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Capítulo VI - Descontrole.

CAPÍTULO VI — Descontrole.

"Para que falar se, no momento de descontrole, o silêncio expressa a melhor posição de um ser."

Emanuel Coelho Guedes.


Condado de Oxford, Inglaterra.

Município de Pinewood.

03/06 - Quarta-feira.

01:00 P.M.


Alevi não conseguiu esconder as pequenas olheiras, bem acima das sardas. Foi obrigado a sair pelo campus exibindo os resultados de uma noite mal dormida, e agora estava no mesmo pátio externo em que, no dia anterior, teve a intensa conversa com seus irmãos e Green. O local era repleto de árvores e mesas de pedra em que, naquele horário, estudantes do colégio interagiam calorosamente, após desfrutarem do almoço servido no refeitório. O dia seguia pálido, com um azul muito claro colorindo o céu sem nuvens. 

O momento com Thomas no pomar fora de fato um aconchego em meio ao caos, e aquele carinho entre eles definitivamente aquecia seus dias. Infelizmente, não bastou para ajudá-lo a encontrar uma forma concreta de acalmar seus pensamentos em relação a toda situação envolvendo Bullet. Muitas coisas perturbavam sua mente: a culpa por distrair seus entes queridos dos afazeres aos quais deveriam estar se dedicando, o receio de acabar se envolvendo em outra confusão, e a curiosidade. Uma curiosidade que coçava como urticária, incomodava como uma buzina barulhenta e distraía como um elefante cor-de-rosa. Inconscientemente, cada vez que deixava suas reflexões vagarem sem dono, acabava retornando ao mesmo questionamento:

Por que razão Kenai Bullet agia daquela forma?

Nenhum tipo de resposta lúcida surgia quando se fazia tal pergunta. O conhecimento sobre o rapaz ainda era muito pequeno para se formular algum tipo de conclusão, e provavelmente nunca seria mais do que isso, visto que sua maior preocupação era de que deveria se manter longe dele, para não causar mais problemas para aqueles com quem se importava.

Agora, Alevi sentava-se em uma das mesas de pedra, juntamente com seu melhor amigo, Thomas, que não deixou de ficar próximo a ele por nenhum momento após todo o ocorrido no dia anterior. Depois do jantar, o mais velho lhe acompanhou até seu dormitório, e na manhã seguinte o esperou no corredor em frente a sua porta para que caminhassem juntos até o café-da-manhã. Alevi apreciava sua presença, e muito, mas tanta proteção desencadeava um misto desagradável de prazer, por tê-lo por perto, e desconforto, por saber que ele provavelmente teria outras coisas para fazer se não tivesse que ficar em seu encalço.

Havia um terceira pessoa na mesa com a dupla: Tratava-se de Ivan Sidorov, um intercambista russo, que cursava o mesmo ano que Green no Instituto. Muito alto, sua pele era extremamente pálida, com cabelos e olhos escuros e sobrancelhas grossas, criando um contraste de cores belíssimo. O tronco largo complementava o físico parrudo, de braços e pernas grossos, e barriga grande salientada por debaixo do uniforme de verão do colégio. Muito bonito, Ivan sustentava um olhar sereno e semblante tranquilo.

Thomas era capitão da equipe de Xadrez do colégio, e Sidorov, passava por um teste que definiria se este faria ou não parte do time que representaria a escola em tal modalidade durante os Jogos M.C.K.. Para isso, os dois disputavam uma partida, silenciosamente, em um tabuleiro bonito e caro. Green testava as habilidades do colega minuciosamente, tomando notas em um bloco, e se atentando a cada mínimo movimento deste. Escolheu a dedo aquele lugar e horário para os testes: o pátio externo, após o almoço, ficava muito povoado e barulhento. Quem quer que fosse ingressar na equipe de Xadrez para os Jogos, precisava ser capaz de jogar mesmo com sons altos e agitação ao seu redor. Afinal, adolescentes não costumavam prezar pelo silêncio ao assistir uma partida do que quer que fosse, nem mesmo de um esporte que exigia tamanha concentração como aquele. Portanto, os garotos e garotas (já que o time seria misto), se apresentavam um a um na mesa, para demonstrar suas capacidades.

Normalmente, os responsáveis por montar os times para os Jogos eram os técnicos ou professores coordenadores da modalidade. No entanto, a equipe de Xadrez, composta por jovens muito centrados e com ótima reputação intelectual, era um órgão quase independente dentro do Instituto. Como o internato não possuía um professor especialista no jogo, e confiava plenamente no bom comportamento daqueles que compunham a equipe, deixava as práticas do esporte ocorrerem mais no modelo de um clube, do que de uma reunião supervisionada. Dessa forma, Thomas, sendo o capitão, eleito por seus colegas, tinha autonomia o suficiente para realizar os testes da forma que desejasse. Inclusive, fazia questão de anotar os contatos de todos os participantes, para que, quando tomasse as deciões finais, pudesse comunicá-los diretamente, e se preciso confortá-los.

Alevi mal via o tempo passar enquanto assistia aquele tryout. Thomas fez questão de que ele se mantivesse por perto, e não se incomodava, achando fascinante observar os movimentos inteligentes do melhor amigo e sua capacidade de foco impecável. Mantinha os grandes olhos azuis oscilando entre o tabuleiro e o inquestionavelmente belo Green, que vestia o uniforme do time de Xadrez (que era igual o de verão do Instituto, mas com uma camisa social escura no lugar da branca), e usava seu cabelo num topete alinhado, domando os cachos castanhos claros o máximo que podia. Alevi se esforçava para não fazer um único som, por vezes até mesmo prendendo a respiração, inconscientemente. Desconcentrar os jogadores arruinaria a disputa.

Green, notando a dificuldade demonstrada por Ivan para decidir seus próximos passos no tabuleiro, declarou um intervalo, alegando supostamente ter de tomar algumas notas sobre o andamento da partida. No entanto, a realidade era de que queria dar algum tempo para o colega se recompor, e então prosseguir. Fazia aquilo com todos que sentia precisarem desse tipo de ajuda. No meio tempo, alguém veio até mesa.

Era Mackenzie. A garota, uma das capitãs do time de cheerleading, vestia seu traje de ensaio: um figurino vermelho e branco, sem mangas e bastante curto, com saia rodada batendo no alto das coxas. No vestido estavam bordadas as iniciais do colégio. Ela usava sua habitual maquiagem pêssego, calçava tênis esportivos, e as madeixas loiras foram firmemente presas em um rabo de cavalo alto, enfeitado por um laço vermelho. Se aproximava com uma pequena mochila nas costas, e uma expressão um tanto mista no rosto. Tentava sorrir amigavelmente, mas os olhos transpareciam uma tensão desproporcional ao resto do semblante.

Naquele mesmo dia durante o almoço, Jacob a confidenciou qual foi sua atitude perante ao comportamento do Kenai. Mackenzie aprovou totalmente as medidas adotadas, e seu único ressentimento foi de que não pôde estar presente no momento em que a ameaça aconteceu. Assistir a cara daquele cretino perante a artimanha do irmão seria impagável.

De qualquer forma, ela e Jacob concordaram em não revelar a Alevi o que aconteceu. Sabiam que o caçula não aprovaria o gesto, provavelmente se sentiria culpado e, no cenário mais perigoso, talvez fosse até, inocentemente, tentar "se retratar" com aquele que, ele teimava em esquecer, o agrediu em primeiro lugar. Também preferiram omitir tudo de Thomas, sentindo que, pela proximidade entre eles, este poderia acabar cedendo e revelando algo ao mais novo.

Mackenzie algum alívio diante das providências tomadas, mas ainda sim não confiava no bom senso de Kenai, tendo em mente que o loiro era estúpido o suficiente para quebrar o acordo e espancar Alevi, mesmo que tivesse sua vida arruinada para sempre em decorrência disso. Ela o via como alguém irracional, burro, incapaz de compreender ou se responsabilizar pelas consequências dos próprios atos, ou de temer pela própria sobrevivência. Portanto, mantinha-se alerta de qualquer forma e, acima de tudo, precisava falar com seu irmão caçula, tanto para checar como este se sentia perante aquela loucura, assunto no qual não teve tempo de tocar devido ao fato de que após a conversa entre eles no dia anterior precisou sair correndo para um treino, quanto para se certificar de que ele estava tomando os devidos cuidados para não ser pego desprevenido pelo agressor.

Com um semblante um tanto sério, e nada característico da adolescente descontraída e sorridente que costumava ser, a loira direcionava-se para o ginásio, onde aconteciam os treinos de cheerleading (as práticas vinham ocorrendo com cada vez mais frequência, devido à aproximação dos Jogos). Então, avistou Alevi no pátio externo. Não se importou em desviar do próprio caminho para poder conversar com ele, se aproximando da mesa de pedra em que estava sentado. Reconheceu Thomas, sem saber ao certo de quem se tratava o jovem pálido que acompanhava a dupla. De qualquer forma, fez contato visual com os três, cumprimentando-os:


—Oi, gente! — Sorriu mais largamente, se esforçando para ser simpática. —Posso roubar ele, só um pouquinho? — Ficou atrás do mais novo, segurando em seus ombros de leve.

—Claro. — Thomas respondeu, tranquilo, retribuindo o sorriso. —Mas não se esqueça de devolver, viu? Eu vou cobrar. — Brincou.


A loira deu uma piscadela para Green, enquanto seu irmão ria de leve, se levantando.

Os dois se afastaram da mesa, parando debaixo de uma árvore, se acolhendo em sua sombra.


—O que houve, Kenzie? — Alevi pendeu a cabeça um pouco para a direita. —Está tudo bem?


Mackenzie não pôde deixar de abrir um sorriso. Alevi era uma graça. Mesmo sendo ele quem se encontrava em situação de "perigo", suas preocupações sempre se focavam nas pessoas com quem se importava. O sorriso da mais velha diminuiu um pouco ao se dar conta de que tal característica poderia colocá-lo em apuros.


—Está sim, Levi. Na verdade, eu quero mesmo é saber de você. Ontem tive um treino logo depois da nossa conversa, e não consegui te encontrar no Instituto quando acabou. — Suspirou, trocando o apoio das pernas. —Como você está se sentindo com toda essa situação? Imagino que esteja assustado, tendo um cara como aquele te ameaçando...

—Eu estou bem, de verdade. — Assegurou. —Lógico, preciso ficar mais alerta, mas... Para ser sincero... — Coçou a nuca, desviando o olhar azulado por um momento. —Minha maior preocupação mesmo é essa comoção toda por minha causa. Você quase perdendo seu treino, Jacob desviando a atenção dos Jogos para executar o tal plano "secreto" dele, Thomas não querendo me perder de vista... — Respirou fundo. —Isso sim me faz sentir um pouco desconfortável. Eu não quero atrapalhar a vida de ninguém.

—Você não está "atrapalhando" ninguém. — Se aproximou. —Nem ao Thomas, nem ao Jacob, muito menos a mim. — Colocou uma mão em cada lado do rosto dele, acariciando de leve o lugar com os polegares. —Levi, todos nós te amamos, e nos preocupamos muito com você. Nada é mais importante que sua segurança. Nem um evento esportivo idiota, muito menos um treino estúpido. — Respirou fundo, passando as mãos agora para os ombros do caçula. —Não pense por um momento sequer que cuidar de você seja algum tipo de peso.

—Tudo bem. — Olhou para baixo. Não duvidava das palavras dela, e sentia-se extremamente sortudo por ter por perto pessoas como seus irmãos e Thomas. Ainda sim... Só desejava que nada daquilo jamais tivesse ocorrido. —Muito obrigada por... Por tudo isso. E por se importar comigo. — Sorriu de leve.

—Não precisa agradecer, bobinho. — Puxou-o para um abraço, que foi retribuído com carinho. —Sinto muito que isso esteja acontecendo contigo. — Lamentou, com o queixo apoiado no pescoço do irmão.

—Eu vou ficar bem. — Confortou-a. —Por mais que ele não vá me contar nada, qualquer que seja o plano do Jake, tenho certeza de que vai funcionar.


Eles se desvencilharam, e Mackenzie segurou as alças da mochila.


—Só queria ter podido ficar com você ontem... — Suspirou ela. —Partiu meu coração te deixar sozinho depois daquela loucura toda. Mas, infelizmente, existem algumas regras que preciso respeitar como capitã do time de cheer*.

—Não fiquei sozinho. — Sorriu, mais uma vez. —Thomas me fez companhia o tempo todo.

—Ele cuida bem de você, não é? — Ela retribuiu o sorriso, feliz por Green se dedicar tanto ao irmão mais novo.


Alevi sentiu um rubor lhe subir as bochechas, assentindo de leve.


—Me deixa mais tranquila saber que ele está por perto... — Confessou. —Enfim, agora preciso ir, a técnica já deve estar impaciente... Mas prometo que mais tarde te encontro de novo. — Olhou fixamente para o garoto, castanho no azul. —Se precisar de alguma coisa, qualquer coisa mesmo, não hesite em me ligar. — Começou a caminhar de costas, se afastando lentamente. —Amo você! — Antes de girar nos calcanhares e seguir seu caminho, a loira beijou a própria mão e soprou o beijo ao vento.


[...]


Mackenzie estava em pé, do lado de fora do ginásio de cheerleading. Aquele foi o único esporte que não abriu testes em razão dos Jogos M.C.K., mantendo o time oficial do Instituto como a equipe que representaria o colégio.

O cheer não competia nos Jogos, até porque alguns colégios sequer possuíam tal atividade em sua grade esportiva. Na verdade, o grupo concentrava-se em apenas apresentar coreografias, de forma a entreter os telespectadores durante os intervalos das partidas. 

No momento, a prática diária do grupo já havia se encerrado, e Mackenzie aguardava por sua melhor amiga, e também colega de quarto, Vanessa, para que pudessem ir juntas até o dormitório que compartilhavam. Vanessa Cole, no entanto, ainda estava se arrumando no vestiário, e talvez demorasse um pouco a aparecer.

Mackenzie distraía-se com o celular em mãos, se despedindo de colegas que passavam por si, e distribuindo alguns sorrisos. Então, ergueu o olhar, e percebeu a aproximação do irmão mais velho.

Jacob vestia o uniforme masculino de verão do Instituto, usando seus tênis habituais e as pulseiras atadas ao pulso. Ele se sentia um pouco menos tenso do que naquela manhã, quando confrontou Kenai. Certa satisfação pulsante preenchia-o, alimentada pelo fato de ter Bullet em suas mãos, mas era ansioso demais para deixar de preocupar-se com a situação toda. Se esforçava para que nada disso transparecesse em seu rosto, como sempre, sustentando uma feição relativamente tranquila.


—Oi, Jake! — Ela sorriu de leve, dando alguns passos em sua direção e guardando o celular na mochila. —Alguma novidade...? — Não queria soar "desesperada", mas ansiava por notícias sobre o quadro em que estavam envolvidos.

—Oi, Kenzie. — Colocou as mãos nos bolsos da bermuda, tentando não ser muito sério, sem tanto sucesso. —Nenhuma, na verdade. Sem sinal do Bullet o dia todo. Falei com o Levi agora a pouco, tudo em ordem. Green está com ele.

—Menos mal... — Suspirou aliviada, cruzando os braços. —E por que veio até aqui?

—Tenho que esclarecer uns detalhes com a Sally sobre as apresentações de vocês. — Sally era uma mulher muito pequena e rechonchuda, que trabalhava como técnica do time de cheerleading e, apesar do seu tamanho, era extremamente ameaçadora. —Ela pediu para esperá-la por aqui.

—Certo... — Assentiu de leve.


Mackenzie notou que, embora os esforços dele para demonstrar o contrário, Jacob não parecia nada relaxado. Algumas veias discretas saltavam em seu pescoço e rosto, e havia uma certa vermelhidão em sua face, característica de quando se encontrava com a cabeça cheia. Ela, então, decidida a tentar fazer o rapaz pensar em algo que não fosse a segurança de Alevi, puxou um assunto totalmente aleatório:


—Ei, tem uma coisa que eu queria falar contigo. Depois dessa confusão toda, só me lembrei agora... — Utilizava um tom de voz ligeiramente... Suspeito, que Jacob conhecia muito bem.

—E o que seria...? — Arqueou uma sobrancelha, desconfiado.

—Bem... — Fez uma pausa, escolhendo as palavras e deixando um sorriso travesso brotar em seus lábios. —Digamos que a Vanessa está espalhando por aí algo sobre uma "cerimônia de abertura" dos Jogos, que o namorado dela e seus amigos estão organizando.

—Cerimônia? — Franziu o cenho, confuso. —Que cerimônia? A que a diretora está montando no gramado do campus?

—Não, não. — Deu uma risadinha. —Uma cerimônia um pouco mais... Extracurricular, eu diria. No lago. — O sorriso dela se alargou.

—Ah, você quer dizer uma festa ilegal no meio do mato. — Revirou os olhos, rindo de leve.

—Exatamente! — Confirmou. —E aí, o que me diz? — Inquiriu, se aproximando.

—E o que eu tenho a dizer sobre isso? — Riu. —Não é como se eu pudesse de alguma forma impedir essa barbárie de acontecer. — Deu de ombros, referindo-se ao fato de que, como presidente do Grêmio Estudantil, talvez o esperado fosse que ele fizesse algo a respeito.

—Estou perguntando se você iria com a gente, cabeção! — Deu um tapa de leve no braço dele.

—Por que eu faria isso? — Suspirou, pensando em todas as responsabilidades que o faziam sequer se lembrar de que esse tipo de evento existia.

—Porque já faz muito tempo desde a última vez que te vi bêbado. — Colocou as mãos nos ombros dele. —Você está um poço de tensão, e precisa extravasar isso de uma vez. Além disso, vai ser ótimo para os convidados da outra escola se sentirem interessados nesse "pequeno evento surpresa", se o excelentíssimo presidente do Grêmio confirmar presença nele. Fora... — Ela se afastou, cruzando os braços mais uma vez. —...Que seria muito bom te ter por perto de vez em quando. Digo, em um momento divertido, não só nesses problemas que a vida mete a gente. — Confessou.


Jacob estreitou a visão na direção dela, com um olhar cômico que dizia "sei que está tentando me persuadir, sua mala", mas não desacreditando das suas palavras. Realmente, fazia algum tempo desde que saíram juntos pela última vez.


—Vou pensar no seu caso. — Respondeu por fim, enchendo-a de esperança.


[...]


Alevi caminhava pela área externa do Instituto. Pela primeira vez no dia, precisou se separar de Thomas, que reuniu-se com os demais membros da nova equipe de Xadrez escolhida por ele, e infelizmente recebeu orientações para não levar ninguém de fora ao encontro. Portanto, sozinho, resolveu dar uma volta pelo campus, matando o tempo até o jantar.

Seu corpo o guiou até o local que, desde a noite anterior, se tornou um dos seus preferidos dentro do colégio. Tratava-se do pomar a céu aberto, um amontoado de árvores robustas e magníficas. Chegando lá, sentiu o agradável cheiro de flores que enfeitavam as copas, e ouviu o doce canto dos pássaros pairando acima da sua cabeça. No interior daquela área, existiam alguns bancos de madeira pintados de branco, e Alevi pretendia sentar-se em um deles para absorver a tranquilidade do recinto. Entretanto, decidiu antes fazer uma visita ao belo carvalho em que beijou Green.

Pela importância do que viveu em cima dela, sentia que a árvore era quase sua. Não pertencia a ninguém, claro, como todo elemento livre da natureza, mas gostava de vê-la como mais especial que as outras. Conforme caminhava até ela, guiando-se pelo caminho de cimento desenhado por entre os troncos, ouviu um som estranho. Um farfalhar, como se galhos e folhas fossem balançados com força por uma ventania agressiva. Franziu o cenho, curioso, já que nem de longe a brisa daquela tarde estava forte o suficiente para tanto. Adotando uma postura instintivamente cautelosa, continuou seu caminho, e sentia que, quanto mais se aproximava do carvalho que procurava, o barulho ficava mais alto.

O olhar vacilou, olhando em volta. O som então se materializou num cenário assustador. Perante a cena, Alevi levou um susto, se esgueirando em sobressalto para trás de uma macieira larga, que felizmente conseguiu escondê-lo muito bem.

Para seu azar, infelicidade, preocupação, aflição e medo, ali estava, mais uma vez, a pessoa com a qual nunca se deparou tantas vezes antes na vida, mas que agora, quando tentava evitá-la fervorosamente, insistia em brotar na sua frente o tempo todo.

Kenai Bullet.

O loiro de quase dois metros de altura protagonizava uma situação peculiar. Despido da cintura para cima, com a camisa social do uniforme e a gravata jogados no chão próximos a si, deixava a mostra o corpo pálido e extremamente musculoso. Existiam duas faixas, que um dia foram brancas (mas agora pareciam manchadas com algo), enroladas nas mãos e punhos do rapaz. Mãos essas, que ele utilizava para socar violentamente o tronco à sua frente. A árvore, que era jovem e um tanto fina em comparação às demais, balançava e tremia com os golpes.

Alevi engoliu em seco. A situação poderia ser pior, caso fosse o seu carvalho sendo agredido diante de si, mas felizmente não era (na verdade, este se via a alguns metros de distância, sem ser incomodado). Ainda sim, presenciar uma árvore sendo tão agressivamente golpeada lhe entristeceu, mesmo que ela parecesse aguentar a "surra", sem dar indícios de que se partiria, ou qualquer coisa próxima a isso.

