
VII
Quando Alice terminou de abotoar seu vestido, Helene sentiu vontade de rasgá-lo completamente, com todo o ódio que estava sentindo no momento, seria algo fácil de ser realizado. Anne colocou um colar cravejado de diamantes em seu pescoço, enquanto Alice tinha iniciado seu penteado. Sentia-se péssima, com vontade vomitar, gritar com todo mundo e sumir da Áustria.
Diante do espelho estava se tornando uma verdadeira arquiduquesa, mas por dentro estava uma lama. Quando Alice finalizou o penteado e Anne colocou aquela tiara em sua cabeça, respirou fundo. Tudo que havia sonhando para sua vida estava esvaindo como nunca pensou que aconteceria.
— Está linda, minha querida. — disse Alice com um enorme sorriso no rosto.
— Ela está péssima, Alice. — Anne encostou-se na penteadeira. — Trabalha a mais tempo com Helene, deveria saber quando ela não está bem.
— Hoje será o noivado dela, com o herdeiro da Áustria, por que não estaria feliz?
— Sabe muito bem o quão Helene não suporta aquele homem!
— Basta. — Helene pousou suas mãos no colo. — Ela não é idiota, Anne. Mas está se fazendo. — pegou as luvas brancas em cima da penteadeira. — Quanto tempo me sobra?
— Quase nada. — respondeu Anne.
— Alice procure por minha mãe, fale para ela vir aqui.
— Como quiser, Helene.
Alice aparentava tristeza quando saiu do quarto, possivelmente estava magoada com as palavras de Helene. Colocou as luvas e levantou-se da cadeira, puxou as mãos de Anne e deu um leve aperto.
— Obrigada por me ajudar.
— Não precisa agradecer, gosto muito de você. Quero vê-la feliz.
— Não vou ser feliz, Anne. — colocou a mão sobre a boca. — Esse é o pior destino que eu poderia ter ganhado.
— Tudo pode acontecer. — a dama tentou soar positiva.
— Impossível, teria que acontecer um milagre.
— Ainda não consigo acreditar que se casará na outra semana.
— Se você não acredita, imagine como estou diante dessa situação. Gostaria de ver Karl.
— Podemos ir até o quarto dele.
— Acredito que ele não esteja por lá.
— Talvez...
Sua mãe entrou no quarto trajando um belo vestido azul com detalhes em dourado. O cabelo perfeitamente penteado, com uma pequena tiara brilhando em sua cabeça. Ela estava tão calma, como se tudo estivesse ocorrendo de acordo com seus planos. Quando elas tiveram aquela conversa na carruagem, passou a ter uma profunda mágoa da mãe. A baronesa havia deixado claro que sua felicidade era algo irrelevante comparado ao título que receberia.
— Perfeita!
Helene apenas andou até ela e fez uma pequena vênia.
— Como está se sentindo?
— Péssima. — forçou um sorriso.
— Já lhe disse para parar com isso.
— Obrigue-me.
Helene saiu do quarto e começou a andar pelo corredor até as escadarias que daria para o salão principal, onde seria oficializado o seu noivado com Albert para todos os convidados da corte. Estariam todos presentes para presenciar sua infelicidade.
— Helene. — ouviu a voz de Karl. — Como está linda.
— Obrigada. — conseguiu dar seu primeiro sorriso verdadeiro depois de dias. — Também está lindo.
— Como está se sentindo?
— Acho que sabe a minha resposta, mas se quer ouvir dos meus lábios, sinto-me péssima.
— Sinto muito por isso. — ele abaixou sua cabeça.
— Não sinta, a culpa não é sua. É da sua família e da minha. — tocou em seu braço.
Quando Karl levantou a cabeça, notou que os olhos dele possuíam olheiras, a aparência estava bastante cansada, como se não tivesse dormido muito bem naqueles dias. Ela também não havia dormido muito bem durante aquela semana, tinha pesadelos constantes.
— Helene! — era sua mãe vindo do seu quarto praticamente gritando. — Quantas vezes...
— Baronesa Wittgenstein. — Karl beijou a mão da sua mãe.
— Vossa Slteza. — fez uma reverência.
— Acompanharei as duas até lá embaixo. — ofereceu os dois braços.
As duas deram os braços para ele e desceram as escadarias em silêncio. Algumas vezes olhava para Karl, querendo conversar sobre qualquer coisa, rir um pouco para descontrair, mas com sua mãe perto não tinha vontade de falar absolutamente nada.
Quando chegaram perto das portas que davam para o salão, seu pai estava com o imperador, a imperatriz e Albert. Conversavam alegremente, como se estivessem participando do evento mais feliz do mundo. Queria dizer uns bons desaforos para cada um por estarem rindo da sua infelicidade, porém não poderia agir dessa maneira muito inconsequente.
Albert abriu um sorriso enorme quando a viu, saiu completamente apressado para chegar até ela. Beijou sua mão com o maior cinismo possível, Helene queria vomitar em cima dele. Notou que a região nariz dele estava roxeada, ficou curiosa para saber o que tinha acontecido, e achou bem feito aquele hematoma no rosto.
— Está perfeita, Helene. — Albert sorriu.
— O que aconteceu no seu nariz? — ignorou o elogio dele completamente.
Albert olhou em direção a Karl, que conversava com o barão de maneira tranquila.
— Entendi, briga de irmãos.
— Vamos entrar no salão agora. — a imperatriz Seraphine anunciou.
Helene pediu forças a Deus para prosseguir todo aquele teatro bem, porque não sabia se aguentaria por muito tempo fingir seus sentimentos. Respirou fundo, passou a mão pelo vestido, olhou para Karl, e fechou olhos, evitando as lágrimas que queriam descer. Porque tinha aquele que gostava tão perto, mas não podia tê-lo, tinha que guardar sua paixão dentro de sim.
— Vamos? — perguntou Albert, estendendo seu braço.
Helene colocou seu braço sobre o dele e entraram no salão.
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Todos os olhares estavam sobre ela, como se não estivesse outra pessoa no salão. Seus movimentados eram observados e comentados, sentia isso a cada minuto que colocava a comida em sua boca. Helene queria dançar, deixar seus sapatos gastos, mas não iria dançar com Albert. Aquelas mãos não tocariam em seu corpo, somente quando fosse realmente necessário.
O imperador Fernand levantou-se da sua cadeira, e todos ficaram em silêncio de repente. Olhou para Albert e Helene, mas seu olhar também caminhou até Karl, que estava com a cabeça baixa, sem olhar para ninguém, somente para seu prato completamente intocado.
— Hoje, estamos aqui para celebrar o noivado do meu primogênito, Albert, com Helene Wittgenstein. Tenho absoluta certeza que será um matrimônio harmonioso, que trará muita alegria a Áustria. Um brinde ao novo casal imperial! — ergueu a taça com champanhe. — Viva Albert e Helene!
Todos gritaram essa frase em alto bom som completamente felizes em celebrar aquele noivado. Helene engoliu em seco e não provou do champanhe que estava em sua taça, não brindaria aquele noivado indesejado por ela. Olhou mais uma vez para Karl, ele não estava mais lá. Sua taça estava intocada também, não era a única no salão a ser conveniente com aquilo.
— Levante-se, Helene. — Albert sussurrou em seu ouvido.
— Não, estou satisfeita assim.
— Helene...
— Estou satisfeita aqui.
Albert levantou-se e ficou ao lado do seu pai, enquanto Helene continuou sentada sem se importar com o que falariam no dia seguinte.
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