Quem é Você?
Com um passo incerto, Selena atravessou o portal, sendo seguida por Wong, que assim que passou o portal começou a se fechar, ela virou-se rapidamente, podendo ver ainda o jardim do Complexo e ao longe o quinjet de Savannah, sumindo aos poucos até dar lugar a ampla sala do local.
-Bem Vinda ao Sanctum Sanctorum - disse Wong atrás dela.
O tic tac do relógio na parede ecoava por toda a sala, o ponteiro era seguido pelos olhos castanhos da mulher sentada no pequeno sofá na sala do delegado, suas mãos apertavam nervosamente a xícara de chá quente, que lhe foi entregue a minutos atrás por uma gentil policial.
Angelis não compreendia o que estava acontecendo, como tinha parado dentro de um caixão à sete palmos debaixo da terra, suas memórias ainda estavam uma grande bagunça, entretanto, em meio a grande neblina que envolvia sua mente, ela se recordava de sua filha, sua Selena, sentia que ela estava em perigo, tinha que sair dali e descobrir o que estava acontecendo.
O som do tic tac parecia ficar cada vez mais alto, assim como o perturbador barulho dos telefones tocando fora da sala, dos passos nos corredores, das vozes alteradas na rua, parecia que todos os seus sentidos estavam ligados ao 100%, os olhos castanhos iam do relógio na parede para a porta em sua frente e a janela, que ficava de frente a mesa do delegado.
Um desespero começou a tomar conta da Lefroy, precisava sair dali, a xícara em suas mãos começou a tremer, o som de passos ficou mais alto, principalmente o barulho do salto batendo contra o chão de madeira.
Entre todas as vozes do outro lado da porta, Angelis conseguiu reconhecer uma, que fez com que seu foco mudasse, aquela voz suave, gentil, fez com que deixasse a xícara de lado, deu-lhe um foco no meio de todo o caos que estava ao seu redor.
Em um rompante Pepper abriu a porta, a ruiva estava ofegante e levemente descabelada, seus olhos foram de encontro a morena sentada no sofá com um olhar perdido.
-Meu Deus - exclamou Pepper soltando um soluço em meio a um sorriso acompanhado por lágrimas, nas quais Angelis não entendeu, Happy e Rhodes apareceram atrás da ruiva, igualmente chocados e emocionados, assim como a Potts.
E pela primeira vez desde que "acordou", Angelis viu rosto familiares, a neblina que cobria sua mente começou a esvaziar-se aos poucos, deixando nítida algumas lembranças, como por exemplo, o motivo de ter acordado no caixão.
[...]
-Chegamos - ao sentir uma mão tocar seu ombro, Angelis abriu os olhos rapidamente, desencostando a cabeça da janela do carro. Pepper a olhava com seu costumeiro sorriso gentil no rosto, que já demonstrava o cansaço das noites não dormidas - chegamos querida - repetiu apontando para o prédio a frente.
-Selena está aqui? - questionou Angelis franzindo a testa olhando para fora da janela, achava o local levemente familiar, apesar de tudo ter mudado durante os anos que esteve morta.
-Tony vai falar tudo para você - disse Pepper desconversando, abrindo a porta do carro assim que Happy estacionou o veículo na entrada. Angelis balançou a cabeça concordando com a ruiva, ainda meio aérea, tirou o cinto para sair do carro, entretanto a porta ao seu lado foi aberta antes que fizesse isso, ela olhou para cima vendo Steve segurando a porta.
-Obrigada - agradeceu ao descer do veículo e passar pelo loiro, que lhe deu um sorriso. Ele era levemente familiar, aqueles olhos azuis, já tinha visto antes, porém não se lembrava de onde.
-Por aqui - disse Rhodes ao se aproximar dela, fazendo-a quebrar o contato visual com Steve, ambos olharam para direção que Rhodes mostrava.
Em passos lentos, ela seguiu os três pelos imensos corredores do Complexo, por onde passava podia ver alguns funcionários e suas expressões tristes, cansadas e abatidas, assim como os três ao seu lado, uma parte de si queria saber o que aconteceu para ter deixado todos daquele jeito, entretanto existia uma coisa mais importante para ela naquele momento.
E ao cruzar o corredor, ela pode ver o detector de todas as suas respostas de costas para a entrada.
O tempo tinha passado, Angelis pode ver isso em Pepper, Happy e Rhodes, além de ver por toda cidade, mas ao ver Tony, ela sentiu o real peso do tempo.
[...]
-Então...eu morri por 19 anos - Angelis repetiu em voz alta ao ser deixada a sós com o Stark na sala. Piscando os olhos lentamente, ela soltou o ar com força, jogando o corpo no sofá, se sentia esgotada, física e mentalmente.
