Capítulo 8 - Encontro no prédio ♡
Meu corpo tremia como se eu estivesse nua no Polo Norte. Arrependimento? Excitação? Êxtase? O que acabou de acontecer? Eu beijei um estranho, o estranho do bar, enquanto meu Paulo trabalha por futuro melhor para nós dois. Eu sou um monstro...
— Está tudo bem? Aquele rapaz te machucou? Podemos ir à delegacia. — a taxista sugere, notando meu pânico em seu banco traseiro. — Quer que eu iniciei o trajeto?
— Obrigada, mas ele não fez nada. Acabei de agir por impulso — digo com clareza, como se a embriaguez escapasse aos poucos pelo suor em minhas têmporas — Pode sim, obrigada novamente.
A partir daí, o trajeto de volta para o meu apartamento se inicia, enquanto aérea, não puxo qualquer assunto que deixe nós duas confortáveis. Noto apenas a pele preta e reluzente por causa das luzes da cidade, por segundos sinto saudade de casa, saudades da minha mãe. Seria a única pessoa que eu poderia contar sobre isso, sem me sentir julgada. Afinal, todas as minhas amigas achavam Paulo perfeito demais para mim. Um príncipe que não necessitava de um cavalo branco. Será que ele era mesmo isso tudo? Por que estou me questionando agora? Foi só um beijo... Um beijo diferente dos outros, que me fez entrar em combustão mais rápido do que com os beijos de Paulo no meu pescoço.
Afasto os pensamentos, as sensações e o beijo, jogo em algum lugar distante na minha mente. Resolvi sair porque estava entediada hoje, me sentindo solitária naquele apartamento tão pequeno e ao mesmo tempo tão espaçoso. Após o dia cheio de trabalho, eu só queria alguém para dividir minhas piadas ruins e humor nem sempre tão agradável. Eu sei, não sou a melhor companhia do mundo, mas eu juro que tentava. Só que às vezes Paulo parecia tão cansado, estressado com o trabalho e a equipe dele, então eu só ignorava algumas coisas e não causava mais problemas. Preparei um jantar incrível, separei aquele filme de fantasia medieval que ele ama e me dá sono. Minha única intenção era ter uma noite bacana e proporcionar isso para outra pessoa também.
Porém, quando ele me avisou que iria fazer hora extra num projeto, eu não consegui sentir outra coisa além de frustração. Sei que é egoísta, mas eu queria ter o meu noivo por um tempo a mais do que ele podia oferecer.
Por isso, me arrumei e fui para o único lugar que conheço, na tentativa de conversar besteiras com o barman simpático ou quaisquer outra pessoa alegre. O evento de Gypsy também me chamou atenção e foi a melhor coisa desta noite. Mas, eu não esperava beijá-lo, isso estava fora dos meus planos iniciais. Completamente inaceitável, não sei como olhar na cara do Paulo depois de hoje. Nunca mais ponho os pés no Volks, tenho certeza disso. Mesmo que eu ainda não tenha ido na parte extra do bar, onde James Coleman se divirtia, acertando bons socos na saco de areia no piso inferior.
O que me faz sentir ainda mais repulsa, é que eu adorei beijá-lo, eu adorei a sensação de combustão que meu corpo teve em tão pouco tempo. Do tipo que eu nunca senti com Paulo, tenho certeza que a culpa foi do álcool, que ampliou minha percepção.
Ninguém te beija daquele jeito, que incendia o corpo, que bagunça a mente e faz com que o único desejo seja tirar as roupas. Pelo menos, não era assim que acontecia com Paulo, eu não deveria me sentir assim com um estranho.
Quando enfim chego ao prédio, suspiro fundo e entrego umas notas a mais pelo trajeto. Subo as escadas e noto o síndico conversando com um homem no andar de baixo. Apenas os cumprimento com um aceno de cabeça e sigo meu rumo ao destino final da minha cama macia. É só isso que importa agora.
[...]
Bom dia, o sol já nasceu lá na fazendinha...
Bufo irritada com meu despertador, sem um pingo de humor para rir do tema besta que coloquei. Suspiro fundo, vendo a hora e agradecendo por hoje ser sábado. Meu turno começa ao fim de tarde, tenho algumas horinhas para aproveitar. Coloco no modo soneca e volto a dormir, apertando uma sequência infinita de sonecas até acordar, com alguém batendo à porta.
Vejo que ainda estou com a roupa de ontem e a maquiagem borrada. Corro para colocar uma camiseta larga de algodão e me livrar da maquiagem escura que mancha meu rosto.
— Só um instante! — grito, escondendo qualquer vestígio da minha noitada.
Não sei mentir, iria contar que bebi demais e beijei Henry, isso não iria deixar meu noivo nada contente.
— Já estou indo! — anuncio mais uma vez, dando uma checada final antes de abrir a porta.
— Que demora! — resmunga, adentrando no apartamento e trazendo dois copos de café. — Estava quase desistindo de esperar, os cafés já devem estar frios e sem graça.
— Desculpe, a casa estava uma bagunça. Não queria receber você no meio dessa zona. — ponho o cabelo atrás da orelha e tento fazer um coque com a minha jubinha bagunçada. Meus fios crespos nem sempre ajudam pela manhã.
— Tudo bem, Kal. Só vim te dar um beijo antes de ir trabalhar. Está uma correria naquela empresa. Você sabe, aquela equipe nova é bem cansativa.
Observo as roupas formais, o óculos redondo e o cheiro de loção pós barba. Apesar de ter 28 anos, Paulo está mais parecido com o meu pai, do que com um homem de sua idade.
— Eu entendo, esse povo deve ser difícil mesmo. Obrigada pelo café. — fecho a porta nos sentamos no sofá, planejando nosso jantar de hoje.
Ele queria compensar a ausência de ontem, mas eu estava com a mente tão pesada, que sequer questionei qualquer coisa. Eu era a errada, eu beijei outro cara.
Escovo os dentes — já que não tinha feito isso ainda. E o observo falar sobre cada detalhe do projeto, incluído a parte chata. Depois de me desligar da conversa e dos acordos, Paulo se levanta e abotoa o paletó, dando-me um beijo na testa.
— Preciso ir agora. Você parece diferente hoje, Kal. É a sua TPM? — questiona desconfiado.
— Sim, amor. Isso mesmo. Estou de TPM, incrível como os homens conhecem tanto sobre as mulheres. — sorrio amarelo e o abraço, sem a intenção de tocar seus lábios. Ele não acha estranho, apenas se retira e após colocar sutiã, chinelas e um short, vou até a entrada do prédio para deixá-lo.
Nos despedimos com um aceno e eu coloco as mãos nos bolsos. Não sei por quanto tempo esconderei a verdade, mas tentarei o máximo que eu puder. Subo as escadas e caminho tranquilamente, apesar de estar com a mente cheia.
Suspiro, vendo a Edna do churrasquinho descer com a toda a família para a praia. Eles são os mais receptivos do prédio, assim como os mais barulhentos.
Sigo meu caminho e já estou no último lance de escadas, mas uma figura masculina para na minha frente e interrompe a passagem. Ele parece ter um cheiro familiar, mas não conheço nenhum vizinho ainda. Levanto o olhar para pedir licença mas quando eu o vejo, meu mundo congela ali mesmo.
— Henry? O que está fazendo aqui? — questiona aflita, sem acreditar no que acontecerá a partir de agora.
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