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Capítulo II - Abstruso.

NOTAS INICIAIS

Olá pessoal! Talvez vocês estejam se perguntando: Ué, cadê os outros personagens que vimos no primeiro capítulo? Calma, nesses primeiros três capítulos, decidi puxar o arco do Kenai, Alevi e Thomas, primeiro. A partir do próximo, já vamos começar a puxar os outros arcos também. Tenham só um tiquinho de paciência!

Enfim, é isso! Boa leitura!

CAPÍTULO II ABSTRUSO.

"Por que tempesta es significam coisas ruins? Você já viu como são lindas as ondas quando furiosas?"

Igor Figueredo.


Condado de Oxford, Inglaterra.

Município de Pinewood.

02/06 - Terça-feira.

08:45 A.M.

O Instituto Ólympus possuía dois ginásios voltados para atividades aquáticas, um masculino, e outro feminino. As estruturas de ambos contavam com duas piscinas olímpicas (cinquenta metros de comprimento, vinte e cinco de largura e três de profundidade cada), arquibancadas cercando-as para a plateia, e vestiários com armários e chuveiros de água quente disponíveis aos atletas.

Naquele momento, os testes para os times de Polo Aquático feminino e masculino aconteciam simultaneamente, em recintos separados.

Alevi White assistia de cima o tryout dos rapazes, tentando prestar atenção o suficiente na partida para compreender a movimentação dos jogadores e as regras do esporte. Cada equipe era composta por treze estudantes. Sete de linha, ou seja, titulares, e seis reservas. Haviam duas traves, localizadas em extremidades opostas da piscina, e o objetivo dos garotos era marcar gols na área dos adversários, usando apenas uma mão para arremessar a bola.

Observar a piscina nauseava-o. Hidrofóbico, sentia-se inseguro quando perto de águas profundas. Mais do que apenas não saber nadar, Alevi carregava no espírito duas trágicas experiências com afogamento, das quais odiava pensar ou falar sobre. Infelizmente, relembrá-las era inevitável diante daquele cenário que, embora fosse meramente esportivo, parecia-lhe tremendamente assustador. 

Thomas Green estava em campo, para piorar suas preocupações. Mantinha em mente que o amigo treinou muito para aquele momento, era um ótimo nadador, e existiam pessoas à sua volta para ajudá-lo em caso de uma emergência. Pelo menos, seus anseios ainda deixavam-lhe um pequeno espaço para desejar, de todo o coração, que o mais velho mostrasse um bom desempenho no teste para o qual tanto se preparou.

Entre todos os sentimentos que o cenário lhe despertava, um se sobressaía: aflição.

Pois Kenai Bullet também participava da partida.

Temendo que, devido ao conflito entre eles mais cedo, o loiro pudesse agredir Thomas durante o jogo, Alevi se segurava em duas coisas para não correr arquibancada abaixo e implorar que o melhor amigo saísse da água: a primeira, era que eles jogavam na mesma equipe, e a ideia de Bullet machucá-lo nessas circunstâncias não fazia muito sentido; A segunda, tratavam-se das toucas esportivas que todos os atletas eram obrigados a usar. A questão era que, por serem bastante justas, escondendo os cabelos dos garotos, elas mudavam suas fisionomias. Portanto, o palpite no qual Alevi depositava todas as suas esperanças, era no de que Kenai, até então, não reconheceu Thomas com tal acessório, e por isso nada fizera para prejudicá-lo.

Assistindo a cada movimentação de ambos, buscava, nervoso, certificar-se de que não estavam perigosamente próximos. Mordia as bochechas e suava um pouco, quase incapaz de conter as próprias emoções diante de olhos alheios.

Thomas já tinha participado de alguns jogos amistosos da modalidade, ganhando experiência nela, e portanto se saía bem. Mesmo assim, não marcou nenhum ponto àquela altura. Bullet, por outro lado, mostrava ter nascido para nadar. Seus movimentos dentro da piscina fluíam com agilidade: driblava, defendia e marcava pontos como um profissional. Nada mais do que o esperado, afinal, era vice-capitão do time titular de Polo Aquático do Instituto Ólympus, treinando o esporte várias horas por semana desde pequeno. Aliás, por sua causa, a equipe dele e Thomas, que vestiam toucas vermelhas, liderava o placar.

A partida era dividida em quatro tempos de sete minutos, e os estudantes disputavam o terceiro. Alevi olhava para o relógio a todo momento, querendo que os segundos passassem mais rápido, para que assim seu amigo saísse logo da água, ileso, e sua angústia fosse finalmente aliviada. Também sentia-se arrebatadoramente culpado, se massacrando com a reflexão de que Thomas estava metido naquela bagunça toda com Kenai por sua causa.

Alevi acompanhava Green com o olhar, e não pôde deixar de notar, com certa admiração mas sem desligar-se cem por cento das próprias preocupações, como o físico deste mudou desde que começou a se exercitar. Os braços exibiam músculos mais torneados, assim como o peitoral e costas, com marquinhas de sol na nuca e ombros. Procurou Kenai em seguida, reconhecendo-o facilmente por conta da sua aparência muito mais ameaçadora do que a dos demais atletas. O loiro disputava bola com um rapaz asiático, tentando encurralá-lo contra uma das bordas da piscina.

A disputa se mostrava tensa, mas o adversário dele, estranhamente, exibia um sorriso sarcástico, enquanto proferia algo (inaudível para a platéia na arquibancada). Alevi, então, estreitou o olhar, observando o comportamento de Bullet com muito interesse.

Kenai, de início, pareceu concentrado no jogo, fitando única e exclusivamente a bola, ignorando as palavras que o outro cuspia. No entanto, repentinamente, sua expressão facial mudou. Os olhos verdes miraram o rosto do rapaz à sua frente, e seu maxilar trincou numa carranca. White pôde reconhecer a chama de ira que se acendeu ali: era a mesma que viu mais cedo, no corredor. Bullet murmurou algo, notavelmente furioso, e o que aconteceu nos segundos seguintes chocou a todos: O loiro, num movimento ágil, e extremamente forte, mirou um soco no rosto do adversário. Imediatamente, o garoto asiático largou a bola, e levou as mãos ao nariz. A água começou a ficar vermelha, enquanto muito sangue escorria pelos dedos do menino, que urrava de dor.

Todos os espectadores, ao presenciarem tamanha violência, ficaram atiçados, e vaiaram alto, em uníssono.

Bullet pretendia continuar agredindo-o, erguendo o punho esquerdo para desferir mais golpes, mas foi impedido por colegas da sua equipe. Precisou-se de três rapazes para conseguir contê-lo, e afastá-lo da sua vítima. Ao mesmo tempo, os demais atletas de ambos os times se mobilizaram para ajudar o menino debilitado. Tiraram-no da água, e os técnicos de Polo Aquático, juntamente com o juiz que regia a partida e um paramédico, se aproximaram correndo para ampará-lo.

Não demorou para a expulsão de Kenai ser anunciada. O loiro, extremamente irritado, conseguiu se desprender dos garotos que lhe seguravam, e nadou para fora da água. Assim que ficou em pé, arrancou a touca vermelha da cabeça, jogando-a na piscina num movimento de revolta, e saiu andando em direção ao vestiário. Ao som de vaias, desapareceu.

Alevi estava chocado. Boquiaberto, não sabia o que pensar, nem como processar o que presenciou. Viu Bullet passar, em milésimos de segundo, de naturalmente focado na partida para extremamente afetado por uma provocação. O que diabos aquele garoto lhe disse para tirá-lo de si de maneira tão brusca? Sua preocupação por ter irritado o loiro, completamente violento e imprevisível, triplicou. Ao mesmo tempo, uma nova pontada de curiosidade, cuja existência ele não podia negar, nasceu em seus pensamentos.

Por que Kenai era assim?

