Capítulo 10 - O que significou para você? ☆
O beijo de Kalena ainda inquietava minha mente, era como se os lábios dela fossem ímãs que se prendessem aos meus. Estou me sentindo um babaca que nunca beijou na vida, mas não sei, tinha algo diferente. Talvez o sabor do proibido, já que ela estava num relacionamento, na verdade, ela estava noiva. Que ótimo, Henrique! Estragando vidas e romances.
Mas, espera aí... Ela te beijou... E aquele noivo dela, tão idiota e mesquinho.
Afinal, como ela conseguia dormir com aquele cara sabendo que ele é um merda? Ou talvez, sequer soubesse, já que ele sempre passa a imagem de puritano para todos na empresa. O problema é que meu faro é muito bom com pessoas que não prestam, principalmente quando ele me olha com superioridade pelo cargo que tem.
Que se foda, Paulo! Eu beijei a sua noiva! Toma essa!
Ok, talvez eu não devesse me vangloriar por isso, estávamos bêbados, ela muito mais do que eu se não fosse por isso, provavelmente não teria beijado o cara descolado do bar. Ou será que sim? Sou atraente e engraçado? bonito?! Encaro meu reflexo no espelho e bufo ao ver apenas ossos e pele, nada mais. Pelo menos o Paulo é um cara fortão e coisa e tal, eu sequer tenho músculos, mas apesar disso sei dar uns bons socos. Bem, andei observando o fã número 1 da parte inferior do bar. E de quem mais eu estaria falando se não fosse em James Coleman e uma ruiva bonitona?
Claro, fiquei um pouco distante vendo os dois se divertindo e bebendo cerveja, enquanto a ruiva golpeava o saco de pancadas com muita precisão, parecendo desafiar James a ser melhor nisso do que ela. Pelo o que eu observei servindo cervejas, ele não chegava aos pés dela, que parecia ter bastante prática. Mas James não parecia se importar em perder para sua garota, e talvez, se Kalena também fosse a minha garota, eu a levaria para dar uns bons socos naqueles sacos de areia, beber cerveja e cantar no karaokê velho como se a nossas vidas dependessem disso.
Me jogo novamente na cama e passo as mãos no rosto, como se tentasse arrancar esses pensamentos tolos da minha cabeça. Porém, meu telefone toca e me obriga a atendê-lo quando o som parece estridente aos meus ouvidos.
— Alô? — retorno para a cama e observo com muita atenção o mofo no teto úmido. Parece tão familiar que eu poderia até apelidá-lo qualquer dia desses. — Tem alguém aí?
— Está gostando de nossa empresa, Henrique? Soube que você está se dando muito bem com Paulo e sua equipe. Então, liguei para saber mais de sua experiência. — a voz imponente surge do outro lado da linha, como se de uma forma discreta estivesse zombando de mim.
— Não sabia que o patrão ligava para os subordinados para atestar a qualidade de sua empresa. Excelente trabalho com o RH eficiente, Sr. Brandão. — sento-me na cama e observo que ele ficou hesitante por uns alguns segundos, digerindo minha insolência, como costuma chamar. — Na verdade, tem sido ótimo. Estou gostando bastante deles, muito competentes. Era só isso que queria saber, pai?
— Tem certeza? Que bom então, isso já vai te familiarizando com os negócios. — não respondo e apenas fico em silêncio, não dando espaço para diálogos. — Para ser bem sincero, sua mãe pediu para que eu ligasse. Seus irmãos estão vindo para casa neste final de semana. Queríamos dar uma trégua na sua rebeldia e passarmos um tempo em família. Você ainda é um de nós, Henrique. Não importa o que diga. Seus irmãos já estão aqui, descansando da viagem longa. Helena tem uma boa notícia para te dar, não quer deixar seu orgulho de lado por uns dias?
— Não sei se é uma boa ideia... — fico pensativo, apesar de sentir falta dos meus irmãos, não sei como irei me sentir ao colocar os pés naquela casa novamente. Todas as brigas, todos os desentendimentos... — Posso pensar. Vou organizar algumas coisas e vejo o que posso fazer. Mas não ouse pedir para o motorista vir me buscar, ou eu desisto de ir.
— Tudo bem, você sempre escolhe os caminhos mais difíceis mesmo. — ele suspira cansado e escuto ao fundo a voz de mamãe chamá-lo, mas não consigo distinguir o que estão conversando. E a chamada se encerra, me deixando solitário novamente no quarto. Seria um ótimo dia para aprontar com a vizinha e fazê-la se mudar mais rápido, porém o convite inusitado mexeu comigo.
Meus irmãos não eram como nossos pais, apesar de viverem muito bem com o dinheiro deles. Eu sempre fui o diferente por questionar e não aceitar tudo calado, minha independência sempre pareceu uma afronta. Bem, mas eu poderia deixar isso um pouco de lado, quem sabe.
[...]
Enquanto analisava se isso era uma boa ideia ou não, arrumei a casa e joguei algumas garrafas de cerveja no lixo, preparando o grande banquete para almoçar: macarrão instantâneo com sabor artificial de carne. Termino minha grandiosa refeição e tomo um banho demorado, estou sozinho e em pleno silêncio, como se não existisse mais ninguém no prédio além de mim. Após o banho, visto meu look de sempre: jeans surrado, All Star preto e camiseta de mesma tonalidade. Passo perfume e desodorante, aplicando um pouco de pomada no meu cabelo rebelde. Pego celular, carteira, fones de ouvido e meu óculos Ray-Ban.
Desço os lances de escada e fico cantarolando baixinho uma música aleatória do meu reprodutor de música. Vejo Edna e seus filhos descerem com roupa de praia e rindo sobre coisas banais. A filha mais velha dela sorri de forma tímida para mim e pela primeira vez noto o jeito que ela me olha às vezes. Ou talvez eu esteja ficando louco. Checo a hora no celular e desço às pressas, quase correndo pela escadaria, mas meu corpo se choca com o de outra pessoa que também parece ter pressa.
— Me desculpa, te machuquei? — ajudo a garota a se recompor e ao perceber quem era, me afasto na mesma hora sem saber como agir. — Kalena?
— Henry o que está fazendo aqui? Bem, eu moro aqui e você? — responde de forma ríspida, tão surpresa quanto eu. Gostaria de observar seu jeito despojado mas algo me impede de olhar para outro ponto além dos olhos dela. — O que veio fazer aqui? Estava me procurando?
— O quê? Não! — uma risada nasal e esquisita sai e eu coloco as mãos nos bolsos. Agora tudo fica claro, ela é a minha vizinha misteriosa! — Eu vim... — busco na mente uma mentira que pareça convincente, mas nada vem, até que... — Estou saindo com a Erica, filha mais velha da Edna, subi para pegar algo que ela esqueceu. Estamos indo à praia, não curto muito tomar sol.
— Ah, é? — estou ficando louco ou há descontentamento em sua voz? — Sobre ontem, eu queria te dizer que... Não tive a intenção de te beijar, eu...
— Claro, Kalena... Sua língua foi parar na minha acidentalmente. — acuso um pouco irritado, por que ela está me tratando assim?! — Tudo bem, eu sei que não foi nada demais, relaxa.
— Ei! Você não tem o direito de... — Kal parece irritada e se aproxima de mim, subindo mais um degrau e mantendo nossa altura na mesma nivelação. Está tão próxima que consigo ver as sardas fofinhas perto do nariz.
— Não tenho o direito de quê? — me aproximo mais e sorrio, com os olhos escondidos pelas lentes dos óculos, que me possibilitam visualizar bem mais do que as sardas. — Vai dizer que se arrependeu de ontem? Aposto que o seu noivo não te beija daquele jeito. — digo de uma forma cretina esperando alguma grosseria mas nada vem.
— É melhor você sair da minha frente, Henry. — Kal cruza os braços e seus olhos curiosos e lindos passeiam pelo meu rosto antes de descaradamente parar na minha boca.
— O que foi? Perdeu algo na minha boca, Kal? Eu te ajudo a encontrar — sorrio, me divertindo ainda mais com a raiva contida no rosto dela. Kalena me empurra de leve e eu apenas a sigo, subindo mais um degrau.
— O que você quer? Não estou bêbada o bastante para te beijar novamente. Aquilo foi um erro. Me deixe em paz, preciso ir para o meu apê. O vizinho insuportável parece ter dado uma trégua esses dias.
— Não precisa falar assim comigo só porque você se arrependeu. A única pessoa comprometida aqui é você. É melhor arrumar uma desculpa melhor do que a bebida, nem todo cara acredita, só aqueles que também a usam para trair. — desisto e desço os dois degraus que subi, irritado com os joguinhos dela.
— Você retribuiu, então é culpado também. — revida de um jeito mimado, que faz gargalhar pelo corredor, torcendo para ninguém nos pegue assim, de forma tão descarada pelo prédio. — Por que você retribuiu?
— Kalena... — o modo como sua voz soa baixo me faz parar onde estava e tirar o óculos, antes de virar e respondê-la com toda a minha sinceridade. — Achei que isso já estivesse claro, mas eu preciso ficar dizendo com frequência que você é a pessoa mais incrível que eu conheci?
Abdico do meu orgulho por alguns segundos — foi o que meu pai pediu, certo? —, subo os degraus que faltavam e retorno para beijá-la, com uma vontade que parece estar além de qualquer raciocínio.
— Kal, eu esqueci minha carteira e... — Paulo nos pega de surpresa, de uma forma que me congela no mesmo lugar, a centímetros de Kalena.
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