Capítulo 1 : O presente
Estava frio aquela noite, mas isso não era uma surpresa. O inverno tinha chegado na região. Por sorte de todos os morados da cidade de Newark , as intervenções humanas no meio ambiente tinham feito cada vez mais o clima frio se tornar suportável. O que não era tão bom pra todo tipo de pessoas, mas aqueles habitantes estavam satisfeitos com as mudanças climatológicas que quase não os afetava de verdade.
Na cidade só existia uma garota que se sentia tão gélida quanto a antiga aparência da cidade no inverno. Seu rosto não mentia e sua pele pálida concordava com tudo. Um único pequeno rubor nas duas maçãs de rosto era o que poderia quebrar com a aparência gelada de todo aquele minúsculo corpo feminino. Suas bochechas eram rosadas e não pareciam combinar com os fios pretos do cabelo e muito menos com o par de olhos azuis. Nada mesmo parecia harmônico em Helena, ainda mais a sua aparência exterior calma que era completamente contrastante com a sua verdade interior, instável e intensa.
- O primeiro dia do inverno, oficialmente. - Babulciava uma criança animada, aparentemente, de nove anos de idade.
- Ai, cala a boca, Phillip! - Helena resmungava enquanto atirava uma almofada na direção da criança que entrava pela porta do quarto escuro. - Tem alguém tentando dormir aqui.
O garoto desviou do golpe e saiu correndo através do corredor. Parecia que não iriam mais incomodar, mas é claro que isso não era verdade. Nem mesmo dez minutos se passaram até a mãe de Helena ir até o quarto da filha chama-lá.
- Vamos, saia dessa cama imediatamente. Você não vai tomar café hoje, já são mais de meio dia. O almoço já está na mesa e se esfriar eu não vou esquentar. - Brigou a mãe fingindo que sairia do quarto após dar a bronca.
A sonolenta Helena não disse nada, apenas continuou coberta pela metade do seu edredom e ficou a sonhar com Richard Way, seu par romântico de toda uma vida. O homem com quem ela gostaria de se casar, mas é óbvio que isso nunca aconteceria. Ele era um cantor famoso de uma banda que começara na sua cidade anos atrás, entretanto saíram do estado por conta da fama. Apenas resquícios da idolatria de Helena sobraram, junto com pôsteres e um casaco do dia que ela foi à um show ao vivo deles.
Mas ele não era o único que ocupava o coração da moça. Dividia um pequeno espaço, em um coração machucado e murcho, com Dylan. Um garoto de 24 anos que vivia uma vida delinquente passeando nos subúrbios da cidade. Mesmo Helena completando 20 anos dali a uma semana, sua mãe jamais aprovaria esse relacionamento e, até conseguir sair de casa, ela teria que viver as regras de sua mãe preocupada e conservadora.
Cinco minutos depois de seus devaneios sua mãe voltou ao quarto.
- Você não achou que eu deixaria por isso mesmo, né? - Disse a senhora puxando a jovem pelo pé.
Helena deu um berro atordoado e foi obrigada a levantar da cama. Enquanto ela ia se levantando, ameaçou jogar uma almofada novamente em seu irmão, porém desistiu da ideia ao encarar os olhos ameaçadores de sua mãe.
Todos os três foram descendo até a sala de jantar. O quarto de Helena ficava no segundo andar e no fim do corredor. Era escuro, pois as paredes eram pintadas de roxo. Ela mesma tinha escolhido a cor após implorar dias e dias para que sua mãe não interviesse mandando aos pintores para colorir o quarto de azul, com a justificativa de que "traria paz e espiritualidade ao ambiente" . Sua mãe não ficou muito contente com a ideia, porém decidiu desistir da intervenção, visto que seria uma luta árdua, a mesma que ela teve de lugar para fazer Helena vestir um vestido para o velório de seu padrasto. Por outro lado, a menina pareceu se tornar a pessoa mais feliz do mundo por uma semana, até enjoar da cor e querer mudar novamente. O que não aconteceu, então apenas cobria a maioria da parede com pôsteres novos e antigos de bandas de rock ou emo, até mesmo alguns filmes indies e gores faziam parte da coleção de "tapa-parede" do quarto.
Chegando embaixo, o visual da casa era outro. Sua mãe sempre gostou de cores claras e como a cozinha foi feita sobre seu gosto, a sala de jantar também teria de ser. Ambas eram pintas em tons claros de verde e com a maioria dos objetos que compunham a cena com a coloração bege ou em tons pastéis.
- Hoje eu grelhei o frango e pûs um pouco de salada. - Disse a matriarca. - É bom comer tudo, ouviu "Lip"? -
O menino se sentia contrariado, mas não podia fazer nada contra a suprema autoridade da casa.
- Sabe, Helena ... - Começou a mãe.
- Ih, eu não gosto desse papo. - Ela nem sabia o que a mãe iria dizer, mas sempre que começava nesse tom baixo era alguma coisa ruim ou que a mesma não gostaria de ouvir.
- Calma, você nem me deixou terminar. Eu só queria dizer que eu quero que você arrume um emprego. - Disse a mãe.
- Sem chances, eu ando muito ocupada com as minhas músicas. Sabe, isso não vai me dar dinheiro imediatamente, mas quem sabe no futuro eu consiga. - Disse a moça. - Só que preciso de total dedicação agora.
- Bom, minha filha, você me conhece o suficiente para saber que eu não estava pedindo. - Reafirmou a mãe com uma careta sombria.
A menina engoliu seco. Sabia que sua mãe era do tipo "nervosinha", com quem ela não conseguiria argumentar.
- Mas mãe... Eu não consigo mais lidar com isso. Toda vez que eu arrumo um emprego eles me despejam alguns meses depois, isso não é nem um pouco animador -
- Ninguém precisa estar animado para trabalhar, acha mesmo que eu gostei de ser explorada todos esses anos? Bem, mas sou obrigada para sustentar essa casa e você também. Eu dei uma chance para que você fosse admitida em alguma universidade, deixei até mesmo escolher a de música, mas você terá que tentar novamente e eu não vou permitir que perca seu tempo, completamente, no ócio. Vai estudar esse ano e também arrumar um emprego.
- Que saco! - Disse a garota terminando de comer três colheradas em uma, apenas para poder sair mais cedo da mesa.
- E lave sua louça. - Berrou a mãe para que a filha, que não estava mais no mesmo cômodo, ouvisse.
Naquele ponto do ano, Helena não tinha mais tanto tempo para estudar para as provas preliminares, porém ela tinha consciência de que conseguiria passar de qualquer forma. Durante todos os anos em que ela apenas migrou de pequenos em pequenos serviços remunerados, continuou estudando. Mas a ansiedade de se imaginar voltando a um ambiente estudantil era muito grande. Ela esperava que sua mãe esquecesse, simplesmente, de que universidades existiam e pudesse permitir que a jovem fosse uma inquilina na casa até conseguir um emprego, não tão bem remunerado, mas o qual a permitisse alugar um pequeno apartamento rebaixado e comprar uma nova guitarra e acima de tudo, poder viver livremente de verdade.
Enquanto isso, lavou, com o maior desgosto do mundo, as louças da pia, deixando algumas sobras de gorduras no canto que provavelmente a mãe iria limpar depois.
- Depois eu vou no seu quarto. Eu tenho uns contatos e consegui umas entrevistas de emprego pra você. Apenas três, mas você é uma menina inteligente, tenho certeza que vai conseguir. - Completou a mãe.
Helena voltou ao seu quarto, escovou os dentes, pegou um pouco de dinheiro que estava guardado sob o colchão e saiu de casa. A mãe tinha deixado de perguntar para onde ela ia desde os 15 anos, sabia que ela nunca responderia a nenhuma expectativa que criou quando a estava esperando na barriga. Era um fato constatado que ela não sentia mais dor, apenas o início foi difícil. Mas Greta sabia que sua filha jamais seria nada do que ela imaginou, não ficava feliz com isso, ficava muito preocupada. Extremamente preocupada, mas sabia que era tarde demais para alguma mudança.
Do outro lado da rua, já se encontrava Helena. Tinha levado seu lápis de olho preto em uma bolsa que encontrou antes de sair. Ela deixou para passar enquanto andava até o esconderijo de seus amigos. Já tinha pegado a habilidade de conseguir se maquiar enquanto andava. Passou o lápis de olho e se sentiu um pouco menos desprezível.
- E aí, gatinha. - Disse alguém enquanto dava um tapinha nas costas de Helena.
Ela virou um pouco assustada, mas não o suficiente para gritar antes de perceber que era apenas Dylan
- Ah, Oi. - Ela disse meio tímida.
/////A narrativa não foi nem um pouco justa com você leitor. Então, pausarei a linearidade da história para explicar alguns fatos./////
Helena é a filha mais velha da casa. Tem um irmão mais novo que você já conheceu. Uma mãe brava que ama seus filhos, um pai falecido, mas ainda sim amado e um padrasto falecido, não tão amado assim. Sua família inteira, atualmente, está isenta de problemas, é saudável e comum como muitas outras. O problema inteiro em tudo no mundo de Helena se encontra em quatro elementos, três pessoas: Helena, Dylan e Greg Foster. E um passado.
"Quem caralhos é Greg Foster?" Você deve está se perguntando. Bom, você irá conhecer.
Aos quinze anos foi quando seus problemas começaram, ou foram solucionados.
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