Tony engoliu em seco, cruzou os braços, apoiando o queixo na palma da mão, enquanto observava a mulher deitada no sofá abismado, era como se o tempo tivesse voltado, ele quase conseguia ouvir as melodias que sua mãe tocava no piano, a voz de seu pai cantarolando ao fundo.
Vê Angelis era como voltar a ser jovem, quando sua maior preocupação era ignorar as reclamações de Howard Stark sobre ele ser um inresponsavel por ser pai aos 20 anos e não um titã ter apagado 50% de todo universo com seis jóias brilhantes, nas quais destruiu depois.
Chegava a ser bizarro a forma em que sua vida tomou rumos tão diferentes e malucos, por Deus, tinha um guaxinim falante em algum canto do prédio!, o quão louco isso deveria ser, entretanto, não lhe assustava mais, as coisas bizarras se tornaram cotidianas desde que Loki apareceu na Terra, o que lhe assustava era a mulher em sua frente.
Não Angelis, porém o que ela representava e principalmente, o que ela lhe lembrava. Ela carregava o mesmo rosto de 19 anos atrás, enquanto ele já tinha rugas nos cantos dos olhos e fios brancos na lateral da cabeça, a Lefroy lhe mostrava o quanto o tempo tinha passado, não que ele achasse que era imortal ou coisa do tipo, não, porém, as vezes acontece da vida joga na sua cara a realidade.
19 anos parecia pouco tempo, mas não foi.
Aqueles 19 anos carregavam o maior erro dele, sua negligência com Selena, a infância e a adolescência dela que ele perdeu, quando reencontrou Selena á 6 anos atrás, ele tocou-se da merda que tinha feito, e durante os seis anos até ali, tentou consertar seu estrago, apesar de ter falhado diversas vezes.
E era isso que mais o assustava, era o olhar de decepção da Lefroy ao saber que ele falhou na única coisa que ela pediu para ele fazer.
-O que eu perdi durante esses anos? - a voz de Angelis tirou ele de seus receios e temores, fazendo-o encara-la, a mesma estava sentada no sofá com as mãos apoiadas nas coxas, cobertas pela calça do conjunto de moletom que Pepper tinha levado para ela vestir, seus olhos estavam dilatados em um misto de sentimentos, nos quais o Stark não pode descrever.
-Bem...muita coisa aconteceu - disse Tony levantando a mão e dando uma risada quando ela franziu o nariz insatisfeita com a resposta, parecia besteira se emocionar com uma mania, porém, Tony não pode controlar o lacrimejar nos olhos, tinha percebido o quanto a Lefroy tinha feito falta.
Ele passou a mão no rosto, para limpar a lágrima solitária que desceu de seu olho, levantou-se do sofá, gesticulando com a mão para ela fazer o mesmo.
- Vem comigo, vou mostrar tudo o que perdeu.
Angelis levantou do sofá em um pulo, seguindo o Stark pelo imenso corredor, na direção contrária da qual tinha vindo antes.
Ela sentia-se assustada com o tempo em que esteve morta, ja que para ela foi como fechar os olhos para dormir e acorda no dia seguinte, porém pro mundo e para Tony, foram 19 anos, assim como para sua Sel.
Ela tentava não pensar no que teria acontecido com Selena após sua morte, já que ninguém tocou no nome dela até agora, uma parte de si estava com medo, 19 anos tinha passado, sua menininha já não tinha 7 anos e não era mais pequena, era uma mulher e sabe Deus o que tinha acontecido com ela.
-...E por fim, o terceiro andar - disse Wong quando terminaram de subir os degraus, que davam para o terceiro andar, após terminarem o tour por todo os primeiros andares.
Selena sentiu uma força indescritível ao adentraro local, constatando que ali a magia era mais forte do que em qualquer outro canto da casa, era de uma magnitude esplêndida.
-Aquele é o selo de Vishanti - Wong apontou para a janela oval na frente deles, Selena observou a estrutura que formava o símbolo na frente da vidraça - um símbolo místico que garante proteção especial concedida pela trindade dos deuses Agamotto, Oshtur e Hoggoth. Além disso, é graças a esse símbolo que as energias místicas na mansão entram em harmonia.
-O simbolo impede meus descontroles mágicos, mesmo que eu tenha um surto - concluiu Selena caminhando para perto da janela, tocando levemente o metal frio da estrutura. Ela olhou para o lado de fora, vendo a movimentação da rua, as pessoas que sobraram tentando recomeçar suas vidas após a certeza de que não teriam seus entes queridos de volta - então...não vou poder sair daqui?.
-Daremos um jeito para quando você quiser sair - garantiu Wong colocando as mãos nas costas, Selena respirou profundamente, olhando para o horizonte da cidade - Como disse, você não é uma prisioneira aqui - Wong parou ao lado dela, olhando para o horizonte também, o céu azul estava parcialmente limpo, quase não tinha nuvens nele, seria um dia lindo se a tristeza não assolasse os moradores da cidade - além disso, o Kamar Taj perdeu muitos magos, estamos recebendo ajuda de alguns conhecidos da magia e será necessário minha presença lá de vez em quando, para ter controle do que esta acontecendo e você irá comigo - Wong se afastou após isso, indo para o corredor da direita.
Ao se ver sozinha, Selena olhou para o local, diversos artefatos mágicos de diferentes formas e tamanhos estavam por todo lado, alguns se mexiam e outros ela podia jurar que estava lhe encarando, o que dava um frio na espinha.
Selena podia sentir a magia ao seu redor, era totalmente diferente da magia que sentia no Hell, era confortante, acolhedora, lhe dava uma certeza de que iria conseguir controlar o que estava dentro de si, dando uma paz que a muito tempo não sentia, como se ali fosse seu lugar.
Porém, ainda tinha aquela voz dizendo que queria voltar para o que deixou para trás, mesmo que o resultado final fosse catástrofe.
Mas amar, é deixar partir, não é mesmo? Sem perceber ela levou seu dedo até o anel que Loki tinha lhe dado, a esmeralda brilhava intensamente em seu dedo anelar, amar é saber sacrifíciar, e ela não se arrependia de ter aceitado o Hell para salvar o trapaceiro, mesmo que tenha perdido ele no final.
Amar doi, e Selena sabia disso, seu coração parecia ter sido quebrado em milhares de pedaços após a notícia de que Thanos destruiu as jóias, após a constatação de que nunca mais iria ver Sophia, Loki e Peter.
Mas Amar é proteger, e ela estava disposta a fazer proteger aqueles que sobraram, sua família, mesmo que isso signifique ficar longe deles, mesmo que signifique protege-los dela mesma.
Soltando um suspiro pesado, ela deu mais uma olhada para cidade, tinha tomado sua decisão e não voltaria atrás.
Dando as costas para vista da cidade, Selena seguiu o caminho que Wong tinha feito.
-Seja bem vinda senhorita Lefroy - disse Sexta feira assim que Angelis entrou na oficina, ela girou o corpo, olhando ao redor, impressionada com as armaduras e os aparelhos de alta tecnologia que estavam no local.
-Cadê o Jarvis? - questionou franzindo a testa confusa ao ouvir a voz feminina no lugar da voz que carregava o nome do falecido mordomo dos Stark's. Tony cruzou os braços se encostando na mesa com ferramentas.
-Virou um andróide - disse ele pegando uma mão da armadura que estava na mesa, olhando pelo canto do olho para Angelis, que virou-se para ele com os olhos levemente arregalados.
-Um andróide? - repetiu em um quase grito, andando até ele, que confirmou mordendo o lábio para conter o sorriso, uma das coisas que o fez amar Angelis era a fascinação e admiração que, assim como ele, ela tinha pela tecnologia. Angelis puxou a cadeira da outra mesa, arrastando até o Stark -Você fez um andróide com o Jarvis? - questionou sentando e cruzando as pernas, Tony balançou a cabeça confirmando, colocando a mão da armadura na mesa de novo.
-Bruce e eu na verdade - confessou tomando impulso com as mãos apoiada na mesa para sentar nela - você conhece o Bruce né.
-Doutor Banner? Estava infiltrada no projeto dele, mas...morri né - disse ela dando de ombro e fazendo uma careta com a última parte, era tão surreal falar em voz alta que tinha morrido - o que aconteceu com o projeto? Foi pra frente?.
-E se foi - murmurou ele coçando a nuca, Angelis franziu a testa sem entender - Sexta feira, mostre tudo o que temos do doutor Banner desde a morte da Angel.
-Sim senhor Stark - hologramas com vídeos e reportagens sobre o Hulk desde seu surgimento até sua última aparição na luta contra Ultron em sokovia, apareceram ao redor de Angelis, que via e lia tudo com os olhos arregalados em choque e surpresa.
-Isso é o doutor Banner? - perguntou apontando para o video que mostrava o Hulk no ataque de Nova York.
-É, mas ele não fica sempre assim, ele faz uma yoga e toma uns chá de camomila pra acalmar e não ficar verde toda hora - disse ele descendo da mesa e indo até o frigobar, sentia-se elétrico, apesar de ainda estar fraco pelo tempo que passou no espaço - quer alguma coisa? - perguntou olhando para dentro do frigobar na procura de algum suco ou refrigerante.
-Um uísque - Tony levantou os olhos surpreso com o pedido dela, mas imaginou que só uma bebida forte para aguentar tudo o que estava acontecendo sem surta. Pegou a garrafa de uísque e dois copos, voltando para perto dela - o que deu de errado? - murmurou ela colocando as mãos na cintura, enquanto lia o relatório do Projeto gama.
-Steve acha que ele usou gama de mais, o que obviamente é notável - o tom de voz do Stark indicava que o mesmo ainda estava chateado com Rogers, apesar de la no fundo ele já ter entendido os motivos que levou o capitão a mentir - Aqui - encheu os dois copos e entregou um a ela.
-Steve é o cara que foi com a Pepper e o Rhodes me buscar? - perguntou curiosa, pegando o copo da mão dele, lembrando-se
do homem que abriu a porta do carro para ela.
-Exatamente, Steve Rogers, capitão américa, o herói da pátria e toda aquela baboseira que meu pai falava dele - disse Tony revirando os olhos e sentando na mesa novamente, Angelis piscou os olhos percebendo que era esse o motivo de acha-lo familiar.
-Perai, ele é o capitão américa? - questionou ela depois de engolir o uísque, franzindo o nariz em uma careta.
-Você não lembra do herói da pátria? Tava lá quando ele virou picolé - Angelis revirou os olhos e tomou o resto do uísque, é claro que ela lembrava, durante sua adolescência foi treinada para ser melhor que o Capitão América.
-Eu tinha 9 anos na época Tony - retrucou ela brincando com o copo vazio nas mãos, se recordando do seu tempo na Shield - E é claro que eu lembro dele, "seja melhor" - Angelis repetiu o que o coronel Philip costumava lhe dizer após os treinamentos.
-Foi mal - Tony notou a melancolia que tomou conta da morena, o tempo que ela perdeu na Shield sempre tinha sido algo doloroso de se falar, principalmente por sempre quererem que ela fosse sempre mais, nada, nunca, estava bom o suficiente, nada chegava aos pés dos feitos do capitão américa, talvez a pressão se dava por ela ser uma mulher num mundo de homens na época, uma mulher com poderes fodas, porque disso Tony tinha certeza, Angelis sempre foi foda - Esqueci que você é uma anciã - brincou recebendo um chute da Lefroy, que quase caiu da cadeira fazendo ambos rirem.
-Ok - Angelis pigarrejou ao parar de rir, colocando o copo vazio no chão e arrastando a cadeira até ficar de frente a ele, apoiando suas mãos na coxa do Stark, que descansou o copo na mesa - o que mais eu perdi? - tinha perdido tanto tempo, antes com a Shield e agora morta, precisava e queria recuperar o que perdeu.
E assim os dois passaram a manhã até o entardecer na oficina, Tony mostrando os acontecimentos mais importantes do mundo que ela perdeu nos 19 anos, com Sexta feira lhe auxiliando, mostrando videos de reportagens e o que fosse necessário para explicar melhor os acontecimentos.
-...E essa é a rena - disse Tony apontando para o holograma, que se dividiu em cenas do Ataque de Nova York, em um deles Loki era mostrado na Torre lutando com Thor. Angelis mordeu o sanduíche que Pepper tinha trazido, ambos estavam sentados no chão com a bandeja de lanches no meio deles. Ela olhou para o video do trapaceiro e do deus do trovão - Loki.
-Tipo o deus da trapaça? - questionou ela com a boca cheia, Tony soltou uma risada e jogou um pouco de batata frita na boca.
-Não tipo o deus da trapaça, o imbecil é o deus da trapaça, irmão da barbie do tchan, lembra? Falei do Thor já - ele apontou pros outros hologramas, que mostrava a cidade no México, na qual Thor lutou com o Destruidor, Angelis balançou a cabeça, arregalando os olhos com a notícia de que outro deus veio para Terra - Loki tentou dominar a Terra depois que Odin deu o trono pra Barbie, ficou magoado a rena, roubou o tesseract, destruiu uma base da Shield, controlou o Clint, matou o Coulson, destruiu minha ex Torre, abriu um portal pro espaço e um bando de aliens invadiu a cidade - Angelis engoliu o que estava em sua boca a seco, o brilho que tinha minutos atrás com a notícia de outro deus, foi sumindo a cada informação dita pelo Stark - ah, e ele era namorado da Selena...
-O que? - exclamou em um quase grito, Tony balançou a cabeça confirmando o que tinha dito e comeu mais batata.
-Resumao...nem eu sei quando começou, quando percebi já tavam juntos, mas ai a rena largou ela pra casar com uma princesa de sei lá onde, Selena voltou para terra, foi quando o Tratado de Sokovia começou, ela...- Tony notou sobre o que, ou melhor, quem estava falando, olhou para Angelis que o encarava com uma emoção no olhar por ouvir alguma notícia sobre sua filha.
Engolindo em seco, ele percebeu que tinha chegado o momento de falar sobre o Selena, sobre tudo o que tinha acontecido com ela. Angelis notou os dedos do Stark batucando na coxa, em sinal de nervosismo, ela conhecia suas manias quando estava nervoso, olhar para todos os lados, evitando a pessoa em sua frente, falar sobre várias coisas com medo de chegar no que realmente o importante, entretanto, agora tinha chegado a hora.
A Lefroy afastou a bandeja de lanches para o lado e se pós na frente dele, segurando seu queixo com delicadeza, olhando-o nos olhos.
-Cadê nossa filha Tony?.
O brilho da lua cheia entrava pela grande vidraça do terceiro andar, dando uma luz ao cômodo parcialmente escuro, que era iluminado pelo candelabro na mão do novo mago supremo, pelo caminho que ele seguia.
Depois de deixar Selena em seu novo quarto, dando-lhe espaço para absorver tudo o que aconteceu no curto período de tempo desde a morte de Loki até aquele dia.
Imaginava o quanto doloroso e difícil estava sendo para ela lidar com isso, não sabia o que tinha acontecido durante seu tempo no Hell, entretanto pelas reações que pode presenciar dela ao mencionar o local e a antiga rainha do Hell, sabia que suas lembranças de lá não eram das mais amigáveis e isso poderia se tornar um obstáculo no treinamento dela.
Tinha prometido ajuda-la, entretanto ainda não sabia como iria fazer isso, a magia que Selena carregava era algo de um grau imensamente sombrio e poderoso, que nunca um mago vivo teve conhecimento.
Iria precisar de ajuda nessa missão, nisso ele tinha certeza. E já tinha em mente quem poderia lhe ajudar nessa missão.
[...]
A vida é um mar de surpresas, onde 99% do que planejamos normalmente não da certo, Angelis sabia disso, afinal sua vida tinha sido um mar de surpresa desde que sua mãe morreu.
Ela morou nas ruas, salvou sem querer um bilionário que lhe ajudou, se tornou uma agente de uma organização secreta, onde perdeu anos de sua vida sendo o que os outros queriam que fosse, ficou grávida do maior idiota que já tinha conhecido, e por fim morreu, e agora, 19 anos depois, voltou.
Porém, as vezes as melhores coisas vem quando não planejamos, Selena não foi planejada, mas foi muito amada, porque ela simbolizava algo que Angelis almejava a anos, uma família.
A Lefroy ouvia atentamente o relato de Tony, de como ambos, Selena e ele, sofreram após a morte dela, das noitadas viradas regadas de bebida e mulheres, de quando Selena fugiu de casa e ele percebeu que era um péssimo exemplo para ela e resolveu coloca-la em um colégio interno, de como se odiou pelo que fez e tentou esquecer com mais noitadas, de ter reencontrado Selena anos depois, descobrindo que ela tinha quase morrido por ter um tumor e ter sido sequestrada pela Hydra, onde passou por experiência que lhe tornaram uma aprimorada, das brigas que ambos tiveram nos primeiros meses dela na Torre para vigiar Loki, do sequestro dela após a queda da Shield e a quase morte dela ao cair no oceano, do descontrole dela resultando na aparição da Safira Negra em Nova Orleans, de como depois disso eles se reaproximaram, criando Ultron com Bruce, o que não deu certo, porém o erro aproximou ainda mais os dois. Os planos deles após a separação dele e de Pepper, dela e de Loki para viajar e por fim, o desaparecimento de Selena quando o Tratado de Sokovia surgiu, que resultou em sua morte em um quinjet no espaço, com um inumano desconhecido pelo Stark.
-E...e a um mês - Tony pigarrejou para limpar a voz, que ficou embargada, relembrar doía, era uma ferida que jamais iria cicatrizar - encontrei ela em Titã com a rena - continuou, andando de um lado para o outro, incapaz de permanecer parado, ainda mais quando podia sentir o olhar da Lefroy sobre si, a cada passo que dava - ontem ela contou o que rolou de Asgard até Titã...foi ela que ressuscitou você - disse parando, finalmente, de andar.
Angelis respirou profundamente descruzando os braços, seu olhar era tão difícil de descifrar, Tony não conseguia descobrir se ela estava brava, magoada, irritada ou pior decepcionada com ele.
O Stark engoliu em seco, passando as mãos suadas, por causa da ansiedade, na calça, nervoso com o silêncio da Lefroy, ele olhou para os lados, parando os olhos na janela, que mostrava a imensidão do céu escuro, e pensar que a horas atrás estava perdido naquela imensidão, sem esperanças de estar naquele Prédio novamente.
-Senta - a voz da Lefroy trouxe Tony de volta a realidade, assustando-o, ele olhou para Angelis, que lhe olhava intensamente e apontava para a cadeira ao lado dela.
Ele até pensou em continuar ali encostado na outra ponta da mesa, que apesar de não ser grande, dava uma boa distância entre eles, entretanto era hora de aceita as consequências de seus atos. Respirando profundamente, Tony caminhou até a cadeira.
- Cadê nossa filha agora? - perguntou Angelis, assim que ele sentou ao seu lado, virando sua cadeira para ficarem frente à frente.
-O mago levou ela pra casa de magos - disse Tony de uma vez, fazendo uma careta ao percebe que o que falou não fez sentido, a testa franzida de Angelis em confusão, indicava isso, ele respirou fundo antes de reformular o que tinha dito - Wong é um mago, ele disse que o Sanctum, que é a casa ou escola de magos, sei lá, sentiu quando Selena trouxe você - Tony deu uma pausa, passando a ponta da lingua nos lábios secos, olhando para as mãos - ela estava com medo...medo de machucar alguém com os novos poderes, de matar um de nós, estava com medo de si mesma...eu..eu tentei achar uma forma dela ficar, mas Selena é determinada igual você - Angelis abriu um sorriso com lágrimas nos olhos - quando ela cisma com uma coisa, nada faz ela voltar atrás - ele levantou os olhos ao ver a morena secar a lágrima que descia pela bochecha - esta decepcionada comigo?.
-Decepcionada? - repetiu ela piscando os olhos, fazendo algumas lágrimas escorrerem pela bochecha, enquanto refletia sobre a pergunta do Stark - Não, irritada? Talvez, se eu quero quebrar sua cara?Sim, quero - afirmou, Tony pode ver ela fechar a mão em cima da coxa, e já engoliu em seco esperando o soco, que não veio, ao contrário. Angelis afrouxou a mão, passando de forma nervosa pelo tecido da calça - do que iria adiantar? Isso foi a 18 anos atrás, gritar, brigar com você, fica irritada, decepcionada, não vai fazer voltarmos no tempo para consertar as coisas - ela soltou o ar pela boca, passando as mãos no rosto até o cabelo, colocando atrás da orelha as mechas soltas, Tony sentiu um peso sair de seu coração, saber que de certo modo ela não estava decepcionada com ele, apesar de tudo, era um alívio enorme - o que me importa agora, é o presente, e saber que você tentou, mesmo tarde, criar vínculos com ela, é o suficiente para eu não quebrar seu nariz - Tony soltou uma risada e murmurou um "obrigado" em meio a uma fungada, pegando a mão da Lefroy, que entrelaçou os dedos nos dele.
-Eu fiquei com medo...medo de não ve-la de novo - confessou ele olhando para as mãos deles juntas - da última vez que ela saiu daqui, morreu e...uma parte de mim entrou em pânico quando viu ela sumir naquele portal, a outra parte dizia "ela vai voltar, ela sempre volta", porque tem sido assim durante os anos, ela sempre volta - ele soltou uma risada fraca, fungando, Angelis olhou atentamente para ele, vendo o quanto afetado ele estava com tudo o que aconteceu, e principalmente, o quanto ele se culpava.
Ela não podia deixar de se perguntar em como Selena estaria depois de ter ouvido toda a história de sua filha.
Sanctum Sanctorum
Os primeiros raios de sol começavam a ultrapassar os pequenos espaços entre as grossas cortinas que cobriam todas as janelas do prédio, apenas uma janela estava com as cortinas totalmente abertas.
Encolhida na poltrona que tinha arrastado para frente da janela, Selena observava o dia nascer na cidade que não dorme, ainda estava com a mesma roupa que tinha chegado no dia anterior, Wong havia deixado que descansasse o resto do dia, porém tudo que a Stark conseguiu fazer foi sentar e refletir sobre tudo que aconteceu em um mês ou melhor, tudo que aconteceu em 150 anos e um mês.
Afinal, durante esse período não teve descanso e desacostumou a fazer isso, além do fato de sempre rever suas torturas quando fechava os olhos, a risada de Hela ecoava em sua mente, fazendo com que automaticamente o gosto metálico do sangue subisse em sua garganta, assim como a ânsia de vomito, e a incontrolável vontade de morrer.
-Bom dia Selena - a voz de Wong ecoou pelo quarto, fazendo a Stark da um pulo no lugar, estava entrando em uma área tão perigosa de seus pensamentos que uma leve névoa começava a sair de suas mãos, e mesmo sabendo que ali não perderia o controle, um medo percorreu sua espinha.
-Bom dia Wong - disse olhando para o mago parado na entrada, esfregando as mãos nos braços para afastar a névoa e dando um sorriso sem graça, sabia que ele tinha visto a névoa, esperava alguma repreensão da parte dele, afinal, estava acostumada com os castigos de Hela, porém o mago apenas lhe deu um sorriso gentil, ignorando o fato.
-Vim avisa-la que o café da manhã será servido daqui a pouco - informou antes de sair do quarto. Selena olhou para porta, que agora mostrava o corredor, dando um suspiro, ela esticou as pernas para fora da poltrona, olhou uma última vez para a vista da cidade, e se levantou, indo em direção a mala, que ainda estava encostada ao lado da cama, do mesmo jeito que foi deixada no dia anterior.
Apoiando a mala na cama, ela abriu o zíper da mesma, vendo as roupas que tinha colocado ali, e novamente foi tomada pela sensação de que aquelas coisas não eram suas, mas sim de uma Selena que não existia mais e que provavelmente não voltaria a existir.
Seus olhos encontraram o verde da capa de Loki, na qual ela pegou antes de sair do Complexo. Inconscientemente, ela levou os dedos até o tecido, sentindo a maciez do mesmo em sua mão, abaixo da capa estava o uniforme que usou por anos como Executora, aquilo era uma parte de si, na qual não conseguiu deixar para trás.
Sabia que nunca mais usaria aquele uniforme, porque assim como aquelas roupas, pertenciam a uma Selena que não existia mais, uma Selena que morreu..
Agora tinha que descobrir que Selena ela seria dali em diante. Com esse pensamento, ela escondeu a capa e o uniforme debaixo das roupas, fechando a mala e se afastando, como se a mesma tivesse lhe causasse uma dor horrível.
Ela começou a andar de um lado para o outro, decidindo se abria novamente a mala, tendo em mente que poderia desencadear uma série de pensamentos nos quais os rumos poderiam se tornar perigosos ou descia com a mesma que estava. Um trick atrás dela, fez com que a Stark saísse de seu dilema e olhasse pela primeira vez o armário de madeira escura ao lado da cama.
As duas portas do armário abriram lentamente, revelando um pouco do interior dele, Selena franziu a testa confusa, caminhando até o móvel receosa, segurou a porta, abrindo-a totalmente, vendo as roupas que ali estavam.
Lembrou-se então do que Wong tinha dito sobre os quartos do Sanctum.
"...-Não se preocupe com decorações, os quartos do Sanctum se adaptam ao seu novo morador."
Os dedos calejados foram até os tecidos escuros no interior do móvel, sentindo a macies de cada um conforme ia tocando-os. Não pareciam roupas usadas, ao contrário, todas tinham o cheiro de novas, como se tivesse acabado de sair da loja. Selena olhou para mala de relance, e depois para as roupas em sua frente, decidindo por fim usar uma das roupas no armário. Afinal, seja lá de quem fosse as roupas, era melhor do que aquelas que carregavam lembranças de uma vida que não vai voltar.
Ela pegou uma calça jogger e uma blusa simples justa preta, e seguiu para o banheiro, parando na frente do espelho assim que entrou.
A pele mais pálida do que o normal, os cabelos castanhos sem brilho presos em um coque mal feito, as cicatrizes do corpo haviam sumido, como Morte tinha falado, entretanto, ao tirar as roupas e se olhar por completo no espelho, ela pode ver cada uma delas, afinal, como Morte tinha falado, ela iria conseguir ve-las, e apenas se quisesse as pessoas iriam ver também.
Entretanto deixar que outras pessoas vissem os horríveis cortes que estavam em cada parte, marcando não só sua pele, mas também sua alma, estava fora de questão. Já bastava o olhar que lançavam para ela, imagina se soubessem de tudo o que aconteceu.
Não queria pena, não queria palavras de conforto pelo o que passou, aquelas cicatrizes ficariam do jeito que estão, ocultas aos olhos dos outros.
Os corredores do Sanctum pareciam labirintos nos quais Selena tinha certeza que estava perdida, depois de passar pelo mesmo quadro do general chinês pela segunda vez, ela resolveu desistir de se achar naquele lugar.
Bufando, girou os calcanhares olhando ao redor, sem saber por qual corredor entrar, lembrou-se que Wong estava lhe esperando para o café da manhã, o pobre coitado iria esperar bastante tempo.
-Esquerda - sussurou uma voz ao seu lado, assustando-a, Selena olhou ao redor, vendo que estava sozinha no local, o sussurro ecoou pelo corredor.
-Quem tá aí? - questionou levando a mão para a adaga em sua cintura, entretanto não obteve resposta, engolindo em seco, ela então percebeu, no caso, sentiu, que se tratava de uma alma - Esquerda então.
Respirando profundamente, Selena caminhou na direção indicada pela alma, se deparando com um novo corredor no qual não lembrava de ter passado com Wong. Ainda com a mão na adaga, pronta para atacar se necessário fosse, ela começou a caminhar pelo corredor cautelosamente.
Não tinha nada além da porta de madeira no final, a mesma se encontrava entreaberta, conforme ia se aproximando, Selena pode notar que de lá saia uma melodia, franzindo a testa, Selena parou para ouvir a triste e melancólica música que vinha de lá, tomando conta de todo o corredor.
"Ó morte
Ó morte
Ó morte
Porque não me poupas só mais um ano? - Selena sentiu o ar ao seu redor torna-se frio, denso e carregado, lembrando-a de como era no Hell, parecia que toda luz tinha ido embora - Mas o que é isto que não consigo ver
Que está me envolvendo com mãos frias?
Quando Deus desaparecer e o Diabo tomar o poder."
Desespero, era o que começava a tomar conta de Selena, o corredor iluminado e bem arrumado do Sanctum começou a desaparecer em sua frente, dando lugar ao maldito lugar que assombrava seus pesadelos, o corredor das masmorra do Hell, tão estenso que parecia não ter fim, tão escuro quanto a noite sem estrelas, podia até ouvir os gritos das almas que ali estavam aprisionadas.
"Quem terá piedade da tua alma?
Ó morte"
Ó morte
Ó morte
Ó morte
Nem riqueza, nem ruína, nem prata, nem ouro
Nada me satisfaz a não ser a tua alma
Ó morte"
Selena sentiu uma respiração em seu pescoço, o toque suave de uma mão em seu ombro, subindo lentamente parao pescoço, fazendo seu corpo travar, lembranças de situações como aquela começou a vim em sua mente, naquele corredor, com Hela ao seu lado, prestes a lhe castigar, a risada da deusa ecoando por todo lugar, inclusive dentro de si, enquanto a vontade se fugir, de morrer crescia cada vez mais.
"Eu sou a morte, ninguém pode escapar
Abrirei a porta para o Céu ou o Inferno
Ó morte
Ó morte
O meu nome é morte e o fim está aqui"
-Quem é você? - questionou a voz vinda de dentro da sala, e então da mesma forma que o corredor se tornou o do Hell, ele voltou a ser o do Sanctum, Selena então percebeu que aquilo não tinha passado de uma alucinação. Ela engoliu em seco olhando para o dono da voz em sua frente, um par se olhos azuis lhe encarava esperando a resposta.
-O que...o que foi isso? - questionou olhando para os lados ainda em choque, o homem cruzou os braços e inclinou a cabeça para o lado.
-Seus medos Selena - disse ele abrindo a porta e adentrando a sala novamente, Selena franziu a testa e o seguiu.
-Se sabe quem sou, por que perguntou? - questionou encontrando o mesmo sentado no banco do piano, o mesmo trocava a partitura o por uma nova.
-Porque eu sei quem você é Selenha Stark, agora falta você aceitar quem é - disse ele ainda concentrado na partitura, Selena ouviu a porta atrás dela fechar e automaticamente levou sua mão para a adaga - A propósito, me chamo Dick e irei ajuda-la nisso - Dick completou olhando para ela por cima do outro sorrindo, antes de seus dedos tocarem as teclas do piano.
E logo Selena sentiu novamente o ar frio e denso se formar ao seu redor, fazendo a sala bem decora e iluminada dar lugar ao corredor das masmorras do Hell.
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Olá meus amores, feliz halloween 🎃, e como comemoração dessa data, trouxe para vocês um capitulo recheado de emoções, o próximo vai ser uma loucura que vcs vão amar.
Hell está chegando em sua reta final, falta dois capítulos, e prometo emoções em cada um deles.
Estava com muita sdds de vocês, estou muito feliz em estar de volta, espero que vcs gostem, logo tratei o próximo capítulo.
Bjsss
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