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Capítulo XI - Inconfundível.


NOTAS INICIAIS

Oláááá!!! Quanto tempo! Aqui está um longo capítulo, novinho em folha. Talvez precise de uma revisada extra no futuro. Enfim, espero que gostem! Boa leitura!

CAPÍTULO XI — Inconfundível.

Condado de Oxford, Inglaterra.

Município de Pinewood.

05/06 - Sexta-feira.

03:05 A.M.


Quando tudo começou, Jacob, Mackenzie, Allyanne e Vanessa estavam juntos. Bêbados, riam e conversavam descontraidamente, sem ver a hora passar. Foi Mwangi quem primeiro avistou os seguranças, se desesperando de imediato, assim como os demais. O mais velho dos White, então, se forçou a passar por cima da própria embriaguez para concentrar-se em buscar uma saída. Não deixaria algo acontecer à sua família e amigos. Olhou em volta, procurando Alevi, e não o encontrou. Também não viu Thomas e, concluindo que estavam juntos, soube que não teria escolha a não ser confiar que Green tomaria conta dele, visto que não teria como buscá-los no momento.

Então, recordou-se de uma depressão na terra, um "buraco", usado para guardar bebidas antes e depois de cada festa. Sabia como encontrá-lo, embora o álcool pudesse lhe confundir as direções. Sem mais delongas, puxou Mackenzie pelo braço, dizendo para as outras duas:


—Me sigam, sei onde podemos nos esconder! — Tentou falar da forma mais clara possível, evitando que as palavras se embolassem.


Dito isso, todos correram pela confusão. Assim que avistou o esconderijo, Jacob fez com que as garotas pulassem dentro dele. Antes de se juntar ao grupo, o rapaz puxou algumas plantas, que já estavam posicionadas ali para este propósito, e cobriu a entrada do local.

No interior da larga cratera escura e repleta de garrafas vazias, onde era necessário que os joelhos se mantivessem dobrados para que o disfarce não fosse arruinado, os quatro tiveram uma surpresa: haviam outras duas pessoas ali.


—Ora ora, que coincidência... — Jesse disse baixo, com os lábios curvados em seu típico sorriso malicioso, quase como se gostasse do caos.

—Oi, gente! — Castiel cumprimentou, também sorrindo, animado. Dada a situação, sua felicidade causou certo estranhamento.


Jacob, parte pela tontura e dor de cabeça que começavam a lhe afligir, parte pela preocupação de que poderiam ser encontrados pelos seguranças a qualquer momento, escolheu não dar corda para nenhum tipo de comportamento dos gêmeos. As garotas, que não os conheciam, se entreolharam, confusas. Percebendo a inquietação delas, fez as honras:


—Esses são Jesse e Castiel, do PHS. Conheci eles mais cedo. Agora, fiquem em silêncio. — Pediu. Em um primeiro momento foi obedecido, por mais que suas acompanhantes se sentissem desconfortáveis com a presença dos garotos.


Do lado de fora, os sons de gritos adolescentes permaneciam altos. Cada vez mais, o grupo escondido no buraco sentia a tensão aumentar, assim como o medo de que fossem descobertos.


—Você disse que não estaríamos mais aqui quando acontecesse, Jessie... — Castiel resmungou baixo.


Ouvindo a fala, Vanessa se exaltou imediatamente. Com dificuldade em controlar o próprio tom de voz, devido à raiva e à bebedeira, ela indagou:


—Como é que é?! Vocês sabiam que eles viriam?!

—Claro que sabiam! — Allyanne também interviu, ligando os pontos. —Aposto que foram eles e o resto daqueles merdas que entregaram a gente! — Sua fala saiu um pouco mais lenta do que gostaria.

—Ei, eu não fiz nada! — Castiel protestou.

—Eu fiz... — Jesse alargou o sorriso irritante.


Com a capacidade de foco já comprometida pelo álcool em seu sangue, Jacob tentava ignorar a discussão, prestando atenção única e exclusivamente na movimentação dos guardas do lado de fora. Por hora, os demais estavam falando baixo, e a gritaria na floresta encobria seus sons. Mas sabia que isso não duraria muito.


—E como pretende voltar pro campus agora, gênio?! — Inquiriu Allyanne. —Tira esse sorriso estúpido da cara! Você está tão fodido quanto a gente! Com certeza devem ter colocado seguranças no jardim, não vai ter como voltar!

—Olha, acho que não... — Castiel falou, avoado. —O tapado que entregou vocês não sabia nada sobre aquele buraco na parede. — Deu de ombros.

—Tapado?! Que tapado?! — A paciência de Vanessa foi pelos ares. —Não foi ele... — Apontou para o outro Evans. —Que dedurou todo mundo?!

—Isso não faria sentido nenhum! — Onze riu em resposta, de forma quase infantil. —Como ele estaria aqui, e falando com os seguranças ao mesmo tempo?! Não, não. A ideia foi dele, mas o pessoal escolheu outro carinha pra por ela em prática.

—O pessoal? — Mackenzie se pronunciou, chocada com a postura do colégio rival. —Vocês todos estão envolvidos nisso?

—Já falei que eu não! — Castiel repetiu, não gostando de ser injustamente acusado.

—Cacete... — Vanessa quase chorou de ódio. —Nós fazemos festas aqui desde, sei lá, sempre! E nunca deu nada errado, não passamos nem perto de sermos descobertos! Vocês chegaram não faz nem vinte e quatro horas, e já conseguiram estragar o resto do nosso ensino médio! Puta. Que. Pariu.

—Que problemão, em... — Jesse queria rir, adorando todo aquele drama.


Mackenzie, mesmo no escuro, lançou a ele um olhar de reprovação. Percebendo como a amiga estava à beira de um colapso nervoso, cambaleou em sua direção para confortá-la.

Repentinamente, alguém mais pulou no buraco, assustando a todos. Para o alívio daqueles que pensaram ser um segurança, quem se materializou ali foi, na verdade, John, o namorado de Vanessa.

John Arthur estava ofegante, e o corpo atlético suava por debaixo da camisa. Ele se apressou para arrumar as folhas que os escondiam, ainda processando a situação. Logo em seguida, a namorada o abraçou forte, aliviada por vê-lo. O rapaz não era muito alto, mas também teve de dobrar os joelhos como todos os outros. O suor pingava da pele negra, como se tivesse corrido uma maratona. 


—Está uma loucura lá fora, eu achei que não teria ninguém aqui em baixo e... — Tentou explicar, nitidamente bêbado, se desvencilhando da garota. —Espera, o que esses merdas estão fazendo aqui?! — Indagou, reconhecendo, mesmo em baixa luminosidade, as estampas do PHS nas camisetas dos gêmeos.

—O que parece que estamos fazendo aqui? — Jesse revirou os olhos.

—Lá vamos nós... — Castiel resmungou, cruzando os braços.

—Eu devia jogar os dois pra fora, e deixar os filhos da puta pegarem vocês! — Por mais que Vanessa e Mackenzie tentassem segurá-lo, John avançou para cima de Castiel.

—Você pode tentar. — Jesse imediatamente se colocou na frente do irmão, arqueando uma sobrancelha.


Vanessa, com as duas mãos envolvendo o braço do namorado na tentativa de contê-lo, aumentou o tom de voz:


—Caralho moleque, você é incapaz de ficar quieto?!

—Eu? — Sorriu. —Claro que consigo. Só não quero.

—Meu deus! Não percebe que está piorando as coisas?! — Mackenzie tentou dizer, também segurando John, que ainda ameaçava socar a dupla.


As trocas de farpas recomeçaram, ficando progressivamente fora de controle, e em volume cada vez mais alto. Não demoraria para toda aquela discussão chamar atenção dos seguranças do lado de fora. Sem escolha, e sem paciência, Jacob finalmente interveio, se colocando no meio do grupo e dizendo, firme:


—Que tal todos nós calarmos a boca?! — Mesmo no escuro, lançou um olhar duro para cada um deles. Estavam sendo inconsequentes, e precisavam se controlar.


Após sua fala imponente, os seis de fato se calaram. Vanessa e Mackenzie puxaram John para um canto, seguidas por Allyanne, enquanto Jesse e Castiel se isolaram na outra extremidade do esconderijo.

Do lado de fora, os sons foram gradualmente cessando. Ainda ouviam-se passos dos seguranças, e era possível ver vestígios das luzes das suas lanternas acima das folhas que escondiam o buraco.

O ar de tensão estabelecido na cratera era incômodo, mas não mais incômodo do que uma expulsão dos próprios colégios. Portanto, seriam obrigados a ficar ali, e esperar até que fosse seguro voltar para os dormitórios.


[...]


Alevi continuava se movendo cegamente. Mesmo sem saber para onde a trilha o levaria, o desespero forçava-o a correr por ela. Como sua primeira noite de diversão poderia terminar tão mal?!

Progressivamente, o medo de ser pego pelos seguranças passou a dar vez a outros pavores. Por mais que a lua clareasse boa parte do caminho, o desconhecido trajeto permanecia muito escuro. Aos poucos, caia em si para a situação de que estava no meio de uma floresta gigante, de madrugada, longe dos irmãos ou de qualquer amigo, correndo por uma trilha sinistra. Para completar, não fazia ideia do paradeiro de Thomas. Se o rapaz fosse encontrado em uma festa daquelas, com certeza perderia sua bolsa. Seriam afastados um do outro, e talvez nunca mais conseguissem se falar.

Uma sensação esmagadora de ansiedade se apossou do seu corpo, ao passo que, lentamente, a corrida deu lugar a um caminhar inseguro. Conforme a adrenalina abaixava, o garoto era atingido pelas consequências físicas do cansaço: a respiração pesada, o suor que deslizava-lhe a pele, o coração descompassado... Atrás de si, o som da confusão e de adolescentes desesperados foi ficando distante, até desaparecer por completo. Já não tinha noção de quanto tempo fazia que estava fugindo.

Seus pensamentos sobre ser encontrado pelos guardas começaram a ter outro tom. Tinha medo de estar perdido, e vagar sem rumo pela perigosa mata durante horas. Poderia se machucar, ou até mesmo... Coisa pior.

Uma memória tenebrosa, que o assombrava de tempos em tempos, resolveu visitá-lo. Ela envenenou suas perspectivas, passando por estas como uma névoa escura e densa, corroendo todas as esperanças que ainda lhe restavam. Conforme a racionalidade se diluía, o pânico intensificava. Talvez, por mais que fosse expulso, precisasse da ajuda de um adulto naquele momento. Pensou em gritar por socorro, mas ainda tinha inevitáveis ressalvas em relação às severas punições que sofreria quando fosse encontrado. Seus sentidos, afetados pelo medo, se atentaram a qualquer resquício de atividade humana que pudesse encontrar. Qualquer som, vislumbre, rastro, o que quer que fosse, que pudesse levá-lo até alguém.

Ele poderia morrer ali. Poderia morrer. Sozinho. Seria encontrado sem vida, pálido, com os lábios roxos e o corpo gélido. A família enlouqueceria com a sua morte. As notícias estariam em todos os jornais. Uma desgraça avassaladora cairia sobre aqueles que se importavam consigo.

Não haviam razões racionais para aquelas ideias brotarem em sua cabeça. O que iria matá-lo, um animal? Dificilmente algum deles se aproximaria com essas intenções. Uma pessoa? O índice de homicídios em Pinewood era quase nulo. Mas nada disso cruzava sua mente. A única coisa que havia nela, era a tal lembrança assombrosa, insistindo em persegui-lo.

Guiado pelo pavor crescente, Alevi voltou a correr. A trilha que seguia parecia não ter fim. O caminho ficava cada vez mais estreito, e a mata a sua volta progressivamente mais densa.

De repente, escuridão. Um conjunto de nuvens no céu cobriu a lua, bloqueando o amparo luminoso que antes recaía sobre a floresta. Dessa forma, não pôde ver mais nada. Nem um palmo à sua frente. Continuou se movendo, tentando permanecer em linha reta, sem considerar a possibilidade de existirem curvas no percurso.

Enquanto lutava contra os próprios pulmões, puxando ar com muita dificuldade, teve a sensação espacial de que algo mudou no ambiente. As folhas e galhos com os quais eventualmente esbarrava (que arranharam seus braços desprotegidos) desapareceram, assim como a anterior atmosfera sufocante da trilha. Soube que chegou a algum lugar diferente, entretanto não diminuiu a velocidade, tampouco acalmou seus pensamentos inquietos.

Isso tudo resultou no que surpreendentemente não aconteceu antes: correndo às cegas, esbarrou em alguma coisa. O impacto foi forte o suficiente para que caísse para trás. Imediatamente, uma ardência se apossou das suas costas, fazendo-o se apoiar nos cotovelos, arfando de dor.


—Mas que porra...! — Ouviu uma voz familiar dizer, em tom moderadamente baixo.


Um feixe de luz foi lançado na face de Alevi, fazendo-o piscar várias vezes pela claridade inesperada. A iluminação vinha de um celular, que apontava em sua direção. Tinha esparrado em alguém, não em algo.


—Caralho, não, não, não. Não é possível. — A pessoa continuou dizendo.


Quando seus olhos se acostumaram com a lanterna do aparelho, Alevi pôde identificar que era Kenai quem estava à sua frente. Talvez suas chances de morrer ali não fossem tão baixas, afinal.

Kenai encarava-o com um misto de perplexidade e preocupação estampado no rosto. O loiro tentava raciocinar o mais rápido possível. Estava ali pois aquele era o local afastado do campus em que ele e alguns outros rapazes se encontravam para fazer uso de certas... Substâncias. No entanto, naquela noite, um deles apareceu alarmado, alegando que uma festa por perto foi descoberta pelos seguranças do colégio. Todos, drogados, seguiram o jovem por um caminho alternativo, para certificar-se com os próprios olhos de que o que ele dizia era verdade.

No entanto, Bullet, que não fez nada além de dar alguns tragos, percebeu que o mais inteligente a se fazer seria ficar, apagar as lanternas e esconder as cadeiras dobráveis usadas pelo grupo. Assim, caso a informação fosse verídica, não seriam encontrados tão facilmente. De qualquer forma, as bebidas e alguns outros pertences pessoais do grupo foram deixados para trás, e eles voltariam para buscá-los a qualquer momento.

Nenhum deles batia muito bem da cabeça, muito menos tinham o presidente do Grêmio Estudantil em suas graças. Caso se deparassem com o irmão mais novo do cara que sempre estragava seus planos, não hesitariam em aproveitar a oportunidade para espancá-lo, ou coisa parecida. Kenai sabia disso, como também sabia que Jacob o culparia, fodendo sua vida logo em seguida. Precisava evitar que o merdinha júnior se machucasse, ou acabaria ferrado por tabela.

Ainda iluminando-o com a lanterna do celular, tentou lembrar qual era o seu nome, com a certeza de que já o ouvira em alguma ocasião. Imaginou que a única razão plausível para tê-lo encontrado, seria por este ter ido a tal festa, parando ali durante a fuga. Notou que o garoto parecia apavorado, com a respiração forte e o corpo coberto por uma fina camada de suor. Os olhos azuis tentavam se manter abertos, mas acabavam voltando a fechar-se apertados, conforme esporadicamente toda a face contorcia-se numa careta de dor.


—Levanta daí, caralho! — Kenai esbravejou, apagando a lanterna e procurando em volta algum local para escondê-lo.


Com dificuldade, Alevi obedeceu, atordoado, e um tanto perplexo. Olhando para trás por um instante, percebeu abaixo de si um grande galho espinhoso, molhado com o seu sangue. Havia caído nele, e a madeira atravessou o tecido da própria camisa, lhe ferindo a pele. Não tinha como medir a gravidade do machucado, mas a dor atrapalhava seu raciocínio. Felizmente, a adrenalina tornava-a um pouco mais suportável. Pelo menos o suficiente para conseguir considerar se estava mais ou menos em apuros do que antes.

Perigosamente, não se sentia mais tão ameaçado por Kenai. Quando deram de cara um com o outro no pomar, Bullet não o agrediu. Imaginava que este mudou de ideia quanto a lhe machucar, ou algo parecido. Talvez Jacob tivesse conversado com ele, e o fez recuar.

Em sua mente ingênua, agora, Kenai soava menos como uma ameaça, e mais como um mistério ambulante. E ali surgia outra pergunta: o que o rapaz estaria fazendo no meio da floresta, naquele horário? Certamente não o viu na festa.


—E-eu... Os seguranças invadiram a festa e eu saí correndo, e... — Tentou se explicar.

—É verdade, então... — Concluiu em um murmúrio, interrompendo-o.

—O que é verdade?

—Cala boca. — Dito isso, rispidamente puxou Alevi pelo antebraço. Ainda não conseguia lembrar seu nome, mas já tinha em mente onde o esconderia.


Kenai sabia que Alevi não contaria nada daquilo ao irmão. Mesmo sem entender o motivo disso, acreditava que se até aquele momento ele não o fez sobre o incidente no pomar, não faria de novo. Mas se os outros caras o encontrassem, e deformassem seu rosto, não existiram palavras capazes de conter a fúria de Jacob.

Enquanto andavam apressadamente, Alevi olhou em volta, aos tropeços. A lua reapareceu, trazendo um pouco mais de lucidez ao ambiente. Percebeu então que estavam em uma clareira. Todos os pinheiros que um dia existiram lá foram reduzidos a tocos, provavelmente extraídos por madeireiros, transformando a área em um espaço aberto. No centro do lugar, algumas garrafas de bebida, isqueiros e outros objetos, reluziam sob o luar. Eram coisas demais para pertencerem apenas a Kenai, o que o levou a entender que este não estava sozinho.

O loiro lhe arrastou até os mesmos arbustos onde escondeu as cadeiras dobráveis, e soltou seu corpo bruscamente de frente para eles.


—Entra aí, e fica quieto. — Falou pausadamente, entredentes. —Ninguém pode te ver.

—O que? — Mirou a planta, sem entender.

—Se esconde. E fica. Quieto. — Empurrou-o pelo ombro, o forçando a se abaixar dentro do arbusto.


Sem escolha, Alevi encolheu-se no esconderijo, dividindo espaço com as outras coisas que também estavam guardadas nele. A planta ficava às margens da clareira, obrigando-o a dar as costas para um bom pedaço de mata fechada, o que causava insegurança. Mas, estranhamente, toda a mudança de cenário o acalmou de suas inquietações anteriores. Pelo menos, não estava mais sozinho. Aos poucos, conseguia recuperar o fôlego, e a dor em sua pele passava de aguda para uma sensação latente e desagradável.

Um grupo de rapazes se aproximou. Alevi os espiou por entre as folhas, notando os semblantes carrancudos e nada convidativos. Conforme seus olhos se acostumavam com a baixa claridade, conseguia distinguir mais detalhes dos indivíduos. A maioria trajava roupas despojadas, assim como Kenai, que vestia um traje diferente do seu habitual uniforme esportivo. O visual escondia seus músculos, deixando-o menos parecido com uma máquina de socar. Os demais, majoritariamente brancos, seguiam padrões semelhantes. Para a surpresa de Alevi, embora suas feições desagradáveis, eles tinham aparência de mauricinhos. Caso os visse pelos corredores do Instituto, não conseguiria imaginá-los fazendo algo de madrugada no meio da floresta. Se tinham quaisquer traços subversivos ou excêntricos, as roupas mascaravam muito bem.


—Bullet, é verdade cara, os seguranças estão por todo lado! — Um deles alertou, enquanto os demais, alucinados, recolhiam seus pertences apressadamente para fugir.


Já sabendo dessa informação, Kenai fingiu surpresa. Não foi difícil, afinal, suas expressões de surpresa e frustração eram praticamente as mesmas (odiava ser surpreendido). E como estava verdadeiramente frustrado, ninguém desconfiou.


—Eu vou pegar minhas coisas e sumir daqui. Devia fazer o mesmo. — Respondeu, se dirigindo apressadamente até um toco de árvore em que apoiavam-se seu isqueiro e maço de cigarro.

—Espera aí! — Um outro garoto o alcançou, puxando-o bruscamente pelo ombro direito e o virando para si.


Era Jonas Rezzo. Um jovem pálido de cabelos castanhos claros, e físico parrudo. Embora grande, não passava de um fracote.

Kenai, perplexo, olhou primeiro para o próprio ombro, e depois, irritado, para o imbecil que teve a audácia de tocá-lo.


—Cadê a bala que você prometeu, moleque?! — Rezzo indagou.


Alevi, observando a cena, soube que aquilo ficaria feio. Não imaginava como uma pessoa pudesse usar aquele tom com alguém como Kenai sem terminar hospitalizado.


—Que porra de bala, tá maluco?! Tem seguranças vindo pra cá, já era! — O loiro respondeu, se esforçando para controlar a própria voz.

—Foda-se, você disse que ia trazer, e eu quero! Não interessa se vou ter que usar no meio do mato, eu quero o que você prometeu!


De jeito nenhum. Kenai sabia que se entregasse a droga para algum daqueles imbecis, e eles fossem pegos pelos seguranças com ela (o que, a julgar pelo QI deles, não seria nada difícil), com certeza acabaria culpabilizado pelo fornecimento das substâncias.


—Escuta, você nem pagou ainda. Quando pagar, eu te entrego. — Tentou ser racional, já sentindo as primeiras faíscas de ódio pulsarem em suas veias. Não tinha tempo para aquela palhaçada, precisava fugir dali e ainda dar um jeito no merdinha escondido nos arbustos.

—Dinheiro?! Você quer dinheiro?! — O outro estava nitidamente alcoolizado, para piorar a própria situação. Então, puxou uma carteira do bolso, e tirou dali uma quantidade exorbitante de dinheiro, provavelmente maior do que realmente precisaria. Jogou as notas no chão, exclamando: —Tá aí sua merda de dinheiro! Agora me dá o que você me deve!

—Vai se foder. — Kenai esbravejou baixo, fazendo questão de pisar no dinheiro e esbarrar propositalmente no branquelo ao passar por ele. Supostamente, visava ir em direção à trilha que o levaria de volta para os dormitórios, sem esquecer que na verdade teria de levar Alevi consigo.


Precisava se manter no controle. Não podia deixar aquelas provocações o abalarem, não podia arriscar ser encontrado por um guarda. Se perdesse a cabeça, dificilmente seria cauteloso, e a inconsequência lhe custaria caro. Sentia a própria respiração apertar, o corpo aquecer, e um nó se formar na garganta. Os primeiros sinais de que teria um "episódio".

Precisava. Se manter. No controle.

Alguns jovens presentes assistiam a cena, enquanto outros saíram de lá, sem se importar com o que acontecia. Jonas olhou em volta, com o orgulho alfinetado. Sabia bem da fama de Bullet, sobre seus impiedosos atos violentos, mas estava embriagado demais para dar a mínima. Conseguir alucinógenos naquele colégio era um inferno. Kenai tinha contatos com alguém de fora, que ninguém conhecia. Mas hora ou outra aparecia com algum produto do qual queria se livrar, e o vendia para o primeiro sortudo que aparecesse. Se não pegasse o ecstasy dele naquele momento, provavelmente não teria outra chance. 


—Aonde você pensa que vai?! — Jonas o alcançou de novo, mas dessa vez, quando tentou encostar em seu ombro para virá-lo, foi surpreendido com um soco forte no rosto, que o fez cambalear para trás.

—EU JÁ FALEI PRA VOCÊ ESQUECER ISSO. — Kenai vociferou. Se agarrava em qualquer coisa para continuar são, mas sentia o próprio autocontrole esvaindo por entre seus dedos.


Rezzo não demorou para se recuperar do golpe e, também enfurecido, partiu para cima de Bullet. Vendo a briga começar, todos os outros rapazes saíram correndo, temendo que a famosa fúria do loiro se voltasse contra eles também.

O garoto pálido errava a maior parte das suas investidas, enquanto o outro acertava quase todas. Entre chutes e socos, ambos lutavam para permanecer em pé. Kenai queria acabar com aquilo rápido, mas era como se estivesse magnetizado pela violência. Como se não conseguisse parar de bater, embora não sentisse prazer o fazendo. A sensação que o preenchia, na verdade, era um estranho alívio. E quanto mais aliviado por dentro, mais parecia assustador por fora, e menos tinha noção dos próprios atos.

Alevi assistia a tudo calado, em crescente desespero. Queria cobrir os olhos com as mãos para não presenciar tamanha agressividade, mas estava hipnotizado. Quando Rezzo começou a sangrar (pelos lábios, orelhas, nariz...), sentiu um enjoo forte, e quase vomitou. Sabia que precisava se manter calado para não entregar a própria localização, mas também queria interferir. Queria que eles parassem. Precisavam parar.

Jonas tentou avançar e derrubar Bullet, mas a tentativa falhou, e ele acabou preso, levando repetidos socos no estômago. A mão esquerda de Kenai parecia pré-programada para aquele tipo de golpe. 


—Ele precisa parar... Precisa parar... — Alevi sussurrou em agonia.


O garoto começou a cuspir sangue, tossindo forte.


—Meu deus... Ele tem que par... — Antes que pudesse completar o murmúrio, sem perceber Alevi inclinou o corpo. Abaixado, desestabilizou-se, precisando se agarrar em um dos galhos da planta para manter-se sobre os pés.


