais frases de descontentamento, até que, quando todos os olhos do cômodo já estavam sobre si (para o desespero de Clarice), avistou um homem e uma mulher uniformizados, ambos com boné azul. Eles eram seu alvo: os vigias das câmeras de segurança, saindo para o intervalo das dez e meia.
—Eu falo! — A ruiva esbravejou. —Estava me trocando no banheiro do meu chalé, quando percebi uma surpresa: tem uma câmera dentro do meu espelho!!! Como se não bastasse, vi outra na árvore do lado da janela, completamente virada na minha direção! — Fazia gestos exagerados, voz alta, o escândalo completo. —E a senhora acha que acabou por aí?! Nada disso! Acredite se quiser: procurei, e encontrei uma terceira, dentro do meu guarda-roupas! — Dos curiosos em volta ouviram-se murmúrios e exclamações de indignação. —Tentei arrancar aquelas porcarias com todas as forças, mas não adiantou! Não adiantou nadinha! Disse e repito: exijo providências!!!
Clarice se mostrou perplexa por um instante. Aquilo não tinha como ser verdade, jamais fariam, ou admitiriam, algo do gênero dentro do campus. Só a menção àquela hipótese era capaz de levar a investigações, processos, uma infinidade de burocracia e prejuízo.
Os dois vigilantes das câmeras, que também pararam para assistir a cena, se entreolharam, confusos, e em pânico. Eram eles quem instalavam, monitoravam e faziam a manutenção de todo e qualquer aparelho de segurança do colégio. Sabiam que se algo do tipo realmente estivesse acontecendo, levariam a culpa pelo ocorrido, mesmo caso fosse obra de algum outro pervertido.
—Acalmem-se, acalmem-se... — Clarice apaziguou os ânimos da plateia. —Tenho certeza de que não passa de um mal entendido. — Arrumou os óculos no nariz comprido, desconfortável. Lidar com aquele problema não estava em seus planos, mas precisaria mudar de rota perante o imprevisto. —Vocês dois! — Avistou os dois vigias observando a situação, e olhou-os com desaprovação imediatamente. —Vamos agora mesmo tirar isso a limpo!
Kendall manteve a expressão furiosa na face, mas estava satisfeita por dentro. Foi mais fácil do que imaginava.
Enquanto isso, disfarçados entre os telespectadores da confusão, Mackenzie e Blake trocaram olhares secretos. Teriam o tempo de Viegas ir e voltar com o trio para invadir o departamento de contabilidade, e explorá-lo o máximo possível. Kendall não sabia exatamente o que a dupla aprontaria, isso não lhe foi confidenciado, mas sua afeição por Blake era o suficiente para apoiá-lo, independente da situação.
Mackenzie olhou em volta, observando as câmeras nas paredes, e notando como, uma após a outra, as luzes vermelhas que indicavam estarem ligadas se apagaram. Era o último sinal que precisavam para começar a ação: o caminho estava livre.
Até o momento, ela e Blake chegaram ali por trajetos separados, levantando o mínimo de suspeitas possível. Mas agora a loira se juntou a ele, caminhando apressadamente. Sem dizer nada, indicou que a seguisse.
Mackenzie vestia seu uniforme, e torcia para não serem parados. O vigia subornado cobrava cada vez mais alto pelos serviços e, embora estivesse disposta a pagar o quanto fosse necessário, não saberia que desculpas mais usar para pedir dinheiro extra aos pais. Aquela seria a única chance de ação, pelo menos por um bom tempo.
Com os corações acelerados, adentraram os corredores acarpetados que ligavam diversos departamentos. A vontade era de correr para economizar tempo, só que ainda encontravam alguns adultos pelos arredores, e a alta velocidade levantaria suspeitas. Andando rápido, mas como quem não queria nada, facilmente eram ignorados pelos executivos e executivas atarefados.
A loira, então, tirou um elástico do pulso e começou a prender os cabelos em um coque mal feito, bastante baixo.
—O que está fazendo?! — Blake inquiriu.
—Se eu prender o cabelo, e alguém ver a gente, não vão conseguir saber qual o comprimento dele. Qualquer coisa para disfarçar vai ajudar agora.
Pensando nisso, o rapaz tirou um boné amassado de dentro da própria mochila. Sabia que precisaria descartá-lo posteriormente, mas valia a pena a tentativa de proteção.
—É ali! — Finalmente avistou a entrada do departamento de contabilidade. Conforme se aproximavam do destino, suava em adrenalina.
A porta comportava um pequeno detalhe em vidro, dando visão para o seu interior. Diferente dos demais departamentos, o de contabilidade possuía duas salas: uma para armazenamento de arquivos, e outra para o trabalho dos contadores. Portanto, sabia-se que a de armazenamento costumava estar vazia, já que o trabalho real era feito no salão ao lado.
Pelo menos, era o que esperavam.
Mas, daquela vez, estavam errados.
