As horas passam um pouco mais devagar dentro do meu quarto. O calor insuportável continua e em um episódio raro, não há nenhum sinal de chuva esses dias. Desde a visita à Giulia, preferi ficar em casa até que minha mão curasse. Gianne também não voltou de sua viagem, então não tenho desculpas como compras ou brunchs para sair. Outro fator foi Papa solicitar Domenico durante esses 4 dias para trabalhar com ele, uma de suas maneiras de me manter em casa. Então, a única coisa que me restou foi me distrair ajudando Matilde na cozinha ou indo à estufa com Marcelo. Dias assim são os piores. Em mais uma noite agoniante, me tranco no quarto e leio algum livro clichê sobre romances impossíveis que Micaela me emprestou.

O quarto marrom é quase um sótão. Quando Vincenzo saiu de casa, eu me mudei para cá empenhada a manter uma certa distância de Papa e do seu quarto. Eu, claro, tive que pedir permissão para fazer uma pequena reforma nessa parte da casa para colocar algumas janelas, montar meu guarda-roupa e colocar um banheiro. Ao contrário do que imaginei, Papa não se opôs. Meses antes, ouvi em uma de suas conversas que ele tinha planos de me mandar para nossa casa de verão, o que provavelmente não deu certo. Então, o sótão foi só um plano B para não me ter por perto. No final das contas, isso acabou dando certo para nós dois.

É quase meia noite quando decido ir à cozinha fazer um lanche noturno com as rosquinhas e cornettos que sobraram da fornada da tarde. A escada adjacente também foi construída após a reforma e liga o meu quarto diretamente a um dos corredores da casa, que dão para um conjunto de quartos de visitas que quase nunca são usados. Entre eles está uma pequena sala, com uma biblioteca acoplada. Desde que Papa transformou a antiga biblioteca em uma sala de reunião, ele passou os livros para lá. Por isso, quando desço não espero encontrar ninguém por aqui, mas as vozes que ouço me dizem que eu estou enganada.

— Você tem que falar com ele!... O filho da puta está me deixando sem saídas por lá, entende? As pessoas estão ficando desconfiadas.

Eu reconheço a voz de imediato, Carmelo Vitali, um dos capos de Papa e subordinado direto de Guido na distribuidora. Ele é um homem em seus 43 anos, com os braços magros e o corpo esguio, sempre com um cigarro na mão, olhos amarelados e boca seca, o que o deixa com o tique estranho em qualquer conversa. Escondo-me no quarto ao lado e espero. Por que esses dois estão se escondendo aqui?

— Ele está se inteirando das coisas. Perguntando, vedi? E aquele outro bastardo do Pietro está o ajudando, eu sei disso. O que mais eu podia fazer? Matar o cara?

— Então, a solução que você teve foi trazê-lo para cá?

Há uma pausa estranha, quase forçada, me dando indícios que Guido está em seu limite.

— Ele insistiu. O puto do Pietro reforçou tudo na frente de todos. Aqueles filhos da puta armaram pra mim.

— Por algum momento passou nessa sua testa vuota que era melhor resolverem isso por lá, en? Pegar esse seu celular de merda e me ligar! Trazer Vincenzo aqui era sua última opção, Carmelo. Última!

Vincenzo? Ele está aqui?

— O Chefe vai entender. Ainda mais com aquele Benedetti aqui, ele vai confirmar o que eu disse no armazém.

— Leonel vai é te matar, isso sim!

Pelo som que vem através da parede, sei que alguém foi empurrado contra a estante.

— Nunca mais desobedeça a uma ordem direta minha, si? Quando eu disse "nunca o traga pra cá" é nunca! – outro soco soa pelas paredes – Entendeu?

— Entendi! Entendi! – a voz fina e abafada de Carmelo respinga medo.

— Só entre com Vincenzo aqui quando ele estiver morto, não antes disso – Guido fala com sua voz de escarnio – Vamos... Benedetti vai desconfiar se demorarmos demais.

Há um minuto ou dois de silêncio antes que eu ouça a porta do outro cômodo sendo aberta. Meu coração dispara, o medo ressoando no meu peito. Não sei quanto tempo se passa até que decido sair do quarto. Assim que tenho certeza que eles não vão voltar, corro para o meu quarto, minha cabeça cheia. O que Vincenzo fez dessa vez? Papa não se dá bem com ele, não mais, mas morto?

No fim, a única coisa que consegui para essa noite foi um caso de insônia.

Sexto capítulo finalmente postado! Capítulo curtinho pra deixar aquela pulguinha atrás da orelha... Tudo pra te preparar pro próximo capítulo, que tá só tiro, porrada e bomba! Estão preparados pro Vincenzo De Santis? Me digam aí!

Enão se esqueçam: deixe sua estrelinha, adicione Hereditário na sua biblioteca eme segue no wattpad! Até a próxima, mafiosxs!