6 - Reinados rivais e aliados
2711 Words
Eu até podia bater uma foto da minha casa, mas... tem gente que reclama então bora descrever ela.
Pra começo de conversa a mansão não era branca, meu pai era uma pessoa excêntrica de mais pra isso.
A fachada era toda azul, variava entre tons escuros e claros e seu interior era nos tons de verde, fora lógico o meu quarto que era rosa e branco com toques de dourado.
E não adiantava o que minha mãe tentasse, ele não mudava nada na casa por ela ou ninguém.
Ele é este tipo de pessoa. Sabe?
Quis porque quis uma entrada triunfal, com uma escadaria que parece saída de um conto de fadas de tão larga e opulenta. É bonita de ver, mas exaustivo de morar em um lugar assim.
Pensa comigo:
Assim que se entra pela gigantesca porta da frente você se depara com essa escadaria, sendo que de cada lado do ral de entrada está um salão diferente. Passando pelo portal (essa porta sem porta) a direita, está a sala do piano onde tem um bar e prateleiras de livros, enquanto a esquerda está a t.v., os sofás e a nossa lareira.
Ambos têm portas para a área da criadagem. Sabe? A cozinha, lavanderia, e essas coisas.
Então vamos para o andar de cima, que para o desgosto dos empregados era dividido em setores. Só não me pergunte o porquê. Era coisa do excêntrico do meu pai.
Ao chegar no topo da escada se tem um tipo de pausa que é adornada com um piso preto diferente do verde oliva da escadaria, (Eu sei, eu sei. É feio. Mas não tenho poder sobre isso.) e ali tem outras escadas menores que dão passagem para as três áreas da parte superior da construção. Eu falei que o meu pai era excêntrico? Acho que não avisei o suficiente...
Pois bem. Se escolher virar a direita você chega ao que sempre foi a "minha" ala, e que em breve terei de dividir com este irmão...
Como posso odiar tanto uma pessoa?
Não a criança inocente que não tem nada haver com a bosta dos meus pais, to falando do meu pai mesmo. Ele é um merda igual o irmão dele.
Mas em fim...
No lado direito está o meu quarto e o que vai ser o quarto dele agora, mas sempre foi a minha academia particular. Meu local de relaxamento, meu oásis.
Agora se for à esquerda está o antro do caos: que é a ala dos meus pais.
É ali que fica o quarto deles e o escritório. É onde sempre tem algo quebrando, ou uma simples e boa gritaria junto de muito choro com lágrimas de crocodilo e dramas.
Mas se seguir reto estará na área comum. Minha academia foi transferida pra lá e descendo ali fica a área da piscina.
É claro que tinha de ter uma piscina.
Sim.
Pra você chegar na piscina precisa subir as escadas e depois descer de novo passando por cima da área dos funcionários. Na real tem como cortar por dentro, mas ele construiu assim por que na cabeça dele o "nosso" mundo não deve se misturar com o da criadagem, e eles têm de conseguir ir para todos os lados com facilidade, por isso essa área enorme fica no centro da casa.
Ele chega ao nível de achar mais prático a casa ser desta forma, por que segundo ele: Ele sai do quarto que fica no andar de cima para a piscina e depois volta para ele. E ele não vê motivos para mudar nada.
Está captando o nível? Que bom.
Mas mesmo assim essa sempre foi a minha parte favorita da casa.
E eu estava ali linda tomando um sol e trocando mensagens com o fofo do Thomas Wester sobre os planejamentos quando acabei jogada dentro de algo terrível. Sem querer ele me mandou uma mensagem pesadíssima e apagou rapidamente, mas até ai eu já tinha lido né amor.
*~* Ele conseguiu filmar tudo. Temos as provas do abuso sexual. Podemos resolver isso na justiça.*-*
Eu fiquei tipo... Oi?
Pra quem isso era? Quem foi abusado e quem filmou?
Não deu!
Liguei pra ele no mesmo segundo.
[― Não era pra você ter lido aquilo. ― Ele já atendeu totalmente em pânico e sabendo o motivo da ligação.]
― Cara! Você não pode e não vai fazer isso! ― Gritei me sentando na cadeira e saindo do sol para não ficar com a marquinha errada. ― Já errou em me mandar. Agora termina de errar e me põe neste assunto. Quem é a garota que está sendo violentada, abusada, sei lá.
Eu estava em total panico.
O ar faltava. Eu nem sabia quem era a menina e já estava sendo tomada por uma empatia que não cabia em mim.
Meu maior medo em toda vida era ser abusada. Não era ser morta nem nada. Era alguém me tocar "assim" contra minha vontade.
[― Cloe. Eu não posso. Esquece por favor.]
― Não Ton! Eu não vou esquecer! Não da!
Depois de três dias trocando mensagens direto, não tinha como não ter pego mania de o chamar pelo apelido.
[― Unf tudo bem. Mas...]
― Eu já sei. Finjo que não sei e ajudo como puder! Fala logo caralho! ― Gritei andando para os lados, se estivesse mais perto da piscina teria caído dentro d'água.
[― Primeiro... Não é uma garota. E ele está sendo obrigado a ceder a contra gosto. O cara é o padrastro dele, está ameaçando parar de pagar a escola e cursos se ele dedurar ou deixar de o... obedecer.]
Essa pausa foi como uma facada.
― Um garoto? ― Isso não entrava na minha cabeça. E acabou escapando da minha boca.
Abusadores também podem ser gay né?
Não são só mulheres que podem sofrer isso, mas... é tão mais "comum" isso ocorrer com mulheres que esqueço completamente os casos masculinos.
Sentei em um canto pensando enquanto ouvia.
[― Ele está muito mal com isso. Mas ao mesmo tempo não quer abrir mão da vida que tem.]
― Ele prefere... que.... Você entendeu!
[― Não julga por favor. Você não tem como entender. Abriria mão de tudo o que tem?]
― Mas é claro que sim! ― Gritei e ele se calou do outro lado da linha deixando um clima tenso.
[― Mas ele não pensa assim.]
― Então está gostando!
[― Não diz isso. ― O tom dele mudou para um furioso do nada. ―Ele é uma pessoa centrada. Tem planos e não quer ver tudo ruir do nada. É um tipo de sacrifício, ele está preso nisso e não sabe como sair. ― Ele dá uma outra respirada e volta a falar. ― A mãe dele está morta. Ele não tem pra onde ir.]
Caramba.
Entrei em parafuso ali.
― Por favor me deixe ajudar. Eu tenho que conseguir ajudar de alguma forma. Por favor. ― Eu já estava lacrimejando de tanta agonia. Sentia como se fosse comigo. Afinal era o meu maior medo nessa vida e tinha alguém passando por isso, não uma mas várias e várias vezes.
[― Eu nem sei como você pode ajudar. O abusador é... ― Ele para pensativo e posso ouvir sua respiração pesada do outro lado da linha, claramente estava pensando se me contava ou não. Mas seu desespero era palpável, ele não sabia como ajudar. ― Deymond. Conhece? Eu não faço ideia quem seja.]
Mas ao ouvir o nome, gelei.
Se eu conhecia?
....
Esse desgracado era amigo do meu pai.
― Conheço. ― Respondi atônita. ― Ele é um monstro. ― Disse segurando o choro. ―Eu já ouvi... ele conversando com meu tio... sobre o que gosta de fazer com as prostitutas que paga... Se ele ta fazendo isso com o próprio afilhado eu, eu... ― Segurei o choro. ― Mas me escuta. Ele é amigo do meu pai então tem ótimos advogados da empresa do meu pai. Ele pode facilmente alegar que o garoto inventou tudo, além do fato de ele ser o dono da casa e com isso pode dizer que o garoto se droga plantar algo e o jogar em uma clínica. É uma tática terrível dessa gente. Ele pode "real" destruir a vida do afilhado. Faz sentido o medo dele. ― Cuspi tudo de uma vez sentindo minhas pernas tremendo e logo fui ao chão caindo de bunda.
[― O que faremos? ― Posso ouvir o ódio dele soar do outro lado da linha. ― Eu já perdi o controle e o agredi. Se aparecer lá de novo serei preso. Harye conseguiu as provas de que ele obriga o afilhado. Dylan acha que isso é o suficiente e chamou um gênio da escola dele para nos ajudar. Eu... eu vou contar esse detalhe a mais para esse cara. Obrigado.]
E assim desligou.
Eu nem fiquei brava, afinal também precisava desligar.
Fiquei escorada na parede pensando.
Essa noite eu mal dormi.
E no dia seguinte parecia um zumbie.
Como alguém pode fazer isso com outra pessoa?
Existem monstros no mundo. Eu não preciso ver filmes ou ler livros pra ficar realmente horrorizada.
[Pocha crush. Porque não me nota? Como eu queria que você me desse bola.]
A filha da puta trocou meu toque de novo.
― Ahoy? ― atendo ainda atônita vendo o riso da desgraçada com relação ao meu toque.
[― Oi. Só pra avisar. O cara da sua escola está indo resolver as coisas. Acabei de sair da delegacia com o Marcos e sua dica do que ele armaria foi muito útil. Obrigado. Ele realmente já tinha posto coisas para ele ser desacreditado.]
Senti um imenso peso sair dos meus ombros.
― Quem bom! ― Dei um grito no meio do corredor sem me importar com mais nada. ― E como ficou o judiciário para ele? Tipo dinheiro?
[― Esse cara está vendo isso. Já não está mais nas nossas mãos. Mas até onde ele falou, ele pode mexer os panos para que o Marcos ganhe uma boa pensão por uns bons anos, além de tudo que o padrasto vai ter de pagar ele tem de garantir uma casa longe dele. Ou seja, vencemos até onde deu. Ele não será preso por que... Bem... Como você disse ele tem bons advogados.]
― Que ódio! ― Gritei, mas logo tentei me acalmar. Ignorei o erro de fala onde ele misturou dois ditados, afinal deveria estar mais nervoso que eu. ― Pelo menos a vítima está bem.
[― Sim. Está melhorando. Obrigado pela dica. ― Disse novamente antes de desligar.]
A Cartiney me olhava com uma cara de: "me conta o babado agora." Mas a ignorei. Eu não tinha por que espalhar isso.
Fui ao banheiro, lavei o rosto bem lavado, refiz minha maquiagem e voltei para a sala assim que o sinal tocou.
E lá estava o casal feliz conversando, mas por algum motivo "ele" tinha faltado.
Dd não faltava nunca e como já disse antes ele não falava com ninguém na escola. Até tinha gente que achava que ele era mudo, já que não viam ele ser obrigado a responder algo pelos professores; mas por incrível que pareça as vezes o via na sala falando com estes dois. E apenas esses dois.
Fiquei sentada ali afim de tirar todo aquele caso da minha cabeça enquanto conversava com Cartiney sobre como a festa foi incrível e como seriam os jogos inter-class alem de como fui genial em conseguir um espião de dentro da Kami Rosey Eton junto do gostoso do Dylan.
Foi ai... que eu parei e comecei a ligar os pontos.
Dylan namorava. E quando mostrou a foto ou vi ela de relance parecia idêntica a Kateryne a namorada do Kenny de onde trabalho. Ok que eles se conheciam... talvez elas fossem gêmeas... não sei.
Mas Harye disse que ia se encontrar com seus namorados ... Ele podia estar zombando né?
― Está com a mente longe. Onde está? ― Ela me pergunta ao guardar o material e sair.
― Em idiotices. Só pra distrair a mente de coisas sérias que não tenho o menor controle. ― Respondo honesta, me dando conta que por culpa dos meus devaneios não respondi a chamada. ― Prof. Eu to aqui. Esqueci. Cloe presente. ― Falei já saindo e a professora já me olhou torto.
Era uma mulher de meia idade, magra que só o osso, fedia a cigarro, mas tinha um par de seios tão grandes que deixava os meninos loucos.
― Se não prestou atenção, eu não tenho culpa. ― Disse indo fexar o material toda grosseira.
Como odeio essa professora!
Velha do caralho!
― Mas eu to aqui. É injusto.
― Injusto é nem na droga da chamada você ter prestado atenção. ― Briga demonstrando que eu não tinha o que fazer além de assumir a falta injusta.
Como disse... os adultos eram como deuses impiedosos que determinam nosso destino e tínhamos de os agradar.
Mas como é de costume olho para meu nome na lista desacreditada nesta falta injusta e vejo que logo abaixo a porra do Dd estava com presença e grito no mesmo segundo.
― Mas o David nem veio hoje!
O olhar que ela me lança eu não sei descrever.
Só sei que pedi aos meus pais para me tirar da matéria dela e substituir por outra.
Não gostava de artes mesmo.
― Garota. O que foi aquilo? ― Ela chega na minha casa já se jogando no sofá como se fosse a casa dela. Adrien e Matheus estavam no meu quarto trocando amaços então eu tinha de enrolar ela ali embaixo.
O que rolou foi que depois da festa os vizinhos deduraram para os pais dele (já que a festa foi incrível) e o lugar esta mega vigiado, por conta disso e ele não tinha mais como levar o namorado lá, então deixei que ficassem na minha casa desde que me prometessem que não sujariam nada e que eu não ficaria sentindo cheiro de sexo no meu quarto. Resumindo ele traz os lençóis dele.
― Do que está falando? De eu ter salvo nossa escola de novo? ― Digo triunfante mostrando a pontuação da primeira faze dos jogos inter escolares; que se tratava das coisas mais intelectuais como xadrez, shogi, etc.
― Não isso. Aquele professora loca. Você viu como ela te olhou?
― Vi. Saí da matéria dela. Quero distância. ― Disse me sentando no sofá branco assim como todo restante da mobília, já pondo na série que iremos assistir.
― Fez bem. Também vou sair. Quer pegar gastronomia comigo?
― Claro. Por que não. ― Digo ao escolher qual esmalte passar para o dia seguinte, em base da roupa que usaria, lógico.
― Mor. Posso trazer o meu boy aqui hoje? ― Ela diz assim como quem não quer nada. ― Assim você conhece ele e vê que eu não sou nada pedofila.
Olhei pra ela tesa.
Senti que meus olhos iriam saltar da cara.
― Demorou! Quero muito ver esse guri.
Uma imagem pra ajudar a lembrar das outras escolas/colégios.
Esse caso do Marcos Deymond é pra problematizar o estupro.
Eu tenho pra mim que todos concordam que é algo terrível.
Então por que tem gente que trata estuprar um homem pior que uma mulher? Esse foi o meu ponto. Pra mim os dois é ruim no mesmo nível. Mano é uma coisa terrível que não afeta só o corpo, mas também a mente da pessoa. E a mulher ainda pode engravidar e ambos ficam com sequelas físicas e emocionais. Tirando os casos de gravidez ambos os sexos são iguais pra mim. E pra vc? Pq se for falar de casos de gravidez ai será outro tópico que eu também vou por para debatermos por hora é sem isso, pq é um tema forte e tem que falar de uma coisa por vez. Mas eu real quero saber a sua opinião.
Curiosidade:
1 - Por sugestão do inventor Thomas Edison. Quando o escocês Alexander Graham Bell patenteou o telefone, em 1876, queria que todo mundo atendesse o aparelho dizendo "ahoy", uma saudação náutica. Então por gracinha pus que ela atende desta forma.
2- O shogi (em japonês: 将棋, jogo dos generais), também chamado de xadrez japonês, é a versão nipônica do chaturanga, jogo de tabuleiro indiano que, teoricamente, originou o xadrez europeu e seus semelhantes. Ao contrário do Ocidente, onde todos os países possuem a mesma versão do jogo de xadrez, no Oriente cada país tem sua versão nacional do jogo: Xiang Qi na China, Janggi na Coreia, Makruk na Tailândia, Sittuyin no Myanmar, etc. O objetivo do jogo é o mesmo do xadrez ocidental, mas mudam-se as peças e o tabuleiro. Vence o jogo quem capturar o rei adversário.
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