*40*
Dan
Chequei pela vigésima vez o relógio de pulso -presente do meu avô de quem herdei pontualidade extrema. Busquei na lembrança o que tinha combinado com Ruan... "Restaurante Fontanelle, ás 20:00hs". Já estavam atrasados 12min... Bufei. Estava nervoso, ansioso e pirando... Será que ela descobriu e recusou me encontrar? Por que não posso ser normal? Um irmão normal, não agiria como se estivesse prestes a ter um encontro romântico. Bufo de novo, e nesta hora a vejo ao lado de Ruan entrando no ambiente aconchegante e convidativo que era o restaurante que escolhi e agradeci à mim mesmo mentalmente por isso.
Estava mais linda do que nunca, não que isso importasse no momento, mas o que posso fazer se tenho sorte em tê-la como irmã? Ruan fala com o recepcionista que os orienta até onde estou, ela ainda não me viu, eu esfrego minhas mãos suadas em minha calça e bato os pés no chão, tentando controlar toda a tensão que está instalada em meu corpo o dia inteiro, com certeza o dia mais longo da minha vida. Por um segundo penso que não vou aguentar aquele martírio todo que eu mesmo criei, mas quando ela encontra meus olhos, percebo que estou no lugar e na hora certa.
Ruan agradece o condutor, quando o silêncio se instala... Depois limpa a garganta num barulho típico e Liv olha para ele como lembrando que ele estava ali...
— O que está acontecendo? — Escuto ela perguntar baixinho para ele.
— Dan quer conversar com você e me pediu para marcar esse jantar... —Liv o fitava sem reação enquanto Ruan falava. — É melhor sentar... — ele sugere por estarem parados no meio do corredor, acredito eu.
Liv faz uma mesura com a cabeça e toma assento na única cadeira à minha frente. Mas sem me dirigir o olhar novamente, olhar este que implora por uma resposta plausível de Ruan.
— Obrigado Ruan. Fique tranqüilo, ela ficará bem. — Tomo a palavra olhando para ela. Ele repousa um beijo em sua cabeça, lança um olhar em minha direção que traduzia várias coisas e sai do restaurante.
Nos olhamos por um demorado tempo, não saber o que ela está pensando me deixa mais frustrado do que lembrar que a última vez que estive frente a frente com ela, a magoei profundamente. Pode ser que ela esteja pensando a mesma coisa, já que está com os olhos marejados e uma expressão contida no rosto.
O garçom se aproxima com os menus e automaticamente fazemos os pedidos, mesmo que a fome nem tenha dado ás caras o dia todo, resolvo pedir uma massa qualquer, e um bom vinho tinto, outro gosto que herdei de Alfred! Liv pede uma salada, deixando o prato principal de lado e sei que ela não vai comer nada, como nunca come ou dorme quando está nervosa ou ansiosa demais... não consigo segurar um sorriso... á conheço tão bem, e mesmo assim ajo como um idiota.
— Você poderia explicar por que estamos aqui? — Ela quebra o silêncio fazendo uma pergunta num tom de curiosidade singular.
O garçom nos serve com vinho e mais uma vez se retira.
— Não preciso dizer o quanto tenho agido de forma inoportuna, e não sei se vai parecer egoísta, mas parece doer mais em mim do que em você. — Ela balança a cabeça desaprovando.
— Você quer mensurar a dor? Isso é impossível Dan... — Diz amargurada em seguida toma um bom gole do vinho. Franzo o cenho levemente. Será que foi uma boa idéia pedir uma bebida com alto teor de álcool?
— Liv... — pego sua mão com carinho — não estou falando que estou sofrendo mais que você, estou tentando dizer que o modo como agi contigo, doeu muito em mim, cada palavra que disse, cada abraço negado — suspiro fundo a olhando com intensidade — hoje eu sei que era um mecanismo de defesa, eu só queria antecipar o que ainda pode acontecer. Ela limpa uma lágrima solitária.
— O que pode acontecer? — Me olha confusa.
— Você se afastar de mim, você preferir... — é difícil proferir o nome — Peter á mim... eu só estou com medo Liv... um medo descomunal, tudo o que mais temi que fosse acontecer, está acontecendo bem agora, em tempo real... eu simplesmente pirei com a idéia de perder você.
— Se colocou no meu lugar alguma vez Dan? — Ela solta a mão da minha— Enquanto pensava só em você? No medo que supostamente ainda sente? Como se sentiria se descobrisse que sua mãe, que você tanto ama... mentiu durante os 18 anos da sua vida? E ao mesmo tempo descobrisse que ela é tão frágil, tão infeliz, e você nem pode sentir raiva dela? Nunca senti pena de ninguém... e o que sinto por minha mãe agora é exatamente isso... pena! Ela nunca foi feliz... sua virtude foi arrancada aos 10 anos de idade, e ela se transformou em uma pessoa amarga, mesmo assim conseguiu amar, um homem o qual foi impedida de amar, por ser mais velho... rótulos de uma sociedade hipócrita, e mais uma vez para não ser rotulada, preferiu mentir sobre a paternidade da própria filha, e acredito eu que por mim e só por mim, ela resolveu casar e tentar ser feliz bem longe do lugar que a devastou... o próprio lar, ela... — Liv já não consegue conter as lágrimas e eu me sinto impotente mais uma vez — ela fez tudo isso por mim... inclusive, continuar vivendo. — chora... agora livremente, eu levanto e coloco minha cadeira ao lado da sua... a abraço de lado e beijo sua cabeça. Minha irmã, está sofrendo de verdade e eu estou assustado com isso. — Ela nem sabe que meu pai morreu! — Sussurra e continua chorando.
Ficamos assim por uns instantes, senti-la em meus braços novamente seria tão bom, se ela não estivesse tão triste. Ela pede licença para ir ao banheiro se recompor e eu volto ao meu lugar. E fico pensando em quão tolo fui, tenho dois pais fantásticos, minha mãe está grávida, minha família é bem estruturada. Liv não tem nada disso. De repente me vejo sozinho e o pavor toma conta de mim. Ela está demorando, será que foi embora? Olho ao redor do restaurante num movimento frenético de olhos, mas todos os meus músculos relaxam quando a vejo voltando pra mim.
Liv
Eu deveria estar feliz, mas ao olhar no espelho do banheiro daquele restaurante caro, percebo que minha tristeza interior está estampada em meu rosto. Meu irmão é o único que consegue tirar o melhor e o pior de mim, mas é a primeira vez que ao desabafar com ele, não me senti leve, é como se toda a minha atual realidade viesse á tona, me fazendo lembrar o que tenho que enfrentar dali pra frente.
Depois de retocar a maquiagem escondendo um pouco a aflição que externava, voltei para a mesa, Dan pareceu relaxar assim que sentei novamente. Sorri fraco. E a comida chega, prolongando o silêncio entre nós. Ambos revirávamos a comida, então ele solta os talheres e toma uma boa quantidade de vinho, larga a taça, pega minha mão mais uma vez e olha bem dentro dos meus olhos.
— Me perdoa! Me perdoa Liv... por ser tão mesquinho, por julgar os fatos tão rapidamente sem me preocupar com as consequências, eu jamais poderia ter te abandonado, jamais deveria ter te afastado de mim, mas eu prometo... prometo que se você me perdoar, isso não irá se repetir, porque eu não consigo viver em um mundo onde não tenha minha irmã comigo, mesmo que não esteja presente... — a voz dele está embargada, provavelmente por culpa. Seus olhos ardem de remorso.
Suspiro deixando minha tristeza aparente.
— Dan... eu te amo tanto, nem sei se consigo medir isso. Nem explicar. Senti tanto a sua falta, mas eu sobrevivi... inclusive cresci muito enquanto você esteve afastado. E embora, não queira viver uma vida medíocre como minha mãe viveu, sabotando suas próprias escolhas por não desafiar a sociedade e seus familiares. Neste momento, é melhor continuarmos afastados... — ele me olha assustado, perplexo — não me entenda mal meu irmão, é claro que te perdoo, mas tudo que vou ter que encarar agora, preciso fazer sozinha. Independente do resultado, você é, e sempre será meu irmão, dentro do meu coração sempre será, mas nós dois precisamos deste tempo... baseamos nossa vida e nossas escolhas até aqui numa inverdade, precisamos encarar os fatos de forma madura sem interferir nas decisões um do outro.
— Mas... nós dois moramos juntos Liv... na mesma casa, debaixo do mesmo teto. O que você espera que... — ele para ao olhar meus olhos que acredito estarem revelando tudo... — você vai embora? — Pergunta numa amargura incontida!
— Estive pensando muito... preciso voltar para França... preciso falar com minha mãe... — ele me corta.
— Não! Não... Liv, por favor não... não vá! — Implora já com lágrimas rolando. Meu irmão chorando é de cortar o coração. Engulo seco prendendo uma nova leva de lágrimas. Aperto firme suas duas mãos sobre a mesa.
— Preciso ir... ainda não contei pra ninguém, nem Ruan sabe... mas eu preciso ir... — ele interfere novamente.
— Quando? — solta minhas mãos com cuidado e desvia o olhar...
— Assim que terminar meu curso..., ainda não defini a data... minha tia Ursula chega amanhã em Boston, acredito que depois já consiga definir. — Dan fecha os olhos e se joga no recosto da cadeira verde musgo aveludada.
— Por quanto tempo? — Pergunta ainda de olhos fechados.
— Não sei... pelo tempo que for necessário. — respondo pausadamente.
— E Ruan? — Respiro fundo.
— Se ele me ama, vai aceitar minha decisão e vai me esperar pelo tempo que for necessário. — Falo aquilo mais para Dan do que para qualquer outra pessoa. Ele me olha com dor nos olhos, mas sei que ele compreende minha decisão.
— Tudo bem Liv, eu não entendo, mas compreendo, sua vida mudou tão drasticamente, nem sei como sua decisão ainda me surpreende tanto como me assusta. Mas eu ... eu estarei aqui quando voltar. Ainda sou eu... sou seu irmão! E te amo... te amo profundamente. —Ele fala, joga o guardanapo em cima da mesa, levanta e estende a mão pra mim...
Saímos do restaurante depois de pagar pelo que não comemos e seguimos em silêncio até Boston Harbor... andamos lado á lado na orla do porto, contemplando as luzes da cidade que disputavam com o céu estrelado. Ele permaneceu em silêncio por longos minutos, mas era um silêncio bom, como se antecipasse nosso próximo passo, o rumo que eu em particular estaria tomando, a ausência de Dan doía porque não estávamos bem um com o outro, mas agora, que ele tinha pedido seu perdão e eu o tinha perdoado, a ausência dele seria uma garantia de cura, de cicatrização total do passado, só esperava o encontrar tão meu, quanto agora, num futuro não muito distante.
Paramos em um ponto, olhando para o porto calmo movido por águas escuras e tranquilas.
— Você promete que aconteça o que acontecer, demore o tempo que for preciso, você vai voltar pra mim? — Ele pergunta ao virar de frente pra mim. Sua pergunta era tão ampla, e me constrangia, me tentava a não prosseguir, em ficar ali com ele, abraça-lo e nunca mais soltá-lo. Mas eu não podia fazer isso.
— Prometo! Assim como prometo te amar para sempre meu irmão. — Ele sorri, aquele sorriso do qual senti tanta falta, e me abraça forte. Podia jurar que o seu corpo todo tremia, numa luta interior travada.
E ali nos permitimos ficar abraçados, por alguns minutos, num mundo imaginário onde não existia nenhum obstáculo senão alcançar níveis superiores de amar um ao outro. Ali naquele abraço tivemos a certeza que ficaríamos bem algum dia novamente, poderíamos olhar para trás e contar uma linda história para aqueles que nos sucederiam... e então tudo valeria á pena, toda dor, todo amor!
Chorando litros, ainda mais com a música do vídeo do capítulo This I Promise You de N'Sync musiquinha velha como eu, mas não menos linda e verdadeira nas palavras que parecem terem feitas sob medida para este capítulo.
Era para ter postado ontem, mas valeu á pena esperar né? Estou mais inspirada a cada dia, e por causa desse cap. já consegui um final surpreendente.
Lindos e lindas volto terça... beijocas no coração.
Gra.
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Divulgação do Capítulo
Nome do Livro: Nunca deixe de acreditar
Autor: @ummeninosonhador
Categoria: Mistério/Suspense
Sinopse: A vida de Matthew sofre uma reviravolta homérica quando, se mudando para North East, eventos estranhos ocorrem em seu cotidiano. Uma história de suspense repleta de amor, traição, terror, medo e amizades. Venha se aventurar em cada capítulo desse livro, esfíngico e enigmático, que te levará para momentos de muito romance e mistério.
Nota da Leitora: Adorando o livro desse serzinho lindo... ele é um amor... adoro pessoas fofas e adoro um mistério...
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