46 | (CH)ORAR
46
(CH)ORAR
TATE
FINAL DO INVERNO
A cafeteria do primeiro andar está cheia, mas de alguma forma, ainda é um ambiente confortável. O aroma de café fresco e pães assados flutua no ar, misturando-se com o som de vozes e do barista chamando nomes para retirar pedidos. Eu estou em uma mesa no canto, com meu celular na mão, respondendo e-mails enquanto dou goles ocasionais no meu cappuccino quase frio.
Alice surge e se joga na cadeira à minha frente com a sutileza de um furacão. Antes que eu possa reagir, ela estende uma sacola de papelão na minha direção.
— Toma, vadia. — ela diz isso com um sorriso travesso nos lábios.
Levanto uma sobrancelha, mas pego a sacola cor de rosa, com alça branca e um desenho de coração estampado.
— O que é isso?
— Olha — responde, como se fosse óbvio.
Abro a sacola com desconfiança e puxo o conteúdo. É uma lingerie rendada, vermelha, incrivelmente sexy. Seguro-a com os dedos, como se estivesse prestes a pegar fogo.
— Alice... o que é isso? — minha voz sai incrédula.
— Para hoje à noite, claro. — ela cruza os braços e se inclina para frente com aquele olhar convencido que me irrita e me diverte ao mesmo tempo.
Eu jogo a lingerie de volta na sacola e a empurro na direção dela. Não sabia como seria aquela noite. Estava evitando pensar desde que recebi a mensagem. Mas vez ou outra me pegava pensando naquele ser rabugento.
Aquilo me deixava ansiosa e nervosa, como se fosse a primeira vez que fosse encontrar alguém.
— Você tá maluca?
Alice dá de ombros, totalmente indiferente à minha resistência.
— É praticamente o seu primeiro encontro com o Sr. Rabugento. Você tem que ir sexy.
— Primeiro encontro? — pergunto, franzindo o cenho.
Talvez aquela noite poderia ser nosso primeiro encontro oficial. Aquela ideia não ajudava o nervosismo na minha mente.
— Ou você vai seguir a regra dos três encontros? — ela dá um sorriso malicioso. — Apesar de que, sinceramente, já passou da hora. Vocês se conhecem bem demais pra isso.
Já tínhamos passado dos três encontros a muito tempo. E nossos três primeiros encontros não tinham sido os melhores.
Ok!
Talvez eu devesse estar preparada para esse "primeiro encontro"
Eu suspiro, olho para a sacola e finalmente a puxo de volta.
— Ok, você venceu.
Alice sorri como quem acabou de ganhar na loteria.
— Animada para a noite?
Eu hesito.
— Não sei como me sinto, na verdade. Parece que faz uma eternidade que não vejo o Adam, mas ao mesmo tempo, é como se fosse ontem que eu queria arrancar as bolas dele.
Alice ri alto, chamando a atenção de algumas pessoas ao redor.
— Então você ainda quer matá-lo?
Dou de ombros. Querer matá-lo? Talvez por mentir para mim, me magoar no processo e ainda sumir do nada. Sinceramente tínhamos muita coisa para resolver.
Contudo não o mataria. Mas o puniria.
— Estou feliz que ele esteja bem e esteja voltando pra casa. — minhas palavras ficam no ar, como se eu estivesse tentando descobrir o que realmente sinto.
Alice me olha com atenção.
— Qual é o problema, Tate?
Eu suspiro.
— É que eu estou feliz, ansiosa até, mas também com medo. Medo de quebrar a cara de novo. Não sei como vai ser.
Alice se inclina, sua expressão mais suave agora.
— Tate, o Adam te procurou. Ele te convidou pra um encontro. Talvez ele esteja mudando.
Adam mudando? Aquela ideia seria perturbadora de diversas formas não convencionais.
— Espero que não. — solto um pequeno sorriso. — Gosto dele do jeito que ele é, rabugento e tudo mais.
Alice sorri com insinuação, pronta para algum comentário sarcástico, mas seu olhar se fixa em algo atrás de mim.
— Oh, meu Deus. Olha só quem tá aqui. — ela diz isso com um sorriso tão grande que sei que algo está prestes a acontecer.
Antes que eu possa me virar, sinto mãos taparem meus olhos. Sinto o cheiro de perfume masculino. É a única coisa que sei. Aquilo me gela por um momento.
— Surpresa. — A voz inconfundível me faz dar um pulo na cadeira.
— Ian? — viro-me para encontrar o moreno, parado ali com um sorriso.
Ele me envolve em um abraço apertado, e eu retribuo, embora meu coração esteja batendo mais rápido por um motivo que não consigo identificar.
Não sabia se aquela visita significa algo bom ou ruim. E sinceramente, não tinha tempo para descobrir.
— Negro gato! — Alice exclama, usando o apelido que ela inventou.
Ian solta uma risada e a cumprimenta antes de se sentar na cadeira entre nós.
— Quando você voltou? — pergunto, tentando soar casual ao me sentar.
— Há dois dias. Eu precisava te ver.
Minha garganta seca. Ele ainda tem aquele olhar, o mesmo que costumava me fazer derreter anos atrás. Ian quebrava meu coração todas as vezes que nós víamos. E não quebrava por me machucar, mas porque eu sabia que iria machuca-lo mais uma vez.
— Bem-vindo de volta.
O celular de Alice vibrar. Ela lê a mensagem na velocidade avassaladora de segundos antes de se levantar apressada.
— Bom, preciso voltar ao trabalho. Aproveitem.
Ela sai sem dar tempo para que eu peça que fique.
Ian fica me observando, o que me deixa desconfortável.
— Você está ainda mais linda do que a última vez que te vi.
Reviro os olhos, tentando esconder o constrangimento. E tentando não machuca-lo no processo.
— Para com isso, Ian.
Ele ignora e segura minha mão sobre a mesa. Seu toque é quente e gentil.
— Ouvi dizer que você levou um tiro. Quando fiquei sabendo, larguei tudo e vim correndo. Você está bem mesmo?
Puxo minha mão de volta devagar, tentando não ser rude. Finjo coçar minha testa.
Estávamos indo por um caminho que não queria.
— Estou bem, de verdade. Foi... difícil, mas eu estou aqui.
Ele me encara, como se estivesse tentando decifrar algo em mim.
— Não sei o que teria feito se algo tivesse acontecido com você.
Sorrio sem graça, mas antes que possa responder, ele pergunta:
— Você tem planos para hoje à noite? Ou posso te sequestrar para colocarmos o papo em dia?
Minha mente congela. A ideia de estar com Ian me parece absurda agora, especialmente porque só consigo pensar no Adam e no jantar que combinamos. E a verdade sobre os meus planos iriam machuca-lo.
— Ah, eu... tenho que trabalhar até tarde.
Ele franze o cenho.
— Mesmo?
— Sim, muito trabalho acumulado depois do tempo que fiquei fora.
Ele parece desapontado, mas sorri mesmo assim.
— Tudo bem. Quem sabe outro dia?
Concordo com o meu melhor sorriso.
***
Olho para o celular: 6:30 da tarde.
Calculo rapidamente. São 45 minutos de carro até Bayfield, mais o tempo que vou levar para me arrumar. Dá tempo, concluo. Talvez.
Com essa decisão tomada, vou até minha mesa, pego o casaco pendurado no encosto da cadeira e caminho em direção ao elevador. Estou a dois passos de liberdade quando alguém me chama pelo nome.
— Evans, espera um minuto.— viro-me e encontro Malori, minha chefe, parada com uma pasta debaixo do braço e aquele olhar elegantemente impassível que só ela sabe fazer — Preciso que vá até minha sala. Temos que resolver o cronograma das próximas filmagens.
Eu respiro fundo e respondo, tentando soar casual:
— Precisa ser hoje?
Ela arqueia uma sobrancelha.
— Você tem outro compromisso?
Minha mente trava. Eu poderia mentir. Poderia inventar qualquer desculpa, mas o olhar sério dela me lembra de que agora, como produtora, não posso falhar. Então, digo a única coisa que posso:
— Não. Tudo bem.
Sigo Malori até sua sala, deixando para trás qualquer esperança de estar pronta a tempo.
Quando saio da sala dela, já são 7:41. Meus pés quase correm em direção ao elevador enquanto tento decidir o que fazer. Se eu for direto para Bayfield, vou chegar no limite do horário combinado. Mas e se eu precisar me arrumar antes? Olho para as minhas calças e lembro que não faço ideia de quando foi a última vez que depilei as pernas. Sinceramente não estava pronta para um encontro.
Droga.
Não que Adam ligasse. Acho que poderia ir de pijama que ele diria algo sarcástico resumido em uma palavras.
Com a cabeça cheia dessas dúvidas, finalmente estou saindo pelas portas do edifício quando ouço uma voz familiar:
— Surpresa. Trouxe o jantar. O seu favorito: hambúrguer com fritas com queijo — meus olhos encontram Ian, parado com uma sacola de comida nas mãos e um sorriso satisfeito no rosto. Paro. Minha mente e o meu corpo congelam de surpresa — Pensei em fazer uma surpresa. Assim a gente coloca o papo em dia.
Não jantou ainda, neh?
Olho para o relógio. 7:46. O tempo está contra mim.
Minha mente trava entre duas opções: contar a verdade e dizer que tenho um encontro com Adam ou inventar alguma desculpa e ficar aqui com Ian.
Respiro fundo, arrependida antes mesmo de dizer qualquer coisa.
E lá iria eu machuca-lo e rejeitá-lo mais uma vez.
— Eu... preciso ir para Bayfield.
Ian franze a testa, claramente surpreso. Sua mão abaixa a sacola de comida na altura da sua cintura.
— A essa hora? — parece surpreso.
— Tenho um compromisso lá — omito algumas coisas.
Ele parece processar minha resposta por alguns segundos, mas, em vez de se afastar, dá um passo adiante com aquele jeito despreocupado que sempre teve.
— Te levo. Assim você come enquanto eu dirijo e a gente conversa.
Minha mente vira um caos. Quero recusar, mas ele não está exatamente me oferecendo uma saída. Além disso, é verdade que não comi nada desde o café da manhã.
Depois de um longo silêncio, suspiro e digo:
— Tudo bem. Mas pode me deixar em casa.
— Feito.
***
Estamos na estrada, e o som dos pneus no asfalto é a única coisa constante entre as pausas da conversa. Mordo uma batata frita enquanto Ian dirige, as luzes da estrada iluminando brevemente seu rosto em intervalos.
— Como você está? — ele pergunta, desviando o olhar para mim por um segundo antes de voltar à estrada.
— Bem.
Ele dá uma risada curta, cética.
— Não precisa mentir pra mim, Tate.
Suspiro, cansada da mesma pergunta que tenho ouvido nas últimas semanas.
— Não é mentira, Ian. Eu juro. Aquilo me assustou, claro, mas... no final, eu fiquei bem.
Eu não digo que o que realmente me assustou foi a possibilidade de nunca mais ver Adam. Ian não precisa saber disso.
Ele dirige em silêncio por um momento antes de perguntar:
— Descobriram quem atirou? Por que fez o que fez? — seus polegar batuca impaciente contra o volante — Por ninguém sai assim atirando do nada.
A batata desce seca. Não queria falar sobre aquilo. Mas Ian tinha o direito de saber. E eu tinha o dever de não mentir.
— Era um problema do Adam — respondo, evitando os olhos dele.
— Como assim?
Reviro os olhos, sabendo que ele não vai deixar passar e aceitar minha curta resposta.
— Adam teve alguns problemas, e isso acabou colocando pessoas perigosas atrás dele.
— Mas agora está tudo bem? Você não está mais em perigo? — seu tom é cheio de urgência.
Sorrio diante da preocupação.
— Eles querem o Adam. Ou queriam o Adam, mas quem queria ele morto foi condenado a prisão perpétua essa semana.
— Ainda bem — o alívio é tocante.
Enfio outra batata na boca. O silêncio se instala no pequeno espaço móvel. Ian ri, mas é um som sem humor, roubando a minha atenção.
— Adam sempre foi popular. Mesmo que seja com as pessoas erradas. — Ian se adianta antes que possa perguntar algo.
— Não fala assim.
— Só tô dizendo a verdade. — ele me olha de lado. — Sabe, você teve sorte de não dar voz àquela pequena queda de adolescência que tinha por ele.
Me engasgo com a batata frita, tossindo.
— Tate! Você tá bem?
— Tô. — tento recuperar o fôlego.
Sua atenção se divide entre mim e a estrada a nossa frente.
Paro de tossir. Desvio o olhar para janela ao meu lado.
— Espera ai! Você tá escondendo alguma coisa. Eu te conheço, Tate.
— Não tô, Ian — não saio tão convincente como queria.
O encaro. Ele devolver o olhar brevemente. Ele arqueia uma sobrancelha, insistente.
— Tá sim.
Abro a boca para responder, mas o carro começa a tremer, e uma fumaça branca sai do motor.
— Que droga tá acontecendo? — pergunto, olhando para ele.
Ian desacelera e encosta o carro no acostamento.
— É o motor.
— Claro. Só o que me faltava.
O motor finalmente para. A fumaça continua. Ian bufa frustrado antes de pular para fora do carro. De dentro o vejo abrir o capô, só aumentando a fumaça.
Sigo seus passos e caminho até o seu lado. Olho o motor sem entender nada.
— Acho que é o radiador — não sei se ele está chutando o problema ou realmente entende.
— E agora? — olho ao nosso redor.
Vejo apenas escuridão, árvores e uma estrada sem começo ou fim.
— Vou chamar o guincho.
Ele suspira e pega o celular. Liga para o guincho. A conversa não parece muito otimista.
— Vão chegar quando chegarem — Ian anuncia desanimado, jogando as mãos no ar — Diz que estão cheios de serviço. Desculpa.
Dou de ombros impotente.
Pego meu celular, que marcar: 8:28.
Encosto meu corpo no carro enquanto o ar frio da noite me atinge. Ian repete meu movimento, cruzando os braços. Já tinha desistido de chegar a tempo. Aperto os olhos com a imagem de Adam sentado sozinho naquele bar.
O que ele estaria pensando?
Ian suspira e vira o rosto para mim, me arrancando dos meus pensamentos.
— Qual é o compromisso que você tem?
Balanço a cabeça com indiferença e despreocupação.
— Nada importante — a resposta sai rápida demais, e ele sabe disso.
Ele ri, mas não de um jeito divertido. Seu cotovelo cutuca o meu braço.
— Qual é!? Não começa a mentir pra mim, Tate. Você esquece que eu te conheço melhor do que ninguém?
Suspiro, porque ele tem razão. Minha relação com Ian tinha sido linda de diversas formas. Para mim o que tinha testado era uma amizade incrível e um amor eterno.
— Não precisa mentir. Pode falar o que for. Somos nós — recorda o cara que foi meu amigo ante de namorado.
Aperto os olhos. Não queria machuca-lo. Não queria mentir. Então escolho uma opção.
— Eu... — olho para ele, incerta, tragando a amarga verdade — Tenho um encontro.
Ele franze as sobrancelhas, confuso por um segundo.
— Bom — ele balbucia processando a informação — Você deveria ter me contado. Não precisava esconder.
— Desculpa — abaixo o olhar para o asfalto.
— Então! Quem é o felizardo? — sua pergunta é menos entusiasmada do que de costume.
Balanço a cabeça. Não iria dizer. Não podia dizer. Não deveria dizer. Não para o Ian. Não depois de tudo que ele sabia.
E então, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, sua expressão muda.
— Não. Você e ele? — apenas o olho em silêncio — Você e ele Tate?
Não consigo formar palavras. Droga! Poderia mentir. Deveria. Mas seria injusto com aquele homem que me amava tanto, então apenas faço que sim com a cabeça.
Ele dá um passo para trás, como se precisasse de distância para processar a informação.
— Então é isso. Você e o Adam. Ual — suas palavras e feição são de surpresa.
— É — tento não dar tanta importância para aquela informação, na esperança que a conversa morresse ali mesmo.
— Finalmente você conseguiu realizar sua fantasia de adolescência — não sei se é uma observação ou ironia — Quem diria. Tate Evans e Adam Baylor.
— Ian...
Ele me observa, passando as mãos pelo cabelo alinhado. Seus lábios deslizam um sorriso suave. Quase imperceptível.
— Agora ele tá na sua vida. Na sua cabeça. E no seu coração, pelo jeito.
Minha garganta aperta. Quero dizer que ele está errado, mas não posso.
— Será que algum dia eu estive no seu coração? — sua voz está mais baixa agora, quase um sussurro.
Olho para ele, e de repente me sinto culpada por algo que nunca tive intenção de fazer. Não podia permitir que aquela dúvida consumisse seus pensamentos.
— Sempre, Ian — sou sincera.
Ele balança a cabeça, e eu sei o que ele vai dizer antes que as palavras saiam da sua boca.
— Como amigo, né?
— Como amigo. Um grande amigo. E o eterno amor da minha vida.
Ele ri, mas é um som vazio.
— Só como amigo.
Não consigo responder, porque sei que qualquer coisa que eu diga vai piorar as coisas.
Ele se vira para mim, o rosto mais sério agora.
— Se ele te trair ou te machucar eu acabo com ele — rio grata, ele mantém a seriedade — Você tá feliz com ele?
Fecho os olhos por um momento, tentando organizar os pensamentos. Tento achar as palavras corretas para não machucar aquele homem que tanto me amava.
— Faz muito tempo que eu não me sentia assim com ninguém.
Ele não responde de imediato, e quando o faz, sua voz é quase indiferente.
— Nem comigo?
Coloco minha cabeça no ombro dele, esperando que ele não veja o nó na minha garganta. Abraço seu braço em um gesto de carinho.
— Com você, eu sempre me senti bem. Mas é diferente.
Ele ri de novo, mas desta vez é um pouco mais leve. Sua cabeça encosta na minha.
— Imagino.
Ficamos em silêncio, o som da estrada preenchendo o espaço entre nós.
Depois de um tempo, ele fala, mas não me olha.
— Se não der certo com ele ainda estarei aqui te esperando.
Nego com a cabeça o encarando.
— Nem pensar — sou enfática — Você não vai me esperar Ian. Você vai ser feliz. Vai encontrar alguém que te ame e se encaixe nos seus planos. É isso o que você vai fazer. Entendido?
Seu rosto se contorce contrariado. Fecho meu rosto na melhor expressão de seriedade.
— Ian — balanço seu braço, insistindo.
— Ta bom — suspira rendido — Acho que não tenho escolha.
— Bom — volto a encosta sua cabeça no seu ombro.
— Desculpa por estragar sua noite — ele quebra o curto silêncio.
— Você não estragou. Estou adorando passar essa noite com você.
E, pela primeira vez, sinto que isso é verdade.
***
O carro para em frente à casa do Adam. Ian desliga o motor e se inclina para o meu lado com um sorriso malicioso.
— Pronto, senhorita. Entregue ao seu príncipe encantado — seus olhos se reviram — Ou sapo enfeitiçado.
— Você é um idiota. — bato no braço dele, mas não consigo evitar um sorriso.
Ele ri, mas logo sua expressão suaviza.
— Desculpa pelo atraso.
— Tá tudo bem, Ian. De verdade.
Nos abraçamos, e eu dou um beijo no rosto dele antes de sair. Ian buzina, acenando pela janela enquanto o carro se afasta na escuridão.
Agora estou sozinha, encarando a casa do outro lado da rua.
Respiro fundo, tentando ignorar o aperto que tomou conta do meu peito. Meu coração parece estar correndo uma maratona, e minhas mãos estão tão suadas que começo a esfregá-las na calça, sem nem perceber.
Olho para o relógio. 2h30. Estou absurdamente atrasada. Por um instante, penso em voltar, em desistir. Mas me obrigo a atravessar a rua, cada passo me lembrando da primeira vez que estive aqui. Naquela época, eu estava determinada a convencê-lo a participar do programa. Aquela noite foi cheia de surpresas. Encontrá-lo bêbado não estava nos meus planos. Carregá-lo tinha sido uma das tarefas mais difíceis. Adam não tinha sido a celebridade mais fácil. Acho que estava no topo da lista dos difíceis.
Mas nosso caminho até ali. O meu caminho até ali, que começou naquela porta. Tinha sido tão inesperado.
Agora estava lá. Estava de volta diante daquela porta. Curvo os lábios com as lembranças que construí naquele lugar. Podia conhecer o mundo, mas sempre iria querer voltar para ali, fosse pelo lar, fosse pelo homem.
Quem diria que pedra no meu caminho derreteria a pedra do meu coração.
Suspiro. Minhas botas batucam no asfalto enquanto atravesso. Minha mente gira pensando no discurso.
Não sabia se bateria na porta e diria um: olá. Ou talvez pegasse aquela chave escondida no batente e entraria sem permissão.
Qual seria a reação do Adam? Sua caminhonete estava na frente, então ele estava em casa.
Como ele estava? Como ele estaria?
Certamente tinha pensado que não iria.
Chego até a porta. Paro. Ela está entreaberta.
Ok! Aquilo era estranho. Mas não seria a primeira vez
Paro. Um arrepio percorre minha espinha.
Algo não está certo.
Empurro a porta devagar. O som dela rangendo parece alto demais no silêncio. A porta esbarra em algo que a impede abrir totalmente. Passo pelo vão. Vejo um pé. Finalmente entro, vejo algo no chão.
Meu coração dispara, e minhas pernas congelam.
— Adam? — Minha voz sai baixa, quase um sussurro.
Vejo ele ali, caído no chão, com sangue se espalhando ao redor.
Não! Tem muito sangue. Aquilo era brutal.
— Não...
Corro até ele, minhas mãos tremendo enquanto me ajoelho. Ele está consciente. Seus olhos abrem lentamente, e ele me olha como se estivesse sonhando.
— Tate... — Ele sorri, ou pelo menos tenta.
— Não fala nada. — Seguro o rosto dele, minhas mãos agora cobertas de sangue. — Vou chamar ajuda — minhas mãos trêmulas tiram o celular do bolso.
Divido a atenção entre os números que mal consigo lembrar e o homem gemendo em minha frente.
Ele não podia me deixar ali. Eu não podia perder. Não agora.
Ele fecha os olhos por um segundo, e meu coração quase para junto.
— Fica comigo. — Minha voz quebra. — Fica comigo, por favor.
Alguém atende do outro lado. Não sei o que ela pergunta. Não presto atenção nas minhas respostas.
— Adam ... — suplico levando a mão até seu rosto pálido.
Ele tenta dizer algo, mas a voz dele é fraca demais. Tudo o que consigo pensar é que não posso perdê-lo, não agora.
E chegamos ao final da jornada do Adam e da Tate.
Quero agradecer as leitoras que não me abandonaram e pedir desculpas por ter sumido por tanto tempo .
Eu brigado por não me abandonarem.
Ps: ainda tem epílogo 😉
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