Quando Mackenzie espiou o interior do cômodo, levou um susto ao encontrar Kevin Lamarth, um dos contadores, remexendo a papelada.
—Tem gente ali! — Se esforçou para conter o tom de voz, puxando Blake para o lado.
—E agora?!
—Não sei!
Blake pensou rápido. Cada segundo importava, diante do fato de que Kendall poderia voltar a qualquer momento. Ambos traziam mochilas, nas quais carregavam pertences potencialmente relevantes para a missão, como as chaves do departamento, mas na de Torrance também havia outra coisa: uma câmera. Ele a agarrou, e passou para as mãos da comparsa.
—Escuta, você tem que filmar enquanto procura. Pode ser pouca coisa, mas precisamos de provas visuais de que o material foi tirado daqui, para o documentário. — Mackenzie parecia muito confusa, alternando a visão entre o rapaz e o aparelho que este o entregou. —Eu vou levar esse cara pra longe daqui!
—Que?!
—Enquanto ele estiver comigo, você entra, filma, absorve o que puder, e sai. Precisa filmar com a câmera, para eu poder passar o cartão de memória pro meu primo. É o único jeito.
—Mas aí vamos... Vou, ter bem menos tempo! Não foi isso que planejamos! Como eu vou saber se a Kendall estiver voltando?! Ela te disse que ia mandar mensagem pra você!
—Fica com o meu celular! É um novo plano! — Entregou-lhe o telefone, e segurou nos ombros dela. Os corações acelerados quase se faziam escutar em alto e bom som. —Eu sei que não vai rolar como pensamos, mas não podemos desperdiçar essa chance!
A loira engoliu em seco, e assentiu. Ele tinha razão.
—Você consegue. — Blake assegurou, passando uma das mãos para a nuca dela. —Me encontra naquela estufa, em uma hora.
Sem perder mais tempo, Torrance desvencilhou-se da amiga, pedindo para que ela se afastasse alguns metros.
Observando-o, Mackenzie foi até o final do corredor, de onde espiaria disfarçadamente. A sensação de desespero perante uma mudança de rota repentina lhe causava náuseas, mas precisava manter a cabeça no lugar. A parte principal do plano, agora, estava em suas mãos.
Blake bateu três vezes na porta do departamento. Quando foi notado por Kevin, deu um sorriso torto, e acenou. Suas mãos tremiam e, para encobrir esse fato, cruzou os braços assim que pôde.
Kevin, que era alto, corpulento e meio calvo, foi uma visão assustadora de se ter naquele contexto. Ainda mais com a cara amarrada que adotou imediatamente ao ser incomodado. Ele saiu da sala, e Blake logo enrolou-o com uma conversa fiada de estar perdido pelos corredores (o que, pensando bem, era verdade, pois não fazia ideia de como sair dali sozinho). Disse que Kevin era o primeiro adulto que encontrava, que os outros, ocupados, não lhe davam ouvidos, e perguntou se não seria possível que o homem o guiasse de volta para o salão de entrada.
O contador relutou, mas percebeu a camiseta do PHS no jovem, e lembrou de um comunicado recebido por todos os funcionários, sobre o quanto era essencial ajudarem os convidados, serem receptivos, e blá blá blá. Resolveu colocar a tal ordem em prática, mesmo à contragosto. Assim, tirou uma chave do bolso, trancando a porta atrás de si, e foi para o lado oposto ao qual Mackenzie se escondia, guiando o suposto estudante desorientado.
Mackenzie não perdeu tempo e, quando a dupla sumiu de vista, correu em direção à porta. Agarrou a chave em sua mochila, destrancou-a, e se colocou imediatamente para dentro do cômodo, abaixando. Precisaria andar curvada, com os joelhos dobrados, para não ser vista pelo visor. No interior da sala, sua primeira atitude foi procurar as câmeras em volta. Encontrou oito. O que quer que guardassem ali, era de grande valor para o Instituto. Felizmente, todas pareciam desligadas.
Na sala de dança, antes de irem para ação, Blake a ensinou como ligar e usar a filmadora, mas muito rápido, apenas distraindo-os durante o tempo ocioso. Não foi difícil entender como acioná-la, felizmente. Porém, só depois de fazer isso Mackenzie finalmente percebeu o que a cercava, e desesperou-se: Eram caixas e mais caixas, gavetas e mais gavetas, estantes e mais estantes, infinitos compartimentos de arquivos. A quantidade de livros de contabilidade e documentos armazenados ali era imensa.
A logística era fácil de compreender, com todas as seções numeradas por data, e as pastas em ordem alfabética, mas tinha muita coisa ali, de qualquer jeito. Enquanto pensava em como começar, Mackenzie filmou os arredores, prestando atenção em onde conseguiria encontrar algo relevante. Então, chegou até a área em que estavam as documentações daquele ano.
Apoiou a filmadora na estante, e pegou uma pasta, do mês de abril. Assim que a folheou, percebeu que a linguagem técnica não era fácil de se compreender. Algumas frases até foram escritas em outras línguas. Pensou rápido e soube que, por mais que isso pudesse encrenca-los, não teria escolha: precisaria furtar alguns documentos, e analisá-los com calma posteriormente. Já havia ponderado a possibilidade com Blake, e concordaram em evitar de colocá-la em prática se possível. Só que com o tempo tão apertado, essa seria a única forma de realmente encontrar informações incriminadoras.
Seu pensamento seguinte foi cirúrgico: como ali acharia materiais de diversos anos, e não teria forma de tirar muitos do lugar sem gerar suspeitas, manteve os arquivos de abril consigo, e pegou mais sete outros, de anos distintos. O que procuravam provavelmente seria difícil de encontrar, mas se achassem um padrão suspeito entre as finanças, algo inocente poderia mostrar-se muito incriminador. Guardou tudo em sua mochila, e filmou os arredores por mais um instante. Antes de sair do cômodo, encarou as câmeras uma última vez. A luz vermelha permanecia apagada.
Quando saiu da sala, e trancava a porta, ouviu uma voz grave:
—Ei! O que você está fazendo?! — Era Kevin, no final do corredor.
O primeiro instinto da garota foi cobrir seu rosto, mirando o outro lado. Então, correu. Acelerou o máximo que seus tênis brancos permitiram, e agradeceu aos céus por tênis brancos serem os calçados mais comuns daquele colégio, já que combinavam tão bem com o uniforme. Os cabelos presos também vieram a calhar: se Kevin tentasse reconhecê-la, teria grande dificuldade. Mas ele soube disso, e portanto começou a persegui-la.
Mackenzie corria e era bem mais rápida, porém não tinha tanta experiência pelos corredores do setor administrativo quanto gostaria, principalmente agora que não pôde voltar pelo mesmo caminho que veio. Escutava Lamarth correndo logo atrás, gritando para que ela parasse. A loira temia que a fuga chamasse atenção de outros funcionários ou seguranças, o que definitivamente triplicaria seus problemas. Precisava despistá-lo rápido.
Logo, finalmente se situou da própria localização. Reconhecendo os arredores, acelerou mais ainda, agora sem precisar de tempo para raciocinar o caminho.
Quando estava quase alcançando o último corredor, não escutou mais o homem lhe perseguindo. Provavelmente, o cansou. Para certificar-se disso, olhou por cima dos ombros, e realmente não o viu. Quase se sentiu aliviada, mas não teve espaço para tanto.
Pois, ao mesmo tempo que não encontrou Kevin, outra coisa chamou sua atenção.
Uma luz vermelha.
Todas as outras estavam apagadas... Mas pôde jurar que viu uma câmera ligada.
[...]
—Você tem certeza, certeza absoluta?! — Blake questionava, andando de um lado para o outro em aflição. Mackenzie já havia lhe contado todo o ocorrido, desde o roubo, até a perseguição e seu final infeliz. Também devolveu seu celular e câmera ao rapaz.
—Quase, só que não dá pra arriscar! — Enquanto ele se movia, ela permanecia estática. —Se tinha uma câmera ligada, já era! E eu ainda fui estúpida, olhei direto para ela!
—Mas não faz sentido! Por que o cara deixaria uma única câmera ligada?!
—Talvez ele tenha esquecido daquela, e se forem procurar pelas imagens, vai ser justamente a única que vão encontrar!
Quando escapou do departamento administrativo, controlando a própria velocidade e imediatamente soltando os cabelos para não ser reconhecida, Mackenzie foi direto até a estufa. Cinco minutos após ter chegado, recebeu a mensagem de Kendall, avisando estar retornando com os vigias. Odiava admitir, mas a ruiva fez um excelente trabalho, mantendo-os longe por tanto tempo. Nada que obrigar os três a procurar por longos minutos as tais câmeras escondidas não resolvesse.
Não demorou também para Blake dar as caras, ansioso pelo desfecho da perigosa empreitada. Porém, era impossível focar nos arquivos roubados, já que a perseguição de Mackenzie soava muito mais urgente. A análise dos furtos teria que ficar para depois.
—O que a gente faz agora?! — Blake inquiriu, enquanto olhava em volta e começava a passar as pastas para dentro da própria mochila. Ao final, guardaria também a bolsa de Mackenzie dentro dela, anulando as chances desta ser reconhecida.
—Bom, não posso ser vista contigo de jeito nenhum... — Constatou. —Porque aquele cara definitivamente te viu, e se ele te ver com uma garota loira, pode ligar alguns pontos...
—Faz sentido...
—Vamos ter que nos encontrar cem por cento em segredo agora. Pelo menos, isso já íamos mesmo, não dá para ficar brincando por aí com essas pastas... — Indicou os papéis que o rapaz transportava de uma mochila para outra.
—Se formos descuidados, vai dar uma merda gigantesca. Eles vão procurar essas porcarias até no inferno, principalmente caso realmente tenha algum esquema ilegal aqui.
—Tem, pode acreditar. Não sei o que vamos encontrar, mas alguma coisa tem. Aquela sala nem era muito grande, e eu contei oito câmeras. Oito. Se é que não tinham mais... Com certeza estão escondendo algo. — Suspirou, convicta. —Pelo menos aquelas estavam todas desligadas.
Blake finalizou sua tarefa, e colocou a bolsa por trás dos ombros.
—Vamos esperar. — Disse ele. —É o que resta agora, esperar a poeira baixar um pouco. E torcer para não te procurarem.
[...]
"Merda." — Pensou Mackenzie, encarando a alta mulher uniformizada à sua frente.
Mais cedo, a loira saiu da estufa primeiro, e Blake avisou que deixaria o recinto algum tempo depois, na companhia de outro colega. Ambos concordaram com a ideia de o rapaz tomar conta da papelada, já que os seguranças precisariam de mais motivos para invadir o dormitório dele do que o dela, visto toda a política de bons anfitriões que o Instituto tentava impor aos funcionários. Assim, ela foi até seu dormitório, onde se fechou, ainda em choque diante de todos os recentes acontecimentos. Felizmente, Vanessa estava fora.
Trocou de uniforme e calçados, jogando tudo atrás do próprio guarda-roupas, e penteou os cabelos até que não restasse um vestígio de que estavam presos
Não demoraram duas horas de paz até ela, ainda no quarto, ser intimada por uma segurança a comparecer na Coordenação Estudantil do Instituto.
Agindo com a maior naturalidade, perguntou do que se tratava. A funcionária não teve permissão para dizer, então Mackenzie apenas sorriu, e a acompanhou. O caminho foi um tormento. O tempo todo se controlava para não suar, ou aparentar nervosismo.
Como o contador foi capaz de identificá-la tão rápido?! A câmera, com certeza. Certamente que, como imaginava, ele teve acesso às imagens.
Porém, todas as suas convicções e medos foram desestruturados ao chegar até a Coordenação. Pois, na sala de espera, haviam dezenas de garotas loiras. Todas uniformizadas, aparentemente confusas, e algumas impacientes. Tirando os cabelos dourados, mais ou menos escuros, todas tinham particularidades, fossem suas estaturas, a ondulação dos fios, entre outras coisas.
A Coordenação Estudantil reunia as salas de todos os coordenadores, além das salas dos professores, do vice-diretor e da própria diretora. As meninas ali presentes aguardavam para, aparentemente, adentrar o escritório do Coordenador de Segurança. Mackenzie foi instruída a sentar-se ao lado de uma delas, e logo perguntou:
—Oi! Você sabe porque chamaram a gente? — Se manteve simpática, e desentendida, embora em pânico.
—Não faço ideia, amiga. Estão dizendo pras meninas que saem da sala não falarem com a gente... Parece que só vamos descobrir quando entrarmos. — Ela, que usava óculos redondos e mascava chicletes, não se mostrava preocupada com a situação.
—Eu acho que tem a ver com alguma campanha publicitária! — Outra comentou, esperançosa. —Só tem loiras aqui, aposto que querem escolher uma aluna para fazer outdoor, algo assim!
—Seria um sonho... — Uma terceira respondeu.
—Não sejam burras. — Bufou a quarta, impaciente. —Não fariam a gente perder tanto tempo com uma bobagem dessas. Se fosse qualquer tipo de campanha, teriam colocado alguma inscrição, anúncio, sei lá, não convocado esse monte de gente atoa.
—Acho que só podemos esperar, agora. — Mackenzie tentou apaziguar a situação, com medo do sorriso estar muito forçado.
Temendo transparecer a aflição, puxou mais papo com as demais. Falava descontraidamente, fingindo ignorar o fato de que, quando seu nome fosse chamado, talvez seu destino estivesse fadado ao desastre. No mínimo outras quatro meninas chegaram ao recinto após ela, e todas aguardavam pela própria vez. Finalmente, a presença de Mackenzie foi solicitada.
Ela levantou do assento, e respirou fundo. A garganta secou imediatamente, e o coração não demorou a acelerar. Não podia suar. O dia estava fresco, mas o suor certamente seria um grande indicador do seu nervosismo perante a culpa.
Jogou os cabelos por cima dos ombros, e seguiu outro funcionário até a sala do Coordenador de Segurança. O homem abriu a porta para ela, revelando no interior do cômodo um ambiente bem mobiliado, iluminado e tranquilo. Talvez fosse algum tipo de estratégia para fazer os incriminados de algo sentirem-se seguros o suficiente para confessar. Mas Mackenzie não o faria. Não podia.
Sua visão embaçada, por conta do estresse, a fez perceber aos poucos quem estava dentro do local. Congelou um sorriso no rosto enquanto, por alguns segundos, notava o Coordenador de Segurança, a Coordenadora Social e um assistente, que tomava notas em uma prancheta. Também viu a diretora, Athena. Todos os adultos tinham no rosto expressões serenas, com exceção de um...
O contador, Kevin Lamarth. Ele a analisava friamente, até uma voz dizer:
—Essa, como alguns devem saber, é minha irmã, Mackenzie! — Jacob surgiu da lateral da sala, fraternalmente tocando os ombros da mais nova.
Mackenzie ainda não o havia percebido. Mas fazia todo sentido: qualquer assunto envolvendo má conduta de estudantes era também endereçado ao Presidente do Grêmio Estudantil.
—Olá! — Ela alargou o sorriso, e fez um gracejo com as mãos.
—Sua irmã? — O semblante de Kevin iluminou-se imediatamente. —Ainda não tive oportunidade de conhecê-la pessoalmente! — Sorriu também, e levantou-se da cadeira, estendendo a mão para a garota, que aceitou o cumprimento de bom grado. —Kevin Lamarth, muito prazer!
—O prazer é todo meu! — Se forçou a não demonstrar o mínimo desconforto, mas, agora, o coração acelerou mais do que nunca.
—Sente-se, querida. — Athena pediu cordialmente, indicando uma poltrona.
Todos os demais se encontravam sentados atrás de uma mesa comprida, à frente da jovem. Apenas Jacob permaneceu em pé, próximo à irmã.
—Imagino que esteja se perguntando o motivo de estar aqui. — A diretora prosseguiu. —Vou deixar que nosso Coordenador de Segurança explique o caso.
O Coordenador, Ernesto Davis, foi colocado ao centro da comitiva, com um crachá dourado em seu peito indicando o próprio nome.
—O Sr. Lamarth identificou uma pessoa tentando invadir o Departamento de Contabilidade. Infelizmente, uma falha na segurança está dificultando o acesso às imagens das câmeras... — A frase foi dita com pesar, e amargor. —E não podemos esperar muito tempo para identificar quem era a infratora. Portanto, convocamos todas as alunas que se encaixam no perfil descrito pelo Sr. Lamarth, para que ele faça um possível reconhecimento.
—Deixamos claro... — Começou a Coordenadora Social, Eva Taylor. —Que a Srta. não está sendo acusada de nada.
—Obviamente que não! — Kevin intercedeu. —Mas o justo foi convocar todas as estudantes loiras, que foi a única coisa marcante sobre a jovem que vi.
—Entendo perfeitamente. — Mackenzie continuava a personificação da doçura.
—Fique em pé, por favor, para que o Sr. Lamarth possa fazer o reconhecimento. — Ernesto solicitou.
Quando a loira estava prestes a obedecer, Kevin interferiu:
—Não é necessário, obviamente que a Srta. White não estaria envolvida em algo dessa natureza. — O homem, muito afeiçoado à Jacob, jamais conseguiria ver alguém do mesmo sangue com maus olhos.
—Também imagino que não, mas é justo que o prosseguimento padrão seja seguido por todas. — Athena insistiu.
Em outras ocasiões, a postura justa e ética da diretora teria despertado admiração em Mackenzie. Mas agora, ela precisou se esforçar para não demonstrar asco ao encará-la.
Então, Mackenzie se levantou, e foi orientada a dar alguns passos para trás, para que pudesse ser melhor vista. Discretamente, trocou olhares com Jacob, e percebeu que, embora a postura perfeitamente tranquila estivesse ali, aquela habitual veia que saltava em sua testa durante situações de tensão dava as caras.
—Aproveitem para notar como somos "muito" parecidos... — O rapaz brincou, fazendo alusão ao fato de terem puxado lados totalmente distintos da família. Os adultos presentes deram risos contidos, sempre deleitados pelo comportamento do rapaz.
—Eu vejo uma semelhança! — Kevin sorriu. —E, naturalmente, nada de familiar nessa jovem, além disso. — Constatou. —Tenho certeza de que a infratora que procuramos era mais alta, e tinha cabelos mais escuros.
—Ufa, fico aliviado em saber! — Jacob se aproximou da irmã mais uma vez. —Foi por pouco, em mocinha? — Tocou seus ombros mais uma vez, sorrindo. —Eu é que não queria explicar essa história para os nossos pais!
Os adultos riram outra vez. Mackenzie, também rindo de leve, encarou o irmão nos olhos e percebeu como ele, sem dizer uma palavra, a encorajava a copiar seu comportamento.
—Quem dera tivesse tempo para sair explorando departamentos... — Começou ela, brincando. —Daria tudo para ter essa folga!
Os adultos continuaram sorrindo, encantados.
—É verdade! — Jacob prosseguiu. —Sem querer me gabar, mas essa aqui é a capitã do Time de Torcida! — A abraçou de lado. —Até eu me surpreenderia de ver ela aprontando algo, para variar, ao invés de ficar enfurnada no ginásio por tantas horas!
Pela última vez, o grupo riu. Mackenzie os acompanhou, mas sentia uma náusea forte. Tinha medo de vomitar, tamanha sua aflição. Percebia os esforços do irmão para que gostassem dela, e agradecia muito por Jacob ser quem era. A adoração dos adultos por ele caiu como uma luva naquele cenário, e seu comportamento plástico fazia total sentido perante o contexto.
—A liderança está no sangue! — Kevin sorriu. —Bom, tudo certo por aqui, então. Sentimos muito pelo inconveniente, Srta. White.
—De modo algum. — Sorriu, sem mostrar os dentes. —Fico feliz pelo trabalho sério que estão fazendo. Espero que encontrem logo a infratora. — Dito isso, o corpo esquentou. Não podia suar. Simplesmente não podia.
—Encontraremos. — Ernesto garantiu, para o seu desespero. —E, assim como pedimos para as demais, instruímos que a Srta. não comente sobre esse ocorrido com outros estudantes.
—Pode deixar. — Garantiu. —De forma alguma pretendo atrapalhar a investigação. Se precisarem de algo que esteja ao meu alcance, também estou ao dispor.
—Obrigada, querida. Está liberada. — Athena dispensou-a.
Mackenzie, sorridente, se despediu de todos, inclusive do irmão, para quem lançou um olhar extremamente grato. Enquanto fechava a porta atrás de si, ouviu a comitiva comentar sobre o como ela era tão encantadora quanto Jacob.
Então, com a postura mais tranquila que pôde, atravessou o corredor, notada pelas outras meninas que seriam entrevistadas em seguida.
Quando chegou ao final deste, uma gota de suor escorregou pela lateral da sua testa.
E ela a limpou no mesmo instante com as costas da mão, apertando o passo.
[...]
Era tarde, após o almoço, e Mackenzie não conseguia parar de pensar na câmera que viu ligada. Eles disseram estar com problemas para acessar as imagens, mas tinha consigo que não podia simplesmente confiar na palavra de um vigia corrupto, que certamente a entregaria caso fosse colocado contra a parede, e ameaçado de demissão.
Estava no próprio dormitório, andando em círculos, quando Vanessa adentrou o cômodo.
—Kenzie, tem uma menina querendo falar contigo... — Avisou, com cara de poucos amigos.
Franziu o cenho, e foi até o corredor. Chegando lá, deparou-se com Kendall, encostada de lado em uma das paredes.
—O Blake pediu pra eu te procurar, e avisar que ele está te esperando na sala de música. — Disse, e se retirou sem delongas.
Mackenzie não teve tempo de agradecer o recado, ou a distração feita pela manhã, e Kendall também não mostrou fazer questão de tanto.
Assim que chegou na sala de música, ela encostou a porta, logo dizendo:
—Acho que sua amiga não gostou de ser pombo correio... — Tentou descontrair.
Quando a viu, Blake, sentado no piano, iniciou uma melodia.
—Senta aqui do meu lado. — Disse, com um sorriso que a garota não entendeu. Ainda sim, ela se juntou a ele. —Aqui tem câmeras. — Usava um tom baixo. —A música vai disfarçar nossa voz nos microfones. Foi sorte eu conseguir agendar a sala em cima da hora...
—Entendido.
—Sobre a Kendall, é verdade. Acho que precisamos sim enviar mensagens um para o outro... Mas não vou adicionar seu contato, nem você o meu.
—E temos que excluir os recados logo em seguida.
—Isso. — Respirou fundo. —Está rodando por aí que um monte de loiras foram chamadas pela coordenação. O que aconteceu? Detalhes.
—Estão com problemas para acessar as filmagens. Então, aquele contador, o nome é Kevin, estava tentando reconhecer quem ele viu. Por isso chamaram todas as loiras desse lugar para serem avaliadas.
—E ele não te reconheceu?!
—Não... Meu irmão estava lá, e fez a mágica dele. Os adultos se dobram quando Jacob está por perto. E é por isso que acho que ele pode nos ajudar.
—O que? Você sabe que vai acabar mal se sairmos contando para um monte de gente.
—Eu sei, eu sei... E definitivamente não quero envolver ele nisso.
—Então do que exatamente você fala quando diz que ele pode nos ajudar?!
—De que eu não vou conseguir descansar enquanto não tiver certeza de que todas as imagens das câmeras sejam inexistentes. E tinha uma ligada.
—E você acha que seu irmão pode fazer alguma coisa a respeito?
—Não sei. Mas estamos sem ideias, e ele sabe mais a respeito do caso do que qualquer um de nós, já que foi arrastado para a situação por ser Presidente do Grêmio. Só que não precisamos contar nada sobre a investigação, digo apenas que fui eu quem estava no departamento, e que preciso de ajuda pra encobrir.
—Ele vai fazer perguntas...
—Não, não vai. Se eu disser que é melhor não saber, vai confiar em mim. E nesse caso, é realmente melhor ele não se envolver, nem desconfiar de nada.
[...]
No momento em que Mackenzie pisou na sala do Coordenador de Segurança, Jacob soube que algo estava errado. Os adultos, sem conhecê-la, não notaram a postura defensiva que esta tentava mascarar. Mas ele a lia como ninguém, e isso não saiu da sua mente durante o reconhecimento de todas as outras jovens. Ao término da tentativa de encontrar a culpada, tarefa da qual se viu obrigado a participar por seus deveres como líder estudantil, quis falar com a irmã de imediato.
Coincidentemente, não demorou para que ela lhe enviasse uma mensagem, pedindo que a encontrasse na sala de música. Lugar incomum, visto que nunca a viu por lá, o que tornou as circunstâncias ainda mais suspeitas.
Chegando ao cômodo, escutou música preenchendo-o.
—Jake, que bom que veio... — Ela o cumprimentou com um abraço apertado. —Blake, esse é o meu irmão, Jacob. Jacob, esse é meu amigo, Blake.
Blake, que tocava o instrumento, torceu o tronco para encará-lo e lhe cumprimentar com um aceno de cabeça.
—Prazer. — O rapaz disse, sem parar de tocar.
—O prazer é meu... — Respondeu, confuso.
Notando que o outro usava o uniforme do PHS, soube que talvez precisasse vestir sua atitude de Presidente do Grêmio Estudantil. Mas o teor do cenário ainda lhe era muito estranho para ter certeza.
—Ele vai continuar tocando enquanto conversamos. Precisamos fingir que eu estou te mostrando ele tocar, para que você, sei lá, reconheça o talento dele e faça alguma coisa. — Explicou, parando ao lado do irmão.
—Mackenzie, o que está acontecendo?
—Me escuta, e vai sorrindo hora ou outra. Evita olhar para mim, só encara ele tocando.
—Assim eu fico tímido. — Brincou Blake, tentando aliviar a tensão.
—Era você. — Jacob ligou os pontos, rápido. —Estamos fazendo isso para as câmeras não gravarem nossa conversa, a música vai encobrir o som. E você vai me dizer que foi você quem tentou invadir o departamento de contabilidade. — Sorriu de leve, agindo de acordo com o plano.
Mackenzie ficou em silêncio por um momento, deixando-o digerir a situação, e vendo-o o fazer com uma postura impecavelmente tranquila, embora a veia na testa já desse seus primeiros sinais de aparição.
—Com o que estava na cabeça?! — Repreendeu-a. —Tem ideia das consequências disso se descobrirem que foi você?! Vão te expulsar. Nós três, provavelmente, porque eu e o Levi com certeza seremos arrastados junto. Todo mundo da coordenação está furioso.
—Eu sei. Mas era importante, e por isso...
—Não, não sabe. — Interrompeu-a. Respirou fundo, alargando o sorriso e agora a encarando. —Não sabe, Mackenzie. Nunca te vi fazer algo tão estúpido. Se me disser que fez uma cagada dessas por causa de alguma festa, ou coisa idiota do tipo...
—Não foi nada disso.
—Então o que foi?!
—Eu não posso dizer. Jake, confia em mim. O motivo vai além de muitas coisas que você sabe. Mas não posso te contar, porque é melhor você não se envolver. — Ele precisou de muito esforço para disfarçar a perplexidade, mas conseguiu. —Você mesmo disse: nunca me viu fazer algo tão estúpido. Sei que é um choque agora, mas precisa entender que eu jamais faria algo assim, que colocasse o futuro de nós três em risco, se não fosse por um motivo realmente grave.
—Mas meu deus, que tipo de motivo é esse?!
—Do tipo que pode colocar gente na cadeia. — Respondeu, agora também sorrindo, firme. —Por isso você não pode se envolver.
Jacob voltou a encarar Blake, com a mente trabalhando a milhão por hora.
—Mackenzie, se é algo tão sério assim, você também não deveria estar envolvida. E quem é esse cara? — Indicou o pianista com a cabeça. —Foi ele quem te meteu nisso?!
—Mais ou menos. Eu me meti sozinha, porque alguém precisava se meter. — Suspirou. —Você sabe que tem coisas que eu simplesmente não consigo ignorar. E dessa vez, ficaria doente se tentasse. Blake e eu estamos juntos no caso.
—Caso... Caso! — Continuava, preocupado. —Você tem dezessete anos, não era para estar metida em caso nenhum!
—Eu sei. — Insistiu. —Não tive escolha. Uma hora você vai entender, mas por enquanto precisa confiar em mim.
Jacob soltou o máximo de ar dos pulmões que pode. Uma leve dor de cabeça incomodou suas têmporas, e a vontade de massageá-las para dissipar parte da tensão foi quase incontrolável. Mas sentia as câmeras atrás de si, e todos os anos costumando-se a ser vigiado por adultos o moldaram capaz de atuar em situações como aquela. Assim, apenas soltou os braços ao lado do corpo, tirando as mãos dos bolsos, e mais uma vez mirou a garota ao lado.
Mackenzie podia ser impulsiva, mas não burra. Também não costumava ser desleixada, já que em questão de calculismo eram bastante parecidos. Acreditou que ela de fato conhecia os riscos da situação em que se meteu. Sabia da gravidade de invadir um departamento repleto de documentos importantes, de altíssimo valor para a mídia, por exemplo, que adorava expor os gastos exagerados de locais como aquele. Mais ainda: que a garota tinha ciência de que se envolveu em algo que, nas suas próprias palavras, estava relacionado a algum tipo de crime. O que quer que fosse, claramente era uma situação de extrema gravidade, e ela, ciente, ainda sim posicionava-se firmemente a favor de permanecer envolvida.
Como filho primogênito e responsável, Jacob sabia que o ideal seria tentar ao máximo convencê-la a se afastar daquilo tudo enquanto podia. A se proteger, proteger os irmãos, e o nome da família. Mas, como o irmão mais velho dela, alguém que a conheceu no berço, cresceu ao seu lado, sabendo de todos os seus traços de personalidade, características, hábitos e ambições, o rapaz entendia que mesmo se tentasse afastá-la, não conseguiria. De que ela, no máximo, continuaria envolvida no problema, mas pelas suas costas, por mais que odiasse mentir para ele. E de que o senso de julgamento dela era dos mais apurados. Se Mackenzie se dizia incapaz de ignorar a dita situação, e acreditava ser uma força essencial para resolvê-la, Jacob confiaria nela. Mesmo que todos os seus ideais responsáveis suplicassem pelo contrário.
—Eu confio em você. — Suspirou, finalmente. —Mas por que está me contando tudo isso, se eu não posso saber do que se trata?
—Porque preciso da sua ajuda. O que exatamente está acontecendo na coordenação?
—Como eu disse, eles estão furiosos, e desesperados para descobrir o que aconteceu. — Contou, trocando o apoio das pernas, agora fitando a nuca de Blake, que apenas escutava o diálogo. —Nunca vi uma comoção tão grande em volta de um caso de "vandalismo", como estão chamando... A propósito, já perceberam que você roubou algumas pastas. Estão computando quais.
—Certo. E a identificação que tentaram fazer?
—Não deu em nada. Acho que por ser minha irmã, conseguiu despistar eles. Estão cogitando ter sido alguém de fora... Alguém que conseguiu o uniforme de algum jeito, e usou para se disfarçar.
—Isso é perfeito. — Blake comentou, pela primeira vez. —Seria o melhor jeito de saírem da nossa cola.
—Não tão perfeito, se aquela maldita câmera funcionar...
—Tem isso. Eles estão tentando arranjar as imagens das câmeras de qualquer jeito, mas estão com problemas. — Jacob acrescentou. —Mas que câmera? Você subornou aquele mesmo cara, não foi?
—Sim.
—Imaginei. Ele está tentando encobrir o caso, não deixa ninguém ver imagem nenhuma de hoje, de nenhum local. Até porque, soaria como um suspeito se perceberem que ele desligou as câmeras daquele exato departamento, no mesmo horário que o Lamarth disse ter te visto. Se descobrirem o que ele fez, além de ser demitido, vai direto pra cadeia.
—Acho que a determinação dele não vai conseguir me ajudar por muito tempo... — Uma onda de aflição lhe arrepiou a pele. —Eu vi uma câmera ligada.
—O que?!
—É, foi muito rápido, mas tenho quase certeza do que eu vi.
—Merda... — Jacob quase passou as mãos pelo topete, nervoso. —Se eles só te vissem andando pelos arredores, ainda não teriam como formular uma acusação concreta, mas se tiver alguma imagem direta de você dentro da área administrativa...
—Fugindo, ainda por cima. Eu realmente estaria fodida.
Jacob engoliu em seco, enquanto pensava em possíveis soluções.
—Essas imagens precisam sumir. Todas, do dia inteiro, de todos os lugares. — Constatou ele.
—Exato, eu também acho. Mas não faço ideia de como fazer isso, sem virar uma bola de neve.
Ele bufou, e disse amargamente:
—Eu sei como.
Precisavam de alguma forma de se infiltrar na sala de segurança, e deletar todas as filmagens daquele dia, sem serem descobertos.
E existia só uma pessoa capaz de entrar e sair, sem ser vista. De driblar câmeras, seguranças, e qualquer tipo de obstáculo, sorrateiramente. De possibilitar o impossível, e sair ileso.
Precisavam de Jesse Evans.
NOTAS FINAIS
E cá está o primeiro crossover de 2022: Mackenzie, Blake, Jacob e... Jesse. Pois é. KKKKKKK Desculpem qualquer erro de ortografia, repetição ou mal entendimento. Espero que tenham gostado do capítulo! Nos vemos na próxima!
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