12 | NÃO CANTE PARA MIM
12
NÃO CANTE PARA MIM
ADAM
5 MESES ANTES
O DIA QUE ELA CANTOU BÊBADA
COMEÇO DO OUTONO EM BAYFIELD
As luzes coloridas são os únicos flashes na penumbra da Paris Hall. Ocupo o mesmo lugar de sempre no canto do balcão. Bebo a terceira dose de uísque puro. Espero por ela. Tinha sido um merda de um babaca naquela noite com a Teresa.
E estava sendo mais escroto a evitando. Ela poderia não querer olhar na minha cara, mas o que tínhamos era legal. Principalmente, era casual. Fodidamente não tinha sentido tanta falta nos últimos dias trabalhando e vigiando o meu velho. Mas, uma coisa que odiava em minha merda de vida eram mudanças. Trepar com a minha mão me fazia sentir a porra de um adolescente de novo. Pegar qualquer uma poderia se tornar uma dor de cabeça desnecessária e achar outra que aceitasse os meus termos era quase impossível.
Engulo um gole do líquido maltado.
— Pensei que não voltaria a vê-lo — a voz familiar me faz ter certeza que não foi um erro ter aparecido ali naquela noite.
Encontro no banco ao meu lado a jovem dançarina, de cabelos negros ondulados, olhos de felino, trajando um top e shorts com lantejoulas. Seu dedo balança em direção ao barman do outro lado. Sua água chega em um piscar de olhos.
— Pensei que você não quisesse me ver — comento casualmente.
Teresa sorri, comprimindo suas redondas bochechas pintadas de um tom rosado que escondia sua pele bronzeada.
A morena bebe. Sustento meus braços sobre a bancada espelhada. A observo de soslaio. Era errado usa-la. Ela sabia das minhas regras. Não queria um relacionamento sério. Caralho. Nunca tive uma merda de relacionamento sério na vida. As merdas do meu pai sempre estavam em primeiro lugar. Como fuzileiro nunca ficava por muito tempo no mesmo lugar.
Sem mencionar as malditas palavras do meu velho que sempre me assombraram, após a partida da minha mãe: na primeira caída elas te deixam garoto. Você só é útil enquanto está ganhando. Mulheres são traiçoeiras.
A lista era grande.
Malditamente não podia defender a mulher que um dia tinha me dado à luz, ela me deixou, sem um bilhete, sem olhar para trás. Tive que engolir a versão do meu pai.
E se meu pai que era menos fodido do que eu não tinha conseguido manter um relacionamento. Como caralhos, alguém completamente fodido como eu fugiria daquela maldita sina.
— Na primeira semana considerei em risca-lo da minha lista — revela com os olhos pensativos voltados para o teto — Mas depois passou — dá de ombros.
Seus olhos de gata selvagem param em minha direção. Giro o pescoço a encarando. O pouco que sabia ler sobre Teresa me dava a certeza de que estava sendo sincera.
— Eu fui grosseiro — justifico os seus motivos.
— E eu quebrei uma das suas regras — balança a cabeça concordando — Nós dois erramos naquela noite.
As regras eram simples: Nada de perguntas. Nada de passar a noite. Nada de vida pessoal. Apenas sexo.
E era daquele jeito. Era o fato dela aceitar as minhas regras que me faziam voltar para aquele lugar em busca de consolo e calor humano para esquecer. Abro os lábios. Algo vibra no meu bolso. Engulo a amarga saliva. Teresa me observa curiosa. Bufo. A merda continua a vibrar no meu bolso.
Queria ignorar como sempre, mas poderia ser problemