⟬2⟭
Avisos :
✷✷✷✷ = Quebra de tempo e mudança de PV;
Esta obra contem gatilhos, você esta avisado.
Rebecca
Estávamos estacionados em uma rua tranquila por algum tempo, onde havia um banco de madeira que parecia uma parada de ônibus. Ele estava absorto na leitura de um jornal enquanto eu tentava decifrar o que estava acontecendo.
— S-senhor, o-o que estamos fazendo aqui? - Indago, mas ele apenas me lança um olhar pelo retrovisor e retorna à leitura do jornal. Minutos depois, vejo um carro preto com janelas da mesma cor se aproximando. O assistente social sai do carro e se aproxima do outro veículo, cuja janela é abaixada o suficiente para permitir uma conversa entre eles. Confesso que estou com medo, então desvio meu olhar para a floresta do outro lado da rua, buscando algum conforto no som distante da natureza.
— Este é o seu pagamento, deve ser suficiente para você registrar que ela foi entregue em segurança na casa do pai. Ah, e mais uma coisa, é melhor que ninguém saiba disso.
Respiro fundo, tentando me acalmar. Estar sozinha na floresta à noite não me assusta, mas essa situação me causa pânico. Não saber onde estou, com quem estou, o que está acontecendo... isso me aterroriza. A porta do carro é aberta abruptamente e a mesma voz ordena:
— Saia. — A voz grave e séria me paralisa. O homem se abaixa para olhar para dentro do carro, permitindo-me vê-lo melhor. Seu terno era bonito dando a entender que era alguém bem importante, com cabelos castanhos claros penteados para trás, observo seu nariz reto vendo que esse que chamavam de nariz de romano e um queixo com uma pequena depressão. É realmente um homem bonito, meu palpite e que ele deve ter entre 30 e 40 anos. Seus olhos estão ocultos por óculos escuros, o que dificulta ver claramente. — Não me ouviu? Saia, temos que ir. — Sua voz soa como uma ordem.
— E-e-eu não sei quem é v-você! — Declaro, trêmula de medo. Ele suspira e ouço uma risada sarcástica.
— Aquela mulher... — Ele remove os óculos e me encara, revelando olhos iguais aos meus, olhos que eu evitava olhar para minha mãe pois ela sempre dizia lembrar ele, os olhos como os do meu pai, sinto uma perturbação dentro de mim ao perceber outros traços familiares. — Eu... — Ele tropeça nas palavras, bufando, enquanto uma lembrança antiga surge em minha mente, ele, o homem que minha mãe sempre criticava. — Eu sou seu pai. — Ele pronuncia com dificuldade, um peso cai sobre mim ao ouvir isso. Desço do carro e percebo que estamos em um local isolado. Ele me observa, incrédulo, especialmente para as ataduras que cobrem meu rosto marcado. Ele estende a mão em minha direção, tentando tocar meu rosto, mas eu recuo instintivamente, e ele interrompe o gesto, esfregando os dedos no ar. — Vamos, já coloquei suas malas no carro. — Aceno afirmativamente e agradeço ao homem que me trouxe. Ele entra no carro e parte, sua missão cumprida. Subo no banco da frente e o homem que é meu pai se junta a mim. Ele pausa antes de ligar o carro, olhando para o vazio. — Não tem nenhuma pergunta para fazer?
— Q-qual é o seu nome? - Ele me olha, parece não acreditar no que eu pergunto.
—Aaah — Emite um barulho de indignação — Me lembro da carta que mamãe havia escrito para quando eu o encontrasse e de suas últimas palavras. "Não confie nele, e nem em nada que ele disser, ele e um péssimo homem" Pego a carta no bolso do meu vestido e direciono a ele que murmurava algo olhando para frente, ele se vira para mim observando a carta e a pega. - Foi sua mãe que mandou? - Balanço a cabeça que sim .