Esse movimento desencadeou um barulho que, no silêncio da noite, soou alto. Kenai, que de fato esqueceu da presença de Alevi, se desconcentrou da briga, olhando na direção do arbusto. Isso deu abertura para que Rezzo reagisse, se livrando da posição anterior. Mesmo atordoado, evocou toda a adrenalina e os instintos de sobrevivência que pôde, e deu um soco certeiro nos lábios de Bullet. Com o golpe, o loiro foi para trás, tropeçando em um dos tocos de árvore. Na queda, seu tornozelo direito se torceu, fazendo-o soltar um urro de dor.

Enquanto caía, o pacote com as drogas voou do bolso da sua jaqueta, pousando a alguns metros de distância. Jonas cambaleou até ele, apanhando-o, e também aproveitando para pegar o próprio dinheiro, jogado no chão anteriormente.


—Se fode aí, s-seu merda! — Exclamou, enquanto mostrava o dedo do meio e tentava correr para o caminho que o levaria até o lago.


Alevi tinha as duas mãos na frente da boca, gesto necessário para que não emitisse mais sons do que já havia feito. Observou Rezzo sumir na trilha, e então voltou seu olhar para Kenai, que ainda estava caído. Sem pensar duas vezes, saiu do próprio esconderijo, correndo na direção do loiro. Sentia culpa por tê-lo distraído, mas também gratidão pela briga ter finalmente chegado ao fim.


—Meu deus! — Se aproximou. —Você está bem?!


Kenai tinha um corte no lábio inferior, e seu rosto, antes contorcido em uma careta de dor, endureceu com a aproximação do mais novo. Sequer se deu conta de que foi ele quem o distraiu, mas estava enfurecido. No fim, o imbecil do Jonas levou a porcaria do ecstasy, e ainda precisaria lidar com o pirralho. Merda.

Bullet se apoiou nos cotovelos, ignorando a fala do outro, fazendo os primeiros esforços para se levantar.


—Precisa de ajuda? — Alevi se abaixou ao seu lado. Então, viu que o tornozelo dele estava bastante inchado. No mínimo tinha luxado alguma coisa, ou quebrado, no pior dos casos.

—Não. Sai de perto. — Resmungou enquanto se sentava, levantando-se em uma perna só logo em seguida.


Ao tentar colocar o pé machucado no chão, Kenai foi desestabilizado pela dor, se desequilibrando. Sem pensar duas vezes, Alevi interferiu, aproximando-se e oferecendo suporte. Em um reflexo, Bullet segurou no ombro dele para se reequilibrar, enquanto este colocava uma mão em seu peito e outra em suas costas, lhe dando apoio. Os dois se entreolharam, sentindo a estranheza daquele momento.

Não demorou para Kenai, já estável, se desvencilhar de Alevi. Ainda não conseguia lembrar do nome dele. Começou a mancar (com dor, mas se recusando a aceitar ajuda) na direção da entrada da trilha.

Sem saber o que fazer, ainda meio perplexo pelos recentes acontecimentos e por ter tocado Kenai (o que poderia render-lhe um soco), Alevi ficou estático, parado no mesmo lugar.


—Você vem ou não, caralho? — Kenai falou, irritado. Precisava se certificar de que o garoto não fosse pego, afinal, como o bom dedo duro que sabia que ele era, provavelmente cantaria igual um passarinho quando os seguranças o apanhassem.


Alevi se perguntou se deveria segui-lo, mas a dúvida não durou muito. Sabia que se não fosse com ele, acabaria mais uma vez sozinho em meio a floresta. Não entendia porque o outro estava aparentemente ligando para sua existência, mas preferiu não questionar. Então, correu até alcançá-lo, se mantendo a poucos metros de distância atrás dele.

Detrás, enquanto caminhavam, conseguia ver o inchaço no tornozelo de Kenai crescer cada vez mais. A primeira partida dos Jogos, que seria de Rugby, aconteceria dali dois dias. Não sabia se ele estava no time, mas tinha ciência de que seria difícil participar de qualquer esporte com aquela torção dolorosa. Torção essa, que era culpa sua. Queria poder recompensá-lo de alguma forma, mas não sabia como.

Bullet, calado todo o trajeto (mas respirando pesado, e às vezes arfando baixo de dor), falou, conforme se aproximavam do lago:


—Escuta, os seguranças devem estar por aqui. Eu não quero ouvir um pio vindo de você. Entendido? — Murmurou em um tom de voz grave, e ameaçador.

—Sim...


Os dois saíram da segurança da trilha, chegando ao local onde anteriormente Alevi esteve com Thomas. Olharam em volta, e puderam identificar ao longe algumas lanternas circulando pela área, indicando a localização dos guardas.

Sorrateiramente, se aproximaram do buraco no muro, o qual precisavam atravessar para chegar até os dormitórios. Quando estavam quase o alcançando, ouviram uma aproximação. Instintivamente, Kenai puxou Alevi para trás de uma árvore larga, escondendo ambos, um do lado do outro. O processo exigiu do seu tornozelo, fazendo-o fisgar dolorosamente. Fechou os olhos e punhos, bem apertados, para não reagir à dor e quebrar o disfarce.

Alevi, imaginando o sofrimento do outro, e sentindo algo parecido nas próprias costas, o encarou com pena. Sem intenção,  analisou o rosto dele, observando seu lábio machucado com interesse. Se recebesse um golpe daqueles, provavelmente ficaria atordoado por horas. Mas Kenai parecia muito... Forte. Talvez nem mil socos conseguissem verdadeiramente derrubá-lo.

Quando abriu os olhos, Kenai vislumbrou a expressão preocupada encarando-o. As grandes orbes azuis, barradas pelas sardas, o inspecionavam com muita empatia, e doçura. Ao mesmo tempo, eram invasivas. Tão penetrantes, que o faziam sentir como se nada pudesse passar despercebido pela curiosidade inocente que exalavam.

Alevi pensava que nem mil socos poderiam derrubar Kenai, sem saber que seu olhar gentil, de alguma forma, quebrava as principais defesas dele. Aquelas que nenhum punho poderia atravessar. E por isso, ali, seus olhos se tornaram inconfundíveis, assim como sua identidade. Alevi, Kenai se lembrou do nome. O único que, estranhamente, conseguiu encará-lo daquela forma, gostasse disso ou não.

Um guarda passou por perto. Ambos prenderam a respiração, quebrando o contato visual estabelecido anteriormente. Quando o segurança se afastou, rapidamente foram até o buraco no muro, atravessando-o.

Sabendo que dali em diante Alevi poderia se virar para chegar até o próprio dormitório (e se não conseguisse, não era problema seu), Kenai não pensou duas vezes antes de continuar mancando pelo jardim do campus. Queria voltar logo ao seu quarto, e esquecer que aquele dia aconteceu.

Alevi, por outro lado, quando se viu dentro da moita que escondia a passagem para a floresta, paralisou, caindo em si para alguns fatos que aconteceram naquela madrugada. Havia fugido de seguranças, sentido que morreria sozinho na floresta, presenciado uma briga, oferecido ajuda para o cara que ameaçou lhe espancar (o mesmo que foi responsável por conseguir trazê-lo de volta para o Instituto), e agora estava ali. Tudo isso, na noite que deveria ter sido apenas uma festa divertida.

Antes que pudesse fazer qualquer movimento, foi surpreendido por um grupo de pessoas. Eles surgiram às suas costas, empurrando-o para frente e forçando-o a sair do arbusto. Quando olhou para trás, deparou-se com rostos familiares.


—Ai meu deus... — Mackenzie se aproximou dele, abraçando-o forte. —Você está bem?

—E-estou... — Respondeu um tanto atônito, desvencilhando-se dela.

—Mesmo? — Jacob também veio para perto, segurando seu rosto entre as mãos. O mais novo assentiu, e foi abraçado pelo irmão, que suspirava aliviado.


Com eles estavam Vanessa, seu namorado John, Allyanne, e dois garotos idênticos, que logo desapareceram de vista.


—O Thomas não está com vocês? — Alevi perguntou, preocupado ao não vê-lo.

—Não, pensamos que ele tinha ficado contigo! — A loira disse, sem entender. —Com quem você estava? Ficou sozinho esse tempo todo?!


O mais novo olhou para o chão por um momento. Sabia o que precisava responder.


—Sim. Não tinha ninguém comigo.


NOTAS FINAIS

É isso! Espero que tenham gostado! Desculpem por quaisquer erros de ortografia, repetição ou mal entendimento. Beijos!


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