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Big God por Florence + The machine

Branca encarava o teto de seu quarto, os olhos abertos como se estivessem vendo um fantasma, como se tentassem perfurar a escuridão do quarto e achar a luz das estrelas.

A insônia tinha se tornado sua fiel companheira nas últimas semanas, e essa noite parecia não ser diferente. Virava-se de um lado para o outro, puxando o cobertor e, em seguida, empurrando-o para longe, como se isso pudesse trazer algum conforto ou alívio para o peso que carregava nos ombros. O relógio no criado-mudo piscava 5h15 da manhã. Ainda restavam alguns minutos até que o dia nascesse, e Branca sabia que o sono, se chegasse, seria leve e breve.

Ter enfrentado seu medo a exauriu de uma forma que nunca imaginara, até mesmo porque nunca pensara que iria voltar àquele lugar, não tão cedo. Era como se todas as suas energias tivessem sido drenadas, mas, ao mesmo tempo, seu corpo não reconhecia o cansaço como um convite ao sono. Pelo contrário, seus músculos estavam tensos, e a mente fervilhava com lembranças desconexas, imagens confusas e perguntas que não deixavam de girar em sua cabeça. Depois da crise de pânico, o que lhe restava era a ansiedade.

— Por que Aaron fez aquilo? — Murmurou para si mesma, a voz ecoando pelo quarto vazio.

Aaron sempre fora o oposto do que havia mostrado naquele dia. Sempre tão educado, polido, alguém que as pessoas confiavam para manter a calma em qualquer situação. Ele era conhecido por sua maturidade, por ser regrado e controlado, quase meticuloso com suas ações graças ao pai militar. E, ainda assim, o que Branca presenciou era o retrato de um garoto descontrolado, perdido no calor de uma emoção que não fazia sentido para ela. Aquela agressividade, aquele descuido... parecia a atitude de um adolescente de 17 anos.

Ela se virou na cama novamente, encarando agora a janela parcialmente aberta, por onde uma leve brisa noturna entrava. O frescor do ar deveria ter sido relaxante, mas apenas servia para acentuar o desconforto que sentia. Fechou os olhos, tentando expulsar os pensamentos, mas as cenas do dia continuavam se repetindo, como um filme indesejado que não parava de ser exibido.

Ela lembrava de cada detalhe com nitidez. Aaron havia sido gentil no início, como sempre era, com aquele sorriso que parecia tranquilizar qualquer um ao redor. Mas então, algo mudou. Ele se transformou. Os gestos tornaram-se bruscos, a voz elevada, o olhar antes caloroso agora cheio de controle. E por quê? Branca não sabia. Não fazia ideia do que tinha levado Aaron a agir daquela maneira.

— Não faz sentido. — Suspirou, apertando os olhos, como se isso fosse dissipar as imagens que a atormentavam.

Ela se sentou na cama, cansada de lutar contra a própria mente. Colocou os pés no chão frio e respirou fundo, o corpo encolhido. O peso da situação a esmagava, trazendo à tona velhos fantasmas que Branca tentava manter enterrados. Não era sobre Aaron, ele havia sido apenas um gatilho, era Gina seu maior problema. Era toda a bagagem que ela carregava. O retorno à cidade, os traumas não resolvidos... tudo se amontoava como uma tempestade prestes a explodir.

Branca sabia que precisava lidar com essas coisas, mas não sabia por onde começar.

Levantou-se, caminhando até a janela. Precisava de mais ar. A brisa noturna tocou seu rosto, e Branca sentiu-se um pouco mais leve por um momento, como se o ar fresco pudesse levar embora suas preocupações. Mas o alívio durou pouco. Seu peito ainda estava apertado, e a mente ainda inquieta. Por mais que soubesse que estava segura, sua mente gritava o tempo todo, em alerta, a deixando zonza.

Olhou para o horizonte, se perguntando se Aaron estava passando pela mesma angústia. Será que ele também se sentia perdido? Ou será que para ele aquele momento já havia passado, sem deixar rastros? Não podia saber, e isso a incomodava ainda mais.

— Preciso falar com ele... — Murmurou, sabendo que a conversa seria inevitável. Aaron precisava explicar, e ela precisava entender. Não podia continuar naquela incerteza, não aguentaria perder mais uma pessoa para situações tão similares...

A noite, que parecia eterna, sumiu e Branca sabia que esse era mais um amanhecer cansativo.

Havia sentado no chão frio do quarto, Branca abraçava as pernas contra o peito embaixo da janela. O silêncio envolvia o apartamento como um cobertor pesado, e ela observava os feixes de luz que entravam pela janela entreaberta, por onde o vento entrava suave, mexendo nas cortinas. Branca agradecia silenciosamente o fato de seu pai não estar ali naquela noite. Com ele em casa, ela sabia que todo esse movimento, os passos inquietos e a respiração pesada, seriam notados, e ele ficaria aflito, tentando oferecer ajuda, quando, na verdade, Branca precisava estar sozinha.

O que ela não conseguia afastar eram os pensamentos. Eles vinham em ondas a deixando sem chão, puxando-a para lugares do passado que cutucavam suas feridas, revivendo momentos que pareciam inacabados, como se cada um deles carregasse uma ausência de resposta que ela ainda desejava encontrar.

Naquele instante, sua mente vagou para três anos atrás, para uma noite que, de alguma forma, ainda a fazia sorrir, ingenuidade envolta pela ansiedade.

Foi na fila daquela balada que conheceu Gina. Era uma noite quente e o barulho da cidade ecoava ao redor delas. Branca estava distraída, mexendo no celular, quando ouviu uma risada atrás de si. Uma daquelas risadas que contagia, que fazem você sorrir sem nem entender o motivo. Virou-se curiosa e viu Gina pela primeira vez: Da sua altura, cabelos pretos, curtos e despenteado de um jeito proposital, um vestido preto que parecia básico demais, mas, ao mesmo tempo, caía perfeitamente em seu corpo esguio. O sorriso largo no rosto de Gina era a primeira coisa que se notava, e Branca teve a sensação imediata de que aquela era uma daquelas pessoas que iluminavam o ambiente apenas por estarem ali.

— É a sua primeira vez aqui? — Gina perguntou, inclinando-se para perto, a voz carregando uma mistura de diversão e curiosidade. Branca assentiu, meio tímida. — Ah, você vai amar. O DJ de hoje é ótimo. Mas, se não gostar da música, prometo que faço a noite valer a pena de outro jeito.

Branca riu, surpresa com a ousadia e o flerte, não se sentiu desconfortável. Gina tinha aquele jeito fácil de lidar com as pessoas, uma confiança natural que não parecia forçada. Conforme a fila avançava, elas continuavam conversando, e Branca se pegou rindo mais do que esperava. Gina era engraçada, cheia de histórias absurdas, e cada vez que ela falava, era impossível não se perder na espontaneidade de suas palavras.

— E você? — Gina perguntou, inclinando a cabeça e estudando Branca por um momento. — O que uma garota como você faz aqui sozinha? Não me diga que está esperando alguém.

Branca hesitou. Não sabia exatamente o que dizer. Não estava esperando ninguém. Na verdade, tinha decidido ir até aquela balada para fugir da casa de Flora, precisava espairecer ou iria ser uma assassina aos 23 anos de idade. Não era de seu costume sair sozinha, mas naquela noite precisava.

— Na verdade, vim por conta própria. — Branca respondeu com um sorriso envergonhado, tentando parecer mais à vontade do que realmente estava.

— Sozinha? — Gina arqueou uma sobrancelha, visivelmente impressionada. — Uau, corajosa! Me faz gostar de você ainda mais.

O flerte sutil de Gina fazia Branca se sentir intrigada. Conforme a fila avançava, a noite esquentava, muitos corpos no mesmo lugar causavam isso e o de Gina parecia cada vez mais perto do de Branca. Gina puxou uma garrafa d'água da bolsa, oferecendo um gole a Branca.

— Não se preocupe, não tem nada estranho aqui. — Gina piscou, brincando, e Branca aceitou, com um sorriso que indicava que, pela primeira vez naquela noite, estava relaxando.

Quando finalmente entraram na balada, a música já pulsava nas paredes, e o ambiente era caótico, mas cheio de energia. As luzes piscavam, refletindo nos rostos suados de quem dançava, e Branca se pegou sorrindo novamente ao olhar para Gina, que se movia com uma naturalidade invejável, como se cada batida da música ditasse os movimentos de seu corpo.

— Vem, vamos dançar! — Gina disse, puxando Branca pela mão antes que ela pudesse responder.

Branca hesitou por um segundo, mas logo se deixou levar pela atmosfera envolvente do lugar e pela presença magnética de Gina. Elas dançaram por horas, perdendo-se na multidão, nas batidas da música e nas risadas compartilhadas. Gina flertava de maneira leve, sem pressionar, fazendo Branca se sentir à vontade para ser quem era, sem expectativas, sem cobranças.

No final da noite, quando estavam do lado de fora, sentadas no meio-fio, com os rostos iluminados apenas pelas luzes distantes da rua, Gina se inclinou para Branca com um sorriso que parecia conter o mundo inteiro.

— Sabe, você é uma pessoa interessante, Branca Sartre. — Ela disse com uma calma incomum, como se estivesse compartilhando um segredo. — Quero te ver de novo.

Branca sorriu, sentindo um calor que não vinha apenas da noite quente. Gina tinha sido um respiro de ar fresco, alguém que trouxera leveza a um momento em que ela nem sabia que precisava.

Agora, sentada no chão de seu quarto, Branca lembrava daquela noite com um misto de horror e perplexidade. Gina, com sua simpatia e humor afiado, parecia ser um ser humano razoável, quase perfeito. Mas o que aconteceu depois, a relação que se seguiu, mostrara que as pessoas nem sempre são o que parecem à primeira vista.

Olhou para o relógio. Já passava das 6 da manhã. O vento continuava a soprar suavemente pela janela, não o suficiente para esfriar a mente de Branca que estava a mil. Mesmo três anos depois, Gina ainda conseguia povoar seus pensamentos de maneiras inesperadas, a deixando imersa no passado e suas lembranças.

Branca estava dirigindo, tentando manter a atenção na estrada, mas a tensão dentro do carro era palpável. Ao seu lado, Gina olhava pela janela, a mandíbula tensa, os braços cruzados. O silêncio entre elas era sufocante, mas Branca sabia que algo estava errado. O estômago revirava, como sempre acontecia quando Gina começava a agir daquela maneira: quieta demais, fria demais. Não demoraria muito para que as palavras viessem, disfarçadas de ironia e cheias de veneno.

— Parece que você se divertiu bastante hoje, né? — Gina finalmente quebrou o silêncio, sem sequer olhar para Branca.

Branca sentiu o peso da acusação nas palavras, embora o tom de voz de Gina fosse casual, quase como se estivesse fazendo um comentário qualquer. Ela sabia onde aquilo iria parar.

— Como assim? — Branca perguntou, tentando manter a calma, ainda focada na estrada. Seus dedos apertavam o volante com mais força do que o necessário.

— Ah, nada. Só você e aquele cara do seu curso. — Gina finalmente virou-se, lançando um olhar rápido na direção de Branca. — Vocês estavam bem próximos. Devem ser amigos agora, né?

Branca sentiu o coração apertar. O "cara do curso" era apenas um colega que, naquela tarde, pediu ajuda com um projeto de fotografia. Nada além disso. Mas com Gina, sempre havia uma segunda camada, uma desconfiança que ela nunca conseguia dissipar, não importa o quanto explicasse.

— Ele só precisava de ajuda com a câmera, Gina. Não é nada demais.

— Claro, claro. — Gina sorriu, mas era um sorriso vazio, carregado de sarcasmo. — Só uma ajudinha. Muito fofo.

Branca respirou fundo, lutando contra a vontade de revidar, de se defender mais uma vez de algo que não fazia sentido. Ela sabia que qualquer tentativa de explicação só pioraria a situação. Já havia passado por aquilo outras vezes. As palavras de Gina sempre vinham revestidas de doçura ácida, passivo-agressivas, jogando Branca contra a parede sem que ela pudesse se esquivar.

— Por que você está falando assim? — Branca perguntou, a voz soando mais fraca do que gostaria.

Gina suspirou, dramaticamente, como se estivesse cansada da conversa. — Eu só acho engraçado, sabe? Você nunca tem tempo pra mim, mas sempre aparece alguém que precisa de ajuda, e lá vai você, prontinha pra salvar o dia.

Branca se encolheu no banco, sentindo o peso das palavras como uma pancada. Aquela era uma armadilha da qual ela nunca conseguia sair. Sempre havia algo errado, algum erro invisível que Gina encontrava para jogar em sua cara, fazendo-a se sentir culpada por simplesmente existir.

— Gina, eu tô aqui agora, com você. — Tentou argumentar, a voz baixa. — Não tem por que ter ciúmes.

— Ciúmes? — Gina riu, sem humor. — Quem disse que eu tô com ciúmes? Você tá inventando isso, Branca.

Branca fechou os olhos em seu quarto de novo. Por um breve segundo sentiu-se pequena, acuada. Não importava o que dissesse na época, tudo parecia errado. Gina tinha esse poder de fazer qualquer situação parecer sua culpa, e Branca, cada vez mais, se via presa nessa teia, sem saber como sair, principalmente em outro estado, longe de quem conhecia.

Queria sair dessa espiral de lembranças, mas já estava se afundando em outra.

Branca estava deitada na cama, a mente inquieta enquanto olhava para a tela do celular. O relógio na parede marcava três da manhã, mas o sono parecia distante, como uma promessa que ela não conseguia alcançar. Gina dormia ao seu lado, o corpo relaxado sob as cobertas, enquanto Branca tentava, de alguma forma, distrair-se da insônia que a atormentava noite após noite. Era mais uma madrugada longa, e, para aliviar a mente, ela passava o dedo pela tela, vendo mensagens antigas de amigos e rolando por fotos, lembranças de um tempo em que sua vida parecia mais leve.

No entanto, naquele pequeno apartamento abafado, onde as paredes pareciam fechar-se ao redor delas, havia uma tensão que Branca sentia o tempo todo. Gina mudara muito desde o início do namoro. Aquela garota divertida e encantadora que conhecera na fila da balada, que a fazia rir e se sentir vista, havia se transformado em alguém que a deixava constantemente pisando em ovos, com medo de cada palavra ou gesto.

Sem aviso, Gina se mexeu ao seu lado, o movimento brusco fazendo as cobertas deslizarem um pouco. O som suave do tecido ecoou na quietude do quarto, e, no escuro, Branca sentiu o peso de Gina sobre ela, observando-a silenciosamente.

— O que você tá fazendo no celular a essa hora? — A voz de Gina era baixa, mas carregada de irritação.

Branca se encolheu involuntariamente, pressionando o botão de desligar da tela.

— Não conseguia dormir — Ela respondeu, tentando soar calma. — Só estava mexendo um pouco pra passar o tempo.

Gina se sentou, os olhos ainda pesados de sono, mas o rosto rígido com uma raiva contida. Branca sentiu o ar se tornar mais denso ao redor delas. Era uma sensação familiar. Gina odiava quando Branca usava o celular tarde da noite, especialmente em momentos em que ela achava que Branca estava escondendo algo.

— Você nunca consegue dormir, né? — Gina disse com um tom de desprezo. — Sempre tem uma desculpa pra ficar acordada. Deve ser alguém te mandando mensagem, né?

— Gina, não é isso — Branca respondeu, a voz um pouco mais trêmula. Ela já sabia onde aquela conversa estava indo. — Eu só estava tentando relaxar. Não tem ninguém.

Mas Gina não ouvia. Seus olhos estavam escuros, a mandíbula tensa. Branca sabia que qualquer tentativa de explicar só pioraria as coisas. Gina tinha uma forma cruel de distorcer tudo o que Branca dizia, transformando cada palavra em uma arma contra ela.

De repente, Gina se inclinou para frente, a mão indo direto ao celular de Branca, que estava na mesinha ao lado da cama. Branca tentou se afastar, segurando o aparelho, mas Gina foi mais rápida, agarrando o pulso dela com força.

— Me dá isso — Gina exigiu, os olhos fixos nos de Branca, queimando de raiva.

Branca sentiu o coração acelerar, a respiração se tornando mais superficial enquanto Gina puxava seu braço, tentando arrancar o celular de sua mão. O medo tomou conta dela, mas ela não queria brigar. Nunca queria brigar. Mas, naquela noite, algo em Gina estava diferente, mais sombrio do que nunca.

— Gina, por favor... — Branca tentou falar, mas a mão de Gina a empurrou de volta contra o colchão, os olhos dela tão cheios de fúria que Branca mal conseguia reconhecê-la. Branca não sabia quando haviam levantado, quando ela havia pego o celular, sequer tinha algo pra esconder, mas a situação a tinha feito agir assim.

Foi então que Branca sentiu a dor aguda. O arranhão no pescoço foi tão rápido que ela mal percebeu o que estava acontecendo até o calor do sangue se espalhar levemente na pele. Gina, com as unhas afiadas, havia arranhado seu pescoço, descendo até o colo, deixando outro rastro doloroso logo acima do peito.

Branca arfou, as lágrimas enchendo seus olhos, não tanto pela dor física, mas pela agressão em si, pela violência do ato, pela quebra final de qualquer ilusão de segurança que ela pudesse ter tido.

— Você acha que pode esconder coisas de mim? — Gina gritou, a voz carregada de rancor. — Você acha que pode me trair? Eu vejo o jeito que você age, Branca! Sempre me excluindo, sempre fingindo que está tudo bem!

Branca tentou se afastar, mas o corpo estava paralisado pelo choque. Ela nunca pensou que Gina chegaria a esse ponto, mas ao mesmo tempo, algo dentro dela já sabia. Havia uma parte de Branca que vinha sendo corroída, quebrada lentamente por meses de abuso emocional, manipulação e jogos mentais. Cada insulto, cada olhar de desprezo, cada comentário passivo-agressivo... Tudo tinha culminado nesse momento. E agora, ela estava ali, ferida, acuada.

— Gina... Para — Branca implorou, a voz baixa e trêmula, enquanto as lágrimas escorriam pelo rosto. — Por favor, para.

Gina olhou para ela, os olhos ainda cheios de raiva, mas agora havia algo mais. Um lampejo de arrependimento? Confusão? Ela soltou o braço de Branca e se afastou, respirando pesadamente.

— Você me deixa louca. — Gina disse finalmente, a voz mais fraca, mas ainda carregada de amargura. — Eu só... não quero te perder. Por que você faz isso comigo?

Branca ficou em silêncio, o peito subindo e descendo rapidamente, o corpo tremendo. Ela não tinha respostas. Não para Gina, nem para si mesma. Tudo o que sabia era que algo precisava mudar.

Branca se via diante do espelho do banheiro, não havia mais sinal daquele vergão que Gina havia lhe presenteado, apenas por dentro com suas outras cicatrizes.

Seu olhar desceu pelo seu braço, chegando onde uma mancha marrom existia, a levando para outro dia com sua ex.

Gina estava no sofá da sala, o som baixo da televisão preenchendo o silêncio entre elas. Era uma noite como tantas outras. Ela sempre se perguntava como havia chegado àquele ponto, como havia permitido que sua vida saísse do controle.

Gina não era mais a pessoa pela qual ela se apaixonara. Agora, tudo parecia distorcido. Branca não sabia mais dizer quando o abuso começara a dominar sua relação, mas já não havia dúvida de que Gina a controlava completamente.

Gina, ultimamente, parecia ter encontrado uma nova maneira de lidar com suas próprias frustrações: drogas. No início, era algo que Gina fazia esporadicamente, nas festas ou quando queria se soltar mais. Mas o uso havia se tornado constante. Toda vez que algo a incomodava ou quando queria escapar de suas próprias emoções, ela recorria a substâncias ilícitas. Cocaína, comprimidos, o que quer que conseguisse encontrar. E, inevitavelmente, ela começou a pressionar Branca a fazer o mesmo.

— Só um pouquinho, amor — Gina dizia com aquele sorriso sedutor que costumava derreter Branca. — Vai te fazer sentir melhor. Você anda tão tensa ultimamente...

Branca sempre recusava no começo. Ela nunca quis fazer parte daquele mundo, e sempre teve consciência dos perigos que as drogas representavam. Mas Gina sabia como manipular. Cada vez que Branca negava, Gina a olhava com desdém, suas palavras como facas afundando na pele de Branca.

— Sabe por que você tá sempre tão infeliz? — Gina dizia, depois de algumas doses de vodka, a voz arrastada pelo efeito das substâncias. — Porque você é fraca, Branca. Fraca e quebrada. Você acha que consegue lidar com tudo sozinha, mas não consegue nem dormir direito. Nem pra isso você serve.

Essas palavras ficavam na cabeça de Branca por dias. Ela tentava ignorar, tentava acreditar que Gina estava apenas descontando suas próprias inseguranças, mas uma parte de Branca começava a acreditar naquilo. Gina fazia parecer que Branca não era boa o suficiente, que precisava de algo para se equilibrar. E, aos poucos, ela cedeu.

Naquela noite em particular, Gina entrou no quarto com um pequeno pacote nas mãos. Branca sabia o que era, e seu corpo imediatamente se enrijeceu.

— Vamos fazer isso juntas hoje — Gina disse com firmeza, mas seu tom era quase como uma ordem. Ela colocou o pacote na mesa de cabeceira, depois se aproximou de Branca, os olhos brilhando com a excitação típica antes de consumir.

— Gina... Eu já disse que não quero. — Branca tentou recuar, mas sua voz soava fraca. A resistência que ela tinha outrora estava praticamente inexistente.

— Para de ser covarde — Gina retrucou, rolando os olhos. — Você sempre faz isso. Sempre fugindo das coisas. Não é à toa que você tá sempre quebrada. Olha pra você! Tem medo até de experimentar algo que vai te ajudar. Vai te relaxar, vai fazer você se sentir viva de novo.

Branca olhou para o chão, as palavras ecoando em sua mente. Sentir-se viva de novo... Quando foi a última vez que realmente se sentiu assim? As noites de insônia, o peso constante de não ser boa o suficiente, o desgaste emocional... Tudo aquilo havia consumido sua energia, sua vitalidade. Talvez Gina estivesse certa. Talvez ela precisasse de algo para se soltar, para se libertar da tensão que a envolvia.

— Eu não sou fraca — Murmurou Branca, mais para si mesma do que para Gina.

— Então prova — Gina rebateu rapidamente. Ela já estava preparando uma pequena linha de pó sobre a mesa, os movimentos rápidos e habilidosos. — Uma vez. Só uma vez, e você vai ver como tudo pode ficar mais fácil.

Branca ficou em silêncio, os olhos fixos no movimento das mãos de Gina. A cada palavra de Gina, ela se sentia mais afundada, mais acuada. Era como se a força de resistir estivesse sendo drenada. Depois de tanto tempo sendo diminuída, ignorada e maltratada, Branca se sentia frágil, como se a única maneira de lidar com a dor fosse fazer o que Gina mandava.

Ela não sabia se cedia por medo de mais violência, de mais humilhação, ou se era o desejo de, por um instante, escapar daquela realidade sufocante. Mas, no fundo, ela sabia que havia cedido porque Gina a havia feito acreditar que ela não era nada sem aquilo. Que, sem Gina e sem as drogas, ela não valia nada.

Com a garganta seca e o estômago revirando, Branca lentamente se aproximou da mesa. Ela olhou para Gina, que já sorria, satisfeita com sua vitória.

— Isso vai te fazer bem — Gina disse, a voz suave como mel envenenado.

Branca fechou os olhos por um instante, tentando abafar a voz de alerta em sua mente. Quando abriu, a decisão já estava tomada. Ela inclinou-se sobre a mesa e, pela primeira vez, cedeu completamente ao que Gina queria.

Naquele momento, algo dentro dela se partiu de forma irreparável.

Branca estava no chuveiro, deixando a água cair como cascata, os braços envoltos ao redor delas, tentando manter-se firme.

O relógio no celular marcava sete horas, e Branca ainda não havia conseguido dormir. Seus olhos ardiam, mas o choro continuava silencioso, constante, como se ela não pudesse mais controlá-lo.

— Como eu cheguei aqui? — Murmurou para si mesma, a voz rouca e entrecortada.

Branca passou as mãos pelo rosto, tentando secar as lágrimas, mas elas continuavam a cair misturadas com as gotas do banho. A sensação de estar quebrada, de não ter mais força para lutar contra tudo que havia vivido, pesava em seus ombros como uma âncora que a mantinha presa ao chão. Ela havia lutado tanto para sair daquela relação, para se reconstruir, mas naquela madrugada, os fantasmas voltaram com força total.

O choro se intensificou por alguns minutos. Branca não sabia se chorava pela dor do passado, pelo cansaço de não conseguir dormir, ou pelo fato de ainda se sentir tão vulnerável, tão marcada por tudo que aconteceu.

— Não posso continuar assim... — Sussurrou, sua voz quase se perdendo no vazio do quarto.

O sol subia lentamente no horizonte, mas para Branca, aquela manhã ainda estava envolta em sombras.

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