— Tudo que sei é que existe um número para contato, o número da residência do líder da vila, para usar quando necessário, além disso, de resto eu não sei. — Ao abrir a carta, observo seu rosto se contorcer em fúria.
— Volto logo! — Ele exclama, deixando o carro e se distanciando um pouco. Observo-o discutindo ao telefone com gestos bruscos, provavelmente com ela. Minutos depois, ele retorna, ainda aos gritos, e agora não há dúvida de que é com ela. — DEPOIS DO QUE EU VI NO ROSTO DELA, EU TENHO A PLENA CERTEZA QUE VOCÊ E UMA DESEQUILIBRADA. - Ele desliga jogando seu celular no banco de trás e aperta o volante fechando os olhos, dá um suspiro antes de abri-los olhando para mim. - Meu nome e Keeiran... Keeiran Manson.
— Eu sou a Rebecca Bishop Grace.
—Não — Diz rapidamente — A partir de agora você e Rebecca Manson e pode saber que farei de tudo para tirar o sobrenome da sua mãe e esse que ela colocou. - Abaixo a cabeça um pouco, apesar de tudo não queria retirar o sobrenome de mamãe nem esse que ela colocou "Bishop" - Sua vida a partir de agora vai ser totalmente diferente. - Diz dando a partida.
Fallon Hill era um lugar escondido entre as fronteiras de Nova Hampshire e Massachussets, um erro geográfico que o estado ignorava, mas eu admito que me encantei com o seu charme, suas construções, comércios e prédios que para mim eram apenas ilusões nos livros e revistas, parecia que eu tinha entrado em um deles, mesmo que em alguns lugares a cidade se confundisse com a floresta tudo parecia ter vindo de uma das revistas proibidas na vila. Porém oque mais me fascinou foi passar em frente a algo que eu nunca havia presenciado antes , onde havia uma roda gigante e luminosa, que girava sem parar, e outros objetos enormes onde as pessoas pareciam se divertir mesmo com todo aquele barulho, na entrada do lugar havia um letreiro escrito parque de diversões, então era isso que era um parque de diversões, que lugar maravilhoso e surpreendente. Passando pelas ruas pude ver coisas totalmente diferentes da minha realidade, mas também muitas parecidas, coisas que eu só conhecia pelas revistas, então era verdade que eles não caçavam a própria carne, percebi isso quando vi uma loja com várias carnes expostas, na vila nós comíamos a carne que alguns aldeões traziam da caça para todos na vila, mas também tínhamos nossos animais como porcos, galinhas, bois, vacas e bezerros e sempre repartíamos as carnes quando eram abatidos com todos da vila.
Claro, vamos tentar de novo.
— Vocês não cassam a própria carne? - Ele questiona, com a testa franzida. - Ou criam seus animais para depois distribuir a carne?
— Por que faríamos isso? - Eu me sentia como se estivesse atravessando um portal para um universo desconhecido, um mundo estranho e atraente.
Percebo que, ao dobrar uma esquina, a estrada se transforma em um caminho de terra e entramos em um lugar repleto de árvores e casas majestosas. Paramos diante de portões altos, cujas frestas metálicas revelam uma casa imponente a placa na parede ao lado do portão marcava 92.
Ao entrar vejo que a casa parecia ter sido extraída de um dos contos que havia lido, era grande com uns três andares . As plantas trepadeiras que subiam pela sua fachada pareciam secas e danificavam a pintura, que clamava por uma nova camada de tinta marrom, tornando a aparência da casa ainda mais ameaçadora. O carro passava sobre as folhas secas no chão, liberando o aroma da terra úmida, que parecia ter sido regada recentemente. Na varanda da casa, podia ver duas cadeiras de balanço e, à medida que nos aproximávamos, percebia que era uma das maiores casas de vários andares que eu já havia visto.
Eu já havia lido sobre esse tipo de casa e não parecia se aproximar de uma mansão como vi nos livros, mas sim uma casa grande. Em suas janelas aqui e ali, havia um pouco de pó e teias de aranha. Seus cantos arredondados indicavam que havia mais janelas e cômodos na parte de trás. Ao redor, via algumas árvores que, devido ao clima, estavam secas. Reconheci algumas e, se eu estivesse certa, haveria uma horta na parte de trás. Ele gostava desse tipo de casa? Desse tipo de ambiente? Pois, olhando para ele, parecíamos tão diferentes.
Assim que deixamos o veículo, ele solicitou que eu aguardasse. Observei-o adentrar a residência e sumir de vista. Minha curiosidade sobre o local foi despertada quando um ruído de algo se movendo rapidamente em minha direção me surpreendeu, como se o solo estivesse me cumprimentando e provocando minha risada.
– Ei, vá com calma – Eu digo, rindo enquanto tento afastar o cachorro de mim – Calma, garoto, obrigado pela recepção...– Quando finalmente consigo afastá-lo, vejo em sua coleira o nome – Achis, que nome bonito para uma menina.
– Mas é um menino! - Ouço a voz de alguém, olho para o lado da casa e vejo um senhor de cabelos brancos e uma bengala caminhando em minha direção - Ele é um menino, eu sei que Achis é nome de menina, mas descobrimos isso tarde demais – Ele se aproxima e posso ver seus olhos, iguais aos meus, mas escondidos atrás de óculos de grau, e um sorriso no rosto que transmitia carinho e afeto. - Ele é bem forte, não é? Te machucou? - Ele estende a mão na tentativa de me ajudar e consegue.
– Sim, ele é muito forte!
– Desculpe por ele, é apenas uma criança forte e bobona que não tem noção de nada – Diz, olhando para o cachorro que sai correndo para perturbar um gato preto que descansava no parapeito da varanda. - Já Breu é totalmente o oposto dele, afinal, é um gato.
– Na minha vila, dizem que eles eram, na verdade, um único animal, mas que por alguma brincadeira suas personalidades acabaram sendo separadas e assim se tornaram dois, os dois não conseguem ficar um sem o outro.
– Na sua vila? – Ele ajusta os óculos, como se quisesse ver melhor, e me devolve um sorriso ainda maior, carinhoso e afetuoso.
– Ah, aqui está você! – O senhor Manson retorna de dentro da casa com uma senhora um pouco curvada, enxugando as mãos no avental que vestia, ela tinha a mesma mecha de cabelo branco destacando-se no meio daquele mar castanho, igual ao meu, seus olhos se arregalam quando me veem e vejo preocupação neles e um sorriso doce e carinhoso. – Tive que percorrer a casa inteira atrás do senhor? – Ele fala, olhando para o senhor atrás de mim.
– O meu Deus! – Ela passa pelo senhor Manson vindo até mim me olhando afetuosamente, de um jeito que eu nunca senti antes, nem mamãe me olhava assim, mesmo nos seus melhores dias ela nunca me olhava assim. – Seu rosto querida oh... – Um abraço surpresa me deixa sem jeito e eu não consigo corresponder, um abraço quente e aconchegante me querendo fazer ficar aqui para sempre.
– Mãe vai assustar -lá.
– Mãe? - Repito ainda nos braços da senhora após o senhor Manson falar, ela se afasta de mim e vai para o lado do senhor.
– Estes são seus avós, Rebecca, Eliot e Elie Manson. – Eles me olhavam como se eu fosse o tesouro mais valioso que já tinham visto, e eu não conseguia entender, pois eu os estava conhecendo naquele exato momento. – Você vai morar com eles! – Olho para o homem que se apresenta como meu pai, sem compreender, uma vontade de chorar me invade e o sentimento de abandono retorna, eu estou assustada.
- Como assim? E-E-Eu pensei que iria ficar com o senhor. – Ele passa por mim pegando as malas do carro.
- Não vai dar, digamos que sou uma pessoa bem ocupada e...
- O senhor e casado, não é? – Digo ele para no meio do caminho. – Minha mãe falou que isso poderia acontecer... sabe... da sua esposa e...
- Eu ainda não contei a ela... sobre... – O enrolar das palavras o denunciam que está numa escolha de palavras. – Sobre...
- Sobre mim? – O ajudo.
- Não quer ficar com seus avós?
- N-n-não e isso e que...
- Abra os olhos, Keeiran, somos diferentes para ela! – O senhor fala um pouco alterado e bravo – Pelo amor de Deus tudo que ela precisa agora e do pai por perto e você não enxerga isso!
- Sim, pai, mas estou ocupado, principalmente agora.
- Sua mulher tem que saber dela...
- Como vou contar para minha mulher que tenho uma filha por um... –
- Estupro? – Complemento o que ele havia parado de falar. Ele me olha surpreso – A mamãe me contou. – Levando a mão até os olhos, ele solta uma risada.
- Rebecca olha...
- Não precisa... – Sei que ele iria tentar se justificar pelo o motivo de me deixar ali, mas para que deixar mais dificil? Dou um sorriso a ele - Não precisa, aqui não é o primeiro local diferente que eu fico, mamãe já me deixou dormir nos estábulos com os animais nos seus dias de fúria, então eu consigo. – Vejo que eles me olham chocados.
- Que bom que entende, bom seus avós já têm tudo que precisam de te dar, já deixei todos os cartões que precisa com eles, para escola...
- Eu vou para a escola?
- Vai, daqui a duas semanas e suponho que não tenha um celular, toma fique com esse... – Dou um passo atrás. – O que foi?
- Eu não posso usar celular! Mamãe não deixa.
- Mas sua mãe não está e eu estou mandando que...
- Keeiram... - A senhora entra na frente - E melhor você entrar em contato com a gente pelo telefone daqui. – Ele permanece olhando para mim, mas logo entrega o telefone a senhora.
- Ok, bom qualquer coisa se precisar - O sinto sem jeito tentando ter algum contato comigo, mas o máximo que faz e passar a mão na minha cabeça e ficar me olhando por alguns segundos antes de entrar no carro e dá a partida. Olho para aqueles dois senhores que me olhavam com grande ternura nos olhos e sem jeito de me abordar.
- Ah... vem vamos entrar! - O senhor fala pego minhas poucas malas.
Embora a aparência externa fosse um tanto quanto grotesca, o interior era surpreendentemente acolhedor e caloroso. O aroma de menta e lavanda dominava o ambiente, com quadros e vasos de flores espalhados pela casa. Um grande tapete vermelho no hall de entrada conduzia até a sala de estar sobre o piso de madeira. Para minha surpresa, os móveis não eram feitos de taipa e feno, mas de materiais que eu nunca tinha visto antes. Uma grande lareira com detalhes dourados se destacava, assim como uma mesa de centro feita de uma pedra comum na floresta próxima à vila. Os sofás amplos me levaram a questionar se havia mais alguém além deles dois que moravam lá.
— Vamos te mostrar a casa com mais calma depois — A senhora me olhou com muito amor. Por uma porta lateral, uma mulher entrou com uma bandeja e quase deixou cair quando me viu.
— Meu Deus, chamem um padre! — Ela exclamou com os olhos em mim.
— Rose — O senhor a repreendeu com uma voz severa.
— Rose, essa é a Rebecca — A senhora falou. — A filha do Keeiran, nossa neta! — Ela ficou sem graça, e a mulher se abaixou para pegar o que havia caído.
— E-Eu... Não sabia, eu... — Ela se levantou depressa — Prazer, senhorita, pode me chamar de Rose, eu ajudo seus avós aqui e no que precisar pode me chamar ou pedir! — Eu balancei a cabeça positivamente com um sorriso no rosto. Algo aqui nessa casa me fazia sentir coisas que eu nunca senti, mas não coisas ruins e sim um acolhimento e afeto.
Continua....
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