Instintivamente, correu os olhos pelos jogadores, que se retiraram da piscina, procurando pelo melhor amigo. Encontrou Thomas conversando com membros da própria equipe, parecendo tão surpreso quanto todos os outros. Os atletas vestiam sungas esportivas pretas, modelo boxer, padrão para a modalidade no Instituto. O visual arrancava suspiros das pessoas na arquibancada, mas Alevi não prestava atenção nisso.

De certa forma, White não odiou o novo cenário. Bullet não entraria mais na água, e portanto, por hora, não conseguiria machucar Thomas, para o seu alívio. Mas tudo isso, no entanto, significava um perigo posterior ainda maior, já que Kenai provavelmente estaria num humor péssimo por um bom tempo. Teriam de ser mais cautelosos dali em diante.

Os técnicos, falando alto, restauraram a ordem no recinto. Ambos os times voltaram para a partida, visando finalizar os últimos sete minutos do tryout. Um rapaz ruivo, escalado para o banco de reservas, entrou no time azul, como substituto do asiático machucado anteriormente, e outro, negro, entrou no lugar de Kenai, na equipe vermelha.

O coração de Alevi voltou a bater rápido e, até o fim, não desacelerou por nem um único segundo.

[...]


A partida terminou. Sem a presença de Bullet na equipe vermelha, que estava ganhando, o time azul se sentiu muito mais confiante e determinado, mudando o placar rapidamente, virando e vencendo o jogo. Todos os atletas, então, foram reunidos do lado de fora da piscina, com o juiz e os técnicos, que anunciariam o resultado do teste.

Alevi sabia que o próximo passo de Thomas, após descobrir se entrou ou não no time, seria ir até o vestiário, onde deixou seus pertences. Sendo assim, resolveu esperá-lo por lá.

Quando adentrava o recinto, que nada mais era do que uma sala cheia de bancos brancos, ligada a alguns corredores de armários azuis e um banheiro com diversos chuveiros, ouviu vozes altas. Em primeiro momento, se perguntou se ficar ali seria uma boa ideia. Porém, o questionamento não foi o suficiente para que se afastasse do lugar.

Já totalmente dentro do cômodo, notou que as falas se tratavam de uma discussão, bastante intensa, rolando em um dos corredores do vestiário. Percebendo isso, deu meia volta, girando nos calcanhares, pronto para se retirar da sala. A última coisa de que precisava no momento, era se envolver em mais alguma confusão.

—VOCÊ TEM MERDA NA CABEÇA, KENAI?! — Alguém vociferou. —Não interessa se ele te provocou! Não interessa!

Quando escutou a menção ao brutamontes, um calafrio percorreu-lhe a espinha. Ao passo que teve sua confirmação de que definitivamente precisava correr dali, outro sentimento lhe invadiu os pensamentos, atrapalhando sua capacidade de raciocinar logicamente: curiosidade. Afinal, quem seria o cidadão com tamanha coragem para gritar com Bullet daquela forma? E por que? Será que a briga tinha a ver com a agressão cometida na piscina? Ele estaria sendo punido pelo que houve?

Involuntariamente, Alevi se viu caminhando de fininho na direção das vozes, chegando ao último corredor de armários que existia no vestiário. Discretamente, posicionou-se na quina da parede, de forma que pudesse espiar, sem ser visto.

Deparou-se com o assistente dos técnicos do time de Polo Aquático, Edgard Sánchez, segurando uma prancheta, e dando um sermão enfurecido em Kenai. O loiro mantinha-se calado, extremamente contrariado, com sua carranca de frustração estampada no rosto.

—Entende que estamos num colégio?! Que os pais daquele garoto podem nos processar por você ter quebrado o nariz dele sob nossa supervisão?! Você tem noção de filho de quem ele é?! — Edgard continuava bradando. —Chega Bullet, chega! Não importa quantos pontos você tenha marcado nessa partida, não importa quantos mil pontos você poderia marcar para nós, não existe a MENOR chance de você competir no Polo durante os Jogos! Mais ainda, até segunda ordem você está suspenso do time oficial do Instituto, e o Jones vai assumir o seu lugar!

—O que?! Você escutou a insanidade que acabou de sair da sua boca?! — Não conseguiu evitar de responder. —Fodam-se os Jogos, mas o time titular?! — Vociferou. —Sou EU quem ganho os campeonatos pra essa porra de escola!

—Não preciso listar quantas vezes nós já tivemos essa mesma conversa antes. Quantas vezes eu te avisei que não existiam mais panos quentes para colocar nos seus erros, garoto. Já te demos chances demais. — Respirou fundo, cansado, abaixando o tom de voz. —O treinador está irredutível em relação a isso, a decisão já foi tomada.

Alevi observou, preocupado, Kenai cerrar os punhos. Sinceramente, temia que ele partisse para cima do outro.

—Se eu fosse você, me concentraria em não causar mais problemas, pelos próximos três meses. Como uma mera formalidade, em respeito ao seu pai, ainda está inscrito nos testes para as outras modalidades, e eu recomendo fortemente que não soque mais ninguém quando tentar ser aceito nelas. — Sanchez massageou as têmporas, falando com um toque de cinismo. —Você tem potencial, e talento, Bullet. Mas seu temperamento está desperdiçando qualquer chance que tenha de levar isso para frente.

O assistente dos técnicos, concluído seu sermão, deixou o corredor. Alevi saiu da posição em que se encontrava, disfarçando, de forma a não ser pego bisbilhotando a cena. Apoiou a perna esquerda sobre um banco próximo a si, e fingiu que amarrava os cadarços. Edgard Sánchez passou por ele, sem notá-lo.

Certificando-se de que o homem voltou para o ginásio, Alevi olhou em volta e, guiado por sua instintiva (e inconsequente) curiosidade, retornou à posição anterior, espiando Kenai.

Bullet estava virado na direção de um dos armários, com as duas mãos apoiadas em cada lateral deste. Vestido, usando o uniforme de verão do colégio, mantinha a cabeça baixa. Os olhos fechados com força, e o peito subindo e descendo numa respiração pesada, em conjunto com a nítida rigidez dos músculos, denunciavam toda a tensão do seu corpo, e mente. Alevi, olhando-o, imaginou que, enfim, este aparentava ter alguma consciência, e sofria pelas consequências dos seus atos. No entanto, nada o preparou para o que presenciou a seguir: o loiro, como se estivesse prendendo a respiração por um longo tempo, soltou uma imensa quantidade de ar pela boca e, simultaneamente, deixou rolar uma solitária lágrima pela bochecha direita.

A lágrima refletiu a luz da lâmpada que iluminava o corredor, e Alevi pôde vê-la muito nitidamente. Depois desta, vieram as demais. Um choro baixo, com respiração descompassada, e pequenos soluços silenciosos. O mais velho escondeu o rosto em um dos antebraços, que ainda estava apoiado no armário, e sua postura imponente se esvaiu por completo.

Imediatamente, Alevi foi tomado por uma sensação oca no peito, como se seu coração fosse esmurrado. Não eram lágrimas de ódio, ou de culpa, que se esvaíam daqueles olhos verdes. Elas pareciam ser de uma dor mais profunda, e, observando-as, seu senso empático gritou por respostas à perguntas que ele sequer deveria estar se fazendo. Estava presenciando um alguém extremamente machucado, e não compreendia o que o havia ferido, mas por que se interessava? Kenai tentou agredi-lo faziam poucas horas.

Aos poucos, o choro despertava em Alevi a noção de que estava diante de um ser humano. Uma espécie "delinquente", violenta, e imprevisível de ser humano, de fato. Mas ainda sim, humano, com fraquezas, como todos os outros. Aquele era um pensamento perigoso, do tipo que poderia normalizar o comportamento agressivo de Kenai. Do tipo que poderia cegá-lo aos fatos.

Do tipo que poderia guiá-lo a atitudes irresponsáveis.

Mas Alevi não conseguia evitar. Não era proposital pensar assim, ele simplesmente tinha a tendência perigosa de se negar a apenas ver o pior nas pessoas, mesmo que seus defeitos fossem gritantes, como os de Kenai eram.

Bullet, em um movimento explosivo e repentino, armou o punho esquerdo, e desferiu um soco no armário à sua frente. O metal deformou-se, devido à força do golpe ali aplicado. O estrondo provocado pelo ato fez com que Alevi levasse um susto, e retornasse a realidade: Aquele era Kenai Bullet, um cara violento que queria agredi-lo. Precisava sair dali imediatamente, antes que virasse o próximo saco de pancadas.

Em passos rápidos, White se escondeu perto da saída do vestiário, atrás de uma estante de equipamentos. Caindo em si para a situação de risco em que se colocou, teve dificuldade para controlar a respiração exasperada. Por fim, permaneceu em silêncio, e esperou, pacientemente, até que visse o outro abandonar o recinto.

Quando Kenai passou por ele, seus olhos não estavam mais marejados. Na verdade, carregavam  um semblante sombrio, como se o rapaz nunca tivesse chorado em toda sua vida. Caminhava preocupantemente determinado, deixando no ar uma sensação de que, para onde quer que fosse, coisa boa não faria. Isso transtornou Alevi ainda mais. Sentia pena, medo, curiosidade, um turbilhão de emoções conflitantes, incapaz de administrá-las.

Assim que se certificou de que Bullet de fato saiu dali, deixou seu esconderijo, e voltou para o corredor onde o espiou anteriormente. Em passos receosos, dirigiu-se para o armário danificado pelo soco. Havia uma pequena quantidade de sangue no metal, que fez com que ele mordesse os lábios em aflição, imaginando que a mão do rapaz estaria machucada àquela altura. Passou os dedos pela deformação, com cuidado para não tocar a área manchada de vermelho, mensurando quanta força foi necessária para causar tamanho estrago. Algo realmente intenso explodiu dentro de Kenai.

Deu alguns passos para trás, observando os vestígios da violência, totalmente alheio ao mundo à sua volta. A cabeça pendeu para a direita, e respirou fundo, mergulhando em seus infinitos questionamentos.

De repente, sentiu um toque no ombro esquerdo. Levou um susto, e se virou rápido.

—Oi! — Era Thomas. Ainda vestia apenas uma sunga boxer esportiva, mas sem a touca do uniforme, deixando os cachos castanhos à mostra, exibindo um sorriso largo no rosto. —Imaginei que já estaria aqui. Te assustei?

—Um pouco... — Confessou, ligeiramente envergonhado pela própria reação.

Alevi percebeu que, agora, vários garotos invadiam o vestiário, todos ansiando por pegar seus pertences, vestir as roupas, ou tomar banhos, povoando e movimentando o recinto. Vozes altas tomaram conta do lugar, num falatório empolgado.

—O que aconteceu ali? — Green apontou para o armário amassado.

—N-nada. — Tentou disfarçar. —Quero dizer, e-eu não sei. — Mentiu. —É... E então, conseguiu entrar no time? — Mudou de assunto.

Thomas encarou-o com uma expressão de desconfiança por um momento, mas logo respondeu:

—Nope, não foi dessa vez. Muitos caras bons, e poucas vagas. — Deu de ombros.

—Nossa, sinto muito... — Seu semblante entristeceu pelo amigo. —Mas você jogou muito bem, viu? Nem sabia que conseguia fazer aqueles dribles. E parece ser um esporte bem difícil. — Tentou animá-lo.

—Obrigado, Levi... — Sorriu de leve, apreciando a tentativa fofa. —Mas fique tranquilo, eu estou de boa quanto a isso. Ainda vou continuar tentando entrar na equipe oficial, mesmo que não participe dela durante os Jogos.

Eles se dirigiram até o armário onde Green deixou seus pertences.

—Eu não consegui fazer nenhum ponto para você, mas juro que tentei. — Riu de leve. —Agora, nos tryouts pro time de Vôlei, pode deixar pra mim! Prometo que vou me sair melhor. Não ter um troglodita no meu time com certeza vai me deixar mais confiante. — Fez graça.

—Olha... — Recordava tudo o que presenciou. —...Eu já fico muito feliz que o Kenai não tenha te machucado durante essa partida. Você estar intacto vale mais do que mil gols. —Confessou.

Thomas, ouvindo a fala do melhor amigo, mirou-o com o canto dos olhos por um instante e sorriu para o chão, sentindo uma agradável borboleta bater asas em seu estômago.

—Sinceramente, também fiquei bem aliviado. — Admitiu. —Quando estávamos aquecendo, e eu vi que o Bullet iria jogar, pensei duas vezes se queria mesmo fazer aquilo. Escutei por aí umas histórias bem ruins sobre agressões dele em campo, umas coisas bem pesadas. E com o que aconteceu mais cedo, já consegui ver um alvo desenhado bem no meio da minha cara. — Brincou. —Só que, na hora, pareceu improvável que ele fosse fazer algo do tipo, já que né, não tem nada de inteligente em sair socando pessoas num tryout, e arruinar as próprias chances de fazer parte do time. — Jogou a toalha por cima do ombro direito, fechando o armário em seguida e se apoiando nele. —Mas, pelo jeito, subestimei a burrice do imbecil. De qualquer forma, ver ele ser expulso está no meu top dez cenas preferidas desse ano, mesmo que meu time tenha perdido por causa disso. Valeu a pena.

—Não duvido... — Suspirou. —Também fiquei um pouco mais tranquilo assistindo o jogo daquele ponto em diante, mas senti muita pena do menino... — Comentou, de fato agoniado ao relembrar a cena. —Ouvi o assistente dos técnicos dizer que o Kenai quebrou o nariz dele.

—Ouch! — Thomas cruzou os braços, fazendo uma careta ao imaginar a lesão. —Deve ter sido uma dor horrív... — Parou a frase antes de concluí-la, encarando o outro de cima, desconfiado. —...Espera aí. Quando você ouviu Edgard dizer isso?

Alevi percebeu ter falado demais.

—B-bem... — Desviou o olhar, receoso. —...Eu vim até aqui esperar por você, assim que o jogo terminou. Ouvi umas vozes quando estava entrando, mas não me preocupei muito, aí... — Coçou a nuca meio perdido, escolhendo as palavras. —Percebi que era uma... Tipo alguém levando uma bronca. E ouvi o nome do Kenai e...

—Alevi White, não me diga que você não saiu correndo pra fora daqui no momento em que imaginou que existisse a mais remota possibilidade de que aquele animal pudesse estar nesse vestiário. — Green interrompeu-o, preocupado.

—Eu ia! — Tentou se defender. —Cheguei a dar as costas para a situação toda quando percebi que era uma discussão, e estava quase indo embora, mas aí ouvi o nome dele e...

—E...? — Thomas arqueou uma sobrancelha. —Deixa eu adivinhar. Você ficou curioso, e se colocou em risco pra bisbilhotar. — Odiava repreender o melhor amigo, mas sentia que, pelo bem dele, precisava fazer isso.

—E-eu não pensei dessa forma, ok? — Finalmente fitou-o nos olhos. —Só que, quando me dei conta, já estava... Bisbilhotando...

—Claro que não pensou... — Murmurou, refletindo. —Você é um perigo para si mesmo, sabia? — Passou as mãos pelo rosto, com ainda mais preocupação. —Eu não consigo ficar bravo contigo, mas Levi, sério, você precisa se cuidar. Esse cara não está de brincadeira, e ele é totalmente irracional. Não pode vacilar assim de novo, principalmente quando não tem ninguém por perto pra te socorrer.

—Eu sei... Eu... Eu não sei o que me deu. — Encolheu os ombros. —Mas prometo que não vai acontecer de novo. Me desculpa. — De fato, se sentia culpado e irresponsável. Podia ter se metido em encrenca, possivelmente arrastado seu amigo consigo, e gerado ainda mais confusão. 

Thomas sentiu uma vontade enorme de abraçá-lo, mas se conteve, sabendo que aquele comportamento de Alevi requeria certa repreensão. Além disso, a quantidade de pessoas presentes por perto não deixava-o muito confortável em demonstrar fisicamente seu afeto pelo mais novo. 

—Não precisa se desculpar, Levi. — Limitou-se a dizer, buscando confortá-lo ao usar um tom de voz gentil. —Eu sei que você não teve intenção de se colocar em perigo. Na verdade, é bem ruim ter que ficar se preocupando com a própria segurança desse jeito dentro de uma escola, e não te culpo por não ter tido esse instinto logo de cara. Mas você precisa cuidar de você quando eu ou seus irmãos não estivermos por perto. Principalmente agora, que aquele cara maluco encrencou contigo. — Suspirou. —E se cuidar, inclui resistir a essa tentação por procurar respostas que existe dentro de você.

Alevi não soube ao certo o que dizer. Ver o amigo se importando tanto consigo trazia-lhe uma sensação reconfortante, e desconfortável ao mesmo tempo.  Odiaria atrapalhá-lo de alguma forma, caso este se preocupasse excessivamente com a situação. Sendo assim, apenas assentiu.

—Tudo bem. Eu confio em você. — Green se aproximou um pouco. —Preciso tomar uma ducha, tirar esse cloro de mim. Seria demais se eu te pedisse para esperar mais um pouco?

—Não, não tem problema. Pode ir. — Sorriu de leve, ainda reflexivo sobre a conversa.

—Ok. — Retribuiu o sorriso, se afastando com a toalha nos ombros, em direção ao cômodo dos chuveiros.

[...]


Alevi sentou-se em um banco, defronte para o armário de Green. Pouco a pouco, o vestiário se esvaziou. Os outros rapazes foram embora, e as vozes cessaram, deixando um silêncio apaziguador instaurado no ambiente.

A mente do garoto borbulhava em uma contradição infernal, com Kenai insistindo em ser o centro dela. Seu cérebro lhe dizia, com total convicção, que deveria ser cauteloso, fugindo da presença de Bullet em todas as oportunidades possíveis. Seu coração, por outro lado, lutava para ignorar uma vontade avassaladora de entender o que se passava por trás daquelas lágrimas magoadas.

Thomas retornou. Usava apenas uma toalha na cintura, deixando o peitoral bonito à mostra. White corou ao vê-lo, não imaginando que este apareceria daquele jeito na sua frente. Claro, já havia o visto sem camisa em outras ocasiões, como mais cedo no próprio jogo de Polo Aquático. Mas só de toalha era a primeira vez.

—Desculpa a demora! Tinha uma fila enorme para usar os chuveiros, e acabei ficando por último. — Green se aproximou. Ao notar o olhar curioso pairando sobre seu corpo, e a face ruborizada do amigo, se explicou: —Não se preocupe... — Riu, um pouco sem graça. —Estou "vestido" por baixo disso... — Fez aspas com as mãos, e indicou a toalha. —É só que, pra variar, esqueci de levar uma bermuda comigo. Sorte que estamos só nós dois aqui, assim não preciso voltar lá para me vestir. — Abriu o próprio armário, guardando a sunga esportiva nele, e começando a organizar algumas outras coisas.

—Tudo bem, Tom. — Piscou algumas vezes, ainda vagamente perdido nas próprias dúvidas.

Thomas notou diferença na voz dele, parando o que fazia e se virando em sua direção. Quando o viu um tanto encolhido, encarando o chão, percebeu que algo não estava certo. Então, se sentou ao seu lado, dizendo com delicadeza:

—Aconteceu alguma outra coisa que você queira me contar?

—Não, nada demais. — Deu de ombros. —Foi apenas o que eu te disse, vi o Edgard dando um sermão no Kenai, só isso.

—Você está meio estranho... — Analisou-o um pouco melhor. —Quer dizer, sei que essa situação toda é bizarra, mas sei lá... Sinto que tem algo mais te incomodando.

—E-eu... É só que... — Aquela abertura, dada pela pessoa a quem sempre confiou todas as suas emoções, convenceu-o a se abrir. —Eu não entendo. — Se levantou, parando de frente para o amigo, olhando-o de cima. Estavam sozinhos, então não precisava preocupar-se em ser discreto. —Sinceramente, fico muito desconfortável por ter que me esconder dele. Não gosto disso, e não entendo como de uma hora para outra virei um alvo. Isso não é normal.

Ele não é normal. — Também se pôs de pé, ficando mais alto. —Isso não tem nada a ver com você, Levi, sabe disso. — Franziu o cenho, intrigado.

—Sim, sim, eu sei, mas o que eu quero dizer é que... — Tentava encontrar palavras para se explicar. —Sentir tanta raiva assim não parece natural, entende? Eu acho que deve ter algum motivo pra isso. Você mesmo disse que não foi nada inteligente o que ele fez, de ter machucado o outro garoto mais cedo. Ele causou a própria expulsão, do nada! — Já despejava os pensamentos indeliberadamente. —Eu estava assistindo, e a reação dele às provocações daquele cara foi quase que... Instintiva. Lembra o armário que está amassado? Foi o Kenai quem fez aquilo também, com um soco! Talvez... Talvez ele precise de... — "Ajuda", diria. Mas não conseguiu. Ao invés disso, a voz simplesmente morreu. A ideia lhe soava tão absurda quanto poderia para qualquer outra pessoa. 

Green respirou fundo, pensando no que dizer, e um pouco abismado pela informação de que Kenai deformou o metal com um golpe.

—Olha, eu... — Passou a mão direita pelos cachos molhados. —Você é o ser humano mais gentil, e com o maior coração que eu já conheci nesse mundo. E acho que isso, às vezes, faz com que veja as pessoas com outros olhos, por uma outra perspectiva. Não me entenda mal, isso é bom, isso é... — Deu um passo na direção dele. —...Bonito. Muito mesmo. Mas acontece que, algumas pessoas... Não merecem essa sua compaixão, entende? Eu entrei aqui um ano antes de você, e o Kenai já estava nessa escola. E ele causa problemas, explode, e machuca pessoas desde sempre. Bullet é assim. Um tipo de pessoa que nunca deveria ter chegado perto de você mas, infelizmente, chegou. Não tem como mudar isso, Levi.

Alevi suspirou, com uma expressão cabisbaixa de que as palavras não lhe convenceram. Lançou a ele um olhar magoado, carregado de confusão.

—Ei, não fica assim... — Green se deixou confortá-lo, acariciando sua bochecha esquerda com o polegar. Alevi, sentindo o toque, pendeu a cabeça na direção do carinho, aninhando de leve o rosto na mão do rapaz.

Thomas facilmente hipnotizava-se ao observar Alevi, e naquele momento não foi diferente. Flagrou-se imerso nas orbes azuis, nos traços delicados, em cada linha, sarda, e detalhe da face encantadora do castanho. A boca rosada se projetava em um bico de ressentimento bastante discreto, mas seu desenho permanecia perfeito. O contemplar daquela maneira, com um semblante perdido, só fazia com que quisesse tê-lo mais perto de si.

Ainda com a face do garoto repousando sobre a palma da sua mão, Green se aproximou, quebrando o contato visual entre eles apenas no último instante antes de selar um beijo gentil no canto dos seus lábios. Um gesto de carinho, que não acontecia entre eles pela primeira vez. Encostou suas testas, fazendo com que seu nariz roçasse no dele de leve. Fechou os olhos, e sentiu seu aroma, em conjunto com a doce sensação de poder perceber a respiração de Alevi se acalmando, e sua postura ficando menos tensa.

Repentinamente, um grupo de garotos entrou no vestiário, falando muito alto. De imediato, em um sobressalto, Green deu um passo para trás, se afastando do amigo, antes que pudessem ser vistos.

—Droga... — Resmungou, sem jeito. —Agora vou ter que me vestir lá dentro.

NOTAS FINAIS

*Bullies = Valentões.

*Tryouts = Testes.

Um capítulo gigante, eu sei. Espero muito que gostem! Por favor, deixem seus comentários para eu acompanhar suas opiniões! Me desculpem por qualquer erro de ortografia, repetição, ou mal entendimento! Beijos, e até a próxima! <3


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