Hideaway por Dan Owen
A sexta-feira chegou em um piscar de olhos, e Tyler ainda se perguntava como tinha sobrevivido àquela semana infernal. Introduções de matérias novas, provas, trabalhos... Tudo parecia interminável, era uma tortura ter que passar por isso mais uma vez no ano que vem. Ele mal conseguia focar em qualquer coisa sem sentir a pressão crescente de querer desistir de tudo. Já tinha duas especializações, seu trabalho secreto que dava uma grana boa até, e a banda. O pensamento de trancar a faculdade era cada vez mais atraente, e ele não sabia quanto tempo mais aguentaria a rotina que o sufocava.
Para piorar seu humor já péssimo, a semana acabou sem que Christian Sacco tivesse dado um retorno sobre a vaga de estágio que ele tanto queria. Sabia que tinha ido bem na entrevista, via na reação de Sacco que ele tinha o impressionado, então que demora era essa? Isso estava tirando seu sono à noite. A ansiedade corroía Tyler por dentro, a cada dia mais impaciente e desesperado por uma resposta. Tinha planos com esse estágio, queria começar a fazer conexões, vender seus samples... Ele precisava desse emprego, não só pelo dinheiro, mas para sentir que sua carreira estava finalmente indo a algum lugar. Sem isso, tudo parecia estagnado. A espera pelo retorno de Sacco era insuportável.
Sentado em sua Harley-Davidson Iron 883 preta, uma moto robusta e agressiva, que combinava perfeitamente com sua personalidade rebelde, Tyler saiu lentamente da garagem de seu apartamento. O motor roncava suave, enquanto ele observava o movimento ao seu redor. Estava em uma rua sem saída, e cada detalhe da paisagem à sua volta parecia tão familiar, mas ainda assim um tanto monótono. Não que a rua fosse feia, apenas a mesma por anos.
Ele olhou para a esquerda, vendo o prédio de cinco andares em que morava, com o último andar sendo um duplex. Era o único apartamento que tinha uma aparência diferente, com grandes janelas de vidro que se destacavam. Sempre que saía ou chegava em casa, ficava imaginando quem morava naquele duplex, se vivia uma vida luxuosa e tranquila.
Virando a cabeça para a direita, seus olhos pousaram no prédio de três andares, de aparência moderna. As linhas retas e o acabamento minimalista faziam-no parecer algo saído de um catálogo de arquitetura. A grama bem aparada, a fachada impecável. Tudo ali parecia tão meticulosamente planejado, tão... perfeito. Exatamente o oposto de como ele se sentia. Queria morar em algo assim, que passasse a sensação de tudo estar em ordem.
Tyler acelerou um pouco mais, sentindo o vento começar a bater contra seu rosto enquanto saía da rua estreita.
— Mal posso esperar para essa semana acabar. — Murmurou para si mesmo, frustrado. Hoje tinha o ensaio com a banda, finalmente o segundo ensaio da semana e comeria todos vivos, querem sempre participar dessas merdas, mas não querem se comprometer? Já basta Logan querer tocar uma original, agora não ensaiar? Só podia ser piada.
Sua mente voltou, inevitavelmente, ao e-mail de Sacco. Quantas vezes ele já tinha checado a caixa de entrada? Dez? Vinte? E cada vez que não havia uma resposta, o desespero aumentava. Seria muito desespero ir lá presencialmente? Dar uma volta pela loja, olhar para o andar de cima, ver se algo estava acontecendo? Um evento que impedia Sacco de contratá-lo?
"Será que ele não gostou do meu trabalho?", "E se a vaga já foi preenchida?", pensava Tyler, enquanto seguia em frente. Esses pensamentos vinham do nada para lugar nenhum, criados com um único objetivo: Tirar a sua paz. Eram os pensamentos degradantes e pessimistas que carregavam a voz de seu pai, pensamentos que havia ouvido várias vezes saindo pela boca dele enquanto crescia, e agora o diminuía repetidamente sempre que voltava para casa.
Enquanto trafegava pela cidade, o ronco constante da moto era a única coisa que o acalmava um pouco, precisava pegar a estrada de novo, o vento na cara, a moto roncando e o coração acalmando. A sensação de controle sobre algo, mesmo que fosse apenas sua moto, era a única coisa que parecia sólida. Era assim que ele enfrentaria mais um dia.
Ao chegar na universidade, Tyler avistou Iceberg saindo de seu carro, acompanhada de um homem mais velho. O sujeito tinha a postura desconstruída, cabelo grisalho e usava um casaco que o fazia parecer alguém de respeito, mesmo em um dia que prometia ser tão quente quanto o anterior, talvez um professor. O estômago de Tyler revirou imediatamente ao pensar na cena.
— Não pode ser... — Murmurou para si mesmo, estreitando os olhos enquanto observava a interação. Como um juíz, tentava captar o ar entre os dois para poder chegar a uma conclusão que fosse oposta ao que imaginava.
Por um instante, um pensamento invadiu sua mente como uma tempestade: "Será que ele é o namorado dela?" Sacudiu a cabeça. Ela, envolvida com um homem bem mais velho? Não fazia sentido nenhum! Talvez fosse mais uma das várias garotas que faziam esse tipo de jogada: Tentando seduzir professores em troca de notas ou algum tipo de favorecimento, já tinha visto isso acontecer várias vezes. Isso o incomodou profundamente.
Mas então ele reconsiderou, observando-a de novo com mais atenção. "Não..." pensou, Iceberg parecia fria e calculista demais, muito prática e cuidadosa para ser o tipo de pessoa que faria algo assim, quando foi pega tocando o piano agiu como se estivesse burlando uma lei. Ela não parecia ser movida por emoções fugazes, tampouco uma daquelas que cairia na tentação de usar alguém para alcançar seus objetivos de forma fácil, esse era ele, não ela... Essa ideia não se encaixava na personalidade que ele havia criado sobre ela.
Estacionou sua moto em um dos poucos espaços restantes, desligando o motor com um movimento rápido, mas o olhar fixo nela e no homem. Algo sobre aquela cena o incomodava, e ele precisava descobrir o que estava acontecendo, por que? Também não sabia. Pegou suas coisas rapidamente e saiu andando em direção ao prédio, com passos mais rápidos do que o normal, a curiosidade queimando em seu peito. Ele queria saber o que eles estavam conversando.
Ao se aproximar, mantendo certa distância para não ser notado, ouviu a risada dela. Aquilo o surpreendeu. "Ela está rindo?". Pensou que ela sequer era capaz de algo assim. Desde que a conhecera, nunca a viu sorrir, muito menos rir de verdade. E ali estava ela, com esse homem, rindo como se estivessem em uma conversa leve e descontraída.
Encostou-se discretamente na parede do prédio ao ver que ambos haviam parado na escadaria para terminarem o assunto, e conseguiu captar parte da conversa.
— ... e então eu disse a ele, "Se você não for capaz de resolver essa equação básica, não sei se vai sobreviver ao restante do semestre" — O homem falava com uma voz divertida. Iceberg deu outra risada leve, e Tyler pôde ouvir o som mais claro agora.
— Meu Deus, pai! — Respondeu ela. — A cara dele deve ter sido impagável!
"Pai?" Tyler se sentiu um pouco tolo por seus pensamentos anteriores, tinha que parar de andar com as mulheres com quem andava, mas continuou ouvindo, sem se revelar.
— Ele ficou paralisado por uns bons cinco segundos, achei que tinha perdido a fala — Continuou o homem, agora rindo também. — Mas, no fim, ele conseguiu responder... Com a pior solução possível.
Iceberg balançou a cabeça, sorrindo.
— Eu não sei como você tem paciência com esses alunos às vezes.
— Ah, é meu trabalho — Disse o homem, suspirando de leve. — E é algo que eu amo. Sabe, Branca, a cada vez que vejo um aluno finalmente entendendo algo depois de lutar tanto, é como se fosse um pequeno milagre.
Branca... Esse era o seu nome! Mesmo fazendo o trabalho de cinema juntos, ela não havia se apresentado para ele, não parecia querer criar essa conexão. "Branca..." Sorriu. Um nome muito bonito.
— Agora eu entendo o que você sempre quis dizer quando falava que amava o que fazia — Respondeu Branca, com um tom mais suave e reflexivo. — Eu estou começando a sentir isso.
Houve um breve silêncio entre os dois, e Tyler, parado ali ouvindo, não pôde deixar de se perguntar o que aquilo significava para Branca. Era estranho pensar nela como alguém que refletia sobre essas coisas, como alguém que realmente se importava com algo que não fosse ela própria. Talvez ele se projetasse muito nela, era a sua personalidade, buscar sempre o sucesso, não a dela...
— E estou muito orgulhoso de você, filha — Disse o pai de Branca, com uma sinceridade evidente na voz. Tyler cruzou os braços enquanto engolia em seco. Sabia que aquela frase havia pego em cheio o seu trauma. — Você está construindo algo grande. Continue assim.
Tyler podia imaginar como seria o leve sorriso de Branca, um sorriso que ele nunca tinha visto antes. Era mais... Genuíno. Em sua mente ela era Iceberg, mas nessa conversa ela parecia diferente, mais leve, menos carregada daquela frieza habitual.
Ele afastou-se um pouco, ainda sem ser notado, e continuou seu caminho até o hall. Sua mente ainda estava digerindo o que havia acabado de presenciar. "Ela realmente ri", pensou. E mais que isso, a relação dos filhos com os pais. Branca era muito mais próxima do que ele era capaz de imaginar que alguém conseguiria ser com um pai. Tyler sempre teve uma visão muito diferente graças a sua própria relação com seus pais, não sabia que podiam coexistir de maneira feliz e amigável. Para ele, os pais eram ausentes, distantes, enquanto Branca parecia ter algo que ele nunca teve: um pai que não só estava presente, mas que acreditava e apoiava seus sonhos.
Aquilo o deixou ainda mais curioso sobre quem Branca realmente era. Mas, além da curiosidade, Tyler também sentiu uma pontada de inveja. Ele nunca teve esse tipo de interação com os pais. Para ele, era sempre uma questão de expectativas nunca atendidas, de desapontamento mútuo. Ver alguém como Branca, que ele pensou ser tão distante e independente, ter esse tipo de conexão familiar mexia com ele.
Enquanto ela tinha a personalidade fria, ideia alimentada por Tyler, eles eram iguais, próximos até, mas agora eram tão diferentes.
Continuou caminhando pelos corredores, tentando afastar as reflexões que agora o cercavam. Mas era difícil. Naquele momento, perceber que existiam camadas em Branca que ele talvez nunca conheceria completamente, o fazia pensar ainda mais sobre suas próprias faltas. Ele estava cercado por suas frustrações com a universidade, com o estágio que não chegava, com seus próprios pais, com a banda e sua falta de comprometimento e, de repente, a vida de Branca parecia tão mais... completa.
"Será que eu tô pirando por causa da falta de respostas do Christian?" Tyler se perguntou. Tudo parecia contribuir para sua mente inquieta, e ele sabia que qualquer coisa seria válida para desviar sua atenção da ansiedade crescente.
No fundo, Tyler sabia que a frustração com a vida, a falta de respostas, e o tédio na faculdade estavam o afetando mais do que gostaria de admitir.
A semana tinha sido uma verdadeira maratona mental, não ter conseguido ensaiar mexia com ele, a ideia de ter olheiros que poderiam gostar dele, ser contato quente...
— Três matérias diferentes num dia? — Resmungou para si mesmo ao descobrir que seu dia seria lento enquanto pegava seus materiais para a primeira aula.
As primeiras duas horas seriam com o professor Martin, que ensinava composição orquestral. Tyler costumava gostar das aulas de Martin, um cara mais velho, mas com uma visão moderna sobre como incorporar elementos clássicos à música contemporânea. Naquele dia, no entanto, ele mal conseguia prestar atenção. Enquanto o professor falava sobre progressões harmônicas em arranjos complexos, a mente de Tyler vagava. Ele estava fisicamente presente, mas seus pensamentos estavam em outro lugar, completamente focados no fato de que Christian Sacco ainda não havia respondido sobre o estágio.
De vez em quando, ele voltava à realidade ao ouvir a voz de Martin subitamente ficando mais alta:
— E se alguém tocar a quinta menor aqui, o que vai acontecer? Isso mesmo, uma dissonância incômoda. Então evitem essas armadilhas quando estiverem compondo suas peças — Dizia Martin, com sua típica ênfase dramática.
"Dissonância incômoda... Como minha vida agora", Tyler pensou, sem se importar muito.
A segunda aula era curta, uma hora com o professor Crowley, um teórico da música que gostava de mergulhar fundo nas minúcias dos intervalos e modos. Tyler sempre achou essas aulas mais tediosas, como um mergulho técnico em algo que ele já entendia intuitivamente. Crowley falava sobre o uso do modo dórico nas canções modernas, mas Tyler mal escutava.
"Será que Sacco ao menos gostou do meu portfólio?" era tudo o que conseguia pensar. Ele sentia uma necessidade urgente de sair daquela rotina, de provar que era capaz de algo maior. Estudar o que amava não era o suficiente. Ele queria ação. Queria tocar, criar, produzir. E, mais do que tudo, queria ser reconhecido por isso. Não era pedir demais, era?
A última aula do dia, com o professor Blake, seria a mais longa: duas horas discutindo produção musical. Tyler geralmente gostava desse curso, mas naquela sexta-feira, a sensação de que seu tempo estava sendo desperdiçado só aumentava. Blake falava sobre técnicas avançadas de mixagem e masterização, mas Tyler já conhecia a maioria dos truques. Ele até participava ocasionalmente, fazendo perguntas ou comentando algo, mas tudo parecia mecânico.
Entre as aulas, ele se pegava pensando em Branca e na conversa que ouvira dela com o pai. Não conseguia tirar da cabeça como o pai dela falava com tanto orgulho e paixão sobre o que fazia. "Será que um dia vou me sentir assim?". O desejo de ser como o pai de Branca, alguém que ama verdadeiramente o que faz, parecia uma meta distante.
— Eu só quero fazer algo que importe. — Murmurou para si mesmo. — Só quero que alguém veja que eu posso ser tão grande quanto eles... Sacco, você precisa me contratar.
Quando finalmente a aula terminou, Tyler não via a hora de se reunir com a banda. Ele mandou uma mensagem para os outros, sugerindo que se encontrassem no refeitório da universidade para evitar a casa de Tobby. Ninguém queria lidar com as excentricidades do pai dele, especialmente com sua insistência em oferecer gelatina de beterraba como sobremesa.
Tyler chegou primeiro ao refeitório, pegou um café e sentou-se à mesa, péssima escolha, já estava ansioso e decidiu tomar cafeína, seria como uma bomba relógio. Logo, Logan, Mathew e Tobby apareceram.
— Aí está o nosso líder. — Disse Logan, jogando a mochila na cadeira ao lado de Tyler e sentando-se de frente para ele. — E aí, como foi a tortura hoje?
— Mais do mesmo. — Respondeu Tyler, dando de ombros. — Composição, teoria... e mais composição. Minha cabeça está fervendo de tanta informação inútil. - Tobby deu uma risada enquanto sentava-se.
— Cara, eu entendo. A aula de história da música hoje foi uma tortura. O professor passou uma hora falando sobre a importância dos cantos gregorianos. Quem se importa? Eu só quero tocar a bateria!
Mathew, sempre mais calado, apenas sorriu de canto e tomou um gole do refrigerante que havia pegado.
— E você, Tyler? — Perguntou Logan, voltando-se para ele. — Alguma notícia do Sacco? - Tyler suspirou, mexendo no café sem muita vontade.
— Nada. Zero. Tá me deixando louco. - Logan balançou a cabeça em compreensão.
— Sacco é um grande nome. Se ele te der uma chance, isso pode ser o começo de algo enorme. Mas calma, cara. Ele é ocupado. Uma hora ele vai responder.
— Eu espero que sim — Tyler respondeu, batendo os dedos na mesa com impaciência. — Eu só... Deixa quieto. Não quero me estressar mais. - Tobby deu um leve empurrão em Tyler com o cotovelo.
— Relaxa, velho. Você vai conseguir. E enquanto isso, temos o show no final do mês pra focar. Sacco ou não, a gente vai arrebentar. - Mathew assentiu em silêncio, como de costume.
— É verdade — Disse Logan. — Vamos usar esses dias pra ensaiar pesado. Quando a gente subir naquele palco, vamos estar mais que prontos. Vai ser épico.
Tyler estava descrente de verdade, o entusiasmo dos amigos era momentâneo, ajudava a levantar seu humor, mas não ajudava nos ensaios. Eles falavam muito da boca pra fora, diziam que tudo seria grandioso, mas na ação estão sempre ocupados e desencanados.
— É, não sei não.
Eles continuaram conversando sobre os detalhes do show, ideias de como melhorar as apresentações ao vivo. Tyler queria que a banda crescesse, desse retorno, seria por todos eles, por ter sua banda e se importar com ela e os integrantes.
A batalha de bandas estava chegando, e Tyler sabia que aquela era a oportunidade perfeita para desviar sua mente da frustração crescente, e a ideia de se jogar completamente no ensaio para a competição parecia ser a única maneira de canalizar sua energia. Porém, uma coisa era clara: Ele não estava disposto a deixar ninguém mais arrastar o ritmo. A banda precisava estar no topo de seu jogo, e, na opinião de Tyler, seus colegas estavam longe disso.
Conforme a conversa avançava para longe do assunto Feng Shui, Mathew falava sobre seu tcc em psicologia, Tobby sobre seu possível intercâmbio para Inglaterra, e Tyler sentia a raiva crescer dentro de si.
— Eu tô começando a achar que vocês não estão levando essa batalha a sério. — Disparou, rompendo o diálogo que havia se instalado. Todos o olharam, surpresos pela agressividade em sua voz.
— Que isso, Tyler? — Logan franziu o cenho. — A gente tá aqui, né? - Tyler bufou, descrente.
— Estar aqui não significa nada se não tiverem a cabeça no lugar. A gente tá a dias desse evento e vocês agem como se fosse só mais um showzinho qualquer.
— Relaxa, Tyler — Tobby interveio. — A gente já tocou antes, tá tudo no esquema.
— Tá tudo no esquema? — Tyler rebateu, a voz carregada de sarcasmo. — Não é só subir no palco e achar que vai sair tudo certo. A gente precisa ensaiar! Vocês estão fingindo que vão dar conta, mas a real é que não estamos prontos. Não tem nada certo ainda.
Mathew, que até então estava calado, suspirou e cruzou os braços, irritado.
— Sério, Tyler? — Ele finalmente falou. — Você tá exagerando. É fácil falar assim quando só você tá surtando, e nem é pelo "show". Não precisa descontar na gente.
— Exagerando? — Tyler virou-se para Mathew, a expressão rígida. — E quanto aos ensaios que a gente tem furado? E quanto ao fato de que vocês nem se preocupam com os olheiros que estarão lá? Não estamos falando de qualquer show, estamos falando de uma chance real de mostrar quem a gente é. Se não for pelo prêmio em dinheiro, que seja pelos olheiros. Ou vice-versa. Mas do jeito que vocês estão lidando com isso, ninguém vai nos levar a sério.
Mathew descruzou os braços, visivelmente incomodado.
— Não somos idiotas, Tyler! Sabemos que é importante. Só acho que você tá levando isso pra um lado muito extremo.
— Se parece extremo, é porque vocês estão se acomodando! — Tyler disparou, levantando-se da cadeira com um gesto brusco. — Em primeiro lugar, a ideia nem foi minha e todos concordaram não? Achar que só aparecer e tocar vai ser suficiente é o que vai nos afundar.
O clima ficou pesado. Logan e Tobby trocaram olhares, claramente desconfortáveis com a tensão. Mathew, no entanto, não recuava.
— Eu entendo que você tá estressado, mas a gente também tem nossas vidas. Não vamos passar o dia inteiro ensaiando só porque você tá com medo de falhar.
Tyler o encarou por um momento, o peito inflado de frustração. Ele estava tentando controlar o impulso de explodir, mas a irritação dominava suas palavras.
— Esse tipo de atitude é o que nos faz parecer amadores. Se não estamos dispostos a colocar tudo de nós, nem adianta subir no palco.
O silêncio pairou sobre eles, até que Logan suspirou e interveio:
— Tá, tá, gente. Já deu. Vamos só... ir pro ensaio. A gente tem tempo de se preparar. Não vamos brigar por isso agora.
Tobby, que até então estava quieto, assentiu.
— Bora ensaiar, então. Quanto mais cedo começarmos, mais tempo teremos pra ajustar o que for necessário.
A tensão diminuiu um pouco, mas o peso das palavras de Tyler ainda estava no ar. Eles decidiram que era hora de ir para a casa de Tobby ensaiar, mesmo que o humor estivesse longe de ser ideal.
Ao chegarem lá, a pequena construção no quintal esperava por eles. Era simples, mas eficiente: uma sala espaçosa com paredes acústicas, equipamento de som de primeira e espaço suficiente para que todos pudessem tocar confortavelmente.
— Vamos lá, pessoal — Disse Tyler, pegando sua guitarra e conectando-a no amplificador. — A gente precisa pegar pesado hoje.
— Sem pressão, né? — Murmurou Tobby, girando as baquetas nas mãos.
Tyler o ignorou, fechando os olhos por um momento e respirando fundo antes de dedilhar as primeiras notas. A música que eles estavam ensaiando era uma das mais clássicas que eles cantavam. As guitarras eram intensas, as batidas de Tobby precisavam ser precisas e pesadas, e os vocais de Logan davam a textura melódica que eles precisavam.
O ensaio começou de maneira tensa. Cada um estava imerso em sua própria parte, mas a energia de Tyler, mais agressiva que o normal, era palpável. Ele tocava com uma força exagerada, como se estivesse tentando descontar tudo o que sentia nas cordas da guitarra.
— Corta! — Tyler gritou de repente, interrompendo o fluxo da música. — Mathew, o baixo tá fora do tempo na transição pro refrão. - Mathew, que já estava irritado pela discussão anterior, revirou os olhos.
— Eu tô seguindo o que tá no arranjo, cara. Talvez seja você que tá fora.
— Não. Eu não tô fora. Vamos de novo. — Tyler insistiu, já sem paciência.
Eles recomeçaram, mas a tensão só crescia. A música avançava, mas cada erro parecia uma ofensa pessoal a Tyler. Finalmente, após a quinta tentativa, ele explodiu.
— Isso não vai funcionar se a gente não se concentrar! A gente tem que fazer isso direito ou nem adianta subir no palco. Vocês estão tratando isso como um hobby, mas não é assim que as coisas funcionam!
Tobby parou de tocar e ficou encarando o nada por um segundo, antes de largar as baquetas com força.
— Tyler, a gente tá tentando. Mas com você surtando assim, ninguém vai conseguir tocar direito.
— Vamos só continuar. A gente resolve isso, ok? — Ele sugeriu, tentando manter a paz.
O clima pesado era inegável, mas uma coisa era clara: eles precisavam se ajustar se quisessem fazer o show funcionar.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro