2 - Ela/ Toda outra mulher é uma inimiga.
2219 words
Cumprindo o que prometi:
Reader era a minha melhor amiga. Ou seria inimiga?
Bem... como explicar a nossa relação?
Eu a conheci nas aulas de balé quando tinha nove anos, e desde então mantivemos essa relação.
Eu ia com uma sapatilha nova, ela aparecia com uma melhor, ela fazia algo bem eu tinha que fazer melhor. Mas sentávamos sempre juntas, conversávamos muito e fazíamos questão de fazer os mesmos cursos; até quando fomos para o colégio fizemos questão de ficar na mesma sala.
Foi ela quem me ensinou a tingir os cabelos da forma correta, pois os salões não eram tão bons. E eu ensinei a ela a se depilar como as brasileiras e com isso desde os doze anos pudemos zombar de todas as garotas que pareciam macacas cabeludas.
Uma dizia que a outra estava um lixo quando a roupa estava ruim. E dessa forma nos mantínhamos no topo de tudo.
Como disse ela não me deixava abaixar a guarda e eu fazia o mesmo por ela.
Mas... infelizmente eu deixei ela abaixar a dela.
Pois ela tinha "um" ponto fraco. Apenas um e terrível ponto fraco. O seu coração romântico e besta.
Ela sentava-se estrategicamente posicionada em todas as aulas que tinha na mesma turma "dele" para poder ficar olhando-o sem ninguém perceber.
Rodrigo, não era lindo nem feio, era comunzinho até demais.
Isso em nível de beleza; em característica física era outra coisa:
Tinha os ondulados cabelos revoltos no tom de castanho com mechas ruivas de queimaduras de sol em um corte não muito curto nem muito longo. Sabe? O bastante para enfiar a mão, mas não para amarrar. Sua pele é levemente morena, mais puxada para traços caucasianos, junto de lábios grossos e marcantes e um nariz adunco derivado de uma etnia perdida em seu código de DNA; magro e muito, mas muito alto mesmo.
Ele tinha uma mania nojentíssima de morder os lápis, canetas e tudo mais; e por algum motivo ela achava isso fofo e ficava mordendo os lábios vendo isso como se fosse algo sexy de se ver. Mas mesmo com tudo isso ela sempre evitava olhar diretamente em seus olhos castanhos cor de mel que se escondiam por trás de grossas lentes. Isso pois temia ser descoberta, ao corar ou reagir. Era fofo.
Ela chegava a soltar corações quando ele ia à frente da turma de literatura ler algo, ou o via de canto nos corredores, e principalmente quando esse estava concentrado em um de seus livros.
Era realmente uma boba. E era fofo ver essa paixonite dela pelo perdedor.
Cartiney era a outra integrante do meu trio perfeito, afinal o triângulo é a forma mais forte; e foi essa vaca quem começou tudo. Por que eu xingo ela? É carinho. Acredite, você vai entender.
Esse era o tipo de garota que faz o que dá na telha e não se importa com ninguém. Uma grande "filha da puta" de marca maior e minha leal escudeira. E enquanto Reader trabalhava mais como conselheira, era ela quem afastava os inferiores de mim, sua rainha.
Sim, era ela quem fazia o papel de responder torto ou humilhar as pessoas no corredor ou cantina enquanto nós riamos da cara da pessoa. Ela era incrível. Uma pessoa segura de si e sem medo de nada. Praticamente sem pontos fracos.
― E aí? Fiquei sabendo que está fodendo com um guri. É verdade? ― O traidor... quero dizer, Adrien meu namorado, já senta na nossa mesa cutucando a onça com vara curta pra vê se morde mesmo.
Ela o olha de cima a baixo com desdém e ri. E eu fico só esperando a mordida.
― Olha. Adoraria saber o resto da fofoca. ― Comenta ao pegar seu celular. ― Não sabia que curtia essas "novelinhas" da escola. Você vai entrar pro jornal da escola com o restante dos perdedores que não tem vida própria ou nada pra fazer com ela?
Aí.
Eu disse.
Ela era incrível.
Ele faz cara de tacho e vaza todo putinho.
― Mas diz aí. Se caiu na boca do povo, um fundo tem. ― Reader questiona mais delicada assim que ele se vai puto da vida, e ela fecha o celular terminando de atualizar seus status. ― Tipo. Nunca vi você ter vergonha de assumir que dormiu com alguém.
― E não tenho. ― Diz séria e convicta. Ela real não tinha por que esconder nada de nós. Afinal não seríamos uma estrutura forte se uma não soubesse tudo da outra para proteger. Pensa em uma formação espartana, mas social; onde uma protege com seu escudo a companheira ao lado. Mas se preciso ela também pode derrubar mais facilmente. ― Acontece que não quero ser presa. ― Completa e eu gelo. Como assim? Era mesmo verdade? ― Acontece que nossa diferença de idade é de apenas quatro anos. Tipo: meus pais tem mais que isso e os de vocês também. É muita hipocrisia o mundo implicar com isso.
― Você já vai fazer dezoito. E mesmo assim... ele é praticamente uma criança. ― Ela pontua incrédula com os argumentos de Cartiney.
― Aff. Fala sério. Eu não estou fazendo nada que ele não queria.
Enquanto elas debatiam a moralidade, eu me pegava fazendo as contas. Ou ele tinha treze e ela já estava contando o aniversário dele, ou ela estava contando o dela. De qualquer forma a conta ficou errada. Mas eu nem era louca de comentar algo tão trivial no meio dessa micro guerra.
― Mesmo assim, garota. Ele é uma criança.
― Você é retardada? Acha que um garoto da idade dele faz o que no PC? Ou na hora do banho? Em? Só é criança e inocente até... não "entender" ou "querer". Saca? Sem falar que ele é bem mais maduro que esses ridículos que já fiquei. Ele tem planos futuros e é todo regrado.
― E como você conheceu esse "grande" amor, tão maduro e perfeito? ― Perguntei rindo e ela me olha irritada. ― Quem sabe acho um pra mim. Por que to precisando jogar um boy perfeito na cara desse lixo. ― Digo olhando para o desgraçado que ria entre seus amigos.
― Olha. Foi em uma comunidade de escritores. Vocês sabem muito bem que eu escondo esse lado nerd. ― Diz ao dar de ombros sem se importar. ― Trocamos mensagens. Eu jurava que ele era um universitário pelo nível do papo, mas não. Era o oposto.
― Então o namoro de vocês é de mãos dadas e conversando? ― Pergunto incrédula pegando meu espelho para checar o visual. Perfeito como sempre.
― Aff. Mas a tinta impregnou no cérebro hoje? Eu já falei que não. ― Responde rude como sempre. ― Eu to ensinando o Be A Ba pro garoto. Além de realmente estar ensinando matérias para ele. ― Completa ao dar de ombros.
― Como assim? ― Perguntei curiosa, e Reader apenas se calou encarando como quem julga e manda prender.
― Entrei neste programa de ajudar um aluno mais novo para disfarçar nossa relação. O bom que ele está melhorando nos estudos também e temos um ótimo álibi para nos ver.
― Caramba. Como você é inteligente pra fazer merda. ― Reader responde rindo e eu a acompanho e creio que foi isso que irritou a nossa amazona furiosa.
Veja bem.
O que ela estava fazendo era crime. Logo teríamos dezoito anos e estaríamos indo a uma faculdade. Ela argumentou bem? Sim. Mas o que é lei é lei e fim.
Então como foi Reader quem mais se demonstrou indignada e não a apoiou ela resolveu se livrar do risco.
Como?
Vou explicar. Calma.
Ela assim como eu sabia desta quedinha que Reader tinha no Rodrigo, e ficou fazendo a cabeça dela para ao menos tirar isso do peito e se declarar em uma cartinha besta e deixar no armário do cara. E assim ela fez: Escreveu com todo seu coração corrompido por glitter e purpurina, chegou bem cedo para que ninguém a visse por a carta no armário dele.
Seu plano era apenas deixar a outra comendo na sua mão com a ameaça de revelar o segredo caso eles se pegassem; mas a vida não obedece planos e como disse outra pessoa se meteu no meio e tudo veio à tona da pior forma possível antes que pudéssemos fazer qualquer coisa.
Eu não sei quando Reader tinha recebido uma resposta dele. E nem adianta me perguntar como ele descobriu que foi ela por que não sei mesmo, qualquer coisa eu peço para ele mesmo vir contar.
A verdade é que ela não confiou, e ficou trocando mensagens com ele escondida de nós.
No começo ela até tentou fingir que não queria nada sério e que tudo não passou de uma brincadeira para o zombar, mas depois mandou a real por que não estava afim de perder a chance de pegar o cara que tanto almejava e marcou uma aula em sua casa. Sabe como é? Desculpa padrão para qualquer um.
Os pais e nem os amigos imaginariam que ela estava afim dele, afinal ele não era do "nosso nível" e assumiram que real ela só queria uma ajuda em alguma matéria. Como eu sei dessa parte? Ela me contou. Simples assim.
E foi assim que as coisas rolaram entre eles. Só não sei como tudo foi filmado.
Não. Eu não vou, e nem tenho como narrar uma cena de sexo entre outras pessoas, quando isso for acontecer peço para a própria pessoa narrar ou algo assim. Tudo bem? Afinal eu sou virgem e não fico muito à vontade com esses assuntos.
A verdade era que por conta desta gravação, a vida dela estava desmoronando e não tinha ninguém para a dar apoio.
Os pais dela quando descobriram do vídeo de sexo que viralizou ficaram furiosos; afinal para eles sua menininha pura e ingênua ainda era virgem e intocada. Quiseram ate mandar prender ele com acusação de estupro, e exigiram que ele fosse expulso da escola já que na cabeça deles foi ele quem espalhou o vídeo.
Foi uma loucura tudo isso, mas... infelismente novamente não tenho como me aprofundar pois não me envolvi nisso. E na real acabou não dando em nada, ele não foi preso e pareceu até magicamente intocável, (comparando com o tanto de acusação que os pais de Rader jogaram nele), e tudo isso só serviu para deixar todos ainda mais eufóricos. Nenhum dos dois podia pisar na escola ou em qualquer lugar sem a galera cair matando em cima.
A vida era assim.
Essa era a lei, os adultos não entenderiam a nossa sociedade. Tínhamos nossas próprias punições.
Para ele a exaltação por ter comido uma mina como ela, e para ela... a humilhação de ter se deitado com alguém como ele. E de conselheira da rainha, Reader virou meretriz e estava sendo julgada por isso.
Simples assim.
Medieval demais para você?
Então vai ler outra coisa por que amo por analogias medievais para explicar as coisas.
― Não acredito que aquela perdedora andava conosco. ― Ela diz ao olhar para Reader com desdém. ― Fala sério. Só aturava ela porque era sua amiga de infância. ― Diz ao me julgar como se almejasse puxar o meu tapete para reinar sozinha e soberana.
Mas "eu" era a suprema ali.
― Que bom que sabe quem decide quem é ou não é alguém. ― Sorri superior e ela gelou.
E então voltei o meu olhar a Reader.
Como castigo os pais tinham cortado muitas de suas regalias e como foi expulsa das líderes de torcida seu visual estava bem diferente. Já tinha repetido roupa neste mês e não apareceu com nenhuma roupa nova. O que era um crime.
Sem falar que seus cabelos já estavam aparecendo a raiz.
Ridículo.
Mas de alguma forma ela parecia cada dia mais feliz, parecia tão feliz vivendo como uma plebéia simplista; mais do que quando era da realeza ao meu lado; me servindo como minha "fiel" sombra. Sabe? Estas acompanhantes que realeza feminina tinha para manter sua beleza e castidade.
E foi assim que constatei meu plano.
Assim como nos contos, a realeza aqui iria se fingir de mendiga no fundo da hierarquia social para saber como era.
Seria divertido.
Quando ela diz "vaca" está se referindo ao termo em inglês Bitch que é uma gíria de empoderamento. E como na obra eles falam em inglês ou outro idioma não identificado, tenho de deixar traduzido.
Fiz ela pensar bem oposto ao que eu penso. Ela é totalmente presa pelos "valores culturais" como quando disse que homem não pode ter cabelos longos, sendo que eu amo homem de cabelo comprido, entre outras coisas que ela vai narrar.
E sim, você só vai saber o nome dele quando eles se apresentarem dentro da obra, ou seja ele quem contará para você kk.
AVISO: No proximo cap aborda o lance da "traição" do namorado dela. Não pus como gatilhos essa questão nem a dos pais dela, pq ao meu ver e como a obra aborda esses personagens não tem uma relação seria e romântica são apenas negócios e aparência, e com isso concluo que a traição é do acordo e não inflija no que as pessoas tem como traição de relacionamentos ou casal. Seria a mesma coisa que um vilão trair o herói no meio do filme o enganando e matando Crio que a traição que se referem a gatilhos seja de romance, quando alguém magoa o outro que confiou seu coração.
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