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14 | NÃO POSSO MAIS

14
NÃO POSSO MAIS
ADAM

4 MESES ANTES
COMEÇANDO A PERDER OS MEUS LIMITES
METADE DO OUTONO EM BAYFIELD

Minhas pernas correm, meus braços movimentam-se em uma velocidade diferente, com o olhar fixo nas ruas vazias. Entrar na linha era uma bosta. Só que tinha um trato com a doutora Chata: sem álcool para dormir.

A merda estava sendo mais difícil. Normalmente duas garrafas de uísque eram suficientes para desabar. Agora precisava de duas horas exaustivas de corrida, suor cobrindo meu corpo e enxarcando as roupas.

E mesmo com bebida e exercício não conseguia tirar ela da mente.

Sunshine

Aquela pirralha não saia da minha cabeça. Ela me tocou. A sensação foi destrutiva pra caralho. Ninguém nunca tinha tocado as minhas cicatrizes. Nem a Teresa.

E aquelas merdas de cicatrizes nela? Que porra tinha acontecido? A dedução era óbvia, alguém a tinha agredido. Fecho meu punho, aumento a velocidade das minhas passadas, furioso com aquela possibilidade, corro pelas vielas de Bayfield.

E juntando todas as peças, era fácil concluir que Elliot e Mark não sabiam. Nem o tal do Ian Jones.

Não sei o que me enfurecia mais, se ela sendo agredida ou passando por tudo sozinha. Ofego irritado. Acelero. Meus pulmões sufocam com o esforço não inesperado. Gotas de água escorrem do meu couro cabelo e descem pela minha testa, nublando minha visão.

Esfrego os meus olhos. Dobro a última quadra judiando dos meus músculos e pulmões. Meus pés reagem ao encarar a viatura parada, com as luzes apagadas, rente ao meio fio da minha porta. De longe observo o homem da minha altura, com uma pança de donuts, cabelo castanho claro ralo no topo da cabeça e trajando o uniforme de calça, camisa marrom, coturnos e acessórios: Tio James Baylor ou Jim.

Ele salta do carro em um pulo. Sua expressão é um aviso de merda no horizonte. Odiava quando ele coçava a nuca e caminhava sem pressa evitando me encarar nos olhos. Conhecia aquele maldito ritual que acabava virando minha vida de cabeça para baixo.

Trago o ar rapidamente compensando meus pulmões. Engulo a saliva áspera. Todo meu corpo queima e não tenho mais certeza se é culpa do exercício ou reação do que estava por vir.

— O que você está fazendo aqui? — ofego ainda sem ar a poucos passos de distância do meu tio com a cabeça baixa, seus olhos encaram em direção ao segundo andar de onde morava, encontro as luzes acessas no andar de cima — Que merda está acontecendo?

Jim suspira, dentro do infernal roteiro que não tornava as coisas menos dolorosas.

— O seu pai — revela amargamente, encarando-me com seus olhos gélidos.

— O que tem ele? — da rua posso ouvir as poucas coisas que eu tinha sendo reviradas — Que merda, fala Jim — cuspo preferindo me preparar.

— Ele descobriu sobre o programa — seu tom suave e sombrio não ajuda.

— Merda — cuspo.

Empurro a porta entre aberta. Subo de dois em dois degraus. O som de gavetas e portas sendo abertas tornam-se cada vez mais audíveis. Fecho o punho, engulo a necessidade de esmurrar algo.

— Espera, Adam — ignoro o chamado ao fundo.

Quase chuto a porta anunciando a minha presença. A cena não é nova, com as gavetas da cômoda abertas, almofadas do sofá reviradas, portas abertas, roupas no chão e o velhote curvado como um viciado sobre as velhas gavetas da cozinha.

— Cadê? — sem me olhar Tomás Baylor me nota.

Entro. Vou até a ilha e simplesmente encaro o homem de cabelos grisalhos desarrumados, camisa bege amassada e rosto vermelho.

— Cadê o que?

— O dinheiro? — seu desespero mescla-se com a animação de um explorador em busca de tesouro, seus olhos vidrados me encaram — Cadê o dinheiro?

Bufo. Meu estômago se revira. E sou tragado para a espiral constante da minha vida, aquele velhote com aqueles olhos vidrados e arregalados como os de um bêbado ou drogado. Aquilo não era novo, apenas mais uma maldita constante na minha vida infernal.

— Não tem dinheiro — decreto.

E era a pura verdade. A primeira parcela do que tinha recebido já estava nas mãos do idiota do Nigel. Sinto a respiração de Jim a poucos passos da minha nuca, apenas assistindo mais uma cena familiar dos Baylor.

Os olhos furiosos do homem que deveria agir com maturidade me fuzilam diminuindo nossa distância. Cerro os dentes. O dedo do velhote em riste para a poucos milímetros do meu nariz. Não me movo.

— Esquece isso, Tomás — a voz grossa ressoa atrás de mim.

Ambos ignoramos o homem fardado na sala. Jim se metia nas nossas brigas, mas não sempre.

— Não minta para mim moleque — meu pai rosna na minha cara.

Fecho os punhos com força sentindo todos meus músculos tremerem de ódio. Não esperava que daquela vez fosse diferente. Um tigre nunca perde suas listras e as do homem diante de mim era seu maldito vício em aposta.

— Não estou mentindo — devolvo no mesmo tom.

Não sei se ele aceita a minha resposta, mas suas feições se suavizam. Seus ombros encurvado endireita. Seus lábios tremulam assim como suas mãos, que entregam o desespero do seu corpo viciado.

— Por que você escondeu de mim?

Curvo os lábios sem humor, olhando ao redor.

— Ainda o senhor pergunta?

Tomás recua um passo como se tivesse golpeado seu corpo. Ele respira. Suas mãos esfregam sua testa suada.

— Garoto — seu tom beira a normalidade — Você não vê que a vida nos deu uma nova chance? — seus olhos brilham — Podemos construir algo grande — seus braços se abrem intensificando suas palavras, seu corpo se aproxima e suas mãos agarram a gola molhada da minha camiseta — Você vai ser o que sempre foi destinado a ser. Grande. Como na época em que jogava — seus dedos balançam meu corpo inerte.

Preferiria estar morto do que diante daquele olhar que me tragava para o passado. Um passado onde era o campeão e aquele velho sentia orgulho de mim, só porque era uma aposta garantida. Meu futuro já estava planejado dentro de algum grande time. E os bolsos dele cheios de dinheiro.

Sinto nojo.

Quero vomitar.

Agarro seus pulsos e os arranco do meu corpo.

— Não

— Não comenta o mesmo erro duas vezes garoto — o desespero toma seus olhos e sua voz.

Nego com a cabeça. Me afasto dele. Esfrego as mãos no meu rosto suado e cabelos molhados. Prendo meus dedos atrás da nunca. O nojo continua. A raiva aumenta. E o maldito ciclo se repete, como em um inferno.

—O senhor que está cometendo o mesmo erro — disparo.

Meu pai não se abala, continuando com a mesma impaciência.

— Eu estou querendo o melhor para nós — seus dedos batem contra seu próprio corpo — Eu quero o melhor.

— Enfiando o nosso dinheiro no rabo sujo no Nigel? — perco a paciência — Essa é a porcaria de melhor? — esbravejo.

— Ele é apenas um meio — justifica.

— Ele é um bandido

— Ele é esperto — seus olhos me censuram.

Rio. Gargalho. Minha gargalhada ecoa pelas paredes do apartamento. Rio sem humor algum. Rio sem forças para fazer outra coisa. Rio, porque jamais teria coragem de esmurrar aquele velho patético diante dos meus olhos.

Paro. Jim e Tomás me olham como se tivesse surtado.

— Graças ao senhor Esperto não tem dinheiro — revelo calmamente — Como acha que salvei os seus dedos e a sua vida? — sorrio.

E uma expressão que tinha visto apenas duas vezes na vida toma o rosto do meu pai. Seus olhos ficam negros. Seu peito infla. E o ódio e decepção passeiam por seu corpo, me odiando, como no dia que anunciei meu alistamento para a marinha.

Não o vejo se aproximar. Não estou preparado para sua mão que choca-se contra o meu rosto, provocando um som ensurdecedor e ruindo tudo.

— Tomás — finalmente meu tio reage e agarra seu irmão mais velho — Está maluco cara.

E a dor física no meu rosto não é nada parecido com o que morre no meu interior. Tomás Baylor tinha levantado a mão para mim cinco vezes na vida e todas tinham me partido ao meio. Achava que seria incapaz de sentir algo, mas estava fodidamente enganado.

— Seu idiota — o homem de cabelos grisalhos esbraveja enquanto é contido — Deveria ter me contado.

— Para apostarmos juntos antes de você pagar a dívida? — concluo amargamente me aproximando, ele para de se debater entre os braços do meu tio — Você é um fracassado — rosno em sua direção — Um perdedor. Eu só estou aqui por pena de você, coisa que nem a sua esposa teve ao te deixar.

Seus olhos mudam de expressão. Não a reconheço e nem faço questão de tentar. Só queria entornar uma garrafa de uísque e dormir até o que sobrava de mim morrer. Dou alguns passos para trás.

— Não tem dinheiro mais, graças a sua sorte — ironizo — E não vou ganhar mais nada — estico o braço em direção da porta — Então pode se mandar, porque eu não tenho nada para oferecer. Desculpa decepciona-lo, pai.

Seus olhos me encaram de uma forma desconhecida. Tomás rosna e Jim o solta. Suas narinas dilatam-se ao me olharem mais uma vez. Conheço a pontada de decepção no seu olhar, foi a mesma de quando larguei o hóquei e destruí todos os seus planos. E sem dizer nada o velhote me dá as costas e saí.

Os olhos claros do meu tio me censuram. Bufo.

— Você foi duro, Adam — observa a autoridade policial máxima da cidade.

Reviro os olhos.

— E deveria fazer o que? Dar mais dinheiro? Dinheiro que nem tenho?

Seus lábios finos se apertam engolindo a verdade.

— Não podemos continuar assim — decreto exausto e tentando evitar a culpa que ameaçava tombar sobre os meus ombros.

Queria que tudo tivesse um fim, porém se a merda estourasse e não tivesse lá a culpa seria inevitável.

— Sugere que façamos o que? — Jim passa por mim e joga seu corpo alto sobre o braço do sofá.

Balanço a cabeça sem ideias.

— Internação? Ajuda? Grupo de apoio? Não sei, só não podemos ficar de babas dele — rosno irritado comigo e com a falta de opção — Não tenho da onde arrancar mais dinheiro. Porra — esbravejo.

Já tinha ido mais longe do que jamais tinha imaginado. Caralho. Estava fazendo a merda de um programa, dando a cara a tapa e fingindo só para salvar o couro do homem que não estava nem aí.

— Nós vamos pensar em algo garoto — o tom calmo do meu tio não é a solução, mas não é um ponto final para aquela noite.

A merda de vida tinha tirado muitas coisas de mim. Tomás Baylor tinha arrancado outras coisas. A única coisa que não tinha deixado nenhum deles tomarem era minha paixão pelo hóquei. Meu pai enchia a boca para dizer que tinha aprendido a patinar e jogar com ele. Porém, afastado, longe do velhote eu percebi que amava estar em um rinque gelado patinando, me sentia vivo. E aquela sensação não tinha nada haver com o meu pai.

Risco o gelo com os patins. Envolvo com firmeza o stick entre os dedos e acerto o puck balançando a rede sustentada pela pequena armação na extremidade do rinque. E acerto outro disco preto. E outro. E outro. E outro. E outro. E outro.

Ofego, ainda sentindo a raiva correr por minhas veias. Caralho. Estava furioso com o idiota do meu pai e o seu maldito vício. Estava irritado comigo mesmo. A confusão fazia minha cabeça girar. E a impotência aumentava minha necessidade por repetidas doses de uísque.

Nem estar ali, na minha válvula de escape ajudava. Ao longo dos anos, vez ou outra fazia amizade com um vigia e invadia algum ginásio esportivo com rinque. E a casa dos Angels. A minha antiga casa. A casa que agora era cuidada pelo Capitão Hank, todos chamavam assim o homem de quase 80 anos que cuidava daquele lugar como a sua vida. Um jogador aposentado, que ajudou alguns times e depois simplesmente ficou por paixão.

Estar no gelo era como estar vivo por algumas frações de segundo, como se meu corpo fosse real e não um fantasma dentro de um buraco quente, onde deveria ter morrido a muito tempo.

— Você faltou a duas sessões — o grito detrás da proteção de acrílico chama a minha atenção.

Maldição.

O problema de eu poder entrar ali e aproveitar o espaço vazio, era que qualquer um poderia também. E a lábia mansa e gentil da doutora Chata Fode seria como o canto de uma maldita seria nos ouvidos do velho Hank.

Bufo ao encarar a mulher alta, magra e cabelos curtos, que habilmente desliza sobre o gelo em minha direção.

— Sei que você vai achar um jeito de me punir — murmuro sem vontade de conversar.

Agarro mais alguns puck e os posiciono em fileira no meio do rinque, Os próximos alvos da minha fúria.

— Fiquei preocupada — o tom da doutora Charlie é baixo e próximo.

Evito encara-la. Minha frustração, irritação e raiva se tornariam centro da nossa torturante conversa.

— E aí você contratou alguém para me achar? — deduzo com o corpo curvado.

Posiciono o stick longo e preto em frente aos discos. E acerto com força um disco. Patino na frente do próximo, sem ser capaz de ignorar os olhos claros me analisando.

— Você comentou em uma sessão que ainda gostava de jogar hóquei quando queria ficar sozinho.

Não a encaro. Acerto mais um disco que entra com força, velocidade e sem arranhar no gelo na rede.

— Disse? — questiono sem vontade.

— Disse.

— Não lembro — dou de ombros.

A ignorando e aproveitando o silêncio dou o mesmo destino para os outros três discos enfileirados. Aqui era melhor que esmurrar uma parede ou correr. Já tinha passado parte da manhã correndo, antes do Sol nascer.

— O que aconteceu?

Alongo minha coluna. Encaro a mulher de jeans, blusa de moletom e patins nos pés.

— Ando ocupado — resumo.

Seu cenho branco arqueia-se e juro que posso ouvir o arrepiante e maldito clicar da caneta, como se minhas palavras começassem a ser objeto das suas misteriosas anotações. Seguro o taco em uma mão, desistindo de fazer mais uma fileira de puck.

— A fama já batendo na porta? — seus lábios curvam-se curiosos — Fiquei surpresa ao saber do programa. Vai trocar a velhota aqui por algum psicanalista mais famoso?

Curvo os lábios soltando uma risada sem humor.

— Nem se quisesse — digo a pura verdade.

Os lábios de Charlie formam uma linha reta, sua expressão cheia de humor dá lugar para seu terrível olhar analítico.

— Você está bem?

Bufo. Meus dedos livres esfregam a minha barba grossa e desleixada devido aos últimos dias. Eu odiava falar. Odiava terapia. Detestava tentar entender o que sentia, mas tinha um acordo com aquela mulher, quanto mais sincero fosse, mais cedo me livraria dela.

— Eu desisti de novo — suspiro, esfregando a ponta do taco na fina camada de gelo do piso.

— Desistiu do que?

Balanço a cabeça sem opção.

— Do meu pai — digo em voz alta o que me atormentava — Desisti de carrega-lo nas costas. Eu não posso continuar o protegendo — evito os olhos claros — Ele descobriu sobre o programa e ficou deslumbrado com a possibilidade de dinheiro fácil — dizer aquilo só aumenta minha raiva — Maldito dinheiro — esbravejo — batendo no balde cheio de discos pretos que se espalham sobre o gelo— Maldito.

Jogo o taco para longe. Esfrego minha cabeça que doía, engulo a ânsia por uma dose generosa de uísque para afogar tudo.

— Quero beber. Preciso beber — ofego me sentindo um fraco — Mas não posso ser um viciado sem controle, sinto raiva por pensar em acabar como ele que resolve os problemas se afundando em um vício.

Esbravejo irritado. A veia do meu pescoço pula.

Cacete, eu sou um merda — minhas mãos tremem de ódio.

Ódio de mim. Ódio do meu pai. Ódio da minha vida.

— Vamos fazer algo — decreta a médica de loucos.

Sem entender nada a observo se aproximar do equipamento espalhado pelo rinque. Ela agarra cinco discos e os posiciona na nossa frente.

— Que merda você está fazendo? — disparo irritado.

— Trabalhando a aceitação e o perdão — ela agarra o taco não muito longe de nós.

— Fácil falar

— O perdão não é fast food, é comida caseira feita em processos lentos e delicados — sua comparação me soa ridícula, mas compreensível — O principal é o desapego da culpa, ódio e magoa — a mulher de cabelos grisalhos balança o taco em minha direção, o agarro — Você precisa desapegar das suas culpas, Adam. Essas são as suas culpas, dê nome para cada um.

Algo debochado fica preso na minha boca. Aquela merda tinha saído do ridículo e chegado no absurdo.

— Isso é ridículo — quero jogar o taco novamente e sair dali.

— Só faz — o tom firme e autoritário me impede — Faz logo isso, são discos, dá nome para eles, faz o que eu estou mandando.

Reviro os olhos, arfando insatisfeito o ar pelas minhas narinas. Balanço a cabeça contrariado, encaro os stucks pretos. Ops. As minhas merdas, ou culpas. Inspiro o ar sem pressa. Olho para cada disco, sabia como nominar cada um, não era uma tarefa difícil ou impossível.

— Tomás Baylor. Vargas. Finley. Vida, talvez — aponto para cada um amargamente, era agonizante dizer aquilo em voz alta.

— Ótimo — o tom animado não me ofende — Agora atire essas culpas para longe e diga porque você não deve se culpar.

Balanço a cabeça para os lados, em uma suplica silenciosa para que ela não fizesse aquilo. Ela não podia fazer aquilo. Na verdade ela podia. Eu não queria fazer aquilo. A tanto tempo que tudo estava impregnado, guardado junto com a minha vergonha, que não sentia-me capaz.

— Por que você se culpa pelo Vargas? — a pergunta me atinge, enquanto meus olhos param no disco que tinha dado o nome dele.

— Porque eu deveria ter salvado ele — balbucio.

A imagem do homem moreno, cabelos ralos e tagarela vem na minha mente. O cara era a animação dos lugares. José Vargas seria capaz de conquistar até o diabo com sua animação e simpatia. Eu só deveria tê-lo tirado de lá. Era simples, jogar o cara com a perna podre nos meus ombros e correr com ele. E a porra da minha memória não conseguia lembrar do porque não tinha feito aquilo, eu não conseguia entender porque eu não tinha feito aquilo. A porra da minha mente me irritava, eu não lembrava. O pouco que lembrava começava a esquecer, tinhas dias que não conseguia recordar dos rostos dos fantasmas que dormiam comigo.

Eu os estava esquecendo. Eu não podia esquecê-los.

— Ele estava com infecção — a voz feminina invade meus pensamentos, a encaro, meus olhos ardem, meu peito queima como uma ferida aberta — Você não poderia tê-lo salvado da infeção — revela, ranjo meus dentes, não querendo ouvir aquilo.

— Eu era capaz — cuspo com a voz embargada.

— Você por acaso é Deus? É Deus para decidir quem vive ou morre?

— Eu me salvei eu poderia ter salvado ele, caralho — esbravejo, apertando meus dedos contra a madeira do taco furioso com aquelas palavras que me atingem como um soco — Eu consegui, teria sido capaz.

Charlie se aproxima. Não a encaro, não quero ouvir o que ela tinha para dizer, mesmo com seus lábios quase assoprando contra a minha orelha.

— Abra os olhos, Adam — suas palavras calmas me irritam mais ainda — Mesmo não lembrando, parte de você sabe que não poderia ter salvado ele — observa calmamente, balanço a cabeça, não querendo que meus ouvidos absorvessem aquilo — A verdade dói, mas você precisa aceitar.

Balanço a cabeça, sentindo um nó trancar a garganta, sufocar a bola no meu estômago e peito. Não consigo respirar. Não quero respirar. Não quero estar ali ou ouvir aquilo. Pedaços da muralha caem no chão, posso ouvir parte indo embora e a merda vazando.

— Para — suplico.

— Acorda — seu tom é firme e alto — Tudo foi culpa dos homens que torturaram vocês. Não foi sua culpa — ela grita próxima de mim — Se livra dessa culpa. Aceita que essa culpa não é sua. Abandone a culpa.

— Não — berro.

— Desapega — ela grita se afastando — Se salva uma vez. Quer salvar alguém? Salva você mesmo — seu tom alto faz minha cabeça rodar.

Faz minha mente duvidar e uma frase perdida na minha mente ressoa com a voz do meu velho companheiro: Corra, Adam. Corra. Corra.

Aquilo estava lá, mas não conseguia me agarrar a aquelas palavras e chegar nas imagens, era algo que nem sabia se era ou não real. Eu queria ter salvado Vargas. Eu deveria ter morrido no lugar dele.

— Não foi você que enfiou a faca na perna dele — Charlie recorda — Você não o matou, nem poderia ter mudado os fatos. Aceita que você não pode mudar tudo. Só aceita — sua mão aponta para o disco — Joga esse disco para longe e começa a aceitar as coisas.

Corra, Adam.

Sinto algo quente molhar o meu rosto. Algo entranhado em meu peito se inquieta. Sopro o ar pelos os lábios. Seco a maldita lágrima que escorre do meu olho. Balanço a cabeça para frente e deslizo até o disco, posiciono o taco na minha mão e bato com força contra o disco preto que reverbera ao chocar-se contra a estrutura em torno do rinque.

Desculpa Vargas

— Continua, Adam — a psicóloga incentiva.

Balanço a cabeça, abandonando o taco sobre a pista de gelo.

— Eu escolho, então — oferece-se analisando os dois discos — Vida.

Jogo a cabeça para trás, ciente daquela resposta, nós dois sabíamos como aquele tema era delicado. Preferiria que todos os meus companheiros mortos estivessem ali no meu lugar.

— Eu não deveria estar aqui, eles eram melhores do que eu, teriam feito coisas melhores da porra das suas vidas — desabafo, não conseguindo deixar de pensar em cada um dos meus companheiros, meus fantasmas.

— E por que você não se torna digno deles?

— Eu não sou o tipo de pessoa que busca sua melhor versão, eu apenas sobrevivo.

Era o que eu fazia desde que minha mãe tinha ido embora e eu ficado com um viciado em apostas: sobreviver. Olhar as coisas boas da vida com desconfiança e apenas sobreviver.

— Então comece a viver.

Rio anasalado sarcasticamente.

— Fácil dizer

— Por que você não conserta as coisas com o Filney? — ela aponta para o disco com aquela denominação — É um começo de vida, uma vida nova sem culpas do passado.

Arfo o ar. Meus pulmões se fecham. Era delicado pensar naquele homem sem sentir a culpa entranhada. O que tinha acontecido era minha culpa, não me lembrava como, mas ele sim. Suas palavras estavam gravadas na minha cabeça: isso é culpa sua.

— Cansei dessa palhaçada — desvio os olhos dos discos e deslizo para fora do rinque.

Eu sabia que aquela mulher iria me foder de alguma forma. Patino até o banco, jogo me corpo, curvo minhas costas e começo a me livrar dos patins.

— Adam — aquele chamado detêm meus dedos que puxam os cadarços brancos — Se você não se importasse com a sua vida já teria ligado o foda-se e nem estaria aqui comigo, tentando manter sua vida em ordem — furioso com aquelas palavras consigo arrancar os cordões e tirar meus pés dos patins — Algo está fazendo você ficar, o que é? — paro, arfo o ar irritado comigo mesmo e com ela por ter razão, não queria pensar sobre aquilo, nem nas pessoas que me faziam querer ficar — Você ainda está aqui somente pelo o seu pai? Esperando ele quebrar a cara e precisar de você? Ou esperando ele se tornar mais uma culpa na sua lista? — jogo os patins para longe — Encara, Adam, você realmente quer apenas sobreviver?

Não

— Não. Não sei. Não tenho mais certeza — suspiro a verdade, ou parte dela.

Jogo meu corpo para trás, desistindo de qualquer ação. Eu queria ficar, ficar pelo meu pai, tio Jim, Elliot e a Riley. Era uma merda minha vida, mas tinha pessoas que gostava e que queria proteger.

— Então comece a viver— o disco simbolizando o tema é colocado ao meu lado — Viva sem culpa.

Charlie desliza o disco de borracha em minha direção: Finley.

— Ele me culpa — as palavras vêm rápidas — Eu destruí a vida dele.

— Você não tem certeza, nem se lembra.

— Ele se lembra — observo, agarrando o objeto achatado e circular entre os meus dedos.

— Por que você não pergunta para ele?

Rio sarcasticamente. Apoio meus cotovelos nos joelhos e giro minha cabeça em direção a mulher de cabelos grisalhos sentada a poucos centímetros de distância de mim.

— E se eu for realmente um monstro? O monstro da história dele? Você acha que tudo que você está fazendo não vai ruir? — bato o disco ao meu lado contra o acento de madeira.

— E se ele estiver bem? E se o que aconteceu com ele não foi culpa sua? Isso mudaria alguma coisa? Você pararia de se culpar? — suas suposições não são novas, mas algo que sempre fiz questão de ignorar.

Dou de ombros

— Não sei.

Charlie agarra o disco e estende na minha direção.

— Toma — o agarro novamente confuso — Quando você tiver a coragem de descobrir a verdade, joga isso fora. — ela suspira posicionando o último disco — Você é um bom filho, muitos já teriam desistido antes. E você não se parece com ele em nada, seus vícios são reflexos de problemas, os vícios dele são algo que o cegam.

FINALMENTE SAIU
Desculpa meninas, mas esse calor está acabando comigo. Meu corpo não funciona muito bem no calor

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