Kenai estava de costas para Alevi. Caso fosse embora rapidamente, a presença do mais novo sequer seria notada. Uma série de coisas passava pela mente dele, e a principal delas era o sermão que levou de Thomas no vestiário masculino, após o tryout para o time de Polo Aquático.

"—...Você precisa se cuidar, quando eu ou seus irmãos não estivermos por perto... E se cuidar, inclui resistir a essa tentação por procurar respostas que existe dentro de você." — Green dissera.

O pensamento lhe fez morder o lábio inferior, conflitante, sem conseguir tirar os olhos de Bullet. Observava o contorno de seus músculos, e a tensão que parecia ser liberada, soco após soco.

Por que você é assim?

Havia um pouco de suor cobrindo o corpo imponente.

Por que?

Parou de observar, e encostou a cabeça no tronco a sua frente, ficando totalmente invisível. Fechou os olhos, contendo com dificuldade a vontade de permanecer ali, observando e alimentando suas dúvidas. No fim, não demorou para decidir sair de lá o mais rápido que pudesse. Precisava ser responsável, por si mesmo, e por aqueles que ficariam arrasados caso algo acontecesse consigo.

Antes de fugir, embora continuasse ouvindo o impacto dos socos, quis certificar-se de que não seria visto, dando uma última espiada no loiro, que estava a poucos metros de distância de si.

Se tivesse simplesmente saído correndo, sem checar se a barra estava limpa, nada teria acontecido. Mas Alevi olhou, o que deu abertura para que percebesse algo que o atingiu como um soco no estômago.

Havia um pássaro que, entre os tantos outros cantarolando nos arredores, se destacava por piar aguda e desesperadamente. Tratava-se de um Pisco, espécie de ave pequena, tão comum na Inglaterra quanto um pardal no Brasil. Não demorou para Alevi perceber que se tratava de uma fêmea: ela estava em pânico, pois os golpes de Bullet, que chacoalhavam os galhos incessantemente, estavam prestes a derrubar o seu ninho, de onde se sobressaíam pequenas cabeças de passarinhos recém-nascidos, também piando alto, clamando por socorro.

Entrar em desespero foi inerente a Alevi. Ele simplesmente sentiu sua respiração dificultar, o coração acelerar e um arrepio de aflição subir pela espinha. O ninho não podia cair dos galhos altos em que encontrava. Se isso acontecesse, todos os bebês acabariam mortos com o impacto. Seu peito apertou, em compadecimento pela pobre passarinha, que nada poderia fazer para impedir que os filhotes morressem daquela forma.

A empatia que sentia por todos se acentuava quando o assunto eram criaturas da natureza. E a adrenalina começou a acumular-se em seu interior. Num pico de coragem, desespero e, mais tarde pensaria, estupidez, ele, vendo o galho onde o ninho se acomodava começar a se partir, saiu bruscamente de seu esconderijo:


—PARA! — Exclamou. —Para, por favor! Por favor! — Suplicou, com as mãos estendidas à frente do corpo, vacilando o olhar entre Bullet e a família de pássaros.


Imediatamente Kenai de fato cessou seus movimentos. Os punhos baixaram enquanto, intrigado, seu cérebro processava de quem seria aquela voz familiar. Ofegante, os músculos do peito subiam e desciam, rígida e aceleradamente. A cabeça pendeu para frente, com o olhar esverdeado mirando o chão. Seu maxilar trincou, deixando a linha deste bastante marcada, em um gesto inconsciente de frustração por ter sido interrompido.

Lentamente, se virou na direção da fala escutada. Quando ficou de frente para Alevi, ainda separado dele por pelo menos dois metros de distância, o mais novo pôde descobrir o que eram as manchas avistadas de longe na faixa branca.

Sangue. Inquieto, imaginou o quão feridas estariam as mãos que sangravam.

Tão devagar quanto o fez para se virar, Kenai ergueu o rosto, revelando uma face ameaçadora, vermelha e molhada de suor. Seu olhar, verde e opaco, parecia completamente vazio, com exceção por uma pequena faísca violenta transbordando o ódio que antes tentava extravasar com os socos na madeira. Alevi se apavorou. Procurou alguém pelos arredores por um instante, se vendo completamente sozinho. Sentia-se pequeno, e encurralado. Ouvia o ar saindo agressivamente das narinas de Bullet, que respirava com raiva. Não via como sair dali ileso.


—E-eu... — Alevi tentou se explicar, totalmente incapaz de escolher palavras para tanto. —V-você ia... Derrubar o ninho. — Sua voz soou fraca, quase inaudível. Então, apontou para cima, indicando o local em que a passarinha agora se encontrava pousada próxima aos bebês, muda, e provavelmente ainda se acalmando do susto. Kenai deu uma rápida olhada por cima do ombro, identificando do que ele falava, e cerrou os punhos.


Bullet lembrou de Jacob, e a ameaça que este lhe fez. Chegou até mesmo a pensar em dar alguns passos para trás, assim, caso fossem vistos, ficaria nítido que não estavam propositalmente próximos. Antes que o fizesse, se deu conta de que isso significava ser obediente às "ordens" do presidentezinho filho da puta.

Como se deixou chegar a aquele nível? Como?! Cedendo a chantagens, como um maldito covarde apavorado. Cedendo a Jacob, o protegido da direção, o intocável, o "perfeito"... Deus no céu, e o maldito santo White na Terra. Santo White, que ele já flagrou chapado uma vez. Que era um puto de um adolescente fodido como todos os outros, fazendo merda como todos os outros, mesmo que menos. Um puto idolatrado pelos adultos, que apertavam sua mão como se ele fosse a porra do primeiro-ministro*.

Um puto que queria colocar limites nas suas ações. Que queria poder.

Um puto que queria controlá-lo.

O corpo de Kenai, com o ódio pulsando e tomando conta de cada movimento, esquentou mais um pouco. Já estava em um acesso de raiva anteriormente, quando socava à árvore (o que fazia apenas por ter sido expulso do ginásio de boxe pelo treinador, que percebeu que este golpeava o saco de pancadas com uma violência perigosa), mas, agora, explodiria.

Com a visão um tanto embaçada, se esforçou para focar no pirralho a sua frente. O pirralho que quase o fez ser pego com drogas na segunda-feira. O pirralho que colocou Jacob em seu encalço. Foda-se a matéria que o irmão dele escreveria. Fodam-se os seus pais, malditos jornalistas premiados.

Ia matar aquele desgraçado.

Foda-se Silas Bullet. — O pensamento o fez estremecer por um momento. Mas, era isto. Este parecia ser o seu destino: cometer um assassinato, ser preso, assistir seu pai lidando com a mídia e pagando um valor milionário para que o filho pudesse cumprir a pena em regime domiciliar, e então passar a vida convivendo com as consequências do ocorrido. Só poderia ser essa a mensagem que o universo tentava lhe transmitir no momento, colocando bem na sua frente o maldito moleque que ele mais queria espancar.

Era o local perfeito. Poucas câmeras, nenhuma pessoa por perto. Os punhos, já fechados, com as unhas machucando as palmas das mãos pela força com a qual as apertava, estavam prontos para desfigurar o rosto do caçulinha White. Bater, bater, e bater.

Ele se aproximou, um passo de cada vez, observando o temor instaurado no rosto do mais novo.

Bizarramente, seus pensamentos lúcidos desapareceram, evaporando como água.

Bater, bater e bater.

Seu instinto mais íntimo e violento o controlava. Quase já não existia um ser humano pensante dentro do corpo robusto, que se assemelhava mais a uma carcaça oca do que qualquer outra coisa, servindo para um único propósito:

Bater, bater e bater.

E se alguém o interrompesse no ato, e lhe perguntasse, não saberia responder o motivo de estar espancando-o.

Alevi sentia-se estúpido, apavorado, e começou a andar para trás, paralisado demais para correr, mas não estático a ponto de ficar esperando seu agressor alcançá-lo. Infelizmente, sentiu a árvore em que se escondeu anteriormente bater em suas costas. Olhou para os lados, desesperado, mas quando voltou a encarar Kenai, soube que qualquer tentativa de fuga seria inútil. Ele iria pegá-lo, se quisesse (e queria), independente dos seus esforços para escapar.

O loiro chegou mais perto, devagar, confiante de que o outro sabia que estava encurralado.

Finalmente, estavam frente a frente, com os corpos separados por pouquíssimos centímetros.

Alevi tremia. De início, encarava o peito musculoso de Kenai, que ficava em seu campo de visão devido à grande diferença de estatura entre eles. Sentiu a respiração forte e pesada dele soprando os cabelos castanhos, e involuntariamente apertou o tronco da macieira atrás de si.

Qualquer um teria fechado os olhos, bem apertado, e esperado a dor de um golpe lhe atingir a qualquer momento. Mas Alevi não fez isso. Numa última tentativa de parar Bullet, ergueu o rosto, encarando-o com uma expressão genuína de confusão e medo, pensando:

Por que eu?

Mirou-o diretamente nos olhos. Azul no verde.

A visão de Kenai ainda estava embaçada pela fúria. Ele ergueu o punho esquerdo.

O castanho se encolheu, e não desviou o olhar. Percebeu que seria atingido, mas antes que o soco se concretizasse, suplicou:


—P-por favor... Não precisa fazer isso... — Mesmo tremida, sua fala gritava coragem, e a voz soava doce. Doce, e tão pacífica, que atingiu o outro em cheio.


Algo estalou na cabeça de Bullet, como um interruptor sendo apertado em seu cérebro, fazendo-o recobrar a consciência. Ainda com o punho erguido, a visão clareou. Ele se deparou com o garoto totalmente encolhido, tremendo, mas de rosto erguido, encarando-o. Kenai franziu o cenho, confuso. Aqueles olhos grandes, sublinhado pelas interessantes sardas, miravam os seus com tamanha intensidade, que fizeram-no se sentir invadido. Invadido, e preso. Por um momento, também não foi capaz de desviar o olhar, hipnotizado.

Quando estava prestes a espancar alguém, Kenai geralmente se via diante de posturas covardes, ou tão raivosas quanto a sua própria. Mas o que encontrou naquele menino era diferente. Uma tentativa tão frágil de coragem, um rosto tão indefeso e ao mesmo tempo tão valente, o desestabilizou por completo.

Em um lampejo, uma série de coisas lhe veio à mente: Jacob White; Uma matéria sobre seu comportamento que poderia ferir a reputação do pai; Sua mãe e irmãzinha sendo afetadas pela reação da mídia; A fúria de Silas Bullet se voltando contra si.

Kenai estremeceu, mas a raiva não se esvaiu por completo.

E então, ele socou. Forte, fazendo o punho sangrar mais do que já sangrava antes.

Mas o golpe acertou a árvore em que Alevi se escorava, e não sua face.

Ele aproximou seus rostos de forma ameaçadora, a ponto dos narizes quase encostarem, ainda sem conseguir quebrar contato visual com aquelas intrigantes orbes azuis. Sem saber que ele não tinha conhecimento do plano do irmão mais velho, vociferou:


—Se você sequer pensar em contar pro seu irmão o que aconteceu aqui, eu vou atrás de você. Mas dessa vez eu não vou parar. Acredite em mim. — Realmente falava sério.


Alevi não duvidou de suas palavras por nenhum instante, assentindo rápido, entendendo o recado.

Bullet deu um passo para trás, abrindo passagem para que o outro pudesse sair de lá. Ainda em choque, o mais novo não se mexeu.


—Some. Daqui. — Cuspiu, pausadamente.


Kenai notou que o medo parecia ter se esvaído da expressão facial de Alevi. Na verdade, ele encarava-o de maneira curiosa, com um semblante que, ele imaginou ser idiota em pensar, parecia transpassar dúvida, e compaixão, acima de qualquer outra coisa. Mas isso seria loucura. Quem seria estúpido a ponto de ter algum tipo de compaixão por alguém que quase lhe deu uma surra? E que caralho de motivo faria ele sentir isso por si em primeiro lugar, já que nunca trocaram uma única palavra antes?!


—Vai embora! — Esbravejou mais uma vez, sem entender o motivo pelo qual o outro ainda não saiu correndo.


Alevi se esgueirou para o lado.

Mais suado do que antes, Kenai passou uma das mãos pelas têmporas com força, alterado, mas claramente tentando se acalmar, forçando a respiração descompassada a retornar ao normal.

Por que você é assim? — A frase ecoava na cabeça de Alevi repetidas vezes.

Temendo que este mudasse de ideia, e agora totalmente instigado a saber mais sobre aquele cara, saiu correndo.


NOTAS FINAIS

*Cheerleading = Líderes de torcida.

*Cheer = Abreviação de cheerleading.

*Primeiro-ministro = Maior símbolo político da Inglaterra, onde a história se passa.

E aí, o que acharam? Estou ansiosa para ler os comentários de vocês! Desculpa qualquer erro de ortografia, repetição ou mal entendimento. Beijos, e até a próxima! 

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