*13*
Dan
Olho-me no espelho mais uma vez, vestido formalmente para meu primeiro dia na gravadora. Não vejo a hora de focar no trabalho e esquecer meu final de semana desagradável.
Ontem depois de falar com minha mãe ao telefone e pedir conselho sobre como me redimir com Liv, convidei minha irmã para um passeio. Só nós dois!
NoTheatre District acontece todo e qualquer show, musical, teatral, circense... enfim um aglomerado de cultura artística, por conta disto no restaurante em anexo sempre há algum tipo de apresentação e ontem não foi diferente.
Os olhos de Liv brilhavam e eu sorria internamente por isso. O almoço estava tão saboroso quanto a apresentação no palco estava agradável, se tratava de um teatro musical, onde os atores cantavam e dançavam ao invés de falar normalmente. Sinceramente não é muito minha praia, mas eu não penso em mim, quando se trata de Liv.
Saímos do restaurante sorrindo, a felicidade estampada no rosto da minha irmã, me deu coragem para falar com ela, a levaria para caminhar na orla do porto, estava tudo dando certo até meus planos serem frustrados quando um ser esbarrou em Liv fazendo-a cair.
— Opa! Desculpa... Ruivinha??? — Ele tentou ajudá-la a levantar. Eu impedi.
— Não toque nela! — Falei entredentes! Erguendo com cuidado Liv do chão.
— Olha se não é o babaca que levou um soco e está louco para levar outro! — Eu avancei a ponto de ficar cara a cara com o imbecil.
— Dan, pare com isso! Deixa ele, vamos embora. — Liv, me puxa pela mão em vão, eu não saio do lugar e continuo encarando-o.
— Desta vez eu não estou bêbado, e nem serei pego de surpresa, quer encarar? — Digo já cerrando os punhos.
— O que significa isto? — Uma voz feminina e um pouco prepotente saiu de dentro do Theatre District e apontou atrás do tal Rick.
Ele saiu da minha frente se voltando para ela, uma mulher loira, estilosa e aparentemente arrogante como a voz transpareceu, ela nos olhava aleatoriamente. Esperava uma resposta.
— Nada mãe! Só encontrei uns ami... — Liv interrompe.
— Sra. Taglioni? Marie Taglioni? — Minha irmã se aproxima já com a mão em forma de cumprimento, e vejo a mulher a olhar de cima a baixo, cumprimentando notavelmente à contragosto. Liv parecia muito admirada para se importar. — Eu serei sua aluna no curso preparatório deste ano, começarei nesta quarta.
— Sim, é claro, já que todos os alunos também começarão na quarta! — Ela diz esnobe. — Richard, podemos ir agora! — A mulher passa por Liv dando-lhe ás costas. Já posso dizer que não gostei nada dessa mulher? Liv por outro lado pareceu não se incomodar por ser tratada de forma tão descabida.
Ela e seu filho já têm um lugar bem especial em meu coração! Sinta a ironia!
Os dois foram embora, mas não antes do idiota do Rick ou Richard como sua mãe o chamou, desse uma piscadela para Liv. E eu só fiquei na vontade de socá-lo. Merda!
— Quem ela pensa que é? — Foi a primeira pergunta que veio a minha mente e portanto foi ela que saiu da minha boca.
— Ela é Marie Taglioni, considerada uma das melhores bailarinas da época moderna junto a Anna Pavlova e... — Eu a interrompo.
— Explicado porque o filho é tão bossal. — Eu digo e Liv parece sair do transe e me olha torto.
— Rick! Richard Taglioni! Filho da minha professora! Eu o estapeei, assim que vi ele batendo em você na festa de sábado. — Ela fala tudo rápido porém baixo para que somente eu escutasse. — Estou muito ferrada. E nem comecei o curso. — Ela engole seco.
— Ela é só uma bailarina aposentada, que se acha superior aos que estão começando, já li sobre isso, as russas são as piores! — Digo sem pensar.
— Dan, você não entende o quanto isso é importante pra mim? E ela não é russa, ela é sueca. Mas estudou e se consagrou na França, um dos motivos para eu adorá-la. Ela é minha mentora, minha inspiração. — Ela murmura.
— Desculpa Liv, eu sei que isso é muito importante para você, mas eu não gostei do jeito que ela te tratou.
— Daniel, para de pedir desculpas, desde que chegamos em Boston você só faz pedir desculpas, eu não sou de açúcar, e você não precisa ser perfeito o tempo todo. E sem contar que nada disso foi sua culpa. — Ela diz calma.
— Só gostaria que você não fosse tão condescendente o tempo todo comigo, você se mantém calma o tempo todo Olívia, ás vezes é bom extravasar.
— Você quer que eu brigue com você Dan? É isso? Você quer que eu te xingue, e arme um barraco e te dê uns tapas... é isso que você quer? Por que? O que há de errado com meu jeito, eu não mudei, sou a mesma de sempre! — Ela pergunta com um nó na garganta.
— Sei lá Liv, você não age como minha irmã, e por conta disso eu acabo agindo de forma ridícula a maior parte do tempo. — Ela franze o cenho.
— Você está me culpando por você agir como um babaca, inclusive agora? Não acredito nisso! Depois de tanto tempo sonhando com esse momento, eu ainda não sou suficiente pra você? Você quer mudar quem eu sou? Não sou a irmã dos seus sonhos? — Seus olhos estão marejados, e a primeira lágrima cai. Droga! Não chore!
— Não é nada disso! É só que... eu ... não... — Fico sem palavras.
— Você quer brigar! Ok! Acabamos de ter nossa primeira briga Daniel. Eu não estou nada feliz agora, e você? Como se sente? — Ela diz enxugando as lágrimas e cruzando os braços em seguida. Eu sou um imbecil.
Depois disso, não falei mais nada, não houve passeio na orla do porto, nem conversa alguma, cada um ficou no seu espaço.
— Daniel?! Está pronto? — A voz é de Ruan, ele está mais ansioso do que eu para trabalhar.
— Saio num minuto. — Pego minha pasta fecho o primeiro botão do paletó e quando abro a porta não é Ruan quem encontro.
Liv
Estava me preparando para bater na porta dele, mas antes disso ele a abre. Tinha passado a manhã no quarto e no almoço fiquei em silêncio.
— Oi! — Digo quando ele paralisa na minha frente.
— Oi!
Ele está triste, assim como eu, isto é notável, assim como ele está lindo vestido tão formalmente. Tento quebrar o gelo.
— Você está muito elegante! — Digo dando um sorriso.
— Obrigado. — Ele sorri.
Então o abraço forte! E ficamos assim por alguns segundos.
Escuto alguém limpar a garganta atrás de nós. Ruan! Vestido tão belo quanto meu irmão. Sorrio. Volto a olhar para Dan.
— Boa sorte hoje! Boa sorte para os dois! — Vou até Ruan e o abraço também. Ele agradece.
— Também quero participar! — Johana fala saindo do seu quarto, unindo-se a nós no corredor.
Deu que de repente estávamos os quatro abraçados.
— Ok! Isso tá muito estranho, vamos parando! — Ruan diz e nós gargalhamos.
-
-
-
Acabou que fiquei sozinha em casa a tarde, quer dizer... Justina estava em casa, mas ocupada como sempre. Johana foi encontrar um amigo que acredito ser Peter, - mas ela não confirmou- , para fazer um trabalho da faculdade... fiquei em dúvida entre tomar um banho de ofurô ou ligar para minha mãe. É, não ligava para ela desde o ano novo... mas ela também não ligou pra mim. Resolvi ligar antes de ir para o ofurô...
— Alô?
— Hey mãe, tudo bem?
— Olha, só quem resolveu ligar! Estou bem e você? — Sempre amável.
— Também estou bem, e Louis muito ocupado? — Ignoro sua primeira frase, respondendo a segunda.
—Sim, está no escritório fazendo entrevistas para recepcionistas.
— De novo? O que aconteceu com Joseph desta vez?
— Queria aumento.
— Humn.
— Já começou a faculdade?
— Na quarta mãe!
— Certo. Boa sorte filha!
— Obrigada mãe. — Silêncio. — Vou indo, deve estar ocupada, só liguei pra dar um oi. Beijos mãe te amo.
— Te amo querida. Tchau
Emocionante a nossa conversa né? Foi assim a vida inteira. Eu amo minha mãe, e sei que ela me ama, mas sinto falta de um carinho de mãe, quer dizer, não tem como sentir falta de algo que você nunca teve. Nosso relacionamento sempre foi muito frio. Acredito que sou diferente dela porque me agarrei ao Dan, meu pai e até na minha madrasta. Por isso o anseio em vir embora, por isso o medo de brigar com meu irmão e perdê-lo, por isso prefiro sofrer calada, do que sair falando tudo o que sinto, porém talvez meu limite esteja se esgotando. E isso me dá calafrios.
Coloco um maiô, me envolvo no meu roupão branco, pego uma toalha, calço um chinelo, alcanço meu celular e sigo para o ofurô... ele fica anexo a piscina externa, mas na parte semi-coberta. Consigo relaxar por alguns breves minutos até que ouço meu celular vibrar. Uma mensagem de whatsapp, aliás detesto o som de notificação do aplicativo, por isso só vibrou.
2:56 PM "Oi é o Peter, consegui seu número com a Johana"
Fiquei olhando a mensagem por alguns minutos. Posso ser tímida, calma e aparentemente querida, mas não sou ingênua. Sei que Johana gosta dele, e apesar dela ser minha amiga, duvido muito que iria dar o número para o cara que ela está afim.
3:02 PM "Oi Peter, ela lhe passou meu número por livre espontânea vontade?"
3:03 PM "Digamos que ela deixou o celular em cima da mesa de estudo enquanto foi ao banheiro... kkk, mas por que a pergunta?"
3:04 PM "Bem, o pouco que conheço Johana ela não lhe passaria meu número sem antes pedir para mim se poderia passar"
3:05 PM "Espero que não tenha ficado chateada, ficou?"
Não tanto quanto Johana ficaria. Penso.
3:06 PM "Chateada não, mas surpresa"
3:07 PM "Surpresa? ... Bem ela voltou e tenho que voltar aos estudos. Nos falamos depois, beijos."
Não respondi mais. Detesto ser grossa, chata, fria ou qualquer outro adjetivo sinônimo, mas se fosse preciso seria para afastar Peter. Johana é minha amiga.
Fiquei mais uma hora relaxando e pensando no meu curso e o que me aguardaria, é certo que a professora que também é minha mentora, não teve uma boa primeira impressão minha. Porém eu faria tudo para impressioná-la com minha dança. Ah, isso eu tinha certeza!
Voltei ao meu quarto e tomei um banho. Vesti um pijama, sim adoro pijama, não importa que hora do dia, se eu puder estou usando um pijama. Me joguei no sofá da sala e comecei uma maratona de séries, gosto bastante, mas nem sempre tenho tempo para assistir. Pausei uma vez e fui preparar algo pra comer... encontrei pipoca e coloquei no microondas pra estourar, enquanto preparava um suco de laranja no espremedor.
Justina nem apareceu para me fazer companhia. Acho que foi dar uma volta em Nárnia. Já falei que não me acostumo com o tamanho dessa casa.
Passei o restante da tarde em frente a TV e acabei pegando no sono. Hoje foi um exemplo de como era minha vida na França, quando eu não estava dançando, eu estava hibernando. Minha vida era bem solitária. Mais um motivo para não afastar meu irmão de mim, por bobiça, ciúmes e seja lá o que esteja sentindo.
— Liv! Liv? Liv!!!!??? — Acordo com o susto do meu nome sendo chamado e vejo Johana rindo da minha cara em pé ao lado do sofá. — Chega pra lá... o que estava assistindo?
— Algumas séries! — Ela arregala os olhos.
— Quais??? Eu adoro séries.
— Humnn... várias, entre elas Awkward, Beauty and Beast e The Vampire Diaries.
— Ah! Irmãos Salvatore, até hoje não sei qual eu prefiro! — Ela diz se jogando no encosto do sofá.
— Ainda bem que eles são fictícios! — Ruan entra na sala e se joga no nosso meio!
Depois daquela gritaria toda na cozinha eles fizeram as pazes...
— Sorte sua que eles são fictícios, maninho, você não seria páreo para eles!
Fizeram as pazes... e estão prontos para outra...
Enquanto os escutava retrucarem um ao outro, sorrio e sinto outra presença na sala, olho pra frente, e lá estava ele com seu sorriso cativante e acolhedor, nunca me cansaria dele. Não importa o quão sozinha eu estivesse, se no final do dia pudesse estar com ele.
Dan!
Eu simplesmente A.M.E.I este capítulo... mas eu não conto... o que vocês acharam?
Estou com saudades de muitos(a) leitores(as)... e curiosa para conhecer os fantasmas da meia noite... kkkk apareçam, eu não tenho medo... Mas se forem tímidos, peço só a gentileza de votarem nos capítulos e adicionarem o livro em alguma lista.
No mais, fiquem com Deus e bom fim de semana... até Terça.
Beijinhos da Gra.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro