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⟬1⟭

Avisos :

✷✷✷✷ = Quebra de tempo e mudança de PV;

Esta obra contem gatilhos, você esta avisado. 

Antes do acontecimento do piloto.

Rebecca

Ao contemplar o céu, um sentimento de serenidade me invadia, alimentando a esperança de que tudo se resolveria e que este novo começo seria uma melhoria. No entanto, quando meus olhos encontravam o reflexo do assistente social no espelho, a realidade se transformava. Em seu olhar, eu podia decifrar uma mistura de tristeza e compaixão. Meu olhar se desviava para o assento frio de couro, e eu me perguntava quantas vezes ele já havia passado por isso, conduzindo crianças e adolescentes para um novo lar, um lugar seguro... talvez.

Eu me abraçava, e nas mangas do meu suéter de lã, feito à mão na vila, eu podia sentir o aroma da minha mãe. Era o cheiro do seu último abraço, um abraço no qual eu não sabia se estava me aconchegando nela ou tremendo de medo... sim, medo. Ao tocar a cicatriz no meu rosto, eu podia sentir os pontos que ainda não estavam curados. E, claro, eles não estavam curados, afinal, havia sido apenas dois dias desde que ela...

— Posso abrir a janela? — Questiono, liberando um suspiro profundo na tentativa de dissipar as imagens perturbadoras, rompendo o silêncio quase palpável dentro do carro. Ele, no entanto, permanece em silêncio, apenas acenando com a cabeça em concordância. Ao encostar a cabeça na janela do carro, sinto meus cabelos se desfazendo ao sabor do vento, desmanchando todo o esforço que Dona Lena havia dedicado a eles, uma bela trança lateral. Ainda consigo ouvir suas palavras enquanto ela trançava cada mecha: "Menina, não sei o que será agora desse teu cabelo desgrenhado e dessas tuas roupas que não duram um tico de segundo limpas." Agora, tudo o que restava era a fita lilás no topo da minha cabeça, lutando para se manter no lugar. Meus olhos se desviam da fita e se fixam na floresta que, na minha percepção, parecia correr em paralelo ao carro. Pelo menos eu teria isso, a floresta, algo que me lembrasse de casa.

Um estrondo alto surge, e junto a ele três motos, cada uma com sua peculiaridade. A última delas ostenta um coelho minimalista na placa traseira. Percebo que o dono da moto me observa por alguns instantes, mas seu capacete escuro impede que eu veja qualquer coisa. Ele retira uma das mãos do guidão, leva dois dedos à cabeça em um gesto de cumprimento e acelera rapidamente. Eu nunca tinha visto uma moto de verdade, apenas aquelas nas revistas que chegavam clandestinamente à vila. Eles passam fazendo barulho entre os carros, que parecem não apreciar nem um pouco a perturbação.

À frente, vejo a placa de boas-vindas de Fallon Hill, mas tudo o que ela me traz é um frio na barriga. Um vento forte sopra novamente e sinto a fita se soltar, como se estivesse dizendo adeus, adeus ao meu povo, à minha vila, a tudo o que eu tinha visto e vivido. E eu não quero isso. Estendo a mão na tentativa de impedir que ela vá, mas é em vão. Vejo-a cair nas mãos daquele rapaz da moto que havia reaparecido. Quando o carro começa a fazer a curva e a luz do sol incide sobre seu capacete, consigo ver um sorriso, ele morde a ponta da língua de lado. E assim seguimos caminhos diferentes quando o carro completa a curva. E lá se foi uma das minhas fitas.

Continua... 

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