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• SOBREVIVA • [cap. 16]

Não sei o que pensei quando invadi o escritório de Vincenzo. Na verdade, o que menos fiz aquela noite foi pensar. Estava tão puta com ele, tão cheia de raiva, que a última coisa que veio a minha cabeça era como ele iria reagir. Quem imaginou que Enzo está tentado pela ideia de me ter como sua esposa? Mesmo que minha raiva esteja tão viva como antes, não posso negar que ele está resistente em me deixar ir. Em meio a todas as insinuações e ironias, pude notar o quanto me quer por perto, como ainda o afeto. O que não o impediu de me tratar com indiferença e frieza assim que me expulsou do escritório, depois da promessa de me fazer sua noiva. Suas ameaças vierem de formas sutis, por Gianne, por Giovanni e até mesmo Pietro. Um dia depois, o encontrei na cozinha com um copo de café e uma expressão de poucos amigos. Não precisei perguntar o que aconteceu. Pietro me saldou como sempre, mas me evitou todos os outros dias.

Gianne era a única que não parecia intimidada. Ela vinha me ver quase todos os dias, sempre com uma pergunta na manga. "Você está bem? Anda tomando suas vitaminas? Já decidiu se ainda quer fingir sua morte?". Bem, Gianne não pode ser acusada de não ser direta, isso eu sei. Mas o que realmente me incomodou foi a ausência de Vincenzo. Ele cedeu a minha primeira investida, sim, mas deixou claro na sua falta de tempo que não estava disposto a me fazer sua noiva tão cedo. Todas as vezes que perguntei sobre ele, tive a mesma resposta: "ele não está na cidade". Parece que resolvei fazer uma viagem de última hora, foi o que Giavanni me disse dois dia antes.

Quando acordei no outro dia e me olhei no espelho do banheiro, encontrei o que não via há muito tempo, coragem. Se esse casamento precisa acontecer, será em meus termos e não nos dele. E se Vincenzo acha que vai me desmotivar me evitando ou me anulando dentro daquele depósito, ele estava muito enganado.

Liguei para Gianne no mesmo dia e apenas a avise: "estou pronta para ir pra casa". Ela não me contestou, ela nunca o faz. Me conhece o suficiente para saber que se tomo uma decisão, nunca é leviana. E Gianne estava certa quando me disse que não tínhamos tempo. Se tenho que agir sobre isso, o momento é agora.

Então, aqui estou eu. Dentro de uma BMW X6 preta, a caminho da casa dos Benedetti, disposta a me fazer ser notada. Disposta a pronunciar a minha volta.

— Tudo bem com você? – Gianne pega minha mão.

Ela está em seu melhor estado. Os dias nublados de São Paulo estão de volta. Não há sinais de chuva, mas o clima está propenso para grandes tempestades. Sinto em meus ossos. Por isso, Gianne está usando um terno feminino com grandes lapelas. Toda de branco, com seu cabelo loiro escuro, ela parece a própria primeira dama. O engraçado é pensar que eu, a verdadeira dama da Máfia, estou usando uma calça de moletom confortável e uma muscle branca. Nada de salto, apenas um tênis preto.

Gianne disse que era preciso me vestir assim, já que para o mundo lá fora eu estive internada em um hospital caro, lutando para sobreviver em uma UTI. Foram precisos exatamente dez dias para acordar e mais dez para voltar, é isso que iremos dizer à impressa. Não sei o que Gianne disse ao restante da Famiglia ou se ao menos contatou Enzo sobre minha decisão. Se ela o fez, tenho certeza que o motorista deste carro está muito envolvido com todo o plano de resgate.

Aceno para ela, sem poder ver seus olhos claros por trás da lente escura dos óculos:

— Sim, estou – tento sorrir de volta.

Ela respira um pouco mais forte, ainda me olhando.

— Tem certeza?

Não é preciso me falar sobre o quê. Por mais que Gianne me entenda e esteja me levando para sua casa, sei que se preocupa comigo. Não posso culpá-la por esconder a verdade. Quando a confrontei, ela foi sincera ao ponto de admitir: "ele é meu Don agora, Luna, não posso o desobedecer e colocar sua palavra em dúvida".

Apenas aceno e sorrio para ela, tentando passar o quão confiante estou com essa decisão. Posso me arrepender disso mais tarde, mas agora nunca estive tão decidida sobre algo. Não menti para Enzo quando disse que quero as terras e o sobrenome de minha mãe. Quero uma nova vida, mas dentro da Máfia. Com ele ao meu lado, sei que irei conquistar mais do que já sonhei um dia. Ninguém aqui sabe, mas também tenho os meus próprios planos.

— Tem certeza que isso não vai te custar mais tarde? – é a minha vez de perguntar.

Olho de escanteio para o soldado que uma vez foi meu motorista pessoal.

— Ele deu sua palavra, não deu? Você é sua noiva agora. O que a noiva do meu Don quer, é o que quero – ela me dá o sorriso mais irônico possível.

— Tenho certeza que Enzo não vê assim – rio do descaramento de Gianne.

— Bem, ele deveria ter pensado nisso antes de fugir para o Rio sem nos avisar... – ela então pega sua bolsa pequena e tira um espelho de lá – E pare de pensar em Enzo, precisamos estar preparadas.

— Preparadas? – a olho sem entender.

— A impressa, lembra? – quando continuo a olhar, sem responder, ela joga seu melhor sorriso inocente de volta – Eu não te disse? Avisei a impressa sobre sua alta, apenas no caso...

— Sério, Gianne?

— Essa é a melhor estratégia se não quer que Enzo a arraste de volta para o depósito – Gianne retoca seu batom nude e depois o joga junto com o espelho portátil dentro da bolsa – E tire esse olhar de surpresa do rosto e volte a fingir aquele olhar perdido de garota inocente que você tem.

Quase rio da sua ousadia. Essa vadia!... Mas não posso refutar sua ideia, por mais que eu odeie a mídia, é brilhante.

— Estamos chegando... – a voz grossa de Domenico reverbera dentro do carro.

Se quer que seu plano dê certo, entre no carro e não diga uma palavra.

Fiz o que Gianne me disse, porém, não consigo o olhar sem julgá-lo um pouco por tudo o que aconteceu. Foram suas mãos que vi destruindo a estufa. Mas, pelo que me disseram, também foram suas mãos que me ajudaram a sair da Mansão. Até hoje, não me lembro do que aconteceu aquela noite, depois que saímos do restaurante. O que sei agora é que Domenico era um dos espiões implantados, um dos soldados que me vigiava. E ele foi o único a deixar as portas abertas para que Vincenzo me tirasse de lá... Ainda não sei como me sinto sobre isso.

Um minuto depois, o carro entra na rua larga dentro do condomínio caro de Gianne. Não ouço o burburinho que se espalha quando os fotógrafos nos avistam, mas os fleches pipocam um atrás do outro assim que o carro para.

— Hora do show, Luna...

Ela nem ao menos me dá tempo antes de abrir a porta e ir direto para a fonte. Domenico, assim como outro segurança, a protegem da onda de assédio dos repórteres. Quando vejo, minha porta também está aberta e há uma cadeira de rodas me esperando. Ótimo!

No último segundo, respiro fundo e faço o que Gianne falou, finjo minha cara de menina perdida e não respondo a nenhuma pergunta, enquanto sou escoltada para a casa. Assim que entramos, não há nenhuma comissão de boas-vindas. Nem Giovanni, nem Ettore estão aqui. Apenas o sorriso gigante de Gianne me diz o que eu precisava saber.

Ninguém sabia da minha volta, mas agora, todos vão saber. 



Uma semana foi tempo o bastante para que todos soubessem da minha ressurreição e exigissem me ver. Uma semana até Vincenzo se convencer que não era preciso matar Gianne e nem cancelar sua viagem apenas para me checar. Uma semana era tudo o que eu precisava para colocar o meu plano em ação.

Não havia muito o que Vincenzo poderia fazer depois que as minhas fotos apareceram nos jornais e nos sites. É um fato, a herdeira De Santis estava viva! E com ela, todas as empresas, fortunas e fazendas. Não demorou muito para que eu recebesse ligações das mulheres dos Capos. Vanessa foi a primeira a me ligar. Ela queria me visitar, prestar suas condolências pela morte do meu pai, ver se eu estava bem. Não a primeira, nem a última. Tenho certeza que seus maridos as instruíram bem para fazer cada pergunta. Afinal, eu era uma sobrevivente e também um alvo. Seja o que eles tentaram fazer, mudei seus planos quando anunciei um jantar em nome de meu pai.

Convidei alguns poucos Capos e Soldados, os mais influentes e os mais próximos de Leonel. Até mesmo minha tia, que acabei descobrindo que na verdade era a irmã do meu avô materno, foi convidada. Ela e seus dois filhos fizeram questão de confirmar presença. Afinal, Eugênia iria conhecer sua sobrinha-neta querida depois de tantos anos.

Em compensação, fiz tudo ao meu alcance para que esse seja o jantar perfeito. A decoração em azul marinho combinava bem com as paredes de vidro espalhados pela casa dos Benedetti. Quando me encontrei com Giovanni e seu pai e os avisei sobre tudo, eles pareceram um pouco surpresos, mas não disseram nada. Na verdade, Giovanni foi o único que achou um pouco suspeito quando me perguntou "bem no dia em que Enzo volta, prima?". Então, encarnei a menina doce e perdida outra vez e me fiz de sonsa ao responder "pensei que ele ainda estaria no Rio". Claro, Giovanni não acreditou, nem eu acreditaria em seu lugar. Mas era exatamente isso o que eu queria, que Giovanni o avisasse sobre o jantar e que ele não o perdesse por nada.

— Entregaram a caixa? – pergunto sem olhar para Gianne.

Estou muito concentrada na minha figura no espelho, colocando o pequeno brinco de jasmins cravejados de diamantes. Decidi por um vestido clássico, ao melhor estilo Gianne de ser. Preciso estar à altura dessa pequena reunião "familiar", mas não posso desrespeitar a memória de meu pai, mesmo que eu não tenha respeito nenhum. Então, pedi um Dior na loja preferida de Gianne. Seu modelo sereia marca meu corpo, sem ser vulgar, seu corte reto revela um grande laço branco nas minhas costas, contrastando com a cor preta do vestido longo. O tecido pesado não é marcado pela calcinha que eu deveria estar usando... É lindo e acentua bem meu pescoço desnudo, já que meu cabelo cacheado está preso em um coque despojado. Certamente um colar cairia bem, mas hoje preciso que estejam de olho em outra parte do meu corpo.

— Sim, está aqui – Gianne deixa a pequena caixa na cama ao meu lado – É um plano arriscado, Luna, tenho que admitir...

Ela então se levanta e fica ao meu lado, de frente ao espelho grande. Gianne também veste uma roupa clássica, ao seu jeito. O tecido de cetim bronze é simples, duas fitas finas seguram o vestido que cai sobre seu corpo de forma leve. Um decote em U destaca sua cintura fina pelas costas e uma pequena fenda deixa evidente seu salto preto alto. Ela usa um colar fino de ouro e duas argolas grandes como brinco, também de ouro. Destacamo-nos no espelho pelas nossas diferenças, mas nunca podemos ser acusadas por estarmos fora de moda.

Um sorriso sincero marca seu rosto, enquanto olha meus olhos pelo espelho.

— Espero estar vestida à altura...

Ela ri, como poucas vezes vi, tão feliz que rio junto. Nunca pensei que esse dia seria assim. Estou tão nervosa, mas sei que posso contar com ela. Se tudo der errado, tenho Gianne para me pegar.

Viro-me e vejo a caixa cara azul turquesa da joalheria sobre o edredom branco.

— Então é melhor não nos atrasarmos, não é?

Assim que desfaço o laço branco, respiro fundo e deslumbro pela primeira vez o meu novo futuro. 



Gianne desce antes de mim.

Espero alguns minutos até que seja minha vez.

Minhas mãos estão suando, meu coração golpeia forte no meu peito, me sinto um pouco tonta.

Estou nervosa, não vou mentir. Estou tão nervosa que quero vomitar.

Encaro-me no espelho pela quinta vez e respiro fundo. Controle-se! – penso, mas no fundo sei que é mais difícil do que simplesmente isso.

É a primeira vez que irei seguir os meus instintos e ditar minhas próprias ordens.

Só desta vez, irei fazer o que quero e não o que foi pedido.

Minha mente está em branco, um único mantra sai dos meus lábios secos, enquanto cruzo o corredor vazio e chego até a escada de mármore.

— É isso que eu quero. É isso que eu quero. É isso que eu quero.

Fecho os olhos uma última vez e respiro lentamente. Preciso estar no controle, preciso que eles saibam quem está no controle. Assim que os abro, dou mais alguns passos e ofereço o meu sorriso mais doce para apreciação do público.

Lá estão eles, todos eles. Giovanni, Ettore, Guido, Vanessa, Antonella, Filipo... Há tantos deles aqui, me comendo viva com seus olhos atentos e taças tilintando entre seus dedos. Estão nervosos, talvez tanto quanto eu, mas não mais. Não posso falhar, não na frente deles. Não se quero que vejam o que estou disposta a ser.

A 1ª dama de toda essa merda.

Assim que revivo suas palavras, o vejo. Ele também está ali, no meio deles, mas o que percebo refletido em seus olhos não é surpresa, raiva ou medo. É admiração, pura e simples, não é diluída pela ganância como vi nos olhos de Gianne ou pela desaprovação como vi nos olhos de Ettore. Não ele, não o meu Vincenzo.

Ele não me desaponta, nenhum segundo. Enzo segue o roteiro mesmo sem tê-lo lido. Ele anda confiante nesse mar de pessoas desalmadas, esbarrando em seus ombros murados, invadindo os espaços minados, ignorando os ataques velados dos olhares mal intencionados. A cada passo que dou em sua direção, ele vem até a mim sem hesitar. Meu coração tropeça dentro do peito quando me esqueço de todos ao nosso redor e o vejo pelo que ele sempre foi. Sei que não estou enganando ninguém quando encaro somente os olhos verdes do único homem que já amei. No fundo, sinto que esse é o plano perfeito, ninguém irá duvidar de nós, não há como negar.

Ele para aos pés da escada, seus olhos me devastam enquanto soldam cada parte do meu vestido preto e do meu corpo. Um último olhar e sei que ele o viu, assim como esperava que o fizesse. Um segundo é tudo que preciso para ver como isso o afetou. Seus olhos brilham dourados debaixo da luz do lustre. O que acabei de ver me faz tremer por dentro, não sei se estou pronta para digerir tudo o que li ali, mas também não estou disposta a ceder. Quando ele oferece sua mão, não hesito em levantar a minha e exibir para todos o meu grande pequeno segredo. O anel em platina cravejado por brilhantes com um único diamante no centro.

O meu anel de noivado.

Seus olhos ainda estão em mim, assim como os meus estão nele. Minha pele arrepia assim que sua boca beija a palma da minha mão esquerda. Um pequeno sorriso me escapa quando encaro as promessas futuras nos olhos do meu noivo.

Está feito, eu digo a ele em silêncio, não há como desfazer agora.

O sorriso aguçado é a única resposta que tenho. E assim como o meu, o dele fala o que preciso saber.

Veremos...

Minhas mãos deslizam das suas, Enzo nos vira e faz o que nem eu mesma anteciparia, me apresenta ao seu lado, meu anel à vista para todos enquanto afago seu braço. Passa-se um segundo ou dois antes de ser arrastada pela correnteza de mãos que me espetam e me abraçam. Foi isso que planejei, não foi? Celebrar o meu noivado no mesmo dia em que oro a morte de meu pai, como a menina mimada que sou. Ou pelo menos, é isso que quero que eles acreditem.

Entre tantos, me vejo parada em frente a uma senhora de 70 anos. Por ser irmã de meu avô, acreditei que ela seria um pouco mais velha, mas o que me contaram mais tarde é que ela foi uma filha não planejada. A ironia disso tudo é saber que de três irmãos, ela foi a única mulher a sobreviver com o nome Amato. Seus dois filhos estão ao seu lado. Parece que a diferença de idade entre irmãos virou uma tradição na família. Enquanto Santino, o mais velho, parece estar na faixa dos 40 anos, seu irmão não aparenta ter mais de 20. Os dois soam em vibrações diferentes. Cada um em seu estilo. Percebo daqui que Santino é o mais perigoso entre os dois. Mas isso é o que acontece quando se passa oito anos preso.

— Luna – a voz suave de Enzo me enche – Quero que conheça sua tia-avó, Eugênia Amato Martin.

Eugênia, minha única parenta viva além de Enzo, me abraça com seus braços magros de uma forma firme e aconchegante. É estranho, imaginar que essa mulher elegante e toda de preto é considerada um risco para mim. Seus mesmos braços me firmam no lugar e sua mão inclina meu pescoço em sua direção para que só eu ouça:

— Eu sinto muito, querida... – sua voz é mais grossa que imaginei – que esse velho tenha demorado tanto tempo pra morrer.

Com isso, ela me libera e me deixa ali, um pouco assustada e surpresa. Seus braços voam em direção aos seus filhos, gesticulando como uma verdadeira italiana, não me dando tempo de pensar no que acabei de ouvir.

— Conheça meus filhos... Santino! – ela o olho de escanteio, mas pela boca curvada sei que reprova seu aspecto frio – Vamos, figlio, dê um abraço em sua prima.

A contra gosto, quase ouço Santino rosnar quando me cumprimenta com um aperto de mão. Eu retribua sem saber muito o quê fazer em uma situação dessas. Acho que não é todos os dias que se descobre um primo novo. Ou primos e tia.

— E esse é meu caçula, Lucca... Venha meu rapaz.

Há um sorriso ácido no canto da boca de Lucca. Ele não está zangado como o irmão, nem é debochado, apenas parece achar engraçado como Enzo os encara.

— Prima – suas mãos escorregam em minha cintura, me abraçando tão forte como sua mãe – é um prezar conhecê-la.

— Também é um praze... – sou puxada de volta para os braços de Enzo. O que foi isso? – O prazer é todo meu – finalmente digo.

Sinto-me relaxar ao seu lado, sua mão sobre minha cintura. Nunca imaginei que esse dia chegaria. Estar perto de Enzo assim sem ser recriminada ou punida. Eugênia não percebe nossa interação, só tagarela sem parar sobre nossa família:

— Quem dera que meu irmão Antônio, seu avô, pudesse estar vivo para ver esse dia. Pena, nem todos os mortos são honrados como seu pai está sendo, Luna – há uma pitada de acusação ali – Mas não vamos focar em coisas tristes, não é?

Ela dispensa toda a cerimônia de Leonel estar morto como se fosse nada. Posso estar gostando um pouco mais dela por conta disso.

Eugênia abaixa seus olhos azuis pintados de negro sob o anel delicado em meu dedo. Um sorriso bem parecido com o de Lucca aparece em seu rosto. Mãe e filho têm muito em comum, percebo, quando minha tia-avó deixa escapar:

— Meu falecido marido me deu um anel bem parecido com esse quando me propôs. Foi um dos melhores dias da minha vida – ela olha de mim para Vincenzo, sem perder o compasso – Então, finalmente a pediu, não é? Esperto o suficiente para não deixar que o meu anel estivesse ali, no lugar do seu. Tenho que o parabenizar por isso.

