2.1 | THE CAMERON
Leiam escutando música, é tão mais legal. :)
{ O Cameron }
Maze Jules Maybank -MJ
Antes, eu não tinha absolutamente nada contra Rafe Cameron. Na verdade, ele era só mais uma das presenças insignificantes que circulavam pela ilha, só mais um kook esnobe. Nunca me preocupei em olhar duas vezes para ele, nunca me ocorreu que o nome Cameron pudesse vir a ocupar algum espaço nos meus pensamentos. Eu vivia bem, sem que um segundo do meu tempo fosse desperdiçado com alguém como ele.
Mas as coisas mudam. E, para meu azar, ele mudou.
Era como se, de uma hora para outra, Rafe tivesse encontrado um novo hobby: fazer de mim, do meu irmão e dos meus amigos seus alvos favoritos. Se antes eu mal notava a presença dele, agora eu via ela como um incômodo constante.
Rafe não perde uma chance de nos rebaixar, de rir da nossa cara sempre que passamos por ele e seus amigos, de mostrar, em cada mínimo detalhe, que acha que somos inferiores. Como se a ilha fosse território dele e nós, meros invasores. É uma obsessão que eu nunca entendi, e, sinceramente, nem quero entender.
Cada vez que ele aparece, é como se o ar ficasse mais pesado. O jeito como se coloca, quase como se estivesse sempre pronto para nos derrubar, para nos diminuir com aquela arrogância disfarçada de risada fácil. Eu consigo ver através dele. Aquele sorriso não é só de desdém, é uma tentativa constante de afirmar que está no controle. É tão repulsivo que nem sei mais como lidar com a ideia de que ele anda por aí, se achando melhor do que todos nós.
O kook se aproximou, com aquele típico sorriso de quem se acha superior. A arrogância exalava de cada passo que ele dava, como se já soubesse que estava prestes a me irritar, e estava adorando cada segundo disso.
— Ah, olha quem resolveu aparecer... Maybank, não sabia que era traficante. Então você vende por aí? Ou só fica naquela de "negócios discretos"? — o sarcasmo transbordava da voz dele.
Eu levantei os olhos, sem pressa de dar qualquer reação. Aquele tipo de provocação não era novidade, mas ele não merecia meu tempo. Ele queria me irritar, porém eu não ia cair nesse jogo.
— Para essa informação, eu prefiro vendedora de drogas. É mais empolgante — falei, com um sorriso pequeno, mas claramente falso. — E isso, Cameron, não te interessa.
Ele deu uma risadinha, como se tivesse conseguido algo.
— Uhum, claro... empolgante. Mas é disso que o papai gosta, né? Parece que você é mais parecida com ele do que pensa. — ele se aproximou, com aquele olhar de quem estava esperando uma resposta, mas sabia que não ia gostar.
Eu mantive a calma, mas, por dentro, sabia que estava prestes a estourar. Não com ele. Não com esse idiota. Só... com a situação toda.
— Olha, eu sei que você acha que me conhece, Rafe, mas não sabe nada sobre mim. Eu não preciso da aprovação de ninguém... muito menos da sua. — afirmei, com desdém. — Vai achar alguém com quem brincar. E, por favor, me poupa das suas piadinhas, elas estão ficando bem chatas já.
Ele ficou me encarando, provavelmente tentando achar algum defeito nas minhas palavras, mas não achou. A cara de quem esperava uma reação mais dramática, mas não ia ganhar. Não comigo.
— Aqui está. — falei, interrompendo o silêncio, enquanto tirava a embalagem da mochila, a droga ali exposta sem cerimônia nenhuma. Passei a embalagem para ele, com a maior indiferença do mundo.
Ele deu uma olhada, com um sorriso de canto, como se aquela fosse a melhor coisa que poderia querer.
— Ah, que bom, loirinha. Agora, sobre o pagamento... Vai atrasar um pouco. Vou conversar com o Barry sobre isso, ele... — o Cameron deu uma pausa, como se estivesse tentando medir suas palavras.
— Se eu fosse você, tomaria mais cuidado com as contas que você tem a pagar com o Barry. — deixei o sorriso aparecer, mas ele não era amigável. — Ele não gosta muito dessa coisa de pagamento em atraso, sabe? Não me surpreenderia se ele decidisse cobrar com juros... e, pelo visto, não são juros muito agradáveis.
Rafe ficou em silêncio por um segundo, e eu sabia que ele estava tentando decifrar o que eu acabara de dizer. Era um tipo de ameaça sutil, mas ele tinha noção do que estava implícito. Barry não era exatamente o tipo de pessoa com quem você mexe sem sofrer as consequências.
Eu o observei, aguardando sua reação. A tensão estava ali, mas, sinceramente, eu estava me divertindo. Não era todo dia que eu podia mexer com a cabeça do Rafe Cameron e ainda sair por cima.
Mas, como sempre, ele não ia deixar barato.
— Você tem um jeito peculiar de fazer ameaças, Maybank. — ele disse com um sorriso forçado, como se estivesse tentando se manter no controle. — Mas acho que se esqueceu, o que realmente importa aqui é quem tem o dinheiro. E, pelo que eu sei, não sou eu quem tem contas a pagar.
Por dentro, eu estava ardendo, cada palavra dele me enraivecendo, mas na superfície, nada. Eu era um espelho, refletindo a mesma frieza de sempre. Rafe, o idiota que se acha no topo, ainda não tinha entendido que eu não me importava com nada disso. E ainda assim, sentia a pressão. A raiva acumulada, querendo explodir, mas eu a engolia. Ele não merecia minha atenção. Eu controlava o jogo, e ele só não sabia disso ainda.
— Vai logo se drogar, Cameron. Quem sabe assim você se torna mais suportável para as pessoas à sua volta. — dei de ombros e virei as costas, me afastando dele, sem dar mais espaço para aquela troca de farpas.
— E a questão é essa! Ele fica lá, se achando o ser mais superior de Outer Banks, só porque carrega aquele maldito sobrenome! — falo, controlando o tom da voz enquanto termino de mastigar a comida. A raiva ainda pulsa nas minhas veias, mas tento manter a calma.
Depois de uma entrega frustrante, que me fez quase perder a paciência com a idiotice daquele ser, voltei para casa, e agora estou aqui, terminando meu almoço e descarregando tudo sobre o JJ.
— Espera, o que foi que você disse sobre o Rafe? Ele está comprando drogas? — o meu irmão pergunta e solta uma gargalhada, completamente indignado.
— Sério que, de tudo que eu falei, você só prestou atenção nisso? — olho para ele, incrédula.
— Desculpa. É que eu jurava que os únicos que se drogavam eram os Pogues que já tão com a vida ferrada — explica, dando de ombros.
— Ah, você acha que droga é só pra quem já está sem saída? Em todos esses anos vendo o que vejo, sempre tem algum Kook metido nisso. Eles têm tudo — dinheiro, poder, privilégios —, mas não sabem lidar com a pressão de manter essa fachada de perfeição. Eles estão perdidos, do mesmo jeito que qualquer outro. Tirando alguns, que estão ali simplesmente por diversão. — a amargura escapa no tom da minha voz.
JJ se acomoda na cadeira, e me observa atentamente, como se estivesse tentando entender minha frieza sobre tudo isso. Ele sempre foi assim, desde criança, sempre parecia intrigado quando eu demostrava o meu lado mais sério. Aquele que foi forçado a se tornar uma adulta com apenas 14 anos de idade.
Eu respiro fundo, tentando organizar meus pensamentos antes de responder. Sinto o peso da conversa, mas também o alívio de finalmente poder falar sobre isso com alguém que entenda.
— Eu me recuso a ser uma daquelas pessoas que se deixam ser engolidas pelas expectativas dos outros. Quando eles se sentem no direito de achar que são melhores do que você, é fácil cair na tentação de se sentir inferior. Mas eu não vou deixar isso acontecer. Nunca vou me submeter ao que esses caras acham que a gente deveria ser.
Jay me olha por um momento, sem dizer nada. Há uma leve tensão no ar, mas também uma compreensão silenciosa, como se ele soubesse que por mais que eu pareça dura, é só uma maneira de me proteger. De nos proteger.
— E você vai continuar bancando a durona? — Ele pergunta, o olhar mais sério agora. Eu sei que ele está preocupado, e, por um momento, me sinto vulnerável, mesmo não querendo admitir.
— Eu não estou bancando nada. Estou só jogando o jogo, do meu jeito.
— Certo, mas... você não acha que ele pode acabar se afundando nisso? — JJ pergunta, atenuando a tensão que o assunto anterior trouxe a tona. — Não que eu dê a mínima para aquele idiota. Mas quem vai estar lá se isso acontecer?
— Eu vou estar lá, se for preciso. — respondo, com uma calma inesperada. — Mas, sinceramente, não me importa o que ele faça. Não vou me enganar achando que posso mudar a cabeça dele. Se ele quiser se afundar mais, o problema é dele. Eu tenho os meus próprios problemas para resolver.
JJ, sempre com aquele olhar de quem tem mil planos na cabeça, se levantou e colocou meu prato, já vazio, na pia.
— Vamos lá, MJ. Precisamos de um pouco de ar fresco. Vamos para a casa do John B, o castelo está nos esperando.
Eu, meio distraída, o segui. Ele já estava indo em direção à moto, o motor rugindo como sempre. Fiquei mais tranquila na hora que ele disse, com um sorriso maroto:
— Vamos rápido, antes que o Luke chegue e a gente tenha que lidar com o clima pesado.
Eu definitivamente não queria lidar com meu pai e com os amigos dele, que acham que assediar é só uma forma de passar o tempo.
Mas a coisa mais curiosa é que, sempre que o meu irmão está comigo, tudo parece um pouco mais leve. Aquele sorriso dele, as piadas que ele solta para tirar o foco de qualquer coisa que me faça lembrar do que está por trás de tudo isso. Com ele por perto, eu sei que posso respirar. Porque, pelo menos, enquanto ele está ali, os outros não têm o poder de fazer o que querem. Não daquela forma. E isso me alivia, mais do que eu poderia admitir.
Acabo com aqueles pensamentos desgastantes quando o meu olhar se prende ao céu. Aquelas nuvens escuras estavam lá, como um aviso silencioso, e meu instinto me disse que algo grande estava por vir.
— JJ, — eu chamei, com um tom de alerta na voz, — acho que vai vir uma tempestade aí.
Ele virou a cabeça para o céu, deu um sorriso travesso, como se já estivesse se preparando para brincar com isso.
— Ah, que ótimo! Só faltava uma tempestade agora para dar aquele toque de aventura no dia. Vamos ver se a gente sobrevive a isso, hein?
A verdade é que a tempestade que mais me preocupava vinha de dentro de mim, de tudo o que eu estava tentando esconder, e que, provavelmente, ele nunca entenderia. Era uma tempestade de pensamentos, de lembranças, de coisas que eu não podia controlar e que me faziam sentir como se estivesse prestes a explodir a qualquer momento. Mas, para ele, tudo se resumia à chuva, àquela sensação temporária de desconforto que passaria logo.
É, parece que os antidepressivos não fizeram tanto efeito assim.
Subi na moto atrás dele, ainda com a mente corrida, e ele acelerou sem esperar resposta, como se a questão do furacão fosse apenas mais uma piada. E convenhamos, para nós, era mesmo.
Ele acelerou ainda mais a moto, fazendo o vento bater no meu rosto, e eu segurei firme nele. A sensação de liberdade na estrada era boa, mas, ao mesmo tempo, eu não conseguia deixar de olhar para as nuvens carregadas acima de nós.
O céu estava ficando cada vez mais ameaçador, as nuvens pesadas acumulando-se como uma ameaça prestes a desabar. Eu não tinha medo disso, só me apavorava a ideia de quando o tempo se virava assim, como se o próprio mundo fosse desabar sobre mim. Mas, por um momento, com o JJ ali ao meu lado, tudo parecia mais suportável. Mesmo que o furacão estivesse a caminho, eu sentia que ele faria qualquer coisa para me tirar a atenção da tempestade. E, talvez, isso fosse o suficiente para me fazer acreditar que, pelo menos por agora, eu estava segura.
— Mas e se a tempestade for mais forte do que a gente imagina? — eu gritei, tentando sobressair minha voz em meio ao som das trovoadas e do motor da moto rugindo.
— Então a gente se esconde no castelo — ele respondeu no mesmo tom, soltando uma risada abafada. — Que tal isso? Vento, chuva, e muito mais diversão lá dentro.
Era como se nada mais importasse por um segundo. Só eu e o JJ, indo a toda velocidade. E, apesar de saber que ele não é exatamente o exemplo de motorista responsável, eu não estava nem aí. Talvez fosse o jeito dele de me fazer esquecer dos problemas. Ou talvez fosse só o caos do momento mesmo. Ele parecia até curtir o fato de que, se a gente caísse ali, pelo menos seria uma história boa para contar.
Eu me agarrei ainda mais nele, sentindo a adrenalina subindo como um foguete. JJ estava empolgado, rindo e fazendo piadas de qualquer coisa. Eu sei que, no fundo, ele está preocupado mais com a diversão do que com as consequências.
— Se eu conseguir não cair dessa vez, vou pedir uma medalha!
Ele soltou uma risada e até fez um gesto de vitória, o que só me fez dar uma gargalhada sincera pela gracinha.
Depois disso, eu já podia avistar o castelo, notando as folhas ao redor num emaranhado de vento. Depois do JJ desligar a moto eu desci e fiquei o esperando.
Chegamos na porta do castelo, e ele não perdeu tempo, como sempre. Praticamente derrubou a porta com o braço, abrindo-a como se estivesse tentando invadir a fortaleza de um castelo medieval. Quando finalmente entramos, a porta se fechou atrás de nós com um estalo seco.
— Ei, cadê o John B?
Eu dei uma olhada ao redor. Não vi ninguém à vista. Mas, antes que eu pudesse questionar mais, ouvi o som de passos vindo de um corredor lateral. E ali estava ele, com uma expressão de alívio.
— MJ, JJ, que bom que chegaram. — ele acenou para nós, e foi direto ao assunto. — A situação tá ficando feia, galera. Eu liguei, pedi para adiarem a visita do juizado. Mas, agora, temos que lidar com o furacão Agatha.
— Furacão Agatha? Sério?! — perguntei incrédula. Eu olhei para JJ, que parecia só parcialmente surpreso, mas muito mais focado na cerveja que ele estava segurando, como se aquilo fosse a prioridade do momento. Nem sei quando ele pegou isso.
— Sim. Parece que vai ser forte. A Agatha não tá de brincadeira. — John B falou com uma calma absurda, dando um gole numa cerveja, como se fosse um dia qualquer no calendário.
— E agora, o que a gente vai fazer? — minha voz saiu mais baixa, até eu mesma estava tentando processar aquilo.
— Bom, podemos sair... ir surfar. As ondas devem estar iradas. — o JJ se pronuncia depois de um tempo.
Eu senti a adrenalina começando a me puxar. Aquele sentimento familiar de querer agir, de não ficar parada esperando alguma coisa acontecer. Claro que o furacão estava vindo, mas eu não podia simplesmente esperar. E, honestamente, nem estava mais tão preocupada assim. Ele tinha razão: a vida era uma grande onda, e eu sempre tinha que estar surfando. Ok, acho que o Barry tinha razão quando me chamou de impulsiva.
Meu irmão ficou me encarando, esperançoso. Esperando eu dar a resposta final.
— Vamos nessa, vamos ver o que a Agatha tem para oferecer. — falei. Naquele momento, eu não estava nem aí para o furacão. Adorava a ideia de testar os meus limites, e aquele era o momento perfeito para fazer isso. Se fosse para enfrentar o que fosse, que fosse agora.
Fui direto para o quarto do John B, ir pegar as nossas pranchas, sem nem olhar para trás. JJ me seguiu, com aquela expressão dele que eu não sabia se era de aprovação ou apenas curiosidade. Ele realmente achava que a diversão começava quando a bagunça acontecia.
Quando me dirigi de novo até à sala, com o Jay me ajudando a carregar as pranchas, vi que o John B estava com uma expressão pensativa, mas eu sabia que ele também não ia resistir. Ele era do tipo que vivia para o imprevisível, e que não ia deixar de lado uma oportunidade dessas só porque o tempo estava virando.
— Sabe, isso é loucura... mas eu topo. — ele deu um sorriso desafiante, como se já estivesse pronto para a próxima imprudência.
— Isso é o que eu tô falando, cara. Vamos nessa! — Jay soltou, e nós rimos, sem pensar nas consequências. Porque, no fundo, estávamos apenas buscando uma diversão inesperada. Algo me dizia que era disso que a gente precisava, e, por mais que todos tivessem razão em achar que éramos insanos, nós estávamos prontos para embarcar na loucura.
Nos dirigimos ao lado de fora da casa, onde a chuva já estava caindo forte. Então, sem esperar, comecei a correr em direção à praia, segurando firme a minha prancha. John B e JJ, depois de me alcançarem, começaram a gritar coisas desconexas, completamente embriagados pela empolgação.
— Eu avisei, MJ. A Agatha não tá de brincadeira — John B gritou por cima do som do vento, depois de um tempo. Mais ansioso com a ideia do que realmente preocupado com o furacão.
Eu só dei de ombros. Não estava me importando para o que a natureza tinha reservado. As ondas iam estar enormes, e eu sempre amei esse tipo de caos. Me sentia viva, mais do que nunca, como se esse perigo fosse uma espécie de combustível.
A cada metro que passávamos, a chuva ficava mais intensa. As ruas estavam vazias, só nós três, com a água batendo forte no asfalto e os raios iluminando o céu em flashes violentos. O tipo de clima que faz qualquer pessoa normal pensar duas vezes, mas não nós. Não era a primeira vez que enfrentávamos algo assim, e definitivamente não seria a última.
Quando finalmente chegamos à praia, a visão era ainda mais intensa. O mar estava revolto, as ondas maiores do que qualquer coisa que eu já tivesse encarado. O vento batia forte, e a água se espirrava com uma força impressionante, mas isso só fez minha ansiedade aumentar.
— Isso vai ser incrível! — JJ gritou, largando a prancha na areia e já tirando a sua blusa.
Fiz o mesmo e comecei a tirar o short jeans que eu estava vestindo, ficando apenas com uma camiseta larga que eu tinha roubado do Barry. John B estava logo atrás, seguindo o nosso gesto e com o sorriso característico de quem estava se divertindo mais com o perigo do que qualquer outra coisa.
— Vamos ver se você ainda tem coragem, MJ! — ele provocou, pegando a prancha dele e já se preparando para entrar.
JJ, por sua vez, estava dando risada, balançando a cabeça enquanto também pegava sua prancha. Ele parecia estar curtindo mais do que qualquer um.
— Está me desafiando, John Booker? — indaguei, seguindo os dois em direção ao mar. — Não se esqueça que fui eu quem lhe ensinou a surfar.
— Ih, essa doeu até em mim, John B. — meu irmão falou, colocando mais lenha na fogueira.
Ri dos dois enquanto colocava o pé na água. Estava fria, mas com toda aquela empolgação eu nem ligava para isso. As ondas se aproximavam, altas e imponentes, como se a natureza estivesse em alerta, desafiando tudo e todos a enfrentá-la. As ondas pareciam estar me chamando, e eu não ia perder a chance.
Com um último olhar para eles, me joguei no mar, sentindo a força da água me puxando para dentro. O vento cortava meu rosto com a intensidade de uma correnteza, e o som das ondas explodia ao meu redor, como um rugido de poder puro, misturado com os gritos dos meninos, que estavam lá para dividir a loucura comigo.
A água gelada me atingiu como um soco, mas eu não senti o frio. O choque foi rápido, e logo foi substituído pela explosão de adrenalina. Eu podia ver as ondas se erguendo à minha frente como gigantes famintos, e a cada segundo que passava, eu me sentia mais pronta para enfrentá-las. O mar estava em total fúria, como se tivesse tomado consciência de sua própria força. Mas eu também.
Aliás, isso era a coisa que eu mais adorava em surfar. Ter o controle. Bem, isso se você for muito bom. E querendo ou não, ser boa foi algo que eu aprendi a ser. Então, pelo menos aqui, eu podia dizer que me sentia no controle.
Cada onda que vinha me parecia mais desafiadora que a anterior. Eu podia sentir a água se retorcendo sob minha prancha, tentando me derrubar, me arrastar de volta, mas eu não ia ceder. A tempestade estava lá, tornando aquilo muito mais emocionante, porém eu não estava com medo. Eu me sentia parte dela, empurrando meus limites a cada segundo. Quando a próxima onda veio, eu me lancei contra ela, sentindo minha prancha cortar a água, como se estivesse desafiando o próprio oceano. Eu não era uma espectadora. Eu fazia parte daquilo.
Olhei para os garotos e notei que o único que estava se saindo bem era o JJ. Eu ensinei aos dois quando tinha doze anos e eles apenas oito. Sempre vi a empolgação deles como um reflexo da minha própria, mas hoje, JJ estava numa sintonia que deixava John B para trás. Ele se movia como se cada onda fosse sua, surfando com aquela confiança de quem realmente vive o momento.
— Anda, John! Não me decepciona! — gritei, tentando encorajar, e ele só levantou a mão, rindo e tentando se equilibrar de novo.
JJ soltou uma gargalhada que ecoou acima do barulho das ondas e apontou para o amigo, que lutava para não cair.
— John B, você ainda parece um pato! — ele provocou, usando o apelido que deu ao JB na infância, desviando de uma onda e desaparecendo logo em seguida.
Eu me preparei para a próxima, tentando me manter focada enquanto ouvia as risadas de JJ e os gritos frustrados de John B à distância. O som das trovoadas e da chuva ao nosso redor só tornava tudo mais emocionante, como se estivéssemos no meio de um cenário épico. Senti uma conexão maior com eles ali, compartilhando uma experiência que nenhum de nós esqueceria.
Mas então, ao longe, algo estranho chamou minha atenção. Um barco surgia e desaparecia nas ondas, lutando para não ser engolido pelo mar.
— Ei, olha aquilo! — apontei, meu coração batendo rápido.
JJ e John B. pararam, tentando focar onde eu apontava, e as expressões brincalhonas deram lugar a um olhar de alerta.
— Puta merda... — JB murmurou, já notando o que estava acontecendo.
— Aquilo... é um barco? — o Jay perguntou, com um tom preocupado.
— Parece que sim. E está em apuros, pelo jeito. — respondi.
Eu senti o peso da situação cair sobre nós enquanto o som das ondas fortes parecia aumentar ao nosso redor. Era como se a diversão de antes tivesse se dissipado, e agora a realidade tomava conta, mais séria e intensa. JJ e John B ficaram em silêncio ao meu lado, observando a pequena embarcação distante lutar contra as ondas. O barco era apenas uma silhueta, balançando de um lado para o outro, cada vez mais à mercê do destino que se aproximava.
— Ele tá... ele tá tentando, pelo menos, né? — JJ falou, apertando o punho ao redor da prancha, claramente frustrado. Eu sabia que ele odiava sentir que não podia ajudar. Todos nós sentíamos isso.
— Será que a pessoa vai conseguir sair dessa? — perguntei, para ninguém em específico, engolindo em seco. Embora soubesse que a resposta estava bem ao nosso alcance.
— É só... ele e o mar agora. — John B soltou um suspiro, os olhos fixos no ponto distante. — Vamos nessa, gente... infelizmente não podemos fazer nada.
Enquanto saíamos dali, senti a frustração e a impotência caírem sobre mim. Ver alguém à mercê da tempestade e saber que não podíamos fazer nada era como uma dose amarga da realidade. O Jay e o John B também ficaram em silêncio, se concentrando em continuar nadando até a terra firme, as expressões antes animadas eram agora tomadas por um respeito pesado para quem quer que esteja dentro daquele barco. Estávamos sem opções, presos entre o impulso de ajudar e a realidade de que, às vezes, o mar tem seus próprios planos.
Foi com essa sensação mista de reverência e incapacidade que deixamos o barco afundar.
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