Capítulo 30 - O Primeiro Parto
Comentem por favor, nem que seja pra xingar
Ponto de Vista Angelique Lacey
Quase uma semana se passou até que eu estivesse me sentindo em casa. Eu não tinha uma função específica, então ajuda cada uma delas com seus trabalhos, imaginando que seria provisório, assim que Nataly partisse, eu ficaria com a tarefa de lavar e passar as roupas.
Vinette não se incomodava em sujar as mãos na horta, era habilidosa e ágil, eu gostava de ficar do lado de fora, o sol era quente de manhã e me trazia conforto.
- Agora vejo por que Severo gostava de você – levantei as hortaliças e observei os cortes de precisão cirúrgica.
- A primeira coisa que farei quando sair daqui é pedir minha varinha de volta.
Eu me agachei ao lado dela, a cesta de legumes já estava cheia, mas segundo Vinette, se não colhesse iria estragar.
Ainda não sabia se podia confiar em todas as mulheres da casa, mas eu confiava em Vinette e via nela a minha própria dor.
- Se eu te disser que tenho como me comunicar com Hogwarts, te interessaria?
- Com Hogwarts? Como?
- Um amigo. Vou escrever uma carta para Severo dizendo que eu estou bem, que ao contrario do que pensávamos a fazenda não é um calabouço.
- Acha que seu amigo pode mandar uma mensagem a Draco por mim.
- Se você tiver certeza de que ele é confiável, sei que ele vai ajudar.
- A criança que eu espero não é dele – a voz dela tremeu, eu coloquei minha mão sobre a dela a fim de apaziguar, mas ela não estava a fim de consolo – toda vez que ela se mexe, eu me lembro e sinto tanta raiva. Se eu pudesse, eu arrancaria esse bebê com as próprias mãos.
- Eu estou tentando não pensar que tem um bebê crescendo em mim, é tão estranho.
- Pra caralho – ela riu alto, como se tivesse dito uma coisa proibida e deliciosa e eu acompanhei.
Uma sirene alta que parecia vir de todas as direções invadiu nossos ouvidos com força, tampei os ouvidos que começavam a zumbir, com as duas mãos.
- O que é isso? – gritei para Vinette.
- Alguém entrou em trabalho de parto.
- Deve ser a Nataly.
- Então Narcisa virá para cá?
- Ela normalmente chega algumas horas depois da sirene.
- Melhor se apressar se quiser mandar uma carta á Draco.
Corremos de volta para a casa, tão rápido que nem mesmo lembramos de levar a cesta de verduras. Nataly estava na sala, pisando em uma poça de água e estava sorrindo.
- Estou louca para dizer adeus á vocês, vadias.
- Deviam costurar sua boca suja.
- Por que não volta pra sua toca, Greyback? – eu passo por ele e seguro o braço de Nataly – como se sente?
- Ah, Angelique, o que você sabe sobre partos? É melhor esperar a Amelia, ela já teve uns seis filhos.
- Vejo que você está se sentindo muito bem, pra ficar ofendendo os outros.
O riso dela acabou no instante em que uma pontada atingiu sua barriga, ela quase caiu e se eu não estivesse ali para ampará-la, teria caído.
- Para o quarto de parto, antes que essa criança caia no piso – Grayback bravejou quando nós já estávamos subindo a escada.
O quarto de parto ficava no final do corredor atrás de uma porta vermelha e era o único lugar na casa que tínhamos que manter limpo a todo custo. Havia uma cama grande, um fogão á lenha e uma mesa comprida cheia de utensílios médicos.
Eu coloquei Nataly na cama e ela riu nervosamente quando seu corpo reagiu.
- Essa porra vai doer por horas.
- Angelique, ligue o fogão, com quanta lenha couber, temos que deixar esse quarto quente – Amélia entrou, estava bem claro que sabia o que estava fazendo, eu obedeci, porque ao contrário dela, eu nem queria estar ali.
As chamas tomaram a lenha que tornou-se brasa dentro do fogão.
- Precisa de água quente e toalhas?
- Depois, mas se quiser adiantar e pegar as toalhas, elas ficam no banheiro do corredor.
Ótimo, assim eu podia dar uma escapadinha daquele caos todo, corri para fora do quarto e espiei escada abaixo, Greyback andava de um lado para o outro na frente da porta de entrada.
- O que ele acha que vamos fazer? Colocar Nataly nas costas e correr pela floresta? – Vinette entra em nosso quarto e fecha a porta, ouço a cadeira sendo arrastada para travar a porta.
Continuo meu caminho pelo corredor e abro a porta do banheiro de uma vez, bem a tempo de ver Lívea de calça abaixada e nelas, um absorvente com uma grande mancha de sangue. Ela se assusta e levanta a roupa depressa.
- Lívia, você está tendo sangramento?
- Eu estou bem – ela se vira para a pia para lavar as mãos.
- Onde conseguiu os absorventes? Você trouxe?
- Eu fiz. Com toalhas.
Não precisava ser nenhum gênio para entender o que estava acontecendo, como Nataly disse, o marido arranjado de Lívea era um sádico.
Eu peguei as toalhas no armário ao lado da porta, tantas quando consegui segurar e a olhei por cima da pilha em minhas mãos.
- Eu não vou contar a ninguém.
No quarto, Nataly gritava tanto que já estava deixando Amelia surda. Eu não queria passar por isso, então esperei no corredor.
Vinette saiu do quarto logo depois, com um pedaço de papel enrolado na mão, me apressei em pegar e enfiar entre os seios.
- Tudo certo?
- Sim, eu disse á ele que estou bem e que vou encontrá-lo quando sair daqui – ela colocou o cabelo atrás da orelha e sorriu sem jeito – o resto é só sobre como sinto falta dos olhos dele.
Eu sorri e apertei suas bochechas.
- Você é doce demais para isso tudo, Vinette – devia ser o instinto materno crescendo junto ao meu bebê – agora, ajude Amelia enquanto eu escrevo a minha.
Entro no quarto e travo a porta com a cadeira como Vinette fez, eu não sei o que escrever, me debruço sobre a metade de papel que me sobrou, a única coisa que tínhamos para escrever era uma caneta que Amelia usava para anotar a lista de compras da casa.
Severo não parece o tipo de homem que vá se importar se eu estiver com saudades dos olhos dele. Eu bufo.
"Olá, querido esposo. A fazenda é como disseram, calma, isolada e tem tudo o que preciso. A gravidez está correndo bem."
Era o necessário, eu dobrei, escrevi um "eu te amo" e coloquei entre os seios, bem a tempo de ouvir uma batida na porta, quando abri, Vinette estava mais branca que leite.
- O que houve?
- Nataly não está bem.
Eu corri para o quarto de parto e quase escorreguei na quantidade de sangue que estava pelo chão, sendo espalhada por Lívea que andava de um lado para o outro.
- O que está acontecendo?
- O bebê não está encaixado, ele não desce.
Nataly gritou de dor e Amelia subiu sobre a barriga dela, tentando empurrar para baixo.
- O que eu faço?
- Empurra a barriga com força, use seu peso, vou ver se consigo alcançar.
- Tira isso de mim – Nataly berra.
Eu faço o que Amelia me instruiu, a barriga estava dura como pedra, quando Nataly fez força, eu empurrei para baixo e percebi Amelia enfiando o punho na vagina dela, mas o momento passou e Amelia balançou a cabeça em negação.
Nataly caiu na cama, exausta, lágrimas nos olhos, estava apavorada, eu me abaixei do lado dela e segurei sua mão.
- Calma, vai dar tudo certo.
- O que está havendo aqui? – Narcisa entrou no quarto, espantada com aquele sangue todo.
- Ela precisa ir para o hospital – Amelia se apressou.
- O bebe está bem? – ela balançou sua varinha sobre a barriga de Nataly e uma luz azul formou o corpinho do bebe dentro dela – ótimo, vamos tirar.
- Não temos estrutura aqui para uma cesárea.
Lívea deixou o quarto apressada, já antecipando o que aconteceria, Nataly gemeu, tão fraca que mal podia manter os olhos abertos.
- Vamos garantir que o bebê fique bem – Narcisa se posicionou na frente de Nataly.
- Não toca nela – me levantei, sem escudo ou arma, mas pronta para enfrentar Narcisa.
Eu avancei para ela quando pegou um bisturi e por muito pouco não consigo derrubá-la no chão, mas fui atingida por uma forte pancada na têmpora, meu ouvido doeu com uma pontada aguda e perdi os sentidos por alguns segundos depois que atingi o chão.
- Amelia, me ajude – ouvi a voz de Narcisa distante enquanto era arrastada por Greyback escada abaixo.
Eu me debati, porém minha força perto da dele era inexistente, ele me jogou no chão do hall e quando tentei me levantar, o lobo estava sobre mim.
- Me solta.
- Pare de se debater – ele rosnou – ou vou achar que a dor vale a pena.
Eu o empurrei com toda a força, mas por fim, foi Greyback quem se permitiu sair de cima de mim, segurando o pênis dolorido com força, ele usou a mão livre para me jogar para fora como lixo.
- Não – avancei para a porta, bati, empurrei, mas estava trancada com encantamento.
- Angie?
Eu me virei para aquele rosto estranho, ele abriu os braços e reconheci sendo a nova pele de Charles, me joguei em seus braços sem pensar. O abraçando apertado.
- Eles vão machucá-la.
No fundo eu sabia que não podia pedir para que Charles entrasse lá sozinho e resolvesse tudo, talvez ele pudesse lidar com Narcisa e Greyback, mas jamais sairíamos disso vivos.
- Qual o nome dela?
- Nataly, ela estava com o menino Goyle.
- Severo está preocupado com você, tem insistido para que eu diga a ele onde fica a fazenda, mas se eu disser...
- Ele virá sozinho.
- Mas a Ordem está começando a agir, não todos, mas estamos formando um subgrupo, vamos encontrar as mulheres que saíram daqui e talvez alguma possa ajudar, a voz delas vai comover o mundo bruxo. Precisa ter paciência.
- Me sinto impotente.
Ouvimos passos descendo a escada e me apressei em soltá-lo. Apanhei as cartas no busto e entreguei a ele.
- Aqui, pegue – ele me deu uma varinha e a enfiei no avental.
A porta se abriu e Narcisa passou, segurando o bebê no colo, a criança estava com a pele azulada, mas a julgar pela mãozinha em figa, estava viva. A cena me causou um mau estar tão grande que precisei me apoiar na parede, Charles me lançou um ultimo olhar antes de correr para abrir a porta para Narcisa.
A segunda pessoa a passar pela porta foi Greyback e esse carregava o corpo de Nataly sem vida, enrolado em um lençol. O ódio cresceu nas minhas veias e por muito pouco eu não peguei a varinha e o matei ali mesmo.
Dentro da casa, o silêncio era absoluto. Não pude permitir que as outras lidassem com tudo sozinhas, eu subi e as encontrei lavando tudo, até mesmo Vinette.
Eu me abaixei e comecei a esfregar o sangue do chão.
- Seu ouvido está sangrando – Vinette disse baixinho.
- Eu estou bem.
Ninguém disse mais nada ao longo daquela hora em que limpamos o quarto, mas todas tínhamos o mesmo pensamento, um dia, mais cedo ou mais tarde, todas nós estaríamos deitadas naquela cama e só o destino poderia dizer se sairíamos vivas dela.
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