EPÍLOGO 02
EPÍLOGO 2
ADAM
Giro a maldita bengala entre minhas pernas.
Aquilo iria ser meu apoio pelas próximas semanas. E para a minha sorte poderia acabar precisando de fisioterapia.
Me encosto no familiar sofá. Encaro a mulher do outro lado da pequena sala, sentada na poltrona, com as pernas cruzadas, sua habitual e irritante pasta e caneta sobre o colo.
Dra. Charlie.
De todos os lugares que podia me imaginar, após semanas em uma UTI, não considerava que o primeiro seria acabar no consultório da minha terapeuta.
Bom!
Ex- terapeuta. No tempo que estive internado recebi a baixa da marinha.
Um alívio.
— Você acabou de sair do hospital e sou a primeira pessoa que você vem ver. Devo me sentir lisonjeada? — pergunta quebrando o silêncio e inclinando-se levemente para frente.
Parecia absurdo. Era absurdo. Mas ela era a única pessoa com quem me sentia bem para desabafar. A única pessoa que me dizia a real de maneira direta e descomplicada. E ela era uma terceira. Era fácil falar com quem não estava envolvido em tudo.
— Acho que senti saudade — murmuro, ajeitando meu corpo e apoiando a bengala ao meu lado.
— Saudades de mim ou das minhas perguntas irritantes? — ela levanta uma sobrancelha.
— De ambas, provavelmente — devolvo ironicamente.
— Pensei que não voltaria a me ver, já que teve baixa da Marinha — observa calmamente.
Dou de ombros, como se a resposta fosse óbvia.
— Acho que tenho que agradecer a você por terem me liberado e não me colocarem na ativa de novo.
— Sempre às ordens. — ela sorri, inclinando-se para o lado e pegando sua caneta. — Então, como você está?
Eu hesito.
— Tudo que eu disser aqui vai continuar entre nós? Relação médico e paciente? Como antes?
Ela estica a mão.
— Me dá um dólar.
— Um dólar? — olho para ela confuso.
— Anda, Adam. Um dólar.
Reviro os olhos e tiro uma nota amassada do bolso, entregando-a a ela.
— Aqui.
— Pronto. Agora tudo que você disser é confidencial.
— Eu posso pagar pelas consultas, você sabe disso.
— Sei, senhor estrela de programa de reforma. Mas um dólar é suficiente pelos meus serviços. Quem sabe, da próxima vez, você pode me trazer um uísque sour. Se houver uma próxima vez, claro.
— Vai ter.
Garanto a verdade amarga. Tinha gostado de fazer terapia. De uma forma fodidamente inacreditável tinha me ajudado.
— Ah, então você quer continuar com a terapia? — ela me encara com aquele olhar clínico que nunca deixa nada passar.
Eu suspiro.
— Gosto de conversar com você. — faço uma pausa e desvio o olhar desconfortável com a verdade — Acho que você é a única pessoa com quem posso desabafar. Gosto de desabafar com você.
— Bom! — ela sorri, abrindo a pasta e apertando a caneta com um clique audível. — Então vamos começar.
— Não. — Levanto a mão para impedi-la. — Não vamos começar por aí. Odeio quando você anota tudo.
Ela me encara. Sua boca em uma linha amarga como se tivesse engolido algo amargo. Eu a encaro e inclino a cabeça a desafiando.
Ela levanta as mãos em rendição, fecha a pasta e coloca a caneta de lado.
— Tá bom. Você venceu.
— Obrigado.
— Então, como você está? Como você está depois do... — seus olhos correm pelo meu corpo e param na bengala.
— De quase morrer? Pode dizer. — dou uma risada curta, irônica. — Estou bem. Não é a primeira vez que encaro a morte.
— E pegaram quem fez isso?
— Não.
— Você não parece preocupado com isso. — observa analiticamente a verdade.
— Não — minha resposta faz ela se ajeitar na poltrona.
Charlie me analisa. Apenas me analisa.
— Eles têm alguma pista? Você sabe quem fez isso? — ela me instiga.
Desvio o olhar, passando a mão pelo cabelo.
— Não têm nenhuma pista. E sim, eu sei quem fez isso. Mas ela fugiu. É melhor assim.
— Ela? Como assim? — ela se inclina na cadeira, franzindo a testa. — Você não parece preocupado. Na verdade, parece até aliviado.
Solto um riso amargo.
Não estava ali para mentir ou para meias verdades. Estava ali para desabafar e ser sincero.
— Dane-se, lá vai. — jogo as mãos no ar — É uma pessoa que conheço. Alguém com quem me envolvi no passado. Na época, eu só queria sexo. Não fazia ideia dos problemas dela, e nem queria saber. No final, ela foi obrigada a fazer um pacto com o diabo para resolver as coisas.
— Você se sente culpado.— não sei se é uma pergunta ou uma observação.
Mas mesmo assim respondo:
— Me sinto. Eu poderia ter ajudado se não fosse tão canalha. — sou sincero.
Por isso não entreguei a Teresa. Não tinha câmeras no local. Ninguém a viu. E não seria eu a entregá-la. Não estragaria sua vida mais uma vez.
— Adam, você não obrigou ela a fazer nada.
— Não importa. Eu podia ter ajudado.
— E por isso está protegendo ela? Não revelando quem ela é?
Concordo com a cabeça.
— Ela já vai sofrer as consequências por eu estar vivo. Além disso, vai ter que passar a vida se escondendo. Já é castigo suficiente.
Charlie observa por um momento antes de falar, com calma:
— Você parece bem com isso. Isso é bom. Mas você não ficou com medo?
— Não. — Balanço a cabeça, olhando para o chão. — Não foi a primeira vez que me vi diante da morte. Mas... pela primeira vez, eu não queria morrer.
Ela ergue uma sobrancelha, intrigada.
— Por quê?
— Tenho motivos agora.
— Quais?
Eu respiro fundo, hesito.
— Tenho amigos. E... — minha voz falha, mas eu continuo. — E tem alguém. Alguém que me faz querer viver só para passar mais um dia ao lado dela. Só mais um dia.
Minha Sunshine.
Graças a ela estava vivo. Aquela pirralha tinha chegado a tempo de me salvar. Mas não tínhamos tido tempo para conversar. Fiquei na UTI, mais tempo que o normal. Na maioria do tempo estava sedado. As visitas eram cronometradas. E ela teve que voltar para Boston para trabalhar, afinal ela tinha conseguido, era produtora agora.
Tinha tanto orgulho dela. Estava tão feliz por ela, mas não tinha tido a oportunidade de falar. E agora me pergunta se devia falar algo.
— E o que está te segurando? — a pergunta me arranca dos meus pensamentos.
Suspiro.
— Minha vida é fodida, Charlie. Eu não sei qual vai ser a próxima surpresa. Tenho medo. Tenho medo de voltar a machucar alguém.
— Você acha que ainda está em perigo?
Nego com a cabeça.
— Acho que não. O Nigel, o cara que queria me matar, está numa prisão de segurança máxima. Não representa mais um risco para mim.
— Então por que tanto medo?
— E se algo do meu passado ou do meu futuro machucar ela? Eu não suportaria perdê-la. Prefiro vê-la de longe, mas bem.
Charlie me encara com aquele olhar incisivo.
— Adam, o perigo está em todo lugar. Talvez ela fique doente ou sofra um acidente. Você não pode controlar isso. Ter medo é normal, mas deixar de viver por causa disso é errado. O perigo sempre vai existir, mas sabe o que é mais importante? Construir momentos bons com essa pessoa enquanto pode. Um dia de cada vez. Apenas viva.
— Você falando parece fácil — uma risada formiga na minha garganta.
— E é fácil. — ela se inclina, os olhos fixos nos meus. — Basta você sair por essa porta e ir atrás da sua vida. Deixe o medo do lado de fora. Você já fez as pazes com o passado. Lembra como foi libertador?
Eu penso por um momento e murmuro:
— Foi.
Fazer as pazes com o Finley tinha sido o momento mais libertador. Os pesadelos diminuíram, a culpa diminuiu e a vontade de viver renasceu.
— Então vá. O próximo passo está esperando por você.
Fico em silêncio, mas algo dentro de mim começa a se mexer. Talvez, só talvez, ela tenha razão.
E mesmo que ela não tivesse. Depois de tudo. Depois de quase morrer. Tinha vislumbrado algo que não entendia: a versão de uma vida diferente, com futuro e esperança.
Pigarreio limpando a minha garganta. Aperto os olhos decidindo se começo ou não o próximo assunto.
— O que você sabe de experiência de quase morte?
Ford arqueia o cenho curiosa, antes de suavemente balançar os ombros.
— Qual versão você quer ouvir ? A explicação médica ou espiritual?
Pondero com a cabeça .
— As duas.
Ela traga o ar, apoiando uma mão sobre a outra.
— Para os médicos seu cérebro fica sem oxigênio, podendo criar ilusões. Muitos pacientes relatam alguma visão ou ver alguém ente querido morto — seus olhos apenas observam minha reação, antes de se ajeitar na poltrona e continuar — Espiritualmente você quase morre e vê anjos, alguém que vem te buscar ou te manda voltar, porque ainda não é a sua hora. Por que a pergunta?
Processo lentamente suas palavras, não sabia qual explicação me satisfazia mais.
— Eu morri por três minutos — minhas palavras a fazem reclinar para frente.
— E o que você viu? — a curiosidade permeia em sua voz e olhos.
Solto o ar coçando a nuca.
— Vi algo que jamais poderia ter imaginado para mim — sorrio diante da lembrança daquela visão — Foi bom.
— E é algo alcançável ? Ou inalcançável?
Ergo meus olhos até a mulher do outro lado da sala.
— Não sei — balbucio diante da possibilidade de tornar aquilo real — Talvez seja alcançável. Mas não depende só de mim. Não basta eu querer.
Ela precisava querer também. Ela precisava me querer e me aceitar de volta. E quem sabe aquela visão fosse o nosso futuro.
Parecia loucura.
Me sentia meio maluco.
— Se você não tentar, nunca vai saber.
***
O corredor parece mais estreito do que deveria ser. Fazia tempo que não pisava ali, parecia que tinha sido em outra vida a única vez que caminhei por aquele corredor. Meus passos ecoam, o som abafado pelo cimento. A bengala bate no chão com um ritmo irregular, cada toque um lembrete incômodo da bala que atravessou meu joelho. Odiava aquele apoio, mas não conseguir ir muito longe sem aquela maldita bengala.
Paro na frente da porta. A porta dela.
Minha mão sobe devagar, hesitante. Faz semanas que estou ensaiando isso, longas semanas desde a última vez que realmente estivemos juntos. Tate não sabe que estou aqui, e por um momento, fico tentado a virar as costas e ir embora. Mas algo em mim — talvez o peso de tudo que não disse — me obriga a ficar.
Tinha medo que todas as minhas merdas a atingisse. Quando mandei mensagem para ela me encontrar no Flannigan sabia que não tinha mais perigo. Ou achava. Mas naquela noite a vida me mostrou que o perigo sempre vai existir.
Isso me assustava.
Porém me assustava mais uma vida sem minha Sunshine.
Bato na porta.
O silêncio do outro lado me devora, até que ouço passos leves. A fechadura gira, a porta se abre, e lá está ela.
Tate. Totalmente sexy com uma calça de pijama xadrez, uma blusa lisa de gorro e o cabelo preso em um rabo torto.
Ela parece surpresa ao me ver. Claro que parece. Nem sei o que estou fazendo aqui, então como ela poderia saber? Eu deveria estar no hospital pelos próximos dias, se não tivesse me dado alta.
— Adam?
Meu nome nos lábios dela. Era exatamente o que eu precisava ouvir.
— Oi.
Minha voz falha um pouco, mas isso não importa, porque os olhos dela me atravessam como uma bala. Antes que eu possa dizer qualquer outra coisa, vejo um movimento atrás dela.
Estico o pescoço.
Um homem loiro, alto, de toalha na cintura, revirando o sofá. Ele está completamente alheio à minha presença.
— Gatinha, cadê minha cueca? — ele grita, como se eu não estivesse ali.
Meu corpo fica tenso. Tento manter o rosto impassível, mas sei que meu maxilar está travado. Aperto com força a bengala entre os meus dedos. Meu olhar volta para Tate, que levanta as mãos rapidamente, quase em defesa, com os olhos arregalados.
— Não é o que parece, Adam.
— Eu espero que não — soo mais grosso do que esperava.
Meu sangue ferve.
Ela suspira, os olhos caindo por um instante.
— Ele está com a Alice. E já estão de saída. Assim espero.
Antes que eu possa responder, o homem dentro do apartamento grita novamente:
— Achei!
Ele ergue uma cueca como se fosse um prêmio de loteria. Não sei se rio ou se saio dali antes que o desconforto me engula por completo.
O cara finalmente me nota e, sem hesitar, sorri.
— E aí, cara.
— E aí.
Quero que isso acabe logo, quero que ela me deixe explicar por que estou aqui. Ela volta seus olhos redondos para mim. Eu encaro seus malditos olhos redondos.
— Podemos conversar? — pergunto, tentando manter minha voz neutra.
Tate parece surpresa por um instante, mas então assente.
— Podemos.
— Podemos sair, se quiser.
— Vamos para o meu quarto — decreta decidida.
Quando ela pega minha mão, sinto o mundo desacelerar por um segundo. O toque dela. Por mais breve que seja, me lembra de tudo que perdi, tudo que ainda sinto por ela.
A sala parece da mesma da única vez que estive ali, me fazendo recordar que estaria em um ambiente novo em breve.
Enquanto a sigo, Alice aparece no corredor, surpresa e sorridente.
— Sr. Rabugento!
— É bom te ver também, Alice.
— Sentimos sua falta — sua mão bate em meu ombro.
Ela ri, um som leve e despreocupado.
— Já estamos de saída! — anuncia — Vamos logo gatão — ela grita para o homem dentro do quarto.
— Já vou — o desconhecido grita.
Tate acena, murmurando algo sobre eles se cuidarem, mas minha atenção está completamente nela agora.
Quando entramos no quarto dela, eu paro, absorvendo o espaço. Não é nada do que eu imaginava. Há toques dela em cada detalhe — a bagunça organizada, a mistura de feminilidade e simplicidade. É o quarto de uma mulher que cresceu, que mudou.
Definitivamente não era o que esperava.
— Pode se sentar.
Ela aponta para a cadeira na penteadeira, e eu me sento com cuidado, apoiando a bengala no encosto da cadeira. Tate senta na ponta da cama, tão distante e tão perto ao mesmo tempo.
— Você não deveria estar no hospital ? — seus olhos estreitam-se curiosos.
Dou de ombros.
— Me deixaram sair mais cedo.
Ela se inclina para frente, ainda não convencida.
— Eles deixaram ou você fugiu? Eu te conheço.
Bufo passando a mão no cabelo.
— Já tinha ficado tempo o bastante lá.
— Adam — seu corpo fica ereto assim que a repreensão termina de sair dos seus lábios — Você ... — as palavras morrem na sua boca junto com seus olhos que fogem do meu — Você quase morreu — a frase é quase um sussurro.
— Eu estou bem — garanto a verdade — Estou pronto para outra.
Só percebo que a piada não tem graça nenhuma depois que sai.
Ganho um olhar de repreensão.
— Espero que não — garante em um tom sério.
— Você não devia ter dirigido até aqui — a repreensão continua.
— Precisava te ver — suas feições se suavizam
— Não podia esperar mais.
— Eu iria voltar para Bayfield daqui há dois dias. Então o que de importante que você não podia me esperar por dois dias?
Coço a barba. As palavras não vem. Os 45 minutos de viagem não tinham sido suficiente para ensaiar algo. Eu era péssimo naquilo. Caralho! Como eu era péssimo.
— Não sei por onde começar. Não sou bom com palavras — confesso.
— Naquela noite que terminou tudo você soube exatamente o que dizer — recorda em um tom áspero.
A culpa se instala no meu peito como uma âncora. Eu sei do que ela está falando. A noite em que terminei tudo, achando que estava fazendo o certo.
— Sinto muito, Tate.
— Você deveria ter sido honesto comigo. Poderíamos ter enfrentado tudo juntos. Droga, Adam. Sou eu. É você. Somos nós. E nós não escondemos as coisas.
— Eu queria te proteger. Mesmo que tenha falhado.
— Eu não preciso de proteção, Adam. Eu preciso de alguém que me entenda, que esteja ao meu lado.
As palavras dela me atingem em cheio, cada uma mais afiada que a anterior. Eu assinto, porque ela está certa. Sempre esteve.
— Como você está? — pergunto, finalmente, porque preciso saber.
— Estou bem.
— Pensei em você todos os dias. Fiquei preocupado. Não queria te abandonar quando você mais precisava de mim.
Não consigo mais ficar parado. Antes que perceba, estou me ajoelhado no chão, entre as pernas dela.
— Adam, o que você está fazendo? Vai se machucar.
— Dane-se. Eu preciso ver.
Pouso minhas mãos em seu quadril. Suas pequenas mãos me detém. Encontro seu olhar confuso. Devolvo com um olhar de súplica. Eu precisava. Tate suspira e apoia suas mãos no colchão . Minha mão sobe, puxando a barra da blusa dela. Não é difícil encontrar o que eu procuro. A cicatriz é menor do que eu imaginava, mas parece enorme para mim.
Minha mão toca a marca, e sinto a respiração dela acelerar.
— Me desculpa — sussurro só para os seus ouvidos.
— Não foi sua culpa.
— Foi.
Sinto suas pequenas mãos agarrarem meu rosto. Seus dedos afundam em minha barba. Seu polegar acaricia suavemente meu rosto. Fecho os olhos por um momento, percebendo o quanto tinha sentido falta daquilo.
— Não foi — sílaba só para mim.
Levo meus olhos até onde meu polegar acaricia: a pequena cicatriz.
Sem pensar, me desvencilho de suas mãos abaixo a cabeça e beijo a cicatriz. Deixo meus lábios tocando aquela pele suave por um longo tempo.
— Para cicatrizar — repito as palavras que um dia ela me disse.
Ouço o suspiro dela, suave e quase inaudível, mas suficiente para me quebrar. Minhas mãos tremem quando volto a olhar para ela.
— Você está me devendo um encontro, Sunshine — recordo arrancando um sorriso que ilumina o meu dia.
Ela segura meu rosto, os dedos quentes contra minha pele fria.
Nossos rostos estão tão próximos que posso sentir o hálito dela. Meu coração bate mais rápido.
— Sinto muito por ter me atrasado, Sr. Rabugento.
Nego com a cabeça.
— Você chegou bem na hora que eu precisava.
—minha voz falha, mas não importa. Seguro o rosto dela com as mãos, tentando transmitir tudo o que sinto.— Sunshine, eu quero você como nunca quis nada na minha vida. Acredite. Você fodeu com cada pedacinho do meu ser. Quando te vi naquela manhã me encarando, soube que você iria mudar tudo. E você mudou. Não quero mais que tenhamos data de validade. Quero que sejamos sem data nenhuma.
— Que sejamos eternos? — seu cenho se arqueia em dúvida ou surpreso, não sei.
— Enquanto você conseguir me suportar — imponho fazendo uma pausa, porque preciso que ela entenda a verdade: — Se você me aceitar com todas as minhas merdas, feridas, bagagens e possível perigo.
Seus lábios se alargam mais ainda. Afundo meus dedos contra a sua pele.
— Você vai ter que aceitar as minhas também. Sem segredos, mentiras ou fugas repentinas.
— Acho que não tenho escolha.
Roço meu nariz em seu. Posso sentir sua respiração. Como senti falta daquilo. Encontro seus olhos redondos rendidos. Toco seus lábios. Seus lábios devolvem o contato. Suas mãos deslizam até minha nuca, brincando com o cabelo que cobre a pele. Nossas línguas se encontram. É urgente. Caralho! Como é urgente. Nossas línguas dançam enquanto ofegamos.
Infelizmente falta ar.
Quando nos afastamos, ela ri.
— Jamais imaginei Adam Baylor ajoelhado aos meus pés — observa o óbvio.
— Não estou sendo romântico — recordo tentando me manter firme.
— Lamento dizer, mas está sim.
— Não
— Sim
Suspiro rendido.
— Ainda não vou te dar flores.
Sua cabeça balança para os lados ponderando, antes de beijar meus lábios.
— Por mim tudo bem. Eu te amo mesmo assim, Sr. Rabugento.
Sorrio. Aquelas palavras aceleram meu coração teimoso e de pedra. Com a ponta do dedo afasto uma mecha fujona do seu cabelo. Ela parece gostar do toque.
— Eu também te amo, Sunshine.
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