17 - A garota de Marte.
4010 Words
Foi como se um meteoro tivesse atingido a nossa escola.
Era o que todos sentíamos.
Ninguém falava, mas todos só pensávamos em uma coisa.
Ou melhor... Uma pessoa.
Tentarei explicar um pouco melhor, pois esse foi o segundo estalo da minha vida; uma garota seria transferida para a nossa escola. Ela era estrangeira e os pais acabaram de vir morar no país.
Na real ela tinha vindo morar com os tios que estavam vindo pra cá, tudo por causa de uma grande briga na família. Isso porque a garota é trans. Ou seja, ela nasceu homem e quer ser tratada e vista como mulher. Só pra desenhar caso você seja tão leigo nisso como eu sou.
O fato é que a nossa escola "não aceita este tipo de coisa", e todos estavam surtando muito de como ela conseguiu ser aceita e o que isso iria causar.
Eu sentia como se uma nave alienígena com costumes diferentes tivesse pousado no meu reino e de repente todos só sabiam falar de assuntos LGBT: debates sobre os direitos dos trans, como tratar etc. Isso não fazia parte do nosso mundo mascarado e agora a coisa tinha explodido de uma forma que ninguém tinha o menor controle.
― Eu descobri o acordo. ― Dylan diz ao se sentar na nossa mesa, pondo sua bandeja ao lado da de Adrien sentando bem a minha frente. ― Ela vai ter de se vestir com o uniforme masculino e usar pronomes masculinos na escola. "Não" mudaram as regras. Ta o maior bate boca na sala dos professores e na diretoria também. ― Diz ao partir o pão com as mãos. Não importa que isso seja um gesto de favelado, ele era lindo e gente linda pode tudo. Nele fica um charme. Como um bárbaro lindo.
Opa... você tem namorado agora.
― Então a escola vai ser transfóbica mesmo? ― O Bruno fala revoltadíssimo.
Pra facilitar deixa eu ir apresentando de novo: Bruno é nosso quarterback, e seu apelido é Bumbum. Ninguém chama ele de Bruno.
― O que você esperava? ― Dylan responde depois de engolir, como um príncipe educado que era. ― Essa escola está presa no séc XIV não percebeu ainda?
― É o que parece. ― Responde ainda revoltado.
Acho que eu sou a única pessoa que sabe que o Bumbum é filho adotivo de um casal homossessual. Faz sentido toda essa revolta.
― Mas não tem jeito. E o que está feito está feito. ― Adrien diz enquanto come como um gorila não domesticado. ― O cara vai ter de aguentar a barra aqui dentro e...
― Eu vou chamar ela de mina e não de cara. ― Dylan diz o encarando e o fazendo parar a fala no meio da frase.
― Eu também. ― Bumbum concorda com o mesmo olhar acusador para Adrien. ― Vou tratar como mina.
― Vai dar em cima? ― Mas ele retruca. ― Fala sério. "Geral" tá sabendo o que ela é. Vocês acham mesmo que essa pessoa será tratada bem? Perderam a noção da realidade e estão vivendo no faz de conta é? ― Ele diz exaltando a voz. ― Ninguém tá falando dele por achar legal ou estão falando bem dela, e olha que nem conhecem. Ela vai ser zuada o tempo todo. A galera só gosta de posar de legal online, na hora H a coisa pega. E vocês vão ser os primeiros filhos da puta a zombar "ela". ― Ele diz quase cuspindo fogo nos dois.
Não pude deter meu devaneio.
Antes eu pensava que ele era mega homofobico. Hoje... sabendo o que sei, vejo que essas palavras são um desabafo do que ele sente.
Deve doer sentir tanto medo.
Eu nunca vou saber o que é isso.
Na verdade eu percebi que não tinha como saber o que era nada. Vivi protegida em um ambiente completamente esterilizado de qualquer tipo de sentimento ruim, mas dos bons também. Unf... não é atoa que Dd me acha uma pessoa oca. Sou mesmo fazia...
― O que espera com a chegada dela? ― Pergunto assim que ele chega no bar que trabalho, ele me olha por sobre os ombros enquanto cumprimentava Kenny e o dono do bar, voltando até mim.
― Caos. ― Responde com um sorriso largo no rosto.
Isso me fez arrepiar. Ele até parecia um demônio nesse momento, uma aura ruim mesmo. O tipo de demônio gato que cativa e nos faz perder o rumo da vida.
E sábia a pior coisa? Ele estava certo.
Pois assim que "ela" chegou eu pude sentir os ventos da mudança baterem nas formosas bandeiras que adornavam a entrada do colégio.
Estava usando o uniforme masculino como lhe foi ordenado e claramente se sentia desconfortável com os olhares de todos mas seguia pleno e firme; em aparência: era magro e esbelto como quem vive dentro de uma dieta rígida e frequenta uma boa academia, tinha feições delicadas e lindas além de longos cabelos muito bem tratados que estavam presos em um coque muito elegante o que me fez lembrar Dd e seus cabelos perfeitos.
Sua pele morena com olhos amendoados lindos de longos cílios naturais me fizeram pensar que seria de origem arabe ou indiana. Talvez isso seja a mesma coisa, ou não... definitivamente eu não sei isso; e você não pode brigar comigo por assumir uma falta de conhecimento. OK! É impossível saber tudo no planeta!
Não tinha como; todos olhavam para ela. E como Adrien profetizou a escola toda ficou de fofoquinhas.
Eu me questionava sobre tudo; ouvia as fofocas idiotas e as sérias e ficava em pleno silêncio apenas refletindo. Foi a primeira vez que realmente fiquei em pleno silêncio apenas escutando sem dizer nada o dia todo.
Ouvir os outros.
É... ele estava certo, eu não fazia isso.
Eu sempre estava a conversar com alguém, mas era para a minha distração. Eu não ouvia o que o outro dizia, apenas vivia no meu monólogo eterno; já julgava e sabia o que iriam dizer e só conversava com aquele que tinha este controle pleno. Mas logicamente que Dd estava totalmente fora deste controle; isso me irritava, me frustrava e cativava. Era a primeira pessoa real da minha vida. Minha primeira conversa de verdade.
Mas então "ele" foi até ela.
Assim sem mais nem menos me arrancando de meus devaneios.
Aquilo foi um show para todos, e eu tentei me controlar pra não demonstrar uma reação forte.
― O que conversaram? ― Perguntei séria assim que ele entrou pela minha janela como um gato. Não me pergunte como; eu não sei como ele conseguia invadir essa mansão com tantos sistemas de defesa... Me pergunto se ele não era um serial killer.
― O que estão fofocando? ― Me pergunta ainda sentado na sacada.
― Nada de mais. O esperado: que você é chegado em um travest. ― Suspiro dando de ombros e ele desce vindo até mim.
― Digo sobre ela, não sobre mim.
― De tudo um pouco. Estão mais curiosos sobre o que leva uma pessoa a ser como ela.
― É uma curiosidade lógica. Mas ainda não foi totalmente explicada. Seria legal ter esse debate na aula de sociologia, mas duvido muito que tenha.
― Eu também.
Foi ai que me deu um estalo.
eu era arainah dessa porra!
― Sabe onde ela mora ou pegou seu contato? ― Perguntei me sentindo aquecer por dentro e ele se espantou, me passando o contato sem dizer nada.
*-* Olá. Aqui é Cloe Enevor, você já deve ter ouvido falar de mim. Quer uma ajuda?*-*
*-* Nem vem com suas pegadinhas! *-*
Ela responde grossa e ja me bloqueia mandando vários emojis bem complicados de receber.
É... eu tinha uma fama ruim e teria de ralar para mudar ela.
― Me ajuda? ― Disse olhando para ele, este ergue uma sobrancelha surpreso.
― Oi. Sou eu o Dd, você me deu seu número. Tudo bem nos encontrarmos hoje na praça do centro? Ai já te apresento essa tigela de sopa. ― Ele simplesmente manda um áudio. Não era ele quem odiava áudios? ― Pronto. Vamos lá?
― Vai na frente vou me trocar e te encontro lá. ― Digo me virando e o sinto sorrir.
Daria de tudo para entender o que ele pensa, mas até hoje, depois de anos de casados, eu não entendo, imagina nessa época.
Acho que é o desafio de namorar um gênio. Dizem que estamos para os gorilas como um alien deve estar para nós, e essa diferença de DNA é tão pequena que dá tanta mudança... Às vezes o olho brincar com nosso filhos todo bobo ou trabalhar todo concentrado e me pergunto se ele já não era de uma evolução acima da minha e por isso era tão difícil o acompanhar.
Quando cheguei à praça eles já estavam conversando. E até senti uma pontada de ciúmes o vendo conversar com uma garota tão bonita, delicada e fofa.
― Esqueci de te avisar. Sou bem ciumenta. ― Disse brincando ao me aproximar, mas de alguma forma ele sentiu a verdade na minha voz e riu da minha cara.
― Esta é Jakeline nossa nova colega no colégio. Pensei em mostrar a cidade para ela. ― Diz meio sem graça com a reação da nova amiga.
― Prazer. Sou Dyanna. ― Disse tão natural como se fosse meu nome verdadeiro.
Já estava tão acostumada a usar esse outro nome que o tomava como meu.
Tirei da ideia do nome da mulher maravilha e resolvi o escrever como uma grafia bem alterada; só gente muito pobre ou muito rica fazia essas graças.
― Não. Você não me engana. É a Cloe. ― Ela recuou de mim como se fosse perigosa.
Bem... de fato eu era bem perigosa, mas não seria com ela. Não tinha nada contra ela.
― Para todos os efeitos, essa é Dyanna. Minha namorada. ― Ele explica e ela o olha confusa. ― Cloe é Dyanna, mas Dyanna é como Jakeline. Entende?
― Sim, mas... isso é muito confuso. Como assim? ― Diz toda confusa.
Era magnífico como ela ornou bem sua maquiagem com as roupas. O leve dourado discreto abrindo os olhos, combinando com os suaves brincos e o único anel em seu dedo; já um batom rosado meigo combinando com seu colar e pulseiras. Senti que fui eu quem a ensinou a fazer isso, mas qualquer um com um tutorial básico podia aprender este tipo de coisa.
― Cloe não é livre para ser quem quer. Gostar do que quer ou o que for. Entende? ― Assim que ele explica ela me olha com os olhos repletos de condolências.
E assim passamos a tarde toda conversando.
Ele só ficou calado caminhando junto.
Éramos mesmo parecidas neste ponto.
E com a ajuda dela percebi que gostava muito mais de ser chamada de Dyanna pelo que esse nome representava; minha liberdade.
― Amanhã passo na sua casa e você entra junto comigo. ― Digo ao me despedir, e ela sorri.
Cheguei em casa explodindo de alegria.
Isso era ter um amigo?
Um amigo de verdade!
Jakeline e eu nos demos muito bem, sem cutucar sem provocar sem nada disso. E eu não deixaria ninguém a machucar.
No dia seguinte como o combinado a busquei em casa e surpreendi a todos entrando junto dela conversando tranquilamente sobre os clubes e como ela faria para entrar já que chegou praticamente no meio para o final do ano. Ficamos planejando em bom tom umas viagens para comemorar nossa liberdade e comparando os lugares que já viajamos e conhecemos.
Eu sabia bem como minha atitude tinha mexido com meu reino.
As coisas estavam completamente fora do lugar, e eu estava amando esse caos tanto quanto Dd parecia ter quando o profetizou. Uma energia maligna boa me tomava. Não sei explicar.
Eu queria ver tudo aquilo explodir!
E de fato estava.
― Essa é Jakeline. ― A apresentei assim que sentamos em nossa mesa, já que cada um tinha seus horários de aula e não ficávamos todos juntos fora do intervalo.
Todos me olharam preocupados mas assentiram que sim com a cabeça sem me questionar. Gosto assim.
E lógico que depois disso ela começou andar conosco, e eu trocava mensagens com ela mais do que com qualquer um. Era confortável e divertido conversar com ela; e principalmente: me sentia realmente bem, sem ter de tomar cuidado com as palavras, sem ter de demonstrar força ou me impor o tempo todo. Podia me sentir à vontade e sem medo, pois sentia uma verdadeira sinceridade vinda dela. Muito diferente de tudo que já vivenciei.
Ela vinha em casa e brincávamos de trocar de roupas. Doei algumas peças para ela. Roupas caras de grife únicas que já não me faziam sentir bem em ter; e ver sua alegria me deu um quentinho no peito. me sentia ser preenchida com essa amizade; e tinha muito medo de ser traída, mas era tendenciosa a me entregar a isso. Uma necessidade de ter alguém de verdade na minha vida. Uma amizade real.
― Obrigada. ― Ela entrou no quarto toda feliz, mas não prestei muita atenção, estava distraída fazendo uma redação e não entendi inicialmente até me lembrar.
Assim que a adicionei nas redes sociais, percebi que ela tinha muitos ataques online por ser como é e usei o meu poder para destruir esses odiadores.
Nada demais.
― De que adianta ter poder e não usar para os amigos? ― Disse voltando minha atenção à tela do computador.
― Com dificuldade? ― Murmurou se sentando ao meu lado.
― Só falta essa conclusão e o trabalho está pronto; Dd me ajudou a por na norma ABNT. ― Digo concentrada sem querer a ignorar e essa se deita na minha cama ficando a mexer nas redes sociais a me esperar.
Tínhamos combinado um dia de beleza.
Sim; meu pai reclamava por eu ficar com um garoto no meu quarto trocando de roupas e cuidando da pele e dos cabelos, mas eu mandava ele pastar. Jakeline era uma garota como eu. Só era despeitada ao meu ver.
Quem fica olhando as partes íntimas das amigas?
Bizarro não?
Então sim, conseguia facilmente ver como quem ela era por dentro; uma garota que como eu não consegui ser quem deseja.
― Dyanna! ― As vezes ela esquecia e me chamava assim quando não podia. ― Desculpa. Cloe, olha. ― Se levanta e vem até mim em pânico, mostrando seu celular. ― Estão falando que expulsaram o Dylan de todos os clubes!
― Como? ― Arranquei o celular dela.
Mas ela não estava mentindo.
Os boatos não estavam só nos grupos, mas no jornal da escola e também no nosso grupo privado, onde o próprio afirmou ser verdade e não respondeu mais nada.
Pelos boatos em outros grupos e na nota do jornal da escola: dizia que ele foi tirado dos clubes a pedido dos próprios colegas e pais; por ele ser homossessual por que isso deixava todos desconfortáveis.
Aquilo foi o cúmulo!
― Alo? Adrien tá lendo isso? Temos de fazer algo!
[ ― Cloe não surta. Não tem nada que se possa fazer. Não dá pra mudar as regras da escola. ― Ele diz me desanimando.]
Era isso mesmo?
Não dá pra mudar esse mundo tóxico e ridículo que vivíamos... Só saindo dele? Eu me negava acreditar nisso.
E o bom que eu não era a única.
Neste mesmo dia que tudo explodiu, em seguida já veio a represália da mãe de Dylan.
Eu não sabia nada sobre ela, só que era uma mulher de negócios que subiu na vida na empresa junto do marido em cargos diferentes, mas nunca soube exatamente o que eles faziam. Mas devo dizer que fui inspirada pelos atos dela:
A primeira coisa foi reportar em sua rede social o ocorrido, como estava devastada e revoltada com o ato homofobico do colégio de seu filho; e automaticamente ela foi incrivelmente apoiada. Tanto que o site do colégio foi tão, mas tão atacado que chegou a ser hackeado e derrubado.
Ela não só escreveu como postou provas escritas e em vídeo do racismo que sofreu ali quando foi o inscrever e até durante a matrícula; dizendo que o ataque homofobico a seu filho foi a gota d'água.
Nem preciso dizer como o mundo explodiu em cima do colégio não?
Caos.
Como Dd previu, mas isso não tinha nada haver com a chegada de Jakeline. Ela não teve envolvimento ou culpa de nada.
Em partes. Pense que a vida é como o filme "Efeito Borboleta" e tudo está conectado de alguma forma; quando ela entrou para o colégio foi uma muvuca antes mesmo de ela chegar, e com o meu apadrinhamento a ela as coisas foram mais longe ainda chegando aos ouvidos de um ex de Dylan. Um garoto que estava irritado por como foi tratado, não recebeu bem o termino e quis se vingar o expondo no site da nossa escola. Ou seja, por causa da visibilidade que ela trouxe nas redes sociais esse cara reconheceu Dylan simplesmente por que eu pus ela no nosso grupo e nas fotos que postava.
Eu tinha de ajudar.
[ ― Alo? ― A voz dele soou meio fraca, não aprecia nada bem.]
― Oi. Fiquei sabendo o que houve com você, estou acompanhando os noticiários... pode deixar que eu vou te ajudar com isso. Sabe. Já estou bem cansada de todo esse ninho de merda.
Falei tudo de uma vez.
Sentia essa mudança dentro de mim mas... Dd me falou que algumas coisa é melhor falar cara a cara do que pela frieza de um aparelho então invoquei a galera e fui até lá.
[Tin don]
Nos juntamos e fomos até sua casa.
Não queria agir sem conversar direito antes.
Seria muito indelicado.
Eu sabia que ele tinha uma linda mansão, na verdade eu sempre ia lá ou ele vinha a minha casa já que éramos vizinhos.
Tipo. A casa dele era do lado da que ficava de frente para a minha. Deu pra entender?
Mas eu não esperava por tal endereço em um bairro mais simples que o elitizado que moravamos. Um condomínio fofo e ajeitado de casas grandes.
Eu sabia que seus pais estavam tendo problemas e querendo se divorciar, mas nada além disso. Poxa... tinha de ser mais unida a aqueles que chamava de amigos, não é atoa que me sentia tão vazia. minhas relações eram todas superficiais.
Bem... esta na hora de começar a mudar isso.
Assim que ele abriu a porta, vi que era uma casa simples com uma sala regular de um único sofá e os demais estavam na cozinha que ficava no extremo oposto tendo a porta entre os dois bem de frente a um corredor.
A casa era feita em forma de uma cruz? Ou é impressão minha?
Deixando isso de lado entrei.
― A escola te suspendeu? Por que está faltando tanto? ― Bumbum diz direto a Dylan ignorando completamente todos os demais naquele cômodo, mas eu passo meus olhos por eles reconhecendo apenas a garota que ele apresentava como namorada e que já vi ser namorada de Kenny; mas nunca parei para fazer a ligação mais lógica do mundo: ela era uma amiga tentando ajudar ele a encobrir sua sexualidade assim como faziam no passado.
Que vida terrível.
― Unf... eu to sem coragem de enfrentar olhares agora. Minha mãe abriu a maior guerra contra o colégio. Que cara eu tenho pra voltar ali? ― Diz cabisbaixo e Bumbum se aproxima dele pondo uma mão em seu ombro.
― Porra. Ela tá te defendendo; seus direitos. Nada mais justo que você volte de cabeça erguida contra aqueles que falam de você. ― Impõe sério.
Para mim aquilo foi um encontro de mundos.
Então estes eram os "verdadeiros" amigos dele? Em quem ele se apoiava e confiava... nós éramos mesmo superficiais demais... Eu não tinha direito de me sentir magoada ao descobrir isso.
― Eu sei de tudo isso. Eu não estou culpando minha mãe de nada nem estou bravo com ela. Só to sem coragem agora. ― Murmura cabisbaixo, tomando minha atenção. Sim estava ali por ele; desta vez o assunto não era eu. Não podia ser.
― Você não vai ter coragem nunca se fugir cara. A coragem não brota do nada, ela é a coisa que vem quando enfrentamos. ― Um jovem aparentemente albino que desconhecia o nome diz firme se fazendo ouvir. Ele era lindo com olhos de cor roxa muito marcantes e chamativos. ― Você deveria aproveitar. É o seu momento.
― Meu plano era me assumir na formatura. Não agora, muito menos assim.
Eu entendia o ponto dele.
Se assumir no glamour e da sua forma, é bem diferente de ser exposto e ter de se defender.
― Para de choramingar cassete. Olha o lado bom. Todos que tão te dando o maior apoio. ― A única garota ali grita e tomo um susto. Kate era uma pessoa muito energética.
― No máximo você vai ir pra escola do Ton certo? ― Kenny diz pensativo sobre tudo isso.
Verdade, a outra escola sempre foi muito tranquila com esses assuntos. As regras de lá não eram homofóbicas, na real a aceitação era encorajada; só era proibido qualquer tipo de relação afetiva dentro das dependências do colégio.
― E já vou chegar com uma fama. Não vai ter como não saberem que sou eu; esse mistério da mídia não encobre nada. Todos sabem que esse escândalo todo é por minha causa. ― Diz se encolhendo de vergonha.
Conseguia entender muito bem o lado dele. Às vezes o peso da popularidade é sufocante; ter todos os olhos sobre si e não poder fazer nada sem ser comentado.
― Tudo que é revolucionário é grande. Olha que maneiro? ― O mestiço que me servia de informante se faz ouvir, era estranho ter tanta gente assim ali. Qual era a relação deles todos? ― Por sua causa, aquela escola antiquada vai ter que melhorar; para todas as pessoas que sofrem discriminaçao por ela. Acabou um canto onde esse povo pode por seus filhos e manter essa visão em paz.
― Eu duvido muito. ― Digo e ele me encara sério como se quisesse me bater por o contrariar. ― Meu pai conhece bem esse mundo e eu também. Tenho tudo para acreditar que vão pagar a multa e voltar ao normal fingindo mudar. E ainda vão falar mal da atitude " de preto" que roubou dinheiro da escola a troco de nada. ― Explico ao me sentar na cadeira como se fosse a dona do lugar. ― Gente assim não muda a cabeça. Pelo menos não tão fácil. E ali é uma cúpula deles. Acha que vão abrir mão tão fácil ou cair com isso? Eles têm muito apoio e ajuda. ― Completo o olhando seria. ― Isso vai virar outra historia pra contar nas rodas. De como a comunidade LBGT é barraqeuira e os negros são aproveitadores. ― Completo e ele bufa.
― Ta impondo que é uma batalha perdida? ― Ele grita todo revoltado.
― Não. ― Mas eu o respondo com meu tom mais autoritário e ele lodo se cada ficando mansinho mansinho. ― Estou dizendo que esse tipo de ataque não funciona. Esse lugar tem que ser destruído por dentro. ― Explico ao me levantar e sair em direção a porta e ele me olha como se fosse hetero de tao admirado com o poder do meu caminhar.
― E qual a ideia? ― Tom pergunta todo tímido. Que garoto fofo!
Se ele for namorado de Dylan, tenho até um plano de imagem.
― Eu tenho meus métodos. ― Disse pensativa, já me planejando.
Esse caos era mesmo muito convidativo.
O nome deste cap é uma homenagem a obra: do escritor: Que aborda de um modo genial o tema, sem jogar na cara esfregar, afinal o assunto deveria ser tratado como algo natural.\o O mesmo cap estará sendo espelhado em "seu irmão mais velho", sendo narrado por Dylan e tendo o início extremamente idêntico mostrando o que os dois narradores têm de igual em seus pensamentos e diferente.
Como pode perceber ela sera uam personagem importante para Cloe e essa sera apenas a primeira aparição dela.
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