• LETREIRO NEON • [capítulo 8]
Eu ainda evito falar o seu nome, mesmo que já tenha se passado quatro anos desde então. Em minha mente, eu o chamo de "o nome que não pode ser pronunciado", mas toda vez que faço isso eu vejo o seu rosto, nitidamente, assim como tudo o que aconteceu naquela noite. Parece ser uma outra vida, uma em que Luna De Santis era noiva de Matheus Bittencourt Fontes.
— Quer mais um pouco?
— Desculpe – eu o olhei – O que disse?
— Champanhe? – ele brinca com a taça em sua mão.
— Claro – sorrio um sorriso tímido para ele.
Matheus não parecia se importar. Ao contrário, ele parecia gostar da minha timidez. Essa foi uma das poucas vezes que nos vimos depois que o noivado foi anunciado, há um ano. Nessa época, eu tinha apenas 18 anos, por isso Papa achou prudente que esperássemos mais um ano até que nos casássemos. Faltava apenas 5 meses e pela primeira vez, eu estava ansiosa para o meu casamento. Na verdade, eu estava desesperada... Qualquer coisa para esquecer a presença de Vincenzo em minha vida.
— Aqui – Matheus me entregou uma nova taça.
Antes que eu pudesse tomar, ele tocou sua mão na minha:
— Um brinde...- seus olhos perfuravam os meus – à nós.
Sorri de volta, ainda mais tímida: — À nós.
Eu nunca estive acostumada com atenção masculina, mesmo a do meu noivo, me sentia estranha, porém, com o tempo, eu me vi ansiando por isso. Qualquer atenção era bem-vinda desde que me fizesse esquecer.
Mais tarde, após o jantar, Guido fez um belo discurso sobre família e compromisso. Seu apartamento era grande, não tão grande como a mansão, mas grande o suficiente. E os móveis pareciam combinar com sua personalidade megalomaníaca, exagerados e escrachados, com muito dourado, granito e madeira. Sem contar a pequena coleção de animais empalhados na sala de estar. Assim como sua personalidade, seu discurso final era brega. Não precisei prestar atenção para saber que era o mesmo discurso de sempre.
Até aquele momento, a única coisa que me capturou fora ele. Matheus. Seus olhos eram castanhos bem claros, quase folhas secas, seu rosto, quadrado, com um queixo forte, seu cabelo quase preto demais. Ele era magro, um pouco mais alto que eu, em seu terno cinza. Talvez por isso ele parecesse tão novo, quase da minha idade, e não com seus 23 anos.
— Tutto per la Famiglia – Matheus canta ao meu lado, em seu sotaque paulista, baixo, prevendo a última fala de Guido.
Ele estava sentado ao meu lado, na mesa, então conseguia o ouvir perfeitamente bem. Eu ri da sua tentativa de humor e um pouco mais quando Guido terminou seu discurso com outra frase.
— Quase – brinquei.
— Quase – ele sorriu de volta.
Meia hora depois, os homens estavam reunidos nessa mesma sala de estar, todos sentados ao redor de uma raposa empalhada. Era um jantar atípico na casa de Guido. Havia alguns Capos, entre eles Filipo e Carmelo. Estranhamente, os Benedetti não compareceram, mesmo sendo uma clara comitiva íntima e mafiosa para a pré-candidatura de Luís Carlos Bittencourt Fontes à governador de São Paulo.
— Ele parece ser adorável, Luna – Vanessa, a esposa de Guido, sentou-se ao meu lado na varanda do apartamento.
Antonella, a esposa de Carmelo, aproveitou a deixa e sentou na outra cadeira. Era uma varanda grande, com uma vista para serra, no entanto não grande o suficiente para me manter longe delas. Antonella tinha o cabelo ruivo escuro, os olhos claros e a pele morena. Era baixa, assim como eu, mas compensava com seus saltos escandalosamente altos. Ela estava em seus 40 anos, provavelmente, o que quase não se notava com tanta plástica e botox em seu rosto.
— Ele é.
— É bom para Famiglia, ter alguém na política. – ela tira sua cigarreira de couro de sua pequena bolsa Channel e acende um cigarro – Com certeza Matheus irá seguir os passos do pai.
Era óbvio para todos que essa aliança entre meu pai e Luís Carlos era mais uma das formas da Famiglia continuar na política.
— O que meu noivo decidir está ótimo para mim – eu dou a resposta que elas esperam.
— Já se imaginou primeira dama de São Paulo, querida? – Antonella disse.
Seus olhos me avaliaram de cima a baixo, desdenhosos. "Não boa o suficiente para o cargo", aparentemente.
— Ainda há muito tempo para isso, Antonella...
— Claro, querida... Só esperamos que nada o atrapalhe até lá – ela bateu suas unhas na taça e tragou seu cigarro – Quero dizer, nada tão grave que você não possa ignorar.
— Todos os nossos maridos tem vícios, Ella, e isso não irá atrapalhá-lo, querida – Vanessa jogou um olhar de pena em minha direção, seu sorriso tão descontente quanto seu tom – Provavelmente.
Antonella riu um som abafado ao meu lado, mal tentando disfarçar.
— Não assuste a garota, Van. Ela deve saber por experiência própria, não é?
Eu sabia que elas estavam falando de Papa, mas não me arrisquei em negar ou falar, nem elas. Esposas ou não de Capos, elas sabiam o seu lugar e falar mal de seu Don poderia ser considerado traição, ainda mais ao falar disso com sua filha. Então, depois disso, elas me ignoraram facilmente, jogando indiretas ao meu redor, mas sem realmente falar comigo.
Um tempo depois, Matheus veio até a mim, seus passos leves e um sorriso fácil.
— Olá, senhoras. Posso roubá-la por um momento?
— Claro. Leve-a antes que Leonel note – Vanessa respondeu, com um sorriso um pouco maior que o normal, definitivamente bêbada.
Sorri em suas costas, agradecida por ter me tirado de lá, enquanto me levava até uma parte mais privada do deck: — O que acha de sairmos hoje?
— Não tenho certeza se Papa...
— Já pedi permissão a seu pai mais cedo, Luna.
Seu tom me disse que ele tinha certeza sobre isso.
— Eu gostaria disso. Sair, quero dizer.
Seu sorriso em resposta me indicou que dei a resposta certa.
Depois de me despedir de quase todos e Matheus confirmar com Papa que estava tudo bem sairmos, meu noivo me levou até seu carro. Eu me sentia nervosa e estranha com ele, mas também um pouco ansiosa e animada.
Como qualquer menino rico, Matheus tinha um porsche branco esportivo e assim que entrei, senti meu estômago zumbir junto com o motor.
— Legal, hmm?
— Muito. Esse é seu carro?
Eu estava tão nervosa, mas mesmo para os meus ouvidos eu soei estúpida. Claro que esse é o seu carro, pensei.
— Claro, linda. – Matheus riu, um pouco cínico – E daqui uns dias, ele também será seu, certo?
Ele deu uma óbvia ênfase em "será seu", por um motivo totalmente diferente, achando graça. Mas na minha cabeça de garota, essas palavras soaram mais como um convite que realmente cinismo.
— Eu gosto do seu vestido também. – seus olhos vão da rua para mim, apreciativos. Seu tom, porém, indicava outra coisa.
— Tem certeza? – passo as mãos suadas nas minhas pernas nuas – Qualquer coisa, podemos passar em casa e...
— Relaxe – ele tira a mão do volante e põe sobre a minha – Você está linda. Um pouco séria para o que preparei, mas linda. – ele brinca.
Olho mais uma vez para nossas mãos e meu vestido tubinho vinho de renda sem graça, mas não digo nada.
— E estamos quase chegando.
Tirei meus olhos do colo e o olhei, confusa.
— Chegando?
Seu sorriso de antes voltou, agora maior e mais confiante, as covinhas aparecendo. De qualquer forma, não precisei ouvir sua resposta, estávamos lá um minuto depois.
Ragazza.
Um grande letreiro azul neon marcava a entrada da boate, também conhecida por nós como Ragazza, um dos negócios mais rentáveis e vantajosos da Famiglia naquela época. Papa nunca tinha me permitido ir, então as poucas coisas que ouvia sobre era através de Gianne. Matheus, ao contrário de mim, parecia bem familiarizado com tudo. Ele entrou pela porta como se fosse rei desse lugar, saudando seguranças e chamando atenção. Não houve fila, nem espera. Ele simplesmente entrou e nos levou até um dos camarins.
A boate era grande, com uma pista de dança espelhada e uma cabine pequena com espaço suficiente apenas para o DJ. A lembrança que tenho é de olhar ao redor e me sentir perdida entre as pessoas, muito escuro e barulhento enquanto todos dançavam ao som de uma música eletrônica genérica. Os camarins, que ficavam na parte superior, eram divididos por vidros esfumaçados. Eu podia ver algumas silhuetas, mas não quem eram.
— Eu pensei que você não vinha mais, cara.
Assim que entramos, dois homens nos esperavam sentados em um sofá preto de couro. Um deles usava uma camisa polo apertada, um pouco acima do peso, com seu cabelo loiro repartido de uma forma engraçada. Quase a imagem perfeita de um "playboy".
O amigo ao lado o socou no ombro, desviando minha atenção.
— Com certeza ele estava ocupado... – ele me olhou – Não vê?
Nada de bom veio do seu olhar, mas na época eu não compreendia como isso poderia ser. Ele era o mais alto dos dois, com cabelo cacheado castanho escuro, grandes olhos marrons e boca pequena. Sua camisa listrada da lacoste fazia o par perfeito com a de seu amigo.
—É assim que você vai falar com a minha noiva? Mostre um pouco de respeito.
Se possível, seus olhos cresceram ainda mais.
— Então, essa é a famosa Luna De Santis? – o loiro soltou, ainda do sofá.
Miguel pareceu tão impactado como o amigo, mas isso não o intimidou. Ele levantou e se aproximou.
— É um prazer, princesa – ele puxou uma das minhas mãos e a beijou – Já ouvimos falar tanto de você, que quase achamos que nosso amigo aqui tinha inventado uma noiva.
Matheus sussurrou ao meu lado: – Claro... Imbecil!
Eu ri um pouco e me deixei levar: — Sim, sou eu. Prazer.
— Ela ainda tem essa voz de um anjo? Seu merda!
Matheus me puxou junto com ele para o sofá, não me dando a oportunidade de cumprimentar seu outro amigo. Nós dois sentamos próximos, de uma forma que nunca fizemos antes. Era estranho e quente, seus braços em volta dos meus ombros.
— Um pouco de champanhe, linda? – ele sussurrou no meu ouvido.
— Sim, claro.
— E aí, eles chegaram? – seu amigo loiro perguntou.
— Ainda não, mas devem estar.
Poucos minutos depois, uma moça loira alta nos entregou dois baldes: um com champanhe e outro com uísque.
— Eu não sei se consigo tomar tudo isso – eu confessei entre as risadas de seus amigos.
— Relaxe, linda, eu também vou tomar.
— Okay – e sorri para ele.
A noite passou com cada um deles contando sobre uma festa ou viagem que fizeram e quão loucos ficaram. Matheus intervinha quando algo que não queria que eu soubesse vazasse, mas ficou claro pra mim que a última coisa que ele era, era celibatário. Eu podia ser inocente, mas nem tanto. Uma parte de mim queria ficar revoltada com isso, mas, no fundo, eu realmente não me importava. Eu só consegui pensar se em nossa vida de casados as coisas continuariam assim.
Um toque do celular de Matheus me distraiu da minha segunda taça.
— Bem, querida, você não se importa de ficar um pouco sozinha, sim? – ele sussurrou para mim, assim como havia feito por toda noite.
— Não, por mim está tudo bem.
Seu sorriso aumentou: — Estarei de volta em um minuto.
Ele se levantou, com copo de uísque ainda em mãos, e acenou para os amigos, um sinal que todos sabiam menos eu.
— Vamos.
Miguel seguiu junto, com David, o loiro, indo atrás:
— Let's get this party started!
Eu quase revirei os olhos. Eu não pude deixar de reparar quão diferente eles eram dos homens da máfia que eu conhecia. Pode parecer hipocrisia, mas perto dos capos e soldados, eles eram apenas meninos.
Permaneci sentada por algum tempo, bebendo meu champanhe e esperando eles voltarem. Isso nunca aconteceu, pelo menos não nos primeiros 40 minutos. Fui até o vidro que dava para a pista de dança e observei as pessoas, tentando encontrá-los. Eu não conseguia acreditar que eles tinham me largado lá.
Uma hora tinha se passado até que um deles estava de volta. Miguel entrou, seu cabelo um pouco revirado, seu sorriso maior e olhos vidrados.
— Hey, princesa, ainda aqui? Pensei que Matheus tinha te levado.
— Não, eu não... Você sabe onde ele está?
Ele deu de ombros e se jogou ao meu lado, no sofá. Tentei me afastar, mas seus dedos já estavam puxando o champanhe da minha mão.
— Acho que vou procurar por ele lá em...
— Não, não, não – ele colocou a taça na mesa a nossa frente e me prendeu pelos ombros – E me deixar aqui sozinho? Que isso, princesa?... Relaxa, vai. Matheus está em um lugar onde você não vai poder encontrar agora.
Sua risada era branda, meio dentro, meio fora. Suas mãos escorregaram pela lateral do meu vestido. O medo bateu uma batida diferente. Ele estava me tocando, seus dedos deslizando sobre a renda, como se fosse seu direito fazer.
— Eu... eu preciso ir ao banheiro. – me apressei em dizer.
Tentei me levantar. Ele me puxou de volta:
— Há um banheiro bem aaaali – ele roçou a mexa do meu cabelo entre os dedos e acenou em direção à uma porta preta, atrás do sofá.
Meus pés até lá pareciam pesar mais que o necessário. Atrás de mim, a risada de Miguel encheu o camarim:
— Não demore, princesa.
Eu não me lembro muito. Voltei uma e outra vez conferindo se a porta estava trancada. Tentei ligar para Gianne. Uma, duas, três, quatro vezes. Nada. Meus dedos tremiam quando digitava "Acordada?". Nada ainda. "Preciso de sua ajuda. Estou no Ragazza". Ainda nada. Tentei ligar para Giovanni, direto para a caixa postal. No meu desespero, até pensei em ligar para Papa ou até mesmo Vincenzo, sabia que eles me ajudariam. Afinal, aquela merda de boate era da minha família, eles... A porta se abriu.
— Tudo bem por aqui, linda?
Se a voz de Matheus não era um indício, sua aparência com certeza era. Como ele abriu a porra da porta? Ele estava com a mesma camisa social, dessa vez sem o terno e a gravata. A boca borrada com algum batom rosa e olhos tão vidrados quanto o de seu amigo. "Todos os nossos maridos tem vícios" Vanessa havia me dito, e esse era o de Matheus, cocaína. Tentei me acalmar. Esse era Matheus, ele não me faria mal, não a sua noiva. Não a filha de Leonel De Santis.
— Não vai me responder?
— Eu estava indo te procurar. Papa me ligou – menti – e disse para ir pra casa.
Sua boca puxou num sorriso estranho e sua voz desceu o tom quando me chamou:
— O seu pai te ligou?
— Sim, me ligou. Eu...
— Isso é engraçado – ele entrou no banheiro, seus olhos travados no celular na minha mão – Eu não acho que seu pai te ligou.
Desta vez não houve aviso quando suas mãos fecharam ao redor do meu antebraço, me puxando para fora.
— Eu vou te levar para casa, Luna...
Eu tremia em suas mãos enquanto meus olhos devoravam o camarim. Ali estavam os outros dois sentados no sofá com mais duas garotas loiras. Eu não me lembro de seus rostos, só das carreiras brancas sendo cheiradas uma por uma, sobre a mesa. Risadas enchiam o pequeno quarto, enquanto mais uma garota morena pendia deitada em uma das poltronas.
— Mas antes, nós vamos nos divertir um pouco aqui. Tudo bem? – ele chupou o ar pelo nariz.
Não houve respostas, ele não queria uma. Matheus abriu espaço entre os amigos e me puxou de volta, do mesmo jeito que estávamos antes. Suas mãos suadas agora nos meus joelhos.
— Aceita um pouco, querida?
Ele tragou o pó de seu dedo mindinho como se fosse nada. Eu neguei com a cabeça.
— O melhor tiro da porra dessa cidade, safra De Santis... Não reconhece, princesa?
Miguel tinha a loira pendurada em seu pescoço, suas mãos correndo soltas em suas pernas, mas seus olhos estavam em mim.
Abri a boca para responder e a fechei de novo. E o que?
— Eu não acho que Papa aprovaria que eu...
Matheus me soltou, suas mãos no ar, como se não acreditasse no que eu acabava de falar.
— O seu Papa? – ele me imitou – Eu acho que seu Papa não se importa, Luna. Desde que você esteja comigo... Eu sou a merda de seu noivo, não sou?
Devo ter parecido com medo ou algo assim.
— Hei, eu só estou falando... Se sou seu noivo, e estou dizendo que está tudo bem, então... – ele pegou mais um pouco do pó em seu dedo – Está tudo bem.
A próxima coisa que me lembro é de empurrar sua mão quando ele tentou me forçar a cheirar. Eu não sei como, mas saí do sofá, descarrilhando toda a merda. O riso de Miguel e David encheu a sala, seus "ooooouh" seguidos das risadas das garotas, só agravaram as coisas.
Matheus estava além de aborrecido. Suas mãos me prenderam na parede mais próxima, um baque surdo encheu a sala quando meu corpo se chocou contra o vidro, a dor se alastrando pelo meu braço.
— Sabe o que seu Papa me disse hoje mais cedo? – sua voz calma não me enganou nem um minuto - Se divirta, figlio. Ela é sua por essa noite.
Calafrios subiram pelo meu corpo. Papa nunca falaria isso. Mesmo sendo sua moeda de troca, ele não me entregaria antes do casamento.
— Mentiroso – sussurrei de volta.
Sua risada ressoou pelo quarto.
— Ela acha que eu estou mentindo. Você acredita nisso, Miguel?
Miguel riu, mas ele está mais fora de si que os outros.
— Acho que vou ter que te mostrar, não é, linda?
Sua mão em meu pescoço desceu, seus dedos agarrando meu seio por cima da renda. Eu tentei o empurrar, mas suas mãos continuaram ali.
— Relaxe, princesa. Eu sou seu noivo, não? Apenas confie em mim... Eu mereço, não mereço?
— Matheus – minha voz saiu como um choro – Deixe-me ir pra casa. Só... Por favor.
Ele parou, por um momento, ainda forçando meu corpo contra o vidro.
— Você pode fingir que ele, sabe?
Meu choro nunca parou, meus olhos assustados em seu sorriso maníaco.
— Oh, linda, você realmente acha que eu não percebo como você o olha?
Minhas pernas tremiam e minha respiração quebrou. Nãonãonãonão...
— Sim, sim, sim, princesa – ele se aproximou e tentou morder minha orelha – Pense que sou ele, pense que...
Algo foi tirado de mim. O estrondo bateu forte no fundo da sala quando um corpo foi arrastado para longe. Um segundo depois, Matheus estava no chão, do outro lado do camarim.
— Mas que porra? – alguém gritou.
Minha respiração engatou quando vi Vincenzo indo em sua direção. Fazia meses que não o via, mas aqui estava ele.
Vincenzo não deu tempo para Matheus se levantar antes de estar em cima dele. Ele o chutou e em seguida caiu sobre Matheus com um murro certeiro em sua cabeça. Um som oco se espalhou pelo camarim seguido pelos socos de Vincenzo. Ele seguiu o socando, um atrás do outro. Naquele momento, eu sabia que ele o mataria se não o parasse. E por mais que quisesse isso, não podia permitir.
— Vincenzo... Enzo, não! – gritei alto, mas minha voz foi abafada pelos gritos das outras meninas.
O som de um tiro surdo veio da porta, seguido de "a festa acabou, seus filhos da puta!". Reconheci aquela voz na mesma hora. Giovanni. A gritaria se espalhou pelo camarim, as meninas correndo e os caras se esgueirando para fora, sem se importarem se Matheus ficava ou não. Isso pareceu parar Vincenzo por um momento.
— Você... – a raiva escorria de cada palavra – Eu disse pra você, seu filho de una puttana – soco – Não – mais um soco – Encoste – soco – Nela!
Sua voz rachou mais grave em "nela", mal se contendo.
— Vincenzo... – Giovanni assobia mais uma vez – Você está assustando Luna.
Seus braços pararam, sua respiração pairando sobre um Matheus inconsciente. Giovanni atravessou o quarto para ficar ao lado de Vincenzo. Olhares foram trocados, mas nada foi dito. Um momento depois, o corpo de Matheus foi carregado por outros dois soldados, escoltados por Giovanni para fora da sala.
Vincenzo se levantou, já com o lenço em mãos para limpar as juntas cheias de sangue, como se ele o tivesse no bolso do terno por esse propósito. E quando ele se virou para mim, seus olhos me pegaram desprevenida, tão negros que eu mal via o verde neles. Ele estava puto, eu sabia. Meu corpo tremeu e eu me abracei, me sentindo dormente. Ele andou uma corrida lenta até mim, seus olhos avaliando cada parte do meu corpo, a procura de qualquer marca que fosse. Eu só me lembro de pensar como ele era lindo, de tantas formas que quase doía ver. Era como se eu pudesse ver sua personalidade vibrar neon diante dos meus olhos. O aperto mudo de seu punho, o olhar fixo em mim, os passos firmes em minha direção. Ele já tinha seus vinte três anos naquela época, um pouco mais novo que agora. Sem barba por fazer, o cabelo cortado baixo quase militar, seu corpo era um pouco mais magro, mas enchia bem o seu terno manchado de sangue.
Ele chegou até a mim, ainda lentamente, me dando tempo de reagir. Fiquei ali enquanto suas mãos me prendiam no vidro atrás de mim, me aprisionando entre seus braços, sua respiração batendo sobre meu rosto. Mas diferente de antes, o meu desespero era para sentir suas mãos me tocando, em qualquer lugar, por todo meu corpo.
— Eu estou tão puto com você agora... – suas mãos seguraram meu rosto, o abraçando como se o enaltecesse – O que eu te disse?
Eu encarei seus olhos, me afundando na sua alma negra sem medo de afogar. Seus dedos teimaram em se arrastar pela minha pele até chegarem a minha nuca. Ele a puxou, só um pouco, o suficiente para poder me ouvir melhor. O suficiente para ter acesso.
— O que eu te disse aquele dia, pequena? – sua mão apertou um pouco mais – Me responda.
Ele sussurrou para mim, suas as palavras batendo fundo em mim, eu não pude conter as lágrimas.
— Shiiiish... – suas mãos me puxaram para ele e enterraram minha cabeça em seu peito – Não ouse chorar, Luna... Você não sabe o quanto eu quero matar esse filho da puta, o esforço que eu tenho que fazer pra não sair daqui, agora, e enfiar a porra de uma bala...
— Não, Enzo – minhas palavras saíram abafadas em seu peito.
— Na cabeça desse merda... Tudo para não matar...
Eu o puxei mais forte, suas pernas entre as minhas, minha cabeça em seu pescoço, meus lábios na quina do seu queixo.
— Eu estou bem, Enzo. Eu só... – puxei sua mão do meu rosto e a trouxe entre o vale dos meus seios – Sinta – meu coração acelerou sob a palma da sua mão – Eu estou bem.
Assim que minha cabeça caiu de volta para o vidro e eu vi os seus olhos, eu sabia o que precisava fazer para acalmá-lo, para me acalmar.
Beijar Vincenzo De Santis era quase como um pequeno sacrifício, era preciso adorar aquela boca e devorar qualquer santidade que saísse dela. Eu soube, assim que minhas mãos obrigaram seu rosto descer até o meu, que ele se arrependeria disso. Eu farei esse sacrifício, pensei, por nós. Ele nem ao menos tentou resistir, gemendo em minha boca enquanto eu o devorava. Não era nosso primeiro beijo, mas desta vez eu estava focada em não deixa-lo escapar.
Abençoadas eram suas mãos. Elas correram soltas até a minha bunda, apertando forte e puxando meu quadril até o seu. Bem dita era sua boca. Eu a comi com pequenas mordidas, com medo de não saber digerir o que estava acontecendo entre nós. Como se soubesse, ele enrolou a mão no meu cabelo e o puxou, abrindo minha boca ainda mais. Sagrada era sua língua. Ele entrelaçou a sua com a minha e eu gemi, mais forte que ele dessa vez. Divino era seu pau. Assim que o senti duro em minha perna, eu baixei minha mão para sentir, tocá-lo, mas não cheguei a tempo.
Ele me parou, prendendo minha mão com a sua.
— Luna... – sua voz era baixa, como um aviso.
— Por favor. Eu só... Só preciso esquecer. – a minha mais, ofegante, como uma prece.
Ele não cedeu. Então eu trouxe sua mão sobre minha perna e o beijei, mais uma vez, tentando persuadi-lo. Assim que sua língua traçou a costura da minha boca, eu arrastei sua mão até a parte interna da minha coxa, embaixo do meu vestido. Pequenos arrepios se espelharam sobre mim, com a promessa do que estava por vir. Seus dedos brincaram com a renda da minha calcinha. Para cima e para baixo. Friccionando ali. Não o suficiente.
— Por favor... – gemia em seu ouvido, sua boca chupando a pele do meu pescoço.
Ele se afastou, apenas um pouco, parecendo gravar cada reação minha. Seus olhos presos nos meus. Sua boca respirando a minha. Sua mão espalmada embaixo da minha calcinha. Eu estava muito molhada, tão molhada que seus dedos entraram suaves, escorregando entre as dobras, lentamente.
— Aaaan – gemi a cada estocada.
Era minha primeira vez, com ele, com qualquer um. Eu nunca tinha sido tocada assim antes. Ás vezes que fantasiei com ele e gozei em meu travesseiro não contavam, não chegavam nem perto. Então, quando seus dedos entraram um pouco mais fundo, eu me senti convulsionar em volta deles, sugando-os.
— Tão apertada, tão molhada, minha Luna... Minha. – ele cantou entre uma estocada e outra.
Ele friccionava o dedão sobre meu clitóris, seus dedos entrando e saindo, sem parar. Me debati um pouco, sem saber como me sentir, sem conseguir me segurar. Seus olhos sempre em mim, não me deixando ir.
— Goze pra mim, pequena. Pense no meu pau, entrando e saindo de você. Assim... – seus dedos continuaram, entrando e saindo.
Quando meus olhos estavam pra fechar, ele segurou meu rosto mais apertado, me impedindo. Gozei com seus olhos travados em mim, seus dedos na minha buceta. Gozei como nunca imaginei, muito melhor que qualquer fantasia. Pude sentir meu gozo descendo em seus dedos, minha respiração pegando forte e meu rosto pegando fogo, corando. Ele me beijou, mais uma vez, suave e morno, quase como um pedido de desculpas. E quando abri os olhos, ali estava ele. Entre a escuridão da boate, envolto por sombras, tragando os dedos sujos em sua boca como o mais doce veneno. Tragando suas emoções de volta, tudo o que sentimos, para dentro de seus olhos. Tudo para que eu não me visse neles, tudo para não vê-lo vulnerável.
Ele ajeitou minha calcinha no lugar, baixou o vestido e beijou minha testa.
— Luna... – seus lábios ainda sobre minha testa.
Eu o abracei, o impedindo de dizer o que ele sempre me dizia. Nos deixamos ali, abraçados, esse sentimento queimando entre nós, lentamente, por um minuto ou uma hora. Eu nunca soube.
— Vincenzo! – Giovanni o chamou da porta – Hora de levar Luna pra casa.
Em nenhum momento ele se virou para Giovanni, mesmo quando dizia:
— Leve Luna. Eu ainda tenho algumas coisas pra resolver.
E assim, Giovanni o fez.
Papa nunca soube o que aconteceu aquela noite. Ou assim, eu pensei.
Quando voltei, ele não estava em casa, nem um indício de que ele voltaria. Então, tomei um banho quente e longo, meu corpo doía e tremia, confuso assim como a minha cabeça com o que tinha acontecido. Vesti o meu moletom e me deitei por longas horas, até ver o sol nascer pela minha janela.
Vincenzo me beijou e me fez gozar em suas mãos. Matheus tentou me forçar, com cocaína, primeiro, e sexo depois. Eu estava apaixonada por um, eu iria me casar com o outro. Na ordem errada, na vida errada.
Era exatamente 6h37 quando Gianne me ligou.
— Gianne, eu...
— Liga a sua TV no noticiário... – ela me interrompeu, sua voz mais alta que o normal – Agora!
Eu saí da cama e me sentei sobre o tapete grosso em frente a minha TV, ainda entorpecida. Imagens de um acidente de carro, na BR-050, apareceram. Três passageiros, nenhum sobrevivente.
Matheus Bittencourt Fontes, de 23 anos, filho do pré-candidato à governador de São Paulo, Carlos Luís Bittencourt Fontes, foi encontrado morto na madrugada deste sábado em seu carro, junto com seus dois amigos, Miguel Duarte Arantes, de 22 anos, e David Montes Delgado, de 20 anos. A polícia revelou que Matheus estava sobre influência de fortes drogas quando estava dirigindo e perdeu o controle do carro, indo direto para penhasco. Dentro de seu porta-malas foram encontrados 5 kl de cocaína e mais duas armas carregadas.
As suspeitas que Carlos Luís esteja envolvido no crime organizado surgiram ainda no começo do mês de agosto, quando áudios foram vazados da operação Cruz Negra da Polícia Federal. Não se sabe ao certo como este terrível acidente está ligado às operações ilegais de seu pai, mas fotos vazadas na noite do acidente comprovam que o jovem vivia uma vida desregrada com muito álcool, drogas e armas.
[...]
O Jornal Hoje tentou entrar em contato com o candidato ainda esta manhã, mas não conseguiu obter nenhum retorno até o final dessa edição.
Capítulo 8 postado! Esse foi o capítulo mais difícil de escrever até agora e definitivamente o que eu mais gostei! O passado de Luna e Vincenzo está cheio de idas e vindas, altos e baixos, muito obstáculos, mas definitivamente havia amor. Espero que gostem tanto quanto eu! E dedico esse capítulo pra minha leitora linda @ElianeeA que estava tão ansiosa pra ler hahaha E aí, gostaram da cena hot? Me contem, quero saber!!
Enão se esqueçam: deixe sua estrelinha, adicione Hereditário na sua biblioteca eme segue no wattpad! Até a próxima, mafiosxs!
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