Capítulo 13 - Lagostas por Vinas
Pov Severo Snape
Angelique estava tão emburrada que era capaz de criar várias rugas em poucos minutos. Eu não queria perguntar, cruzei a sala e entrei na cozinha, me servindo de um copo de água que eu não queria beber e não é que ela me seguiu até lá. Se sentou na mesa e cruzou os braços mais uma vez, em silêncio.
- O que foi?
- Nada, só estou aqui.
Deslizei a água pela garganta, mas só consegui metade do copo. Apoiei sobre a mesa e deslizei para ela, como se fosse apenas uma gentileza.
- Não quero – ela descruzou os braços e aquele foi o estopim – tem que se achar muito importante para se convidar para jantar na casa de alguém.
- De fato, ele é.
- Não pra mim – agora ela parecia mais chateada que zangada e eu não tinha como ajudar.
- Ele te emprestou um elfo, seja grata.
- Eu sou, mas...
- Por falar nisso, onde está o monstrinho?
- Estou aqui, senhor – ele murmurou a última palavra com desdém, de alguma forma ele pegou a personalidade da dona muito rapidamente.
- O que teremos para o jantar.
- Lee já tinha separado os ingredientes de hoje. Teremos vinas ao sugo.
O orgulho na voz dela era palpável, mas não era pelo prato, ela estava me provocando ou apenas dificultando a minha vida, Angelique era muito boa nisso.
- Não podemos servir salsicha com molho para Lucius Malfoy.
- Por que não? Era o que iríamos comer.
- Porque você gastou todo o dinheiro que te dei para a casa com cortinas e lençóis.
- Eu adoro salsicha – ela resmungou, fingindo uma distração ao puxar as linhas soltas da toalha de mesa, certamente comeríamos vísceras na próxima semana para que ela possa comprara toalhas de mesa luxuosas.
Eu não a deixaria ganhar.
- Vista-se, vou mostrar a você o jeito certo de gastar meu dinheiro.
***
Estava muito frio naquele início de tarde, até mesmo os raios claros de sol que passavam pelas nuvens pareciam gélidos como pedras de gelo. Angelique colocou botas longas de tecido grosso que junto as meias passavam do joelho, o vestido justo ficando dez centímetros acima, o casaco de lã batida cinza escuro na mesma altura do vestido. Linda, sexy e nada como uma esposa recatada.
- Está olhando demais para mim, Severo. Vou ficar tímida.
- Você não ficaria tímida nem mesmo na presença do próprio Merlin. Está linda.
Ela sorriu para mim e agarrou meu braço quando descemos a rua principal abarrotada de gente no Beco Diagonal, nosso destino ficava logo depois, no mercado aberto.
Uma praça circular com uma grande fonte no centro, eternamente ligada, jorrando água em pequenos junto a pequenos cristais congelados, em torno dessa praça dezenas de barracas de comida, uma grudada na outra.
Angelique olhava para tudo com muito interesse, concentrando total atenção por apenas um segundo antes de seus olhos encontrarem outra coisa.
- Nunca esteve aqui?
- O que? Isso nem é citado nos livros.
Seus olhos pararam em uma barraca de doces, inúmeras chocobolas enfileiradas sobre a mesa.
- Podemos comprar uma dessas?
- Mais tarde. Antes, precisamos adquirir nosso jantar.
- Já sabe o que comprar?
- Tenho uma ideia.
As trufas brancas estavam absolutamente lindas e frescas, embora eu tenha visto no rosto de Angelique ela sentia nojo da iguaria só pela aparência, e ela me fez passar diretor da barraca de foie gras. Assim só nos restava uma opção.
Angelique gritou assim que um caranguejo azul fechou as garras contra o vidro e se aninhou em mim, precisei apoiá-la pela cintura enquanto falava com o vendedor.
- Temos lagostim para pratos individuais – o vendedor ofereceu diante da minha dúvida entre aquelas lagostas enormes no tanque.
- Parece uma boa opção, eles estão mortos? – Angelique perguntou, o fazendo rir.
- Tudo na minha barraca está fresco, senhorita.
- Senhora – soltei bruscamente e imediatamente me arrependi – e quero quatro lagostas.
- Você quem manda, chef.
- Severo, são grandes demais, acha que vamos comer tudo isso?
- Servir lagostim é a mesma coisa que ser vir vinas ao sugo – respondi com um sorriso de canto.
- Quer que corte as garras? – o vendedor perguntou já com o cutelo na mão.
- Não, pode deixá-las.
Sinceramente, não sei onde estava com a cabeça quando pedi isso, só para ter mais trabalho depois ou não permitir que Angelique me achasse um covarde, se é que faz algum sentido.
O vendedor as colocou em um plástico reforçado cheio de água do tanque, mas precisou enfeitiçá-las para caberem em um saco. Por algum motivo eu já estava irritado.
- Professor Snape? – A voz me chamou a atenção, embora eu já tivesse visto a Madame Hooch na minha frente.
- Boa tarde, instrutora.
- E...olá?
- Essa é Angelique Lacey, minha... – as palavras sumiram, todas elas, embora só o fato de tê-la apresentado pelo nome de solteira já tenha sido ruim o suficiente.
- Eu o estou acompanhando – Angelique estendeu a mão para minha colega de trabalho e sorriu, embora eu a conhecesse o suficiente para ver a tristeza através do gesto.
- Estão fazendo compras de Natal? Atrasados como eu?
- Apenas um jantar para amigos – esclareci sem deixar muito espaço para perguntas.
- Bem, eu estou carregando sacolas demais – Hooch riu – minha esposa é judia, então acabamos de sair do Hanukkah e já estamos entrando no Natal. Uma loucura.
- Bem, devíamos marcar um jantar quando as festas passarem.
- Eu adoraria receber você na minha casa, Severo. Acho que é o único professor que ainda não conhece Lisa – ela sorriu mais abertamente e piscou para Angelique – também é bem vinda, Senhorita Lacey.
- Obrigada, eu vou adorar.
Rolanda se despediu com desejando um feliz Natal, mesmo sabendo que me veria em cada dia daquelas férias.
Evitei olhar para o rosto de Angelique, mesmo sabendo que ela estava triste, esfreguei suas costas com firmeza enquanto a guiava de volta pelo corredor de barracas.
- Deve achar que todo professor em Hogwarts parece um general.
- Ela foi bem simpática, na verdade.
- Você também, é boa com as pessoas.
- Obrigada.
O silêncio dela sempre revelava que estava chateada, mas dessa vez era pior, ela não estava bufando, nem soltando os braços irritada, nem mesmo dizendo meias palavras sem sentido. Era uma tristeza mais profunda que me preocupou e como não sabia o que fazer, comprei seis chocobolas para ela.
Angelique se sentou na fonte, estava molhada e escorregadia, o que não importou nada para ela, segurando uma chocobola com as duas mãos e o olhar distante.
- Não gostou? – perguntei ao me sentar ao lado dela.
- Eu gostei, só não entendi por que comprou tantas, com creme e morango não devem durar na geladeira.
- Pensei que se você gostasse devia ter quantas pudesse comer.
- Mesmo que eu amasse, acha que cabe seis dela dentro de mim?
Ela não esperava mesmo uma resposta, então fiquei em silêncio, o que só me fez passar a observá-la. Angelique era bonita de um jeito pouco convencional, eu podia falar de seus lábios, cabelo, olhos, mas nada se comparava a sua postura impecável. Desci os olhos observando cada detalhe dela, até meus olhos pararem naqueles poucos centímetros a mostra de suas coxas, a pele clara criando pequenas manchas roxas de frio.
- Hora de ir, Angie.
Ela assentiu, sem pedir para ficar mais ou comprar tapetes para o banheiro, então, ainda que já fosse evidente, eu soube que a magoei.
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