01🌷 Tulipas vermelhas coloriam o cinza de um dia chuvoso
Betado por euluagabriela
Segundo os *maias, o mundo acabaria em 2012. Mas as pessoas começaram a surtar mais ou menos quatro anos antes, quando aquele filme dirigido por Roland Emmerich lotou os cinemas do mundo inteiro com duas horas exatas do planeta sendo destruído por eventos cataclísmicos que deixou todos ao redor do mundo meio zuretas, ignorando o fato de que o planeta já desmoronava há séculos.
Cada pessoa tinha sua própria maneira de prever o tão temido "fim dos tempos", por mais ridícula que ela pudesse parecer, e a teoria formulada pela jovem trajando o uniforme da equipe de enfermagem foi confirmada naquele instante, quando o relógio na parede marcava sete e vinte de uma manhã gelada e, do outro lado da única janela no espaço tão pequeno quanto a sala de estar de seu apartamento, a persiana arrastada para as laterais deixava à mostra uma série de nuvens obscurecidas no céu, como se travassem uma guerra particular com os sentimentos da moça.
Foi só então que Lee Hee Joey soube que o mundo estava realmente acabando, de novo, primeiro na intempérie que perdurava desde o fim da madrugada, depois em forma de uma dor de cabeça quase forte o bastante para lhe fazer revirar de dor, se o motivo pelo qual havia decidido se trancar na sala anexa do posto de enfermagem do terceiro andar não fosse tão descabida por si só.
Hee Joey nem tinha tomado café da manhã naquele dia, mas mesmo assim seu estômago revirava, o desejo de colocar tudo fora do corpo tão vivo que era quase impossível controlar.
Ela respirou fundo e segurou o ar nos pulmões por alguns segundos, sentindo-se boba por permitir estar em um estado deplorável.
O que ela era mesmo? Uma solteirona largada pelo namorado com quase trinta anos pesando nas costas? Sim! E talvez fosse por isso que a dor de cabeça aumentava de intensidade conforme os minutos transcorriam no relógio.
Os olhos de Joey fizeram uma espécie de varredura pela sala, percorrendo desde as persianas na janela até o vaso translúcido com saliências onduladas circundando sua borda, contendo um arranjo de tulipas vermelhas que coloriam o cinza daquele dia chuvoso com o tom vivo e brilhante das pétalas que pareciam ser a única variação de cor naquela sala.
Era fevereiro. O ano estava praticamente começando. Mas as chuvas torrenciais não tinham diminuído nada desde o fim de janeiro, o que deveria ser o mês mais frio do ano, onde o inverno rigoroso mostrava que estação mandava no pedaço. Por mais que o clima frio oferecesse um ar especial e até mágico à Heavenland — uma cidade tão minúscula que mais parecia um bairro de Seul — principalmente no Natal, Hee Joey não gostava de nada que fosse gelado ou molhado porque, daquela forma, o jardim de tulipas na Heaven Square não conseguia florescer corretamente e reduzia os passeios da jovem enfermeira pelo local, embora sua ida até a praça não fosse mais tão frequente por conta da rotina corriqueira no trabalho.
A praça, localizada há poucos minutos do hospital, havia sido construída por Park Jimin e Park Eun Ha, irmãos gêmeos e fundadores da cidade no início dos anos 1920, e remetiam à fase clássica de sua época, com bancos amadeirados debaixo de pergolados com flores rodeando suas colunas de sustentação, um coreto e um jardim de tulipas que fazia os turistas apaixonarem-se à primeira vista. Depois da ópera e do cinema retrô — que só exibia filmes antigos, todos, sem exceção, em preto e branco —, a Heaven Square era o lugar favorito de Lee. Ela gostava daquele espaço arborizado tanto quanto gostava de sua profissão e de colecionar cartões postais de pontos turísticos que talvez nunca fosse conhecer.
Por um momento, a mulher sentiu-se traída por sua mente à mercê da melancolia daquele dia sem cor, e foi como se um filme tivesse rodado em câmera lenta bem diante de seus olhos. As memórias que tinha construído ao lado de Kim Yugyeom estavam frescas novamente, como se nunca tivessem desejado cair no esquecimento da enfermeira. As recordações do primeiro encontro na ópera de Heavenland, quando eles eram apenas estudantes do fundamental em uma excursão pelo ponto mais antigo e clássico da cidade. Lembrou-se também de quando seus olhos acastanhados encontraram os dele, grandiosos e brilhantes no meio de um mar de alunos. Ele havia sido um espelho desde o primeiro momento em que ambos se encontraram, pois Hee Joey conseguiu ver no Kim tudo aquilo que ela mesma era. Visualizou os sonhos, o amor pela ópera e as construções antigas junto a tudo que remetesse aos maravilhosos anos 1920, o gosto pela leitura, o amor pela enfermagem...
Ela teve certeza que seu coração o havia escolhido muito antes do primeiro beijo, ou do primeiro eu te amo. Mas nunca pensou que seria praticamente forçada a ter de abdicar de seus sentimentos porque Yugyeom havia desistido dos próprios.
Remoer tais lembranças era como recolher cacos de vidros de um porta-retratos quebrado contendo uma lembrança doentia de um dia que não podia ser esquecido facilmente, e uma hora ou outra iria acabar se machucando, física ou psicologicamente.
Hee Joey piscou forte quando as memórias se tornaram fragmentos, e desejou ardentemente que a chuvarada que refugiava os habitantes da cidade em suas casas tivesse dado o ar de sua graça na noite passada, horas antes de Yugyeom bater à porta de seu apartamento usando o casaco francês que ela tinha lhe presenteado em seu aniversário, dois anos antes, e repetindo a mesma desculpa esfarrapada que tinha dado quando terminou o namoro, em setembro do ano anterior.
"Desculpe, Hee Joey, eu não consigo mais. O trabalho está me deixando maluco e a rotina no hospital só tem feito eu me afastar ainda mais de você. Não posso mais fazer isso."
Isso era o que Yugyeom havia dito.
Depois de tantos anos em um relacionamento onde haviam sido despejadas todas as expectativas que a Lee tinha desde o início, o Kim tinha decidido colocar um fim nos sonhos dela, nos planos que tinha traçado para os dois pelo resto de suas vidas.
"Você vai desistir assim tão fácil?", Hee Joey tinha perguntado. Mas Yugyeom manteve-se tácito. O silêncio dele nada mais era do que uma confirmação da pergunta que a jovem tinha feito, e a única coisa que lhe restou fazer foi apenas assentir e dizer para si mesma que sim, havia acabado.
"Me desculpa. Eu não queria magoar você. Mas não posso continuar enganando a nós dois. Não podemos seguir mais o mesmo caminho. Você e eu precisamos nos separar.".
Yugyeom cuspiu as palavras em sua cara com a voz mais baixa possível — mas o sangue pulsando nos ouvidos dela talvez fosse o responsável por pensar que o timbre alheio estivesse quase inaudível — antes de dar meia volta e seguir o caminho fora da praça.
Ela sabia que havia algo errado com o namorado no momento em que ele bateu à porta de seu apartamento no dia dez de setembro do ano anterior. Yugyeom havia lhe proferido que as árvores na Heaven Square estavam perfeitas para tirar fotos, alaranjadas com o clima típico do outono. Ele pediu para Joey vestir o casaco xadrez e calçar os tênis marrons de caminhada, com a desculpa de que queria andar um pouco na trilha da praça.
Doze anos são uma vida, e para alguém que tinha convivido com Yugyeom durante todo esse tempo, Hee Joey sabia muitas coisas a respeito do (ex) namorado, e uma delas era o ódio a cor laranja — o tom dela nas folhas das árvores dava um aspecto triste, era o que Kim dizia — e detestava caminhadas. Só o fazia quando precisava espairecer, colocando as ideias no lugar.
Naquela manhã, ele estava verdadeiramente atormentado, com os olhos opacos, o lábio inferior preso entre os dentes configurando o tique nervoso que se apoderava de seu corpo. Por mais que Hee Joey tivesse lhe perguntado o que diabos havia de errado, Yugyeom insistiu que os dois deveriam apenas aproveitar o ar puro do início do outono, e que na hora certa iria dizer o que lhe preocupava.
Foi no coreto, lá ao fim da praça, que tudo aconteceu. Somente o término com uma explicação desconexa e lágrimas de brinde. Não houve o último beijo, o último adeus, nem mesmo um até logo. Nada de abraços, apertos de mão ou um "eu espero que você encontre alguém que possa fazê-la feliz de verdade" e tantas outras frases clichês ditas em livros e dramas românticos.
Kim Yugyeom cansou, e deixou aquilo claro quando seguiu o caminho de volta pela trilha da praça sem olhar para trás, diferente dela, que não conseguia ignorar os sentimentos que ainda tinha por ele dentro de si, o resquício de seu primeiro amor adolescente que sempre voltava para si todas as noites.
Existem amores que nasceram para viver nas memórias. Como aquele que ainda não havia adormecido dentro de seu coração.
A dor no peito era um lembrete de que lutar por aquele longo romance havia valido a pena, assim como o aviso de que era hora de se desapegar de Yugyeom e tudo o que o relacionava, antes que as recordações do perfume favorito, da música que mais gostava ou dos realitys ridículos que tanto adorava acompanhar atingissem o estágio terminal em seu coração. Ela sabia que se chegasse àquele patamar, não teria volta, e viveria à sombra do agora ex-namorado pelo resto de sua vida.
— Então é nessa toca que o rato estava o tempo todo! — O "silêncio" da sala foi interrompido pelo ruído da porta abrindo-se junto ao eco que os tênis de uma outra enfermeira produziram assim que a moça entrou no espaço antes ocupado apenas por Hee Joey.
Bae Joohyun posicionou ambas as mãos na cintura, o uniforme azul royal típico da equipe de enfermagem sem qualquer amarrotado. Os cabelos ruivos, recém tingidos, estavam presos em um coque e refletiam um brilho cintilante na luz casta da sala, configurando toda a jovialidade de uma mulher na flor da idade.
— Bae! Puta merda, você me deu um susto — Hee Joey resmungou baixo, atentando-se ao fato de que qualquer um poderia ouvir seu palavrão no corredor. A mão dela posicionou-se ao peito, atenuando o quanto sua pressão subiu com a chegada da amiga. — O que está fazendo?
— Te procurando, oras — disse Joohyun, ainda com as mãos na cintura, mas já havia fechado a porta atrás de si e agora rodopiava pela sala como se tivesse perdido a carteira. — Você desapareceu. Levanta logo daí e se apressa, temos que começar a receber os pacientes de quimio em dez minutos.
— Eu estava lavando as mãos e parei para tomar uma dipirona. Minha cabeça vai explodir — bradou Joey, levantando-se da cadeira giratória com rapidez. — As toucas novas estão aqui?
— Estão — Bae murmurou, os olhos castanho-escuros acompanhando o movimento de Hee Joey do outro lado da sala.
Lee praticamente forçou seus pés a caminharem em direção ao armário cinza, onde eram guardados todos os materiais utilizados pelos enfermeiros daquele andar. A mulher pegou um dos pacotes contendo as toucas cirúrgicas, colocou-a sobre seu cabelo de modo que nenhum fio ficasse fora do equipamento obrigatório e jogou o resquício do pacote no cesto de lixo da sala. Depois de trancar novamente a porta dupla do armário, Hee Joey deu-se conta de que Joohyun a observava.
Joey franziu o cenho, confusa.
— Que foi? — indagou.
Joohyun cruzou os braços em frente ao peito, o rosto convertido em uma expressão fechada. Ela sabia que havia alguma coisa errada com a melhor amiga. Só não tinha noção do quê.
— Vai me contar que bicho te mordeu ou vou ser obrigada a arrancar de você na base dos tapas?
Aquela era Bae Joohyun, curta e grossa, indo sempre direto ao ponto.
Hee Joey gostava de como ela nunca se intimidava com nada e estava sempre a postos para acolher a amiga no que quer que fosse. No entanto, diferente das outras vezes, Lee não ainda não podia contar a Bae que o bicho pegando na verdade tinha o cabelo liso e curto pintado com o tom mais bonito de amarelo do qual ela se lembrava. Joohyun ficaria puta da vida se descobrisse que ela, a pessoa que mais adorava no mundo, esteve trancada todo esse tempo na sala do posto de enfermagem com o fantasma do maldito Kim Yugyeom assombrando seus pensamentos.
— Explico melhor quando formos almoçar. Mas já adianto que não é nada com que você deva se preocupar — Hee Joey sibilou, as mãos se posicionando nos ombros da amiga. Ela forçou Bae a girar nos próprios calcanhares e juntas as duas enfermeiras pediátricas deixaram a sala anexa do posto de enfermagem, percorrendo o largo corredor em direção às salas onde eram administradas quimioterapias em pacientes da ala infantil.
— Se você não contar, eu juro que vou perguntar ao Jinyoung, e você sabe que ele tem a língua solta — afirmou Bae quando as duas chegaram à entrada da sala de quimioterapia localizada no início do corredor.
Hee Joey foi a primeira a higienizar suas mãos em uma das pias espalhadas naquela parte do corredor. Já havia trocado de máscara, portanto tratou apenas de contar exatos sessenta segundos enquanto lavava as mãos, percorrendo os espaços entre os dedos, as unhas extremamente curtas e os pulsos.
— Jinyoung é um fofoqueiro igualzinho a você! — a Lee exclamou, embora tivesse deixado sua voz deliberadamente baixa. — Mas aposto que ele deve estar bem ocupado naquela consulta com o cardiologista.
— Espero que o cardiologista dele seja mais gato que o da minha última consulta — respondeu Bae entre risos.
Em seguida, ambas entraram na Sala Um de quimioterapia.
— Bom dia! — Hee Joey e Joohyun cumprimentaram em uníssono cada paciente na respectiva sala. Todos responderam alegremente às saudações das jovens.
As crianças, acompanhadas por seus responsáveis, sorriram grandiosamente para elas assim que cada uma passou individualmente em seus leitos para checar os sinais vitais antes de iniciar o preparo dos quimioterápicos.
— Ué, Kim Jisoo não virá hoje? — Joey perguntou, virando-se na direção de Bae.
A moça estava ocupada verificando a saturação de uma das crianças, Jung Hoseok. Mas respondeu à amiga de prontidão.
— A senhora Kim pediu que ela fosse transferida de andar porque Jisoo costuma passar muito mal depois das sessões — respondeu Joohyun, somente. — Ela está no térreo, agora.
Hee Joey franziu o cenho ao encarar o leito vazio onde a pequena Jisoo, filha única da senhora Kim Yerim, costumava ficar. Ela questionou a si mesma se a garota estava bem naquele momento, e desejou ardentemente em seu interior que a menina se curasse logo.
Por mais que amasse seu trabalho na área da oncologia pediátrica, não suportava conviver com o fato de que crianças tão inocentes tivessem de carregar o peso de lidar com um destino tão cruel mesmo sendo jovens demais para sofrer daquele modo.
Quando estava prestes a aferir a pressão de um paciente no leito quatro, o timbre de uma voz masculina desconhecida a fez girar o corpo em direção à porta da sala por reflexo.
— Com licença — disse o homem, e Hee Joey mediu-o de cima a baixo, sem sair do lugar. Ela, de fato, nunca o tinha visto naquele andar. — Estou procurando a enfermeira Lee Hee Joey.
Hee Joey crispou os lábios escondidos pela máscara descartável. Em seguida caminhou prontamente até o homem considerado alto demais em relação a ela, e o cumprimentou curvando-se à sua frente.
— Sou eu. Posso ajudá-lo?
O homem era pelo menos trinta centímetros mais alto do que ela e possuía um porte atlético como o daqueles modelos de revistas esportivas. As madeixas loiras, maiores na parte traseira e estendendo-se até após a nuca, com uma curta franja em forma de cortininha na frente, eram sedosas e exibiam contrastes estilosos com os óculos de grau que felizmente não escondiam a beleza por trás dos olhos cor de chocolate. O brilho de ambas as luzes fluorescentes da sala refletia nas orbes do desconhecido com certeza arrasador de corações, e por algum motivo fizeram Hee Joey pensar em estrelas e planetas desconhecidos por astrônomos.
— Disseram para procurá-la nessa sala — o tal homem havia dito. — Meu filho foi transferido para o terceiro andar recentemente.
— Ah, claro. Você já passou pelo oncologista? — Hee Joey perguntou, mas o desconhecido apenas assentiu. — Ok, senhor...?
— Kim, Kim Namjoon — afirmou, usando jeans e camisa verde limão de mangas longas. — Preciso preencher um formulário ou algo assim?
— Não necessariamente, senhor Namjoon — informou Joey, inconscientemente percebendo como o nome dele saía agradavelmente bem de sua boca. — Trocas de pacientes são mais comuns do que imagina. As crianças que mais sofrem com os efeitos colaterais das quimioterapias geralmente ficam no térreo, mas as transferências de andares geralmente não exigem formalidades. E esse moço bonito, pode me dizer seu nome?
O menino ao lado de Namjoon segurava a mão direita do pai como se tivesse medo de que fosse fugir. Assim que Hee Joey inclinou o corpo para ficar à altura do garotinho, a reação do menor foi esconder parte do rosto atrás das costas do pai, os olhos pequenos e infantis fitando os dela com curiosidade.
— Está tudo bem, filho. Ela é uma amiga. Não vai machucar você.
Os olhos do pequeno foram de Hee Joey até o pai. Em seguida, deu um passo à frente e curvou-se para a moça.
— Você é mesmo minha amiga? — o pequeno perguntou com sua usual voz melodiosa.
— Se você der essa honra, ficarei muito feliz em ser sua amiga. Então, qual seu nome?
O menino tornou a fitar o pai. Namjoon assentiu, dizendo silenciosamente ao filho que podia responder à mulher de uniforme azul royal sem se preocupar.
Kim Seokjin era um menino calmo demais para uma criança que tinha apenas seis anos de idade. O que ele estava sentindo com Hee Joey não era nada próximo ao medo e sim a ordem de seu pai de nunca falar com estranhos, não importava onde estivesse.
— Sou Seokjin — respondeu o menor, encarando os próprios pés. Depois de ele erguer a visão, Hee Joey percebeu que havia herdado os mesmos olhos castanhos brilhantes do pai. — Se você vai ser minha amiga a partir de agora, quer dizer que não vai mais me furar e tirar o meu sangue?
— Bom... — Hee Joey tocou os dentes com a língua abaixo da máscara, olhando para todos os cantos da sala, menos para o menino. Ela não sabia como driblar tal pergunta sem ter que mentir. — Só os enfermeiros do laboratório tiram seu sangue, querido. E as agulhas, por mais assustadoras que possam parecer, não vão machucar você. Elas servem para levar medicamentos super importantes para deixá-lo bem forte. Eu prometo que não vai doer nada quando começarmos. Acha que pode confiar em mim?
Seokjin apertou os lábios. Em seguida tornou a oscilar o olhar entre o pai e a enfermeira.
— Meu pai disse que meu sangue está dodói, e a tia de azul que cuidava de mim disse que o tratamento não doía nada, mas as agulhas machucavam aqui. — O garotinho indicou a área superior do cotovelo onde as veias se localizavam.
Hee Joey quase saltou para trás. As palavras inocentes e ao mesmo tempo intensas daquele menino tão pequeno surtiram nela um efeito similar ao choque elétrico. Seu corpo vibrou com uma sensação ruim e o ar perdeu-se nos pulmões.
Ela se sentia mal só de pensar na ideia de causar alguma dor a ele.
— Vamos fazer um acordo? — A enfermeira ergueu as sobrancelhas. — Se você ficar bem quietinho na hora que eu trouxer as agulhas, prometo que não vai sentir dor alguma, ok? Se eu perder, deixo você escolher um personagem bem legal para pintar o rosto, o que acha?
— Parece legal — foi o que Seokjin respondeu, erguendo os olhos rumo ao pai. Namjoon sorriu para o garoto, que retribuiu o ato do mais velho e arrancou um suspiro alegre de Hee Joey. Ela sempre ficava contente quando conseguia arrancar algum sorriso, por menor que fosse, de alguma das crianças que tratavam câncer no hospital.
— Não quero incomodar, mas se importa de olhar o exame do meu filho? — Namjoon perguntou para a jovem que não aparentava ter mais de trinta anos.
Quer dizer, observando-a fisicamente, a enfermeira Lee não parecia ter tantos anos de diferença em relação a ele. No entanto, Namjoon sabia da existência de um mal chamado cansaço extremo, o qual, naquele momento em particular, era configurado pelas noites mal dormidas onde ele não conseguia pregar os olhos de tanta preocupação sobre o estado de saúde de seu filho. O Kim sabia que marcas arroxeadas circundavam seus olhos, a pele facial tão pálida quanto a de Seokjin deixava fisicamente nítido o inferno pelo qual passava uma vez por semana naquele hospital, há meses. Portanto, qualquer pessoa na face da terra poderia parecer muito mais nova do que ele, não importava se fosse o contrário. Até a enfermeira Lee.
— Eu não sou autorizada a oferecer nenhum diagnóstico ou prognóstico com base em exames laboratoriais, já que sou apenas uma enfermeira, mas posso dizer se tiver alguma coisa errada e depois passar para o oncologista. E você, rapazinho — Hee Joey voltou-se para o jovem menino, que a observava com cordialidade. Estava mais tranquilo com o fato de ela afirmar que faria o possível para não lhe machucar —, preciso que você fique aqui nessa cama, sentadinho, que logo mais eu volto para cuidar de você. É aqui nesta sala que os super heróis de verdade costumam ficar, sabia?
— É sério? — Os olhos joviais de Kim Seokjin quase saltaram das órbitas pela forma como os arregalou, as íris brilhantes como jóias na luz do sol.
— Super sério — ela respondeu, sorridente, falando baixo para deixar claro que os dois guardavam um segredo que mais ninguém podia descobrir. Crianças gostavam dessas coisas, pelo que sabia. — Apenas os mais bravos heróis ficam nesta área, e agora que você foi escolhido, precisa prometer que vai ficar quietinho até eu voltar, tudo bem? Durante esse tempo, que tal escolher um alter ego bem bonito para usarmos?
— O que é isso? — o menino indagou.
— Alter ego é tipo um nome de mentirinha que os super heróis usam para não serem descobertos pelos amigos. Você pode criar um bem especial e chamaremos você por ele, o que acha?
— Gosto de Super Kim, igual o meu pai. — Seokjin sorriu para Namjoon, que quase derreteu-se de tanto amor.
Hee Joey assentiu para o garoto, sorrindo abertamente, embora não fosse possível visualizar por conta da máscara cobrindo parte de seu rosto.
— É um nome maravilhoso — ela disse, e ficou em pé novamente, mas suas costas doeram um pouco no processo de retornar à posição inicial. — De um verdadeiro herói. Agora, enquanto eu e seu pai conversamos por alguns minutos, você me espera aqui, ok?
O pequeno Kim Seokjin virou-se para o pai, o rosto sorridente de um menino de seis anos irradiando as feições joviais de uma criança que às vezes não entendia boa parte do processo de tratamento contra o câncer chamado quimioterapia.
— Você volta logo, pai? — O pequeno garoto ergueu os dedos da destra para agarrar o cós da calça de seu pai.
— Claro, meu amor — Namjoon disse antes de depositar um beijo suave na testa do pequeno. — Mas não saia daqui até eu conversar com a senhorita Lee, tudo bem?
— Tudo bem.
— Não se preocupe, senhor Namjoon. A enfermeira Joohyun tomará conta dele. — Hee Joey gesticulou para que o senhor Kim a acompanhasse até o corredor.
O homem a seguiu em completo silêncio até o lado de fora, mas não desgrudou os olhos do pequeno Seokjin um só segundo embora soubesse que não teria por onde fugir, já que ele e a enfermeira Lee praticamente bloqueavam o acesso à porta e as janelas do terceiro andar eram, além de altas em relação às poltronas de acompanhantes e camas, trancadas com total resistência e cercadas por telas de proteção. Na verdade, ao constatar que a atenção de Kim Namjoon estava mais fixa no próprio filho do que nela, Hee Joey baixou a guarda e aceitou que ele estava sendo apenas pai.
— Gostaria de poder dizer que é bom ter um paciente novo nesse andar, mas as circunstâncias não são exatamente boas. — Ela pressionou os lábios, os olhos focados no mais alto. — Posso ver o exame?
— Claro — Namjoon respondeu, entregando o envelope a ela.
O papel já estava dobrado quando ela o pegou, os olhos rolando de cima a baixo pelo hemograma de Seokjin.
— Posso dizer que são bons resultados, à princípio — Hee Joey não manteve contato visual com o pai do pequeno Seokjin, no entanto, Namjoon não tirou os olhos da enfermeira conforme ela balançava a cabeça positivamente para o exame laboratorial em suas mãos. — Desculpe. Sou apenas uma enfermeira, e não posso oferecer nenhum prognóstico oficial. Se tiver qualquer dúvida, o oncologista pediátrico está disponível para conversar com o senhor.
— Isso é bom! — Namjoon suspirou, as mãos se entrelaçando e se unindo em frente ao rosto conforme ele sussurrava palavras inaudíveis a si mesmo. — Tive medo de haver uma piora, mas precisava de mais uma opinião exata. Meu filho já sofreu demais. Não sei como explicaria a ele caso houvessem complicações.
O homem sentiu como se uma carga de cimento tivesse sido retirada de suas costas. Claro, seu filho ainda não estava cem por cento, mas pelo menos os resultados dos exames estavam bons, considerando que o anterior estava com mais alterações do que o esperado.
— Ele tem sorte de ter um pai como você. — Hee Joey sorriu amigavelmente, e Namjoon teve certeza daquilo pela forma como os olhos pequenos dela se fecharam minimamente assim que suspirou. — Geralmente as mães acompanham seus filhos, então é bem raro vermos uma figura masculina por aqui. Nessa situação as crianças precisam de todo o apoio possível da família, não apenas de uma parte dela.
— Eu sou a família inteira que ele tem — disse Namjoon, pausadamente, as mãos adentrando os bolsos frontais da calça jeans. — Sou o pai, a mãe, o avô, irmão, tio... Meu filho só tem a mim para se apoiar, e eu a ele.
— Desculpe, eu não quis parecer indelicada. — Hee Joey sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. Ela tinha sido tão inconveniente deixando os sentimentos falarem mais alto do que a discrição que sabia que devia manter. Afinal, estava lidando com a família de um dos pacientes, e o código de ética dos profissionais de enfermagem era muito claro quando exigia cuidado no que quer que fosse dito aos familiares.
Lee sentiu-se uma idiota. E como se percebesse o dilema dela, Namjoon apenas suavizou a expressão e assentiu em sua direção, deixando claro que ela não fez nada pelo que tivesse que se desculpar.
— Não se preocupe. É uma história complicada. Meu filho e eu somos a companhia um do outro, e agora tem você. Não é sempre que ele costuma cumprimentar as "tias de azul" daquela forma.
Namjoon sorriu, exibindo um par de covinhas perfeitamente redondas em suas bochechas. Hee Joey focou a atenção na maneira como o olhar do homem reluzia ao falar do filho. E pensou em como Namjoon devia amar aquele garoto. Certamente era um sentimento que não podia ser calculado, tampouco explicado.
Por um vago momento, ela mesma pegou-se imaginando como seria ter filhos, alguém por quem depositar todos os seus desejos e um amor puro...
— Nesse caso, acho que eu deveria ficar mais feliz do que já estou — ela respondeu, entregando o exame de Seokjin de volta ao pai. — Acho que o Super Seokjin está pronto para começar o tratamento. Vamos ver se ele é mesmo tão forte quanto imagino.
— Acredite, ele é.
Namjoon abriu espaço e gesticulou para que a enfermeira Lee passasse à sua frente. Em seguida, respirou fundo e adentrou novamente a sala de quimioterapia, onde Seokjin os aguardava.
O garotinho já estava pronto para iniciar o procedimento, e exibiu um sorriso ocular estonteante para o pai. Namjoon, por sua vez, retribuiu ao ato do pequeno sentado na cama de lençóis azuis e grossos tentando demonstrar que era tão forte quanto o menino. No entanto, seu coração estava martelando o peito de tão forte que batia, e tudo o que Namjoon queria era que aquele dia terminasse logo.
🌷
Kim Namjoon estava atrasado. Dezoito minutos, para variar.
Min Yoongi, dono da cafeteria Sonhos & Café, situada no primeiro piso do shopping central de Heavenland, sabia que algo estava errado com os atrasos do rapaz, os quais estavam se tornando uma espécie de repetição peculiar pelo menos uma vez na semana.
Namjoon sempre foi um funcionário exemplar, do tipo pontual, organizado e extremamente dedicado ao trabalho. Entretanto, algo tinha acontecido nos últimos meses, que o senhor Min, um homem que veio da populosa Daegu para a minúscula Heavenland em busca de comandar seu próprio negócio, com óculos gigantes e rugas nas laterais dos olhos atenuando seus cinquenta e sete anos de idade, não sabia do que se tratava porque o jovem Namjoon sempre dizia a mesma coisa quando o dono da cafeteria o questionava acerca da sua falta de pontualidade: foi o trânsito. Sempre o trânsito. Não importava se fosse a quinta-feira de um dia comum ou feriado municipal. Aquele jovem sempre dizia a mesma coisa. E Heavenland não possuía o trânsito infernal de Seul, Daegu ou Busan, consideradas cidades verdadeiramente grandiosas e importantes para o país.
As ruas e avenidas eram pequenas — o que não era pequeno naquele lugar? Pensou Yoongi, consigo mesmo —, mas mesmo assim não haviam carros o tempo todo zarpando pelas vias em alta velocidade, nem no fim do ano, quando todo mundo aproveitava para deixar o local e curtir as festividades de natal e ano novo nas cidades populosas. Por isso, o senhor Min estava bastante desconfiado dos atrasos de Namjoon acontecerem sempre uma vez na semana, a cada quarta-feira.
Ele não era de se intrometer na vida alheia, mas já tinha prestado atenção no comportamento do Kim, e às vezes ficava agoniado por não saber que tipo de segredo ele tanto escondia. O que diabos fazia de tão importante nas quartas para chegar quase uma hora depois no trabalho?
Heavenland era o tipo de cidadezinha onde tudo fica perto de todo lugar. As escolas, a universidade federal, os supermercados e até a ópera, no centro. A casa de Namjoon não ficava tão longe do shopping e, até onde Yoongi sabia, o Kim não era casado, apesar de ter um filho de seis anos. Morava sozinho, como disse na entrevista, e seu meio de transporte era um daqueles carros coloridos que virou febre nos anos 1990. Isso era motivo suficiente para saber que havia uma verdade por trás de seus atrasos.
Yoongi não era bobo. Sabia muito bem reconhecer um mentiroso nato, até porque o homem tinha idade suficiente para aprender as façanhas da vida e longos cinquenta e sete anos lhe conferiram experiências o suficiente para saber que não se mentia para um mentiroso, porque eles sempre tinham ciência de quando estavam sendo enganados.
O senhor Min nunca teve coragem para perguntar se o atendente da cafeteria preferia contar a verdade e permanecer no emprego, pois tinha medo de receber uma resposta negativa, uma vez que gostava da forma como o Kim, com sua dedicação e incrível habilidade na arte da comunicação, executava suas tarefas de trabalho com os clientes. Sem falar que prezava pela privacidade dos funcionários da Sonhos & Café, e não queria ser mal interpretado ao fazer perguntas demais sobre o que a equipe de colaboradores do estabelecimento fazia ou deixava de fazer em seus tempos livres. Entretanto, não conseguia conter a curiosidade fervendo em suas entranhas ao verificar a posição dos ponteiros em seu relógio de pulso confirmando o atraso de, agora, vinte e dois minutos a mais do horário que o jovem realmente deveria chegar na cafeteria, às nove.
— Trânsito ruim, rapaz? — Yoongi perguntou assim que Namjoon passou pela portinha que separava a cozinha do estabelecimento e o balcão do salão principal onde situavam-se as mesas dos clientes.
Namjoon sentiu o coração bater na garganta, e o barulho ensurdecedor da pulsação acelerada ecoou em seus ouvidos como um aviso de morte iminente.
— A chuva me pegou desprevenido, senhor. Desculpe.
Namjoon curvou-se em frente ao chefe com os nervos à flor da pele. Ele não gostava de mentir, mas pelo menos naquela quarta a chuva tinha caído em boa hora. Ele poderia usá-la como mais uma desculpa, embora tenha sido verdade, em partes, que a intempérie o tenha surpreendido ao sair de casa para levar Seokjin ao hospital.
— Você tem chegado atrasado toda quarta-feira, rapaz, mas espero que seja por uma coisa boa, e não porque dorme demais. — Yoongi respirou fundo, puxando a haste dos óculos de volta ao nariz. — Acredite, um homem da minha idade sempre sabe quando estão lhe enganando. Francamente, eu só não o demito por causa do seu filho e por ser um dos meus melhores funcionários. Mas se quiser que eu continue pensando assim, chegue cedo todos os dias, entendeu?
Yoongi estava com a cabeça inclinada, os óculos de lentes grossas descansando na ponte do nariz e olhos que foram tão bonitos na juventude quanto agora na meia idade, o observava fixamente como se esperasse por uma confirmação de que seu decreto havia sido de fato compreendido.
— Sim, senhor. — Namjoon curvou-se novamente, o rosto tomado por um sentimento de culpa nauseante. — Eu sinto muito.
Yoongi riu nasalado, voltando a xeretar as páginas esportivas do rotineiro jornal matinal.
— Sentir muito não paga pelo seu atraso, rapaz. Agora ande logo. Os pedidos dos clientes não vão se anotar sozinhos.
Quando Namjoon adentrou a cozinha da cafeteria, sentiu como se o ar preso nos pulmões tivesse voltado a circular normalmente através de seu nariz, e conforme pegava o avental na área dos armários de funcionários, sentia a cor voltando ao seu rosto.
— O velho está com a faca no seu pescoço — Jackson Wang brincou assim que o colega de trabalho passou por ele como um jato. Namjoon estava amarrando as tiras do avental atrás das costas quando o amigo deu-lhe um "tapinha camarada" no ombro, rindo. — Um movimento brusco e ele pendura sua cabeça na porta da cafeteria.
Namjoon balançou a cabeça em negação quando Jackson fez um ruído brusco na garganta, passando o dedo polegar pela linha do pescoço para enfatizar que o amigo se encontrava na corda bamba com o chefe.
— Nem me fala — o Kim respondeu, agora posicionando a boina marrom café usual dos garçons entre seus fios loiros. — Hoje foi dia de levar o Seokjin para a sessão de quimioterapia, e você sabe que ninguém mais pode fazer isso além de mim.
Jackson balançou a cabeça em negativa, os lábios murmurando "hum-hum".
— Sério que você não tem mesmo ninguém para pedir esse favor?
— Tipo quem? — Namjoon deu de ombros, embora a pergunta tenha sido retórica.
— Tipo sua mãe, cara. Seu pai. Aquele desgraçado tem dinheiro suficiente para comprar até a sua respiração. — Namjoon estava de costas, mas Jackson percebeu a maneira como a expressão dele se fechou pelos músculos tensionando nas laterais do pescoço alheio. — Foi mal aí, cara, escapou.
— Não esquenta — respondeu Kim, sorrindo amarelo.
Jackson continuou:
— Então, por que não pede ajuda a ele?
Namjoon já tinha contado aquela história ao Wang; a maneira como o "importantíssimo" senhor Kim Woobin o tinha posto fora de casa como um cachorro de patas sujas depois que seu filho mais velho decidiu se envolver com as pessoas erradas. No entanto, Jackson Wang era um homem de bom coração, e dono de um otimismo invejável. Ele sempre tendia a ver certos acontecimentos com bons olhos, não importava o quão desastrosos pudessem parecer.
— E quebrar o juramento que fiz quando saí da casa dele de "nunca voltar ao lugar de onde fui expulso"? Não, obrigado. Eu preciso manter minha dignidade intacta.
Jackson respirou fundo, revirando os olhos. O rapaz deu a volta na cozinha da cafeteria onde alguns funcionários se locomoviam como loucos. Assim que parou ao lado de Namjoon, seus olhos, tão bonitos quanto a pedra ônix, fixaram-se nos do maior com tanta compaixão que era como se fossem irmãos de sangue.
— Cara, você devia jogar esse maldito orgulho no lixo — Jackson bradou, esforçando-se para enfiar um pouco de juízo na cabeça vazia de Kim Nmjoon. — O seu filho precisa de ajuda e você sabe que não vai conseguir sozinho. Além do mais, o Seokjin não pode crescer longe dos avós. Eu li numa revista que a presença deles na infância impede que as crianças desenvolvam algum tipo de trauma adolescente ou coisa parecida.
— Eu não estou sozinho. Tenho meus amigos, minha mãe, que apesar de viver à sombra do meu pai, faz de tudo para participar da vida do Seokjin, e não se esqueça de Taehyung. Tenho pessoas boas ao meu redor, Jackie Chan. — Namjoon riu baixo ao verbalizar o apelido singular que tinha dado ao amigo. — E não ligo se são cinco, dez, dezesseis. O que importa é a qualidade e não a quantidade, não é assim que dizem?
— Eu desisto! — Jackson exclamou, estagnado. Gostava muito do orgulho do amigo, em parte, porque sabia que isso já o tinha impedido de quebrar a cara em vários momentos, mas às vezes achava que Namjoon passava dos limites. Ele tinha um filho, não? Devia pensar nele antes de em seus próprios sentimentos. — Agora entendo porque Taehyung sempre dizia que você é pior que mula quando implica com alguma coisa. Nunca vi alguém tão teimoso.
— Se fosse só por mim, eu juro que não seria tão cabeça dura, Jackie — Namjoon disse, soltando o ar pelos lábios de uma só vez. Cumprimentou Jennie Kim, a garçonete e também atendente que servia as mesas consigo naquele turno, e esperou sua vez de comandar os próximos pedidos. — Você vai entender quando tiver filhos.
— Se eu tiver, cara. Se eu tiver. — Jackson deu meia volta na cozinha e despediu-se do Kim batendo continência.
— Pedido dezesseis, pronto! — alguém tinha dito no mar de funcionários da cozinha, e Namjoon caminhou em direção a ele.
Com a bandeja de croissants de chocolate em mãos, e sabendo que Seokjin só deveria ir àquele inferno de hospital na próxima semana, ele finalmente sentiu que poderia se concentrar melhor no trabalho.
*Glossário*
Maias: Os maias foram uma civilização mesoamericana desenvolvida pelos povos maias e conhecida pelo seu logossilabário — o mais sofisticado e desenvolvido sistema de escrita da América pré-colombiana — bem como por sua arte, arquitetura, matemática, calendário e sistema astronômico.
FONTE: Wikipedia
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