Hurt for me por SYML
Sentia frio e lentamente seu corpo pediu para que se movesse. Suas mãos tatearam onde estava deitado e seus olhos pareciam batalhar contra a luz do quarto. Suas costas doíam por ter dormido no relento e então, quando conseguiu sentar apropriadamente, olhou para o que estava ao seu redor.
Havia bebido um engradado de cerveja sozinho e no instante que se lembrou disso seu estômago mandou o alerta de que estava pronto para se curvar diante da privada.
Quase caindo no caminho até o banheiro, se ajoelhou e tudo saiu com muita facilidade, fácil até demais. Deu a descarga e caiu sentado, passando as mãos no rosto e prendendo o cabelo.
Não adiantava, nada do que fazia conseguia superar a dor que pesava seu coração. Podia jurar que era tão forte que às vezes não conseguia sequer sentir seus batimentos.
Hoje seria o dia infernal e tentou não acordar bebendo, mas lá estava ele sentado no azulejo tendo que procurar pelo mínimo de força que o ajudaria a se levantar e ir tomar um banho.
Apoiando na privada, parou por alguns instantes quando se viu de pé para ter a certeza de que não voltaria a cair pela dor de cabeça.
O som do chuveiro parecia mais alto do que o normal, a água mais fria e seu corpo se arrepiava sozinho. Talvez estivesse começando a apresentar sintomas de gripe e até entenderia isso, não estava se alimentando direito, não queria sair do quarto fazia uma semana.
Vestindo a primeira roupa que achou dentro do armário, se curvou com a altura da campainha e com dificuldade, tentou correr até a porta para que o som parasse o mais rápido possível.
Através do olho mágico viu seu amigo de óculos de sol e o cabelo preso num coque.
- Oi. – sussurrou e não foi capaz de ver a expressão facial dele por conta do acessório, mas seus ombros relaxaram e isso foi o suficiente para Tyler ver que ele estava grato por ver o ruivo vivo.
- Vá se trocar, saímos em 10 minutos. – mostrou a garrafa de uísque fechada e então negou com a cabeça.
- Não quero ir.
- Eu sei, eu também não quero, mas será melhor se formos.
- Acha? – sentiu o nó em sua garganta a trancar e tinha a certeza que não conseguiria dizer uma só palavra sem se derramar em lágrimas.
- Tenho certeza. Quer beber lá ou aqui?
- Lá. – dando às costas ao loiro, voltou ao quarto e ouviu a porta ser fechada por Logan.
Pegando o cabide fatídico, passou a mão no terno e então a fechou em punho, o jogando sobre a cama e se despindo. Assim que ficou pronto, olhou para o espelho preso à parede e então suspirou, procurando pelos óculos de sol.
Seu maxilar estava tão tenso que chegava a doer os dentes e não sabia como fazer isso parar. Abria e fechava as mãos para não as manter em punhos cerrados.
Viu Logan sentado com os cotovelos apoiados nos joelhos enquanto segurava a garrafa de álcool, fazia isso há 9 anos e nunca seria capaz de o agradecer de maneira apropriada.
- Estou pronto. – seu amigo ergueu a cabeça e, ao respirar fundo, se levantou.
- Vamos.
Não conversaram durante sua viagem até o cemitério Lakewood e a cada rua que passavam, mais sentia seu coração quebrar.
Quando viu as árvores que conhecia tão bem, fechou os olhos. Sentiu Logan manobrar e estacionar. Pacientemente aguardou Tyler achar sua coragem e então assim que ele abriu a porta, correu para ficar do lado dele.
Caminhavam devagar, evitava o encontro o máximo possível.
O lugar era plano e muito bem cuidado, a grama sempre aparada e verde. Os túmulos limpos e cinzas como se fossem eternamente recentes naquela terra.
Passaram pelo mausoléu e sabia que seu destino estava chegando. Um pequeno sepulcro cavado na terra, uma cruz vazia que agora representava Mona, isso era frustrante.
Sentaram e por ali ficaram. Ouviram o vento passar por entre as copas das árvores, raramente viam pessoas chegando sozinhas e indo embora depois de alguns minutos.
O sol estava forte graças ao fim do verão e o terno aos poucos começava a incomodar.
Lia e relia a mensagem gravada em memória de Mona e cada vez menos fazia sentido.
- Ela teria 17 anos. – disse e então procurou pelo uísque, o abrindo e virando uma dose direto no gargalo.
Logan permaneceu em silêncio.
- Ela não merecia isso. – apontando para a cruz, parecia estar organizando as palavras na cabeça antes de falá-las, mas a verdade é que estava fazendo o possível para não deixar as lágrimas caírem. – Eu deveria estar a sete palmos. Eu. Não ela. – Tyler procurou pelo amigo e então perdeu sua batalha interna.
As lágrimas escorriam quentes pelo seu rosto, faltava ar a cada vez que soluçava.
- Eu, Logan! Eu deveria ter morrido! Não ela!
Sua dor gritou e então chorava alto no ombro do amigo que havia o puxado para dar suporte. Leves tapinhas se repetiam às vezes sem falar nada e era isso que Tyler precisava, apenas alguém que o escutasse, que escutasse o Tyler de 16 anos que se culpava.
- Mona não merecia isso. – conseguiu dizer entre o choro e então respirou fundo pela boca.
- Nem você, Tyler. – Logan disse calmo. – Nenhum de vocês merecia isso.
- Não... – tentando se afastar do loiro, se mexeu, mas o amigo não o deixou ir para longe e desistindo, chorou e se deixou chorar.
Ficaram no cemitério por algumas horas, talvez 3 no total.
Com a ajuda de Logan conseguiu se levantar. A cada dois passos que davam, Tyler virava mais um pouco da bebida. Quando chegaram à escadaria que os levaria até a rua, Tyler caiu derrubando a garrafa e perdendo metade do uísque.
Logan o pegou por baixo dos braços e fez o possível para que o amigo jogasse nele todo o seu peso para que assim pudessem subir todos aqueles degraus.
Tyler caiu sentado no banco com a ajuda do loiro. Logan suava pelo calor e pelo esforço feito. Encostando na porta de Tyler, refez o coque e considerou por um momento realmente cortar seu cabelo.
Tirou o terno e abriu a camisa indo em direção à porta do motorista. Ligou o carro e correu para ligar o ar condicionado também.
Deitou o banco de Tyler ao perceber que ele estava mais pra lá do que pra cá, assim que começasse a dirigir ele iria dormir. Certificou que o cinto havia sido encaixado e deixou seu corpo cair no banco por alguns instantes.
Alguns anos não eram tão difíceis e as visitas eram rápidas e Tyler apenas se trancava em casa, outras vezes eram visitas rápidas e ele evitava voltar para casa, mas tinham os anos em que Tyler parecia simplesmente desistir da vida e esse era um desses anos.
Seu amigo estava derrotado, havia emagrecido e estava mais pálido do que costumava ser. A tinta vermelha estava saindo de seu cabelo e conseguia ver uns 4 dedos da cor natural.
Queria poder ajudar, mas sabia que ele não precisava da sua ajuda e sim de um profissional. Dustin havia oferecido suporte profissional de graça, mas quando sóbrio Tyler era muito orgulhoso.
- Tyler. – chacoalhando seus ombros, esperava que ele acordasse sem vomitar, tinha até dado um passo para o lado para o acaso. – Tyler, chegamos. – o ruivo se mexeu, mostrando ter acordado, mas virou de lado querendo se ajeitar para voltar a dormir. – Não, não, vamos para a cama.
- Não quero.
- Agora. – Logan disse começando a puxá-lo para fora do carro.
Agradecido por ele não ter relutado, caminhar com ele estava mais fácil.
O ajudou a tomar um banho rápido, colocou qualquer roupa para ele se trocar e o viu cair no colchão no chão e apagar na sua frente.
Ficaria com Tyler até o dia seguinte, fazendo com que ele vivesse o básico: comendo, se hidratando e o proibindo de voltar a beber.
Jogou a roupa no cesto da lavanderia e foi para o sofá, pegando o celular e encomendando hambúrguer com fritas para quando ele acordar.
Sentiu um peso cair sobre seu corpo e então se encontrou extremamente cansado. Odiava esse momento específico do ano, sempre uma semana antes do retorno às aulas.
Ver seu amigo de infância naquele estado o destruía mais do que recordar o dia que Mona faleceu. Um dia amaldiçoado que era um trauma para quem estava envolvido e infelizmente Logan estava.
Vendo a mala que havia deixado embaixo da mesa de entrada, passou a se despir e lavou o rosto na pia da lavanderia, abriu a janela, acabando por resolver abrir todas que pudesse para fazer com que o ar varresse aquela casa.
Vestiu algo confortável e então voltou a deitar no sofá.
Acordando com o barulho da campainha, sentia que estava vivendo um dejà vu. Pôs-se de pé rápido demais e então viu como estava frágil.
- Já vai! – gritou no interfone.
Pegando a comida, estava andando melhor pelo prédio.
Ao entrar no apartamento, viu Logan vindo do seu quarto preocupado.
- Não me olha assim, você tava capotado no sofá. Não é culpa minha.
- Ok. – Logan o olhou como se investigasse um caso criminal e então caminharam até a mesa da sala de jantar e ambos passaram a comer.
- Obrigado Logan. – o loiro o olhou e então sorriu entregando um potinho de molho barbecue.
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