Capítulo 35 - Um Passo Atrás
Ponto de Vista Severo Snape.
Eu observei Vinette subir a rampa de encontro a Draco, da maneira que de Angelique devia fazer, os dois se abraçaram e choraram como bebês, eu estava feliz por Vinette, é claro, mas não era como devia ser.
- Senhor, o que quer que eu faça?
- Vá com eles – eu instrui secamente.
- Minha senhora me disse para ficar, mas sou livre. Não sei se ainda devo obedecer.
- Ela fez uma escolha, vá com eles.
Me surpreendi em como minhas palavras saíram tão carregadas de decepção, Lee subiu no navio e a porta se fechou logo em seguida, a sensação de que devia ser eu era tão intensa que quase podia sentir a embarcação me puxando para mais perto.
- Severo?
A voz de Charles me tirou do estupor, só então percebi o quanto eu estava perto da borda do píer, o navio se afastando lentamente pela água escura.
Eu me virei para o Weasley, os olhos injetados de dor e raiva.
- Onde ela está?
Ele não respondeu, no lugar disso abriu sua jaqueta de couro surrada e tirou um envelope amassado. Eu o peguei e olhei a grafia "para meu (por escolha) esposo".
- Eu vou esperar nas docas, quando estiver pronto.
Charles se afastou, sem as luzes fortes do navio, quase não conseguia enxergar as letras riscadas, peguei minha varinha e por pouco o feitiço não foi "incêndio"
- Lumos.
A folha se abriu para mim, era mais longa que qualquer uma das cartas que Angelique me enviou, mas ainda muito pouco perto do que eu esperava para aquela noite.
"Sim, por escolha, minha e sua."
Precisei parar e olhar para o horizonte até ter certeza de que não deixaria uma única lágrima cair.
"Eu nem consigo imaginar sua dor agora, a decepção que lhe causei. Mas eu espero que você consiga entender em breve os meus motivos.
Eu vim de uma família de rebeldes lutadores, minha mãe morreu tentando poupar os seus amigos, meu pai morreu lutando por uma causa que acreditava. Não sei se tenho esperança de sair viva disso tudo, então se for para morrer, farei isso salvando quem eu puder.
Não significa que não o ame, ou o ame menos. Só não quero viver sabendo que fugi sabendo que isso condenaria essa mulher, eu não mereço mais do que ela.
Charles não vai dizer a você onde me encontrar, não ainda, porque é suicídio. Quando nosso filho nascer, eu precisarei de você.
Então, por favor, tenha paciência e me espere. Eu vou voltar para você, como você quer ou na lembrança de nosso filho.
Amo você.
Sua esposa, por escolha."
Se eu estava fazendo algum esforço para não cair em lágrimas, isso acabou no momento em que terminei de ler aquelas palavras, era quase desespero. Levei muito tempo até conseguir voltar pelo píer até a doca, Charles se aproximou, a preocupação no seu olhar era nítida.
- Você tem que voltar, tem que dizer a ela o que acontece depois do parto.
- Ela sabe, não sabia quando escreveu a carta, mas agora ela sabe. Por que não contou, Severo?
- O que mudaria? Acha que a Ordem se importaria se soubessem?
- Eu não sei, não são perfeitos, mas eu me importaria. Agora não posso voltar lá.
- Eu arranjo outro capanga, vou com você dessa vez.
- Não é o que a Angelique quer.
- Você disse que ela escreveu antes de saber do que eles fazem.
- Professor? Voltar lá é suicídio. Não é só Greyback e Narcisa, a fazenda é fechada com uma cúpula de encantamento e eu não faço a mínima ideia de qual é, mas tem a ver com o sangue da Sra. Malfoy, ela sempre sangra no solo antes de passar com a carruagem e em volta dessa cúpula há inúmeros dementadores. E agora que eles tem uma fugitiva, vão proteger as outras.
- Dementadores? Eu sei exatamente como acha-la.
Charles me champu, mas eu aparatei antes que ele me alcançasse. O problema com os bruxos é que adoramos papeis e pergaminhos tanto quanto adoramos registros. Os dementadores eram guardas de Askaban, prisão gerenciada pelo ministério da magia e tudo que eles faziam eram marcados em documentos.
Se esses guardas estavam em uma fazenda há meses, certamente eu acharia isso em algum memorando no arquivo.
Subi as escadas do ministério correndo, era quase madrugada, o que significava nenhuma alma viva pelo caminho além dos seguranças que não faziam muito além de acompanhar o movimento.
Entrei no elevador apertei o botão de nome: Arquivo.
Em pouco tempo e uma leve vertigem depois, o elevador parou e as portas se abriram, o corredor que se alonga é repleto de gavetas minúsculas com placas menores ainda e no final, bem ao fundo, uma senhora datilografava rapidamente.
Avancei pelo corredor quase a ponto de correr, quando cheguei perto da mesa, a senhora me olhou pior cima dos óculos.
- Itinerário dos guardas de Askaban, por favor.
- Confidencial – ela abaixa os olhos e volta a digitar.
- Eu preciso dessa consulta agora.
- Desculpe, não tem acesso.
- Quem tem acesso?
- Confidencial.
Eu suspirei, então fiz a pior coisa que poderia, peguei a varinha e avancei sobre ela, apontando para o seu pescoço, a cadeira tombou e a senhora ficou quase deitada, olhando de baixo.
- Avada...
- Tá bem, tá bem – ela moveu a varinha com a mão trêmula e uma das gavetas abriu, andei até ela e peguei as folhas.
Passei rapidamente os últimos meses e estava lá, como eu imaginava, no Parque Nacional, um fior bem escondido. Rasguei a parte com as coordenadas e enfiei no bolso, não me preocupei em me desculpar ou arrumar a bagunça, eu tinha pressa, precisa encontrar Angie antes do amanhecer, convencido de que não passaria mais nem um dia longe da minha esposa por escolha.
Desci do elevador e atravessei o hall, mas foi quando cheguei perto da porta de entrada do prédio que fui abordado, Goyle trancou a porta com um feitiço simples, sozinha não era o suficiente para me conter, mas ele se colocou na frente dela.
- Boa noite, Severo. Um pouco tarde para assuntos burocráticos, não acha?
- E do que isso lhe interessa – eu olho em volta e percebo que por todos os lados, se aproximam guardas, lentamente me cercando.
- Sabe, Voldemort foi traído essa noite. Um capanga sem importância, mas que roubou algo inestimável. Você não saberia nada sobre o assunto, eu imagino. Ou saberia.
- O que ele roubou?
- Uma esposa.
- Não sabia que Voldemort tinha se casado – não sabia direito o que estava fazendo, talvez ganhando tempo.
- É isso seria pior ainda. Mas não, é a esposa de Draco Malfoy, mas temos motivos para acreditar que a prostituta onde você depositou sua semente estava envolvida.
- Isso também não é da minha conta.
- Mesmo assim, Voldemort quer conversar com você.
- Eu o procuro pela manhã – tentei passar pela porta, mas Goyle a bloqueou.
- Não dificulte as coisas.
Eu assenti, então me virei de costas para que me acorrentasse e me levasse como prisioneiro, mas o movimento fez minha capa dançar e aproveitei a distração para sacar a varinha e apontar para o único guarda que estava pronto para atacar.
- Diffindo.
O sangue jorrou pelo chão quando a garganta do homem é rasgada, logo, o saguão do ministério era uma confusão de feitiços para todos os lados, de cores e luzes diferentes, eu desvio ou rebato a maioria, mas não consigo evitar todos, quando percebi Goyle se abaixando e saindo pela lateral, abandonando a batalha como um covarde.
Mas era a minha chance, eu avanço para a porta, usando um feitiço de fumaça e consigo sair, assim que me vejo do lado de fora aparato parra longe, algumas vezes até ter certeza de que não fui seguido.
Eu acabo em uma praça, onde consigo me sentar e respirar, sinto sangue escorrendo pela minha testa e caindo no meu olho, limpo com o dorso da mão e pego o papel rasgado no bolso, preciso das coordenadas.
Tomei uma carruagem porque sabia que Voldemort podia rastrear minha magia pela marca negra. Levou várias horas até que eu chegasse próximo ao local, quando o dia estava amanhecendo encontrei o ponto exato das coordenadas, com cautela, eu olhei para o céu a fim de localizar os dementadores.
Mas tudo estava tão estranhamente quieto e parado.
Saltei da carruagem quando avistei a fazenda, ela parecia vida de alguma forma. Lençois pendurados no varal balançaram com o vento, a porta da frente aberta, convidativa, mas nenhum guarda. Apertei vem a varinha e entrei na casa.
Além do chiado da chaleira no fogão, não havia nada. Desliguei o fogo e notei a água lá dentro quase seca.
- Angelique?
Nenhuma resposta, subi as escadas e encontrei o mesmo vazio que o piso anterior, em um dos quartos, ainda o corpo sem vida e ensanguentado de uma mulher, assim como resto de parto, placenta, cordão umbilical.
Me afastei porque era demais para mim.
Em outro quarto, sinto o cheiro dela, inconfundível e presente, a cama desarrumada ainda estava quente, ela tinha acabado de partir. Abandonaram o lugar.
Sempre um passo atrás, era como eu me sentia. Mas se eu corresse, poderia alcança-la. Eu me viro para partir, mas então sou golpeado e antes que eu possa reagir, a bota de Greyback atinge minha cabeça.
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