Lucca, o filho engraçadinho, ri abertamente sem medo nenhum quando Enzo fulmina a mulher velha e seu filho, Santino, sem dó. Se possível, suas mãos me puxam ainda mais em sua direção, abraçando minha cintura com suas mãos. Certo!

— Não deixaria uma joia como Luna escapar, senhorita Eugênia – sua voz é fria, um aviso sob a superfície.

Tento ao máximo não me sentir ofendida, porque sei que as palavras são para provoca-la e não me machucar. Quando olho para seu filho mais velho, ele nem ao menos está prestando atenção, muito alheio sobre a guerra de olhares entre sua mãe e meu noivo. Estranho.

— Desculpe minha mãe... – Lucca nos interrompe, abraçando a mãe pelos ombros – Ela tende a ficar com um humor estranho em velórios... Ou missas de sétimo dia – ele diz, ainda despreocupado – Oh, vejam só, estão nos chamando para o jantar.

Quando me viro é para encontrar Ettore nos avaliando. Um sorriso genuíno aparece assim que consegue a nossa atenção para avisar que o jantar está pronto. Eugênia nos arrasta junto enquanto cacareja sobre meu avô e até mesmo sobre minha mãe. "Ela era uma menina tão doce, me lembra você quando era mais jovem...". Não estou a escutando direito, ainda tentando entender o que escutei. Era isso que ela planejava? Me fazer noiva de seu filho mais velho?

Bem, de certa forma, meu plano serviu de várias maneiras. Como evitar um noivado com meu outro primo. Cristo!

Quando o jantar é servido, estou de frente ao meu noivo assim como a etiqueta exige. Na ponta da grande mesa se encontra Ettore, o Capo mais respeitado e o dono da casa. Não sei como ficou acordado entre eles, mas assim que Ettore começa a falar sei que ainda o consideram o Consigliere da Famiglia. Todos estão atentos, salivando por qualquer nova informação sobre mim, sobre Vincenzo, sobre o novo Don.

— Nunca imaginei que esse dia chegaria tão cedo – Ettore entona sua voz mais grossa, sua expressão abatida – Meu irmão, meu melhor amigo, meu Don. À este homem que não só nos guiou entre tantas guerras e conquistas, mas também reunião nostra Famiglia sobre os mesmos valores. Que este dia seja marcado por todas as grandes vitórias que Leonel De Santis nos trouxe... – Ettore deixa as palavras afundarem no silêncio perturbador da mesa cheia - Que ele esteja em paz junto ao seu irmão, Dante...

O silêncio se estende ainda mais quando todos ficam um minuto calados, em respeito ao Don que se foi. Na minha mente, só consigo pensar no Don que está por vir.

Ettore ergue sua taça de champanhe enquanto entona seu grito:

— À Leonel De Santis – ele diz.

— À Leonel De Santis – todos repetem.

Até mesmo eu e Vincenzo estamos dizendo as palavras, montando nosso teatro. Percebo o minuto em que Enzo se senta mais ereto. Merda! Antes que possa fazer seu próprio discurso, me levanto assim que Ettore se senta. O som dos rostos virando para mim é um fio invisível que me mantem em pé. Estão todos, sem exceção, me olhando. Enzo parece querer quebrar a taça em sua mão pela minha falta de noção. Bem, meu querido, bem-vindo ao clube!

— Bem, eu... – minhas mãos tremem e nem tento disfarçar – Eu quero agradecer a presença de todos essa noite – minha voz é aguada e melosa – A você também, Ettore, por todo carinho que sei que tem por mim e tem... e tinha pelo meu pai – gaguejo um pouco quando lanço um olhar para Ettore, que parece tão surpreso quanto o resto – Foi uma semana difícil – quando volto a olhar a todos, percebo o pequeno sorriso travesso de Gianne – Descobrir tudo que aconteceu, como Papa se foi... – respiro fundo ao continuar – Não quero me estender muito, só quero lembrar como Leonel sempre foi um grande Don para todos da Famiglia, assim como foi um bom pai para mim – minto, minto e minto – Ele tinha o seu próprio jeito de cuidar. Sempre severo, claro, mas como pai, sei que ele sempre fez o que era o melhor pra mim. Da mesma forma como sempre soube o que era melhor para nostra Famiglia – encosto a taça sobre a mesa, me mostrando abalada – Em seus últimos dias, ele me disse o quanto gostaria de me ver feliz... – limpo as lágrimas do meu rosto ao lembrar como realmente foram os nossos últimos dias – Como queria tomar a decisão certa não só para mim, mas para todos nós... – respiro fundo quando encaro cada rosto dessa mesa – Pode ser inesperado para alguns – olho de Filipo para Guido – Mas como conversei com meu pai, sei que esse era um dos seus últimos desejos, unir novamente nossa família, fazer com o que a paz e o perdão nos unissem ainda mais, nos tornar ainda mais fortes. Gosto de pensar que com sua bênção, hoje não seria só um dia de celebração, mas também de união. E não há nada que faria meu pai mais feliz que me ver casada com alguém que ele se importava tanto quanto o filho de seu irmão, Dante de Santis – ouço algumas cadeiras arranharem o piso em desconforto, mas não paro – Vincenzo...

Eu o chamo e o olho, esperando que ele tome o seu lugar nesse palco que acabei de montar. Ele nem parece surpreso, apenas se levanta e deixa a taça em seu lugar.

— Esse foi um dos últimos pedidos de meu tio para mim, que tenho a felicidade em cumprir. Luna, minha noiva... – ele sorri, um pouco exagerado, totalmente forçado – e eu decidimos nos casar e continuar a tradição da família De Santis. Em nome de nossos pais e em honra a eles.

É sucinto, curto e tão preciso. Estou abismada pela força em que Enzo conduziu o final. Deus! Como posso não me apaixonar mais por ele? Quero me jogar sobre essa mesa, arrastar até ele e beijar fora seu cinismo barato...

Um a um, todos aplaudem nosso espetáculo forjado.

Meus olhos se enchem de lágrima quando grito em minha cabeça. Consegui! Eu finalmente fiz!

Ao ver Guido em pé ao lado de Filipo, suas palmas suadas soando mais fortes que os dos outros Capos, sei que não posso enganá-los. Eles eram os homens de confiança de Leonel, afinal. Mas quem se importa?

Meu pai morreu, não há ninguém para protegê-los, Ettore e Eugênia têm mais força e influência em seus dedos mindinhos que em toda extensão de seus corpos, Vincenzo é o único herdeiro homem vivo De Santis e eu sou a única herdeira Amato, com todas as terras e empresas em meu nome.

Os encaro com tanta força. Pelos anos de tortura que cada um deles presenciou, por apoiar um monstro como meu pai, por construir esse muro que me manteve tantos anos longe de Vincenzo, por cada palavra e indireta mesquinha de Guido e cada olhar e riso debochado de Filipo...

Sorrio abertamente enquanto os encaro, para que não tenham dúvidas sobre o que acabou de acontecer:

Enzo, agora, é o Don da Famiglia e eu, a 1ª Dama dessa merda toda!



Olá, minhas mafiosxs! Enrolei, mas postei o capítulo 16! É com muita alegria e prazer que lhes apresento o novo Don e a 1ª Dama da Famiglia, o casalzão da porra, Luna e Vincenzo De Santis!! Claro que isso nunca aconteceria se não fosse a nossa poderosa, empresária, a patroa Luna Amato, dona da porra toda! E aí, gostaram da reviravolta? O Enzo, Guido e Filipo não pareceram muito felizes. Mas só vamos descobrir mais nos próximos capítulos. Me aguardem!

Enão se esqueçam: deixe sua estrelinha, adicione Hereditário na sua biblioteca eme segue no wattpad! Até a próxima! 

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