♛ Late ♛
"Não faça o destino esperar demais."
Passei todas as aulas daquele dia pensando no garoto da floresta. Estava confusa e não conseguia prestar atenção na aula. Tive que pedir para Yura e Yoongi me passarem suas anotações depois, já que foi um dia de aula perdido. Por sinal, quase não falei com os dois. Somos amigos de infância, e conversamos bastante. Vi os dois Min trocando olhares preocupados em alguns momentos do dia, mas não podia parar de pensar naquilo.
Até mesmo deixei a senhora Min Yoonji falando sozinha hoje cedo. Ela ficou chamando por mim enquanto meus olhos estavam perdidos entre aquelas árvores de onde ele veio. Mesmo depois de ter desaparecido nas folhagens, não consegui parar de pensar em como ele tinha simplesmente aparecido no meio do nada e depois desaparecido assim, e o que sua aparição significava.
Depois de anos ouvindo falar sobre ele, nunca tive a oportunidade de vê-lo pessoalmente. A primeira vez que vi uma foto de verdade dele ainda não foi a primeira vez que de fato vi seu rosto, porque tinha começado a sonhar com ele mesmo depois de apenas ouvir falar sobre. Nem mesmo tinham descrito sua aparência, e de alguma forma meu cérebro formou sua imagem em meus sonhos. Minha avó notou imediatamente como fiquei petrificada ao ver uma foto dele pela primeira vez, mas empurrei o assunto para longe novamente quando ela começou a afirmar que parecia que eu tinha reconhecido ele. Repeti e repeti que nunca tinha visto aquela pessoa na vida, mas estava mentindo. Naquela noite tive o sonho mais vívido de todos os anteriores. Algo fazia meu coração bater forte no peito enquanto me revirava na cama tentando adormecer. Aquilo me incomodava e me deixava sem um mínimo controle da minha cabeça.
Olho pela janela da sala e avisto mais uma vez a floresta. Continuo com os pensamentos oscilantes e imagino se ele ainda estava lá fora no meio do mato, em algum lugar. E o que estaria fazendo, e pensando. Meu irmão...que nunca sequer vi em pessoa. O que você estaria fazendo aqui?
Depois da aula, joguei a mochila nas costas e saí rapidamente da sala, bem na frente de Yoongi e Yura. Quando parei pra pôr meus sapatos na saída da escola, os dois me pararam.
- Yumi! - Yura me chama. Olho pra ela enquanto fazia força pra encaixar meu pé dentro do sapato completamente sem jeito por conta da pressa. - O que foi? Por que saiu correndo da sala daquele jeito?
- Você está estranha hoje. O que houve? - Yoongi pergunta, encostado na parede e com uma expressão preocupada no rosto.
- É...não se preocupem. São só algumas coisas que eu tenho pra resolver em casa. Tenho muitas tarefas hoje. Sinto muito por ter preocupado vocês. - Me levanto depois de finalmente pôr os sapatos. - Agora, se puderem me dar uma licencinha, preciso correr pra casa.
E assim que faço uma rápida reverência, saio correndo pra fora da escola.
- Yumi!! - Ouço os dois me gritarem uma última vez, então olho pra trás rápido enquanto corro.
- Até amanhã!! - Sorrio e olho pra frente de novo, ficando séria novamente e me apressando pra deixar os domínios da escola.
Precisava chegar em casa logo. Se tem apenas uma coisa que eu dei oportunidade pra minha avó me ajudar sobre toda a coisa dos sonhos e pesadelos durante esses anos, foram com as minhas visitas ao templo. Lá existe um único lugar onde a paz não pode ser tirada de mim, mesmo com todo esse caos tomando conta da minha mente. E eu precisava daquele lugar agora. Só assim eu organizaria meus pensamentos.
Passo às pressas por todos os lugares que normalmente passaria caminhando calmamente com os meus amigos até finalmente chegar na frente de casa. Ao chegar lá, uma enorme liteira estava parada na frente do arco principal do terreno da nossa casa. Paro na frente dela, observando a uma certa distância alguns homens ajoelhados no chão com belas vestes japonesas de época. Ao me verem, expressões de surpresa tomam conta dos seus rostos e todos se apoiam nos seus dois joelhos no mesmo momento, encostando suas testas no chão como se fizessem uma reverência.
- Ah... - Penso em algo pra dizer, mas todos me assustam falando em uníssono.
- Bem-vinda de volta, senhorita Yumi, soberana da vila de Tokyo, futura líder do clã youkai.
Dou um passo para trás, sem saber como reagir. Olhei ao redor, observando como alguns vizinhos que passavam andando pareciam confusos com a cena, e penso no que eu deveria fazer já que estavam todos sendo extremamente indiscretos.
- Ei, sssshhh! Não falem isso alto! - Ponho o dedo indicador na frente da boca e todos me olham com os olhos arregalados, percebendo o que fizeram.
- Perdão, senhorita Yumi! Sinto muito pelo nosso comportamento descuidado! - Um dos homens faz diversas reverências seguidas.
O que estava acontecendo aqui, afinal? O que eram todos esses homens e essa liteira? Porque estavam me chamando desse jeito? Da última vez que se dirigiram a mim com todos esses títulos a minha avó estava falando sobre meu passado e...
Após pensar por alguns segundos, uma possibilidade passa pela minha mente e o receio que cai sobre mim me dá arrepios. Rapidamente me apresso pra adentrar a casa e tirar a limpo se estava acontecendo o que eu desconfiava. E foi passando pelos corredores de casa que comecei a ouvir vozes não muito longe. Vindo da sala principal da casa. A que só recebíamos visitas muito importantes. Minha avó parecia estar lá. E pelo silêncio no resto da casa, provavelmente minha mãe e meu irmão também deveriam estar lá. Dou mais alguns passos na direção da sala, e levo um enorme susto ao ser surpreendida pelo rosto de Sayori, minha avó, se expondo pra fora da cortina da sala, na minha direção. Dou um berro e escorrego no chão de madeira, caindo no chão. Minha avó me encara com um sorriso estranho no rosto.
- Yumi! Que bom que chegou em casa. Preciso que venha aqui. Estamos tendo uma conversa muito importante.
Passo a mão nas minhas costas, onde doía por causa da queda e olho pra ela. Uma parte do seu semblante parecia feliz e outra parte parecia tensa.
- Quem está aí? - Pergunto, em suspeita.
- Pessoas que queriam te conhecer fazem muitos anos. Vamos, entre. Venha vê-los. Junte-se a nós.
E ela some dentro da sala. Ao me levantar, questiono por alguns segundos se devo realmente entrar, considerando o receio que cochichava algo no meu ouvido. Como um aviso. Como se fugindo agora eu fosse me salvar de algo. Mas a dúvida estava me matando. E parecia que tinha alguma coisa naquela sala que me chamava, também. Que eu precisava ver.
Respiro fundo, e empurro a cortina da sala pro lado, encontrando, além de mais outras figuras, meu irmão. Trocamos olhares por alguns segundos em silêncio, e foi um impacto que o mundo parecia ter sentido, mas provavelmente fomos só nós dois que realmente pudemos vivenciar. Não soube naquele momento o que aquilo significava, mas tive medo do que viria depois. E ainda mais medo do motivo que o trouxe aqui.
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