Capítulo III - Símil.
NOTAS INICIAIS
Muito obrigada pelos comentários, vocês me motivaram muito a continuar! Obrigada, obrigada, obrigada! Para que vocês consigam imaginar a situação que se passa nesse capítulo, eu recomendo que releiam o prólogo, prestando atenção nos personagens Jacob e Mackenzie White. Enfim, boa leitura, espero que gostem!
CAPÍTULO III — SÍMIL.
"Peculiaridades são meras semelhanças."
— Hans Fischer.
Condado de Oxford, Inglaterra.
Município de Pinewood.
02/06 - Terça-feira.
03:45 P.M.
Quando os estudantes do Instituto Ólympus pensavam em Jacob White, dentre os diversos adjetivos que lhes vinham em mente, "inteligente", "popular", "simpático", e "tranquilo" destacavam-se como os que apareciam com mais frequência. Poucos conheciam o lado mais instintivo do que empático da sua afiada e impiedosa lógica.
—Esse desgraçado é inacreditável... — Jacob murmurou, passando as mãos pelo rosto bruscamente, em seguida apoiando os cotovelos na mesa de pedra à sua frente.
Seu topete castanho, perfeitamente alinhado, estava por um triz de ser desarrumado a qualquer momento durante um gesto involuntário de estresse. Toda a face expunha o impacto que a história escutada momentos antes tivera em seu humor.
—É isso. — Mackenzie ficou em pé. —Vou quebrar as pernas dele.
—Eu ajudo... — Thomas Green ergueu a mão direita, se voluntariando, e exibindo um meio sorriso sarcástico.
—Gente, para... — Alevi pediu, cansado. —As pernas de ninguém precisam ser quebradas...
O grupo se localizava em uma das áreas externas do internato. Tratava-se de um pátio a céu aberto, com mesas e bancos de pedra espalhados por entre as sombras de uma dúzia de carvalhos. Alguns canteiros de flores azuladas decoravam os arredores, juntamente com arbustos bem podados, que acrescentavam mais vida e pontuavam o paisagismo minucioso e característico da escola. O tráfego de alunos pelo local naquela tarde estava muito baixo, o que fazia dele um ponto perfeito para conversas que requisitavam um tanto mais de privacidade, longe de olhos e ouvidos curiosos.
Thomas, Alevi, Mackenzie e Jacob se reuniam em uma das mesas, já faziam mais ou menos vinte minutos. O caçula, com a ajuda de Green, contou aos interessados e preocupados irmãos mais velhos tudo o que estava se passando desde aquela manhã.
—Mackenzie, senta. — Jacob pediu, massageando as têmporas, enquanto tentava pensar.
—Não, estou falando sério. Aquele psicopata encostou em você, Levi. Colocou as mãos sujas no seu corpo, ameaçou te bater. Se o Thomas não tivesse aparecido na hora pra te defender, sabe-se lá o que teria acontecido! — O tom de voz se elevava, proporcional ao tamanho da sua perplexidade. —Se ele planeja tocar em mais um único fio de cabelo seu, vou garantir que esteja aleijado demais pra isso.
—Fala baixo... — O mais velho orientou, olhando em volta e certificando-se de que não tinha ninguém por perto antes de delicadamente puxar o antebraço da irmã, fazendo com que esta retornasse a se sentar.
—Olha, não dá pra dizer que o raciocínio dela não tem lógica... — Thomas deu de ombros. —Se alguém der uma surra nele antes, não tem como ameaçar o Levi do hospital.
—Vocês querem parar com isso? — Jacob revirou os olhos, impaciente. —Parecem crianças, cacete! — Os dois o acataram de imediato, calando-se.
Alevi sentia o coração pulsar na boca. Observava o impacto do problema que, na sua cabeça, ele tinha criado, e ver as pessoas com quem mais se importava no mundo "discutindo" por conta daquilo era nauseante. Queria se levantar, pedir desculpas, dizer que foi tudo um mal entendido, agarrar Thomas pelo braço, e sumir dali.
Para começo de conversa, após refletir sobre o assunto, chegou à conclusão de que não gostaria de expor o acontecido entre ele e seu agressor para os membros da sua família. O motivo era que sabia que ambos os irmãos estavam extremamente ocupados com os preparativos para os Jogos M.C.K.: Um, por ser presidente do Grêmio Estudantil, completamente envolvido na organização do evento, e a outra, por ser uma das capitãs do time de cheerleading* do internato. A ideia de que a dupla ficasse tão preocupada consigo a ponto de desviarem-se das suas tarefas para virar cães de guarda do irmão caçula indefeso, ou pior, se sentirem culpados por não poderem cumprir tal função devido aos seus afazeres, era infinitamente mais torturante do que a hipótese de ser pego desprevenido por Kenai, e levar uma surra.
Enquanto almoçavam juntos, Alevi expôs sua decisão para o melhor amigo. Diante da explicação, Thomas discursou sobre o assunto por mais de meia hora, argumentando categoricamente que pedir por proteção aos irmãos dele não era só a melhor coisa a ser feita, como também a única ação que poderia ajudá-los a encontrar uma solução plausível para aquela história maluca.
White acabou cedendo aos esforços persuasivos dele, mas isso não significava que se convenceu de que era uma boa ideia. O desconforto crescente ouvindo a conversa que se seguia diante de si, por exemplo, confirmava isso.
—Por mais tentador que seja... — Jacob suspirou, obrigando-se a ser menos rígido com os demais. —...Comprar briga física com esse cara não seria uma atitude inteligente. Só atrairia mais problemas pra todo mundo.
—E se você fizesse uma denúncia formal à coordenação? Sei lá, quem sabe até mesmo falasse diretamente com a diretora, Jacob? — Thomas sugeriu. —Você tem muitos créditos com esse pessoal, com certeza vão nos ajudar.
—Não é tão simples... — Passou uma das mãos pela nuca, frustrado. —Se fosse qualquer outro imbecil, seria. Mas não esse. — A última frase soou entredentes.
—Ok, se não podemos aleijar ele, mesmo eu ainda sendo cem por cento a favor disso, nem pedir pro Instituto tomar alguma providência, então, o que você sugere?! — Mackenzie inquiriu. —Que a gente ignore o problema até o Levi aparecer com o rosto desfigurado?! Aliás, por que exatamente não podemos pedir ajuda pra administração da escola? Ameaça de violência física, dentro do campus ainda por cima, é passivo de impunidade, por um acaso?! — Seus acusadores olhos castanhos fuzilaram Jacob, cuja postura a abismava.
Ela, já bastante conhecida por adotar comportamentos passionais quando seu senso de justiça era provocado, sentia o sangue ferver.
—Você conhece esse cara? Já ouviu alguma coisa a respeito dele antes? — Questionou Jacob, se esforçando muito para projetar um tom de voz calmo. As mãos agora brincavam nervosamente com as próprias pulseiras.
—Claro que sim. Má fama esse infeliz tem de sobra. Só hoje fiquei sabendo que ele quebrou o nariz de um garoto durante o teste do time de Polo. — Respondeu. —A propósito, isso, mais o histórico podre dele e a ameaça que fez ao Levi, com certeza já dariam material suficiente para a diretora escrever uma carta de expulsão quilométrica!
—Exato. — Pontuou, ríspido. —Tocou exatamente no ponto em que eu queria chegar: se esse canalha já causou tantos problemas assim ao longo dos anos, por que acha que ele nunca foi expulso? Isso alguma vez já passou pela sua cabeça?! Por que ele ainda está aqui, fazendo uma merda atrás da outra, levando no máximo algumas advertências e suspensões? Pensa, Mackenzie. — Bufou.
—Não faço a menor ideia do que você está falando. — Retrucou, cruzando os braços mais uma vez.
—Eu ouvi dizer que o pai dele está envolvido com os times esportivos do Instituto... Tem algo a ver com isso? — Thomas temia a resposta, e não gostava das conclusões que começavam a chegar.
—Pois é. — Jacob prosseguiu, progressivamente perturbado. —Bem mais do que só estar "envolvido" com as equipes, ele é filho do cara que financia a coisa toda. Transportes, estadias, uniformes, equipamentos, reformas e manutenção dos ginásios... Tudo. Inclusive, uma grande parte do valor dos Jogos vai sair do bolso dele. O cara é presidente de multinacional, dono de alguns dos melhores estádios esportivos do mundo. Por mais que o Instituto supostamente tenha sua "moral" e "ética", essa é uma aliança que, financeiramente falando, não vale a pena ser rompida por nada. Mesmo que, pra manter ela, precisem deixar o primogênito problemático continuar estudando aqui. — Voltou a massagear as têmporas. —Nesse sentido, infelizmente, o filho da puta é intocável. A menos que ele, sei lá, mate alguém, e a própria polícia venha o arrastar pra fora daqui, nada do que esse cara fizer vai terminar com ele sendo expulso. Se o denunciarmos no máximo seria suspenso, o que só alimentaria mais ainda sua insanidade, e não resolveria o problema. Quando voltasse da suspensão, transformaria a vida do Levi em um inferno. Já perdi a conta de quantos garotos assisti pedirem transferência pra outro colégio por conta dele. — Fez uma pausa, amargurado. —Pedir ajuda não é uma opção.
—Não pode estar falando sério. — Mackenzie negou com a cabeça, incrédula. —Você não está mesmo sugerindo que a gente não faça nada, não é?!
—Nunca disse isso. — Rebateu. Algo interessante invadiu seus pensamentos.
—Desculpa, Jacob, entendi tudo o que você disse, de verdade, mas se tem algo em mente eu também não estou conseguindo enxergar o que é... — O olhar cor-de-mel de Thomas vacilou por um breve momento, direcionando-se para seu melhor amigo.
Assim que deparou-se com Alevi completamente amoado, despedaçou-se. Tinha que existir uma saída, qualquer que fosse. A ideia de apenas conviverem com a possibilidade dele ser machucado simplesmente não podia ser levada em consideração. Precisava ser protegido. Alguma coisa teria que ser feita.
Alevi, por sua vez, enquanto se colocava como mero telespectador da discussão, foi dominado pelo desconforto, que transformou-se numa sensação opaca de ansiedade. Os lábios mantinham-se discretamente separados, como se fosse dizer algo, mas seus pensamentos lhe rodeavam de maneira tão abstrata, que era incapaz de pronunciar uma palavra sequer.
—Foda-se. — Jacob falou para si mesmo, firme, se levantando.
Um raciocínio calculista, gélido e impiedoso lhe invadiu a razão. Transbordava de raiva. Aquela não era a primeira vez que tinha de lidar com Bullet, e ódio do viciado era o que não lhe faltava. Motivação para querer ferrá-lo, tinha de sobra. E agora, o delinquente estava ameaçando sua família.
Durante um momento obscuro do passado, em que teve de lidar com problemas diretamente ligados ao Kenai, Jacob, em meio a um surto emocional, elaborou uma ideia não para "acabar com Bullet", mas sim para fazê-lo sofrer. Na época, abandonou-a logo de cara. Sabia que o que tinha em mente culminaria em consequências tenebrosas. Mas agora, Kenai merecia isso. Estava pedindo por isso. E, se não se afastasse do seu irmão caçula, teria de aguentar o resultado.
—O que foi? — Mackenzie também pôs-se em pé, confusa.
—Eu pensei em algo. Vou resolver isso, e aquele animal nunca mais vai pensar em se aproximar de você de novo. — Encarou Alevi de cima, perigosamente determinado.
O mais novo, observando a imponente figura alta e musculosa do irmão que estendia-se diante de si, se sentiu muito familiarizado com a expressão estampada em seu rosto. O maxilar trincado, lábios comprimidos, sobrancelhas baixas, cenho franzido e um olhar sombrio.
Alevi estava tão avoado, que deixou seus pensamentos fluírem sem dono. E em meio a esse devaneio, os olhos de alguém que presenciou ambos serem consumidos pela fúria não puderam deixar de notar como Kenai Bullet e Jacob White pareciam extremamente semelhantes.
NOTAS FINAIS
*Cheerleading = Time de líderes de torcida.
Enfimmm, é isso! Confesso que me senti bastante "enferrujada" escrevendo esse capítulo, e não sei se ficou muito bom. Estou disposta a fazer alterações nele, e até escrevê-lo de novo se para vocês leitores não estiver no mesmo nível dos capítulos anteriores. De qualquer forma, eu espero que tenham gostado! Desculpem por qualquer erro de ortografia, repetição ou mal entendimento! Até a próxima, beijão!
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