Capítulo 13: Verdade ou desafio
Já estava bem tarde e todas as famílias concentradas na escola de Newark estavam indo para suas casas. Joshua e seus irmãos pegaram um táxi por aplicativo. Melanie foi devolvida para sua mãe sozinha, Helena sabia que se ficasse esperando ali, a mãe da garota a obrigaria a aceitar uma carona. Sobraram mais uma vez naquele ambiente, apenas Greg e Helena, cercado por alguns jogadores que esperavam que seus pais viessem buscá-los.
Helena não sabia o que o garoto havia planejado para aquele dia, já que parecia que o convite tinha sido feito às pressas e sem muito planejamento. Greg realmente não tinha pensado para onde iriam, mas teve uma súbita ideia.
- Vamos para um karaokê!? - Disse ele.
- O que? Eu adoraria, mas não trouxe meu documento falso pra cá.
- Não se preocupe, eu tenho contatos - Falou Greg piscando.
- Uh, o Senhor Misterioso tem contatos. - Debochou Helena.
Ela não tentou mais irritar o garoto, apenas deixou ser levada por ele. Greg era um adolescente que parecia ter muito mais dinheiro do que aparentava. Helena, as vezes, pensava em questioná-lo sobre isso, mas sempre perdia a coragem, imaginando que o dinheiro viesse de algo que ele não gostaria de falar.
Greg pegou um carro que os levaria de encontro para um karaokê. Chegando lá, ele foi na frente e falou com um homem mais velho de cabelos castanhos. Não comentou com Helena sobre o que os dois conversaram naqueles poucos minutos, pelo que pareceu ele realmente tinha contatos. Os dois entraram no ambiente proibido para menores de idade sem necessidade de um documento de comprovação de idade.
- Eu quero Queen! - Berrou uma moça bêbada que aparentava ter uns trinta anos de idade.
Ela estava berrando para o homem, provavelmente seu amigo, que estava em cima do palco, prestes a cantar "Let it be". Antes de começar uma cantoria desafinada, o homem esboçou "Hoje não, Samantha!".
Várias pessoas desconhecidas e visivelmente mais velhas subiram e desceram do palco ao passar das horas. Cantando músicas antigas e novas que foram mainstream desde a década de 80 até os anos 2000.
Helena tinha dispensado se expor no palco. Ela não fazia o tipo que gostava de se expor em um palco circular sendo a maior atração para um público bêbado. Mas, Greg não dispensou. Decidiu cantar "505" do Artic Monkeys.
Ele cantou com fulgor e paixão, parecia que estava sofrendo verdadeiramente com cada estrofe Indie naquela música. Helena concordou consigo mesma que ele cantava bem, não era o que ela estava esperando. Greg estava um pouco bêbado, mas parecia lidar bem com a fama. Aplausos e gritos de gente desconhecida não faltou.
- Você canta bem. - Disse Helena, quando o garoto tinha retornado a mesa.
- A paixão faz isso. Ela nos torna artistas. - Disse ele se embaralhando com as palavras. Já tinha consumido álcool além da conta.
- Quanta bobagem. - Riu Helena.
- Não é. - Ele falou sério, mas logo depois começou a rir.
- Vamos sair daqui. Tem gente demais. - Falou Helena. Eles deviam ter passado alguns horas naquele local. Tinham consumido petiscos pagos por Greg, mas a bebida os dois trouxeram de fora.
Os dois sairam. Era estranho o jeito que Greg não falava nada sobre sua família. Nunca parecia avisar quando iria sumir ou não voltar para casa. Mesmo Helena, a maior escapadora de casas da cidade de Newark, sempre inventava alguma desculpas para sua mãe... As vezes não, mas em sua maioria.
Após subir no carro, Helena instruiu ao motorista que os deixassem em uma rua sem nada aparentemente. Era a rua da "Caverna". A garota tinha ido lá algumas vezes durante o mês que se passara, mas já fazia algum tempo que tinha dormido ali.
O caminho até lá tinha sido em silêncio. Helena pediu para o motorista que os deixassem em frente a casa de número "88", ela apenas queria que o motorista tivesse menos motivos para suspeitar que estava sendo conivente com atividades ilegais com menores de idade. Quando o carro branco com pequenos arranhões na lateral deixou a rua, Helena refez o caminho até o seu esconderijo.
Chegaram em poucos minutos. Ela repetiu os movimentos para verificar se alguém podia estar escondido na rua àquela hora, mas não encontrou ninguém suspeito que pudesse invadir o lugar. Os dois jovens entraram no prédio demolido, saltando sobre as peças de construção destruídas no chão, até chegarem a uma área mais limpa, onde Helena costumava ficar.
- Aqui. Acho que você só entrou uma vez na Caverna, nem devia se lembrar mais como era. - Disse Helena.
Greg concordou. A menina despejou sua mochila, a qual sempre levava quando saia de casa, no chão. Abriu e pegou uma cartela de cigarros, ofereceu um a Greg que pegou sem pestanejar. Ela acendeu com um isqueiro vermelho sem nenhuma decoração.
Os dois continuaram fumando sem falar um com o outro, até que Greg sugeriu que brincassem de "Verdade ou Desafio". Aquilo por si só já era um desafio para Helena, não tinha brincado com ninguém além de sua melhor amiga, e sabia que Melanie não era a pessoa mais criativa para inventar desafios complicados.
- Mesmo? Não tem outra coisa pra fazer? - Perguntou a jovem.
- Mesmo, não tem. Mas não estou obrigando você. - Falou Greg.
- Tudo bem. - No fim, ele acabava conseguindo tudo o que queria de Helena. Mas os seus pedidos não eram tão complicados de serem aceitos de qualquer forma.
Helena pegou seu isqueiro e colocou sobre um bloco liso. A ponta que acendia seria o "Jogador" e a ponta oposta seria quem faria as perguntas ou estipularia os desafios. A menina girou o objeto, que depois de algumas voltas, apontou que ela mesma seria a jogadora da vez.
- Verdade ou Desafio? - Perguntou Greg à moça.
- Verdade. - Helena não queria começar de uma forma tão brusca, mas sabia que dependendo da verdade, seria complicado de contar.
- Okay, Vamos lá... - Greg pensou por um tempo, tinha várias perguntas mas não queria gastar sua vez de forma boba. - ... É verdade que você tem sentimentos pelo Joshua?
- O que!? Não. - Helena ficou aliviada pela pergunta ter sido boba para si. Não foi nada difícil de responder aquele tipo de coisa.
- Acho que ele tem.
- Sério? Eu... Sei lá, não pensei muito sobre isso. - Helena falava a verdade, não tinha percebido as investidas do garoto com ela. Sabia que ele tinha passado algumas cantadas, mas imaginou que tivesse o intuito de brincar com ela. De qualquer forma, não estava interessada, não pensaria sobre aquilo.
- Vou rodar novamente. - Disse Greg.
O isqueiro girou por dois segundos e parou em Greg como jogador.
- Verdade ou desafio? - Perguntou Helena.
- Desafio. - Falou ele em tom de coragem.
- Eu desafio você a queimar a ponta dos seus dedos por 20 segundos. - Falou a sanguinária Helena.
- É pra já. - Disse Greg fingindo que não se importava.
Ele ficou por alguns segundos com o fogo sob seu dedo do meio da mão esquerda. No início não foi nada demais, mas alguns segundos depois a dor se tornou latejante e ele precisou morder seus lábios para não soltar um pequeno grito. Ela ria, porém se mantia um pouco preocupada, mas no fim, tudo deu certo.
- Me dê, vou rodar. - Falou a menina.
Greg entregou o objeto para ela, que o girou. Dessa vez, ele caiu novamente em Helena.
- Verdade ou desafio? - Perguntou Greg.
- Ah... Desafio.
- Uh... Pensarei a respeito. - Falou Greg olhando para o lado oposto, enquanto fingia pensar.
- Vamos logo. - Falou a menina.
- Eu desafio você a me beijar. Nada menos que 30 segundos.
Helens corou e soltou um "O que?", mas rapidamente se conteve.
- 30 segundos.... Pra que? - perguntou ela.
- Por que sim, Derbyzinho. Os mesmos segundos que o meu.
- Ah, que idiotice. - Ela reclamou ainda vermelha.
Greg pensou em comentar sobre suas bochechas, mas pensou que seria malvado demais de sua parte.
- Tudo bem, então.
- Quando quiser. - Disse Greg arqueando a sobrancelha esquerda.
Helena se aproximou do menino. Ele segurou sua cintura. Ela estava com vergonha demais pra esboçar algo, mas sem querer acabou olhando segundos demais para seus olhos, o que deixou as coisas ainda mais vergonhosas. Helena se orgulhava de intimidar as pessoas que não a conheciam direito, por causa do seu modo de se vestir, e odiava se sentir tão entregue. Não tinha pra onde fugir ou se esconder e quanto mais demorasse pra realizar o ato, seria pior.
Ela o beijou. Suas bocas não se encaixaram no primeiro momento, mas com o passar dos segundos o beijo se formou. Helena estava gelada e Greg estava quente como se estivesse em um estado febril. Os movimentos de suas línguas eram uniformes e Greg precisou segurar a mão de menina para tentar dar mais segurança à ela, que estava beijando de uma forma mais apressada que o usual. Ela entendeu depois de algum tempo e começou a fazer movimentos mais devagar. Os trinta segundos passaram como uma eternidade.
- Gostou? - Perguntou Greg, ele não esperava uma resposta de verdade, só estava provocando a timidez de Helena.
- Cala a boca. - Ela falou sorrindo e olhando para o chão. Nem tinha a intenção de sorrir, mas foi como um reflexo de toda a situação.
Ela estava um pouco trêmula, mas a sensação passou de forma rápida. Greg conseguia esconder bem o que sentia, mas não tinha levado tudo de forma uma forma tão boa assim.
- Me dê o isqueiro.
E mais uma vez o objeto foi lançado na direção de Helena. Ela não conseguiu ter tempo suficiente nem mesmo para se recuperar do desafio anterior.
- Droga.
- Verdade ou desafio? - Greg Perguntou.
-... Verdade.
- O que você esconde no seu armário?
- Desafio.
- Qual é, não pode trocar assim.
- Acabei de inventar a nova regra.
- Okay... Vamos lá. - Falou Greg contrariado.
- Ótimo. - Riu Helena tentando disfarçar o medo que sentiu quando a última pergunta foi feita.
- Eu não queria chegar nesse nível, mas mudando as regras do jogo desse jeito... Não tive outra opção. Eu desafio você a dormir comigo. - Falou ele sorrindo.
- Como assim? - Perguntou Helena um pouco assustada.
- Calma, não é nada sexual.
- Eu... Tudo bem. Aliás, chega desse jogo. Eu prefiro beber, vou precisar beber bastante agora.
- Tudo bem, Derby.
Helena pegou a garrafa escondida na mochila. O jogo tinha terminado quando ela decidiu que terminaria. Greg Foster tinha ganhado uma companheira para dormir e também uma nova convicção, chegaria todos os dias mais cedo que Helena e faria sua própria espionagem sobre o tão secreto armário.
Algum tempo depois, o sono chegou para os dois, que não poderiam demorar tanto tempo acordados, já que o dia escolar seria comum na manhã seguinte. Helena deitou sob uma manta vermelha que ficava na Caverna e se cobriu com um edredom. Greg a abraçou por trás e os dois ficaram mais próximos durante algumas horas do que jamais haviam ficado.
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