EPÍLOGO 01
EPÍLOGO 01
ADAM
Seguro o cesto com as duas mãos como se estivesse carregando algo mais frágil do que vidro, mais precioso do que qualquer coisa que já toquei. Cada passo dentro do apartamento parece calculado, como se um movimento errado pudesse quebrar o momento. Ela está ali dentro, dormindo tranquila, tão pequena que parece impossível que um ser humano possa ser assim. Minha filha. Essas palavras não parecem reais, nem agora, enquanto elas gritam dentro da minha cabeça.
Tate fecha a porta atrás de mim, o som me trazendo de volta por um segundo. Quando me viro para o sofá, meus joelhos cedem. Eu coloco o cesto sobre a almofada e me ajoelho no chão à sua frente, como se fosse uma espécie de altar. Porque é exatamente assim que me sinto. Inadequado. Pequeno. Como se não merecesse estar aqui olhando para ela.
Caralho! Eu era um Baylor. E a história dos Baylor com filhos não era das melhores.
Ela suspira no sono, a mãozinha repousando de lado, e eu fico ali, absolutamente preso, hipnotizado por cada pequeno detalhe.
— Meu Deus... — sussurro, sem perceber que falei em voz alta
— Meu Deus mesmo. — A voz de Tate soa atrás de mim, e eu sinto seus braços se fecharem ao redor dos meus ombros, o queixo dela pousando no meu ombro. É como um peso sendo tirado do meu peito, só porque ela está ali comigo. Puxo sua mão para mais perto dos meus lábios, depositando um beijo demorado.
— Eu não acredito que fizemos isso. — a voz dela tem um tom de fascínio que reflete exatamente o que sinto.
— Nem eu. — minha voz sai rouca, como se estivesse engolindo pedras. — Nunca achei que algo bom pudesse vir de mim.
Ela beija minha bochecha, um toque suave e quente, e eu fecho os olhos por um segundo, tentando segurar aquele momento. Porque, honestamente, tudo ainda parece um sonho.
Não me sentia nada digno daquilo: uma família. Caralho! Eu tinha uma família. Aquilo era assustador. Tento não entrar em pânico. Nos últimos meses tenho tentado não surtar.
— Você tem um lado bom, Sr. Rabugento. Só demora um pouco pra aparecer. — ela ri, e o som é quase uma melodia.
Eu não rio. Não consigo. Tudo o que consigo fazer é olhar para a bebê, a minha filha, dormindo como se o mundo fosse um lugar seguro. Como se ela não tivesse ideia de que eu sou a última pessoa no planeta que merece isso.
— Quem diria que uma noite na casa da sua mãe acabaria assim? — balbucio ainda incrédulo.
— Culpa sua por não ter levado camisinha. — Tate aperta meus ombros.
— Culpa minha? — inclino a cabeça em sua direção e encontro uma diversão dançando nos seus olhos provocativos — Não estava nos meus planos transar com sua mãe no quarto ao lado e o Elliot em outro. E não fui eu que invadi o seu quarto.
Me sento na mesinha de centro na frente do sofá e puxo o braço da Tate, jogando seu corpo em meu colo. Seus braços enlaçam meu pescoço. Posso sentir sua respiração.
— Em cinco anos você nunca deixou de andar com uma camisinha na carteira— recorda quase em repreensão.
Roço meus lábios nos seus. Sentindo brevemente o seu sabor doce. Cinco anos? Parecia que tinha sido ontem que quase a perdi. E nesses cinco anos tanta coisa tinha mudado. O programa continuava um sucesso. Tinha praticamente me mudado para Boston. Estava morando com ela. Sorrio tentando esconder meu pânico e medo de que tudo fosse ruir em qualquer segundo.
— E você disse que tomava pílula — a provoco com a nossa velha discussão de quem era a culpa de gerar o brotinho.
— E estava tomando. Você sabe disso — sua testa encosta na minha têmpora — Acho que a natureza escolheu por nós. E foi a melhor noite. Admito. — ela dá um tapinha no meu ombro antes de depositar um beijo na minha bochecha — Agora, Sr. Rabugento, escolha um nome. Ela precisa de um.
Suspiro irritado por voltarmos a aquele assunto.
— Nem pensar. — respondo automaticamente, desviando o olhar. Porque a ideia de dar um nome... de rotular algo assim... parece impossível. É como colocar um limite em algo que não tem limite.
Tate se levanta do meu colo, se armando para nossa pequena batalha.
— Não podemos chamá-la de "brotinho" para sempre. — ela cruza os braços, a diversão clara na voz dela.
Eu não respondo. Porque, sinceramente, "brotinho" parece funcionar muito bem para mim.
— Adam. — ela me empurra levemente. — Escolha um nome. Ela é sua filha.
— Nossa filha. — corrijo, olhando para ela.
— Então prove. — ela levanta as sobrancelhas, desafiando.
Antes que eu possa responder, o telefone dela toca. Ela suspira, revira os olhos.
— É a Malori. Eu preciso atender.
— Você está de licença maternidade. — lembro , mas ela só me ignora.
— Posso trabalhar de casa. — ela sai para o quarto, ouço a porta se fechando.
Deixo escapar um suspiro. Volto a olhar para o bebê. Sua mãozinha se move, e eu estendo o dedo. Ela o segura, apertando com uma força surpreendente para alguém tão pequena. E algo dentro de mim... quebra. Mas é uma quebra boa, como se todas as partes quebradas finalmente encontrassem um lugar para se encaixar.
— Como você quer se chamar, brotinho? — sussurro, como se ela pudesse responder. — Porque eu não tenho a menor ideia.
Eu fico olhando para ela, pensando no quanto minha vida mudou em tão pouco tempo. Puxo algo do bolso: uma aliança. Pequena, discreta, com um único diamante no centro. Olho para ela, estudando a curva do metal.
— Preciso da sua ajuda. — murmuro, segurando a aliança na altura dos olhos da bebê. — Não consigo dar isso pra sua mãe. Faz um ano que estou esperando o momento certo, mas acho que o momento certo não existe. Não sou bom nisso. Nem sei o que dizer.
Esfrego a mão na nuca frustrado. Droga!
Estava andando com aquela aliança há uns 14 meses. Elliot tinha dito que seria fácil: é só se ajoelhar e pedir. Disse ele. Mas ele tinha esquecido de dizer quando fazer isso. Em que momento. Em que lugar.
E agora tinha a brotinho na equação. Tate poderia achar que estava pedindo em casamento por obrigação. Ela iria dizer um não bem direto na minha cara. Sinceramente. Nem sabia se ela já tinha sonhado em se casar. Não conversávamos sobre essas coisas.
Nem eu tinha imaginado querer me casar um dia. Não importava continuarmos sem rótulo, mas algo dentro de mim queria que ela fosse minha mulher.
E durante os últimos meses, com aquela barriguinha pequena debaixo das minhas camiseta, tinha percebido que queria isso mais do que tudo.
Bufo frustrado.
Olho para a brotinho.
Ela continua dormindo, completamente alheia ao fato de que estou despejando minha alma para ela.
— Você vai descobrir que seu pai não é nada romântico. Sua mãe é que vai ser boa nisso. Mas eu vou estar aqui. Sempre. Pra você. Pra ela. Pra nós. — beijo a mãozinha dela e respiro fundo. — Talvez um dia eu descubra como fazer isso direito.
A porta do quarto se abre, e eu guardo a aliança no bolso num movimento rápido. Faço sinal de silêncio para a bebê, como se ela pudesse entender.
Tate para ao meu lado, inclinando a cabeça.
— E aí? Já escolheu?
Eu solto um suspiro, olhando para a bebê novamente.
— Ainda parece "brotinho" pra mim.
Ela ri, mas há paciência nos olhos dela.
— Adam, ela é a nossa filha. Dê um nome a ela.
— Não faço ideia. — confesso , com o meu olhar fixo no rosto pequeno e perfeito da nossa filha. — Ela parece só... brotinho.
— Não podemos chamar nossa filha de "brotinho", Adam.
— Então escolha você. — respondo , já cansado dessa conversa. Fico em pé e enlaço sua cintura .
Seu dedo batuca no meu peito.
— Eu disse se fosse menina você escolheria. Se fosse menino eu escolheria.
— É injusto.
Nem tinha prestado atenção quando ela disse aquelas palavras.
Nossas respirações tão próximas que posso sentir o calor dela.
— Por favor, Tate. Escolha você. — minha voz quase falha, mas minha súplica é genuína — Você adora escolher nomes. Você comprou até um livro sobre isso.
— E você não leu — recorda com um sorriso nos lábios.
Ela suspira, mas seus olhos suavizam. Tate espalma a mão sobre meu peito, do lado esquerdo, exatamente onde meu coração parece bater mais forte quando ela está perto. Só que, desta vez, o toque dela me assusta. O calor começa a desaparecer. As bordas da minha visão ficam borradas. Algo está errado. Muito errado.
— O que está acontecendo? — pergunto, minha voz soando fraca, quase distante.
Meu peito aperta, como se um punho invisível estivesse me esmagando por dentro. A dor me derruba de joelhos. Tate grita algo, mas não consigo entender. Tudo parece um borrão.
Meus olhos estão pesados, como se estivessem sendo puxados para um abismo.
— Tate... — tento chamar, mas minha voz não sai.
De longe, ouço uma voz desconhecida. Uma voz que não deveria estar ali.
— Ele voltou.
Minha visão some completamente. Um clarão forte me atinge, e, quando consigo abrir os olhos, tudo é diferente. Estou deitado, cercado por vozes e sons que não consigo identificar de imediato. Uma sirene grita ao fundo. Um feixe de luz brilha diretamente nos meus olhos.
— Não, não... — tento dizer, mas minha boca não se move. Quero perguntar o que está acontecendo, mas minha voz está presa na minha garganta.
Um paramédico está sobre mim, ajustando uma máscara de oxigênio no meu rosto. Posso sentir o peso do soro no braço. Tudo está errado.
— A pulsação está boa agora — o paramédico analisa algo ao meu lado — Ele ficou só três minutos desacordado, mas a oxigenação parece boa — não sei com quem ele fala.
Os tiros. Recordo apertando os olhos. Teresa.
Me sinto exausto. Tão cansado. Não me lembrava de nada depois que a Teresa saiu. Nada vinha a minha mente.
Mas felizmente ou não, ainda estava vivo.
Sinto um toque na minha mão. Meus olhos tentam correr para frente.
— Eu estou aqui, Adam — a voz familiar é como uma música para mim.
Tate com seus olhos vermelhos.
Quero dizer o seu nome. Quero dizer que estou bem. Quero dizer que teríamos sido lindo juntos. Mas não consigo dizer nada.
Apenas tento devolver o aperto, segurando sua mão com força entre os meus dedos.
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