Capítulo 46 - Preparativos
Ponto de Vista Severo Snape
Não foi uma manhã fácil de digerir, embora tudo estivesse completamente pronto para a ação daquela noite, eu precisei correr com muita coisa para, só então, ficar na companhia da minha filha que tinha aberto os olhinhos finalmente.
Ainda estavam de um azul escuro leitoso, mas saudáveis pelo que Madame Pomfrey disse, embora eu não tenha percebido nenhum sinal de resposta á estímulos.
- Ela não é cega, Severo. Só está demorando mais que outros bebês porque nem devia ter nascido ainda. Foram só três semanas – Angelique me tranquilizou pela décima vez.
- Tem razão, quanto peso ela ganhou?
- Quase trezentas gramas, já passou de um quilo.
- E ele? – levanto o queixo para o bebê gorducho pendurado no seio dela.
- Sete vezes o peso de Anabeth – ela riu e o afastou – madame Pomfrey acha que devo estipular horário para as mamadas.
- Vai precisar me incluir na lista, serão quantas por dia? Três?
Ela me olhou perplexa quando entendeu o que eu quis dizer.
- A noite não foi suficiente para você?
- Nunca será o suficiente, Angie. A menos que passemos a vida toda na cama.
- Falando em ficar o tempo todo na cama, já falou com Draco?
- Vou antes de sair.
Ela assente. Sinceramente, achava que ela também devia vê-lo, afinal, nunca se desculpou por ter usado ele para recuperar Anabeth. Eu sei que teria feito o mesmo, mas teria a decência de me explicar depois.
No fundo, eu sabia que essa recusa não era crueldade ou frieza. Angelique se preocupava com ele, só estava com vergonha do que fez.
Anabeth começou a chorar sem motivo algum, a aninhei no meu pescoço e comecei a balançar pela enfermaria até que ela se acalmasse.
- Você vai acostumar ela mal – Angelique me repreendeu.
- Não me importo de balançar ela.
- Sim, agora que ela é leve e pequena, mas quando chegar á um ano pesando mais de dez quilos, ela ainda vai querer ser balançada.
Eu sorri para ela.
- Mas talvez, aos dois anos ela não queira mais ou aos três, quando começar a se encantar com princesas e quiser uma cama de dossel cor de rosa. Então vai acabar e nunca mais vai voltar, eu balançaria ela por um ano inteiro por que sei que não vai durar para sempre.
Vi os olhos da minha esposa se encherem de lágrimas, ela colocou Max em seu ombro e se levantou para vir a meu encontro. Eu percebia o quanto ela estava apegada ao garoto e estava orgulhoso de como ela dava conta.
- Eu estou com medo – ela se deitou em meu ombro com os bebês entre nós,
- Eu prometo, Angie. Vou voltar para vocês.
O momento durou o quanto conseguimos manter as crianças quietas, mas no instante em que Ana começou a chorar por ter interrompido o balanço, Max fez o mesmo.
- Tudo bem, Severo. Vou acalmar os dois – ela coloca Max de um lado e pega Anabeth, a diferença de tamanho dos dois ainda me surpreendia – é melhor falar com Draco.
Eu adiava essas conversas, porque eram todas iguais, ele se culpando em posição fetal na cama tentando afastar todo mundo.
Desci as escadas até o andar mais baixo, uma confiança falsa. A comunal sonserina se abriu para mim instantaneamente quando parei na entrada. Vinette estava sentada em um sofá com um livro qualquer, não estava lendo. Levantou os olhos para mim e sorriu.
- Vai subir?
- Sim, ele se levantou?
- Se levantou, mas não desceu ainda.
Assenti e ganhei os degraus até o dormitório masculino, Draco escolheu o melhor quarto para se esconder, o do Monitor chefe no final do corredor.
Bati a porta, esperando que ele apenas gritasse que eu podia entrar, mas surpreendentemente, ele abriu a porta. Estava totalmente vestido e calçado.
- Boa tarde, professor.
- Não estamos em aula, não precisa me chamar assim.
Ele se afastou da porta e me deu passagem, o quarto ainda estava uma zona, mas a bandeja de comida que Vinette sempre levitava até lá, estava vazia.
- Conseguiu se alimentar?
- Sim. Se puder, agradeça Vinette por mim.
- Não estão se falando?
- Ela não me entende, acha que minha mãe mereceu o que teve.
- Mas você também não está sendo compreensivo. Sua mãe fez muitas coisas ruins, ela apavou Anabeth desde que colocou os olhos nela.
- E por isso ela precisava ser degolada feito um porco?
- Narcisa era só a sua mãe. Você a amava porque ela cuidou de você, te fez andar, te fez falar, te alimentou. Mas ela não cuidou de Vinette, nem de nenhuma das outras. Não espere que elas tenham o mesmo pesar que você. O que importa é que ela está sofrendo com a sua dor, devia aceitar.
- Não sei, ela podia perdoar.
- Você perdoou Angelique?
- Ela torturou a minha mãe e ameaçou fazer o mesmo comigo.
- Isso só prova o que eu disse. Você a vê como uma torturadora, mas para Anabeth, ela é mundo todo.
- E como está a minha irmãzinha – ele dá um pequeno sorriso.
- Crescendo, já abriu os olhos.
- Que cor eles são?
- Ainda não dá para saber, mas provavelmente serão castanhos.
- Isso tudo é muito maluco né – ele se senta na cama e olha pela pequena janela para o fundo escuro do outro lado – você pensa nos outros bebes?
- Não, estou ocupado demais com a minha vida, devia fazer o mesmo – respondi já meio rabugento.
- Não consigo, Vinette falou sobre Amelia, ela era a esposa de Evan Rosier, o bebe deve estar com ele, não é? O cara é um filho da puta.
- Todos nós somos.
- Mas nem todos aparecíamos cheio de marcas roxas no corpo depois de cada feriado, como a filha dele.
- Não sei onde quer chegar.
- São filhos legítimos, mesmo que derrotemos Voldemort, essas crianças ainda ficaram com pais agressivos, psicopatas – ele suspirou pesadamente – eu espero que o filho de Vinette tenha uma sorte melhor.
- Com pais trouxas? Eu duvido muito.
- Não sei como Angelique aguenta você – ele riu.
- Eu não sou tão pessimista com ela, esse quarto é um poço de depressão. Devia sair.
- É eu vou falar com Lee. Ele anda muito ocioso.
Isso era uma coisa boa, Draco estava melhorando, ainda que houvesse questões muito duras que ele devia superar. Saber que estava se esforçando me deixava mais tranquilo para partir a uma missão tão perigosa.
Assim, se algo acontecesse comigo, ao menos ele poderia cuidar de Angie e de Ana.
A tarde estava quase no fim quando fomos convocados, eu tinha voltado para minha família a fim de me despedir. Angelique me abraçou tão forte que achei que ia me quebrar ou se fundir ao meu corpo para que eu a levasse.
- Está tudo bem.
- Se você não voltar inteiro, eu juro que vai ouvir a maior bronca.
- Vou ter que contar todos os dedos ao sair de lá – eu ri fraco e a abracei de volta – mas se algo acontecer.
- Nada vai acontecer.
- Não, Angelique – eu a afasto e seguro seu rosto com as duas mãos – preciso que me ouça por favor.
- Não, Severo... por favor.
Sequei as lágrimas em suas bochechas com meu polegar e a fiz olhar para mim outra vez.
- Se algo acontecer, eu amo você e amo Anabeth, diga isso a ela todos os dias.
- Eu direi – ela soluçou as palavras e isso quase me quebrou.
- E eu aceito Maximus. Eu o aceito como meu filho, se você o criar, diga a ele que eu o amo também.
Ela sorriu agradecida e voltou a me abraçar apertado.
- Severo? – Oliver chama da porta da enfermaria – temos que ir.
Eu a beijo profundamente antes de soltá-a, ainda ouço seus soluços enquanto estou caminhando pelo corredor, mas agora não posso mais pensar em Angelique, em Draco, ou nas crianças. Eu teria que me concentrar e fazer meu trabalho direito, ou a minha família não teria um pai.
Ponto de Vista Angelique Lacey
Ver Severo sair pela porta sem a certeza de que iria voltar, apesar de suas promessas que sim, deixaram meu coração aos pedaços, eu me joguei na poltrona e deixei o choro correr livre, infelizmente eu não podia me dar ao luxo de me afundar em tristeza a noite toda. Anabeth foi a primeira a acordar, sequei minhas lágrimas e fui cuidar da minha filha.
- Angelique? – a voz de Draco despertou Maximus que começou a chorar manhoso.
- Oi – fiquei desconsertada ao ver ele ali na porta depois de mais de uma semana de reclusão.
- Ele veio manipular você, estou avisando – Lee passa pela porta e se apressa em começar a arrumar tudo, desde as fraldas até a limpeza do chão.
– Como se sente? – perguntei á Draco, ignorando a fala de Lee e me atrapalhei com Anabeth quando tentei pegar Max.
- Bem – Draco se aproximou com urgência do berço – deixa que eu pego ele, acho que ainda me lembro – ele levanta o bebe nos braços que parar de chorar instantaneamente.
- Acho que ele se lembra de você.
- Quando estávamos no barco, Lee ficou muito ocupado com Vinette que não parava de vomitar. Fiquei com Maximus a maior parte do tempo e o professor Snape tinha razão, ele tem um rastreador.
- Mas aqui é seguro.
- Sim, eu sei. Mas não dá para viver em Hogwarts a vida toda. Um dia, vamos ter que sair. Anabeth terá que sair e mesmo sem Voldemort ou um exercito de crianças assassinas – ele riu fraco sem humor afinando a voz nas ultimas palavras para brincar com Max – ainda vão existir homens maus, como meu pai.
- Lucius.
- Sim, homens como eles. Já pensou o que aconteceria com Anabeth se cruzasse o caminho dele?
- Eu não vou permitir – apertei minha filha contra meu peito e me virei de costas, os terrores que passei em um quarto de hotel com Lucius quando ele achava que podia fazer qualquer coisa com meu corpo porque estava pagando, voltaram a minha mente e tudo doeu mais porque Draco estava sugerindo que podia acontecer á Anabeth.
- É, seria melhor se ele estivesse morto. Se ele morresse essa noite.
Olhei por cima do ombro para o rosto impassível de Draco.
- Eu disse que ele veio te manipular.
- O que está pensando em fazer?
- Cortar o mal pela raiz.
- Tenho certeza de que Severo terá um plano melhor quando voltar.
Draco balançou a cabeça, afastou a mão de Max que insistia em puxar sua orelha e olhou para mim com olhos cheios de ódio.
- Se a Ordem derrotar Voldemort, voltaremos a ser civilizados. Pessoas civilizadas não fazem justiça com as próprias mãos, se quisermos fazer isso, tem que ser hoje.
Estremeci com a sua sugestão, por um lado, não queria deixar Ana e Max, porque isso poderia significar deixa-los órfãos de pai e mãe na mesma noite. Mas eu entendia que eu só iria me curar do passado e ser feliz com minha família se colocasse um fim naquele terror.
Homens como Lucius não eram punidos. Ele precisava ser morto.
- Você me deve essa, Angelique – Draco completou com a verdade absoluta da minha culpa.
- Eu sinto muito pelo que eu fiz, foi minha filha.
- Eu sei, você faria qualquer coisa por ela. Inclusive, me ajudar a matar o meu pai.
Vinette entrou correndo na enfermaria, suada e cansada. Tirando a minha atenção do pavor que Draco estava me causando, ela olha para agarrada á Anabeth e dá um pequeno sorriso.
- Eles deixaram os arredores da escola, se quisermos ir tem que ser agora.
Draco se aproxima de Lee e entrega Maximus ao elfo que mal consegue segurá-lo, ele olha para mim, desafiador.
- O que me diz Angelique? Quer consertar as coisas ou ficar aqui escondida como uma dona de casa assustada?
- Eu vou – me virei e coloquei Anabeth adormecida no berço, então arrumei minha postura e olhei seriamente para Draco – mas depois, vamos ter uma conversa muito séria com você, mocinho.
- Eu cuido das crianças – Lee informou, por mais que isso estivesse implícito.
- Se algo acontecer...
- Não não, senhora. Você não vai fazer isso.
Eu sorri para o pequeno elfo, assim como eu, ele não gostava de um drama excessivo. É claro que se algo acontecesse ele diria a Anabeth e Maximus como eu os amava profundamente.
- Então te vejo de manhã, Lee.
Ele fez uma reverencia, sutil e atencioso, como sempre. Eu cometi muitos erros durante aqueles meses todos, mas libertar Lee foi um bom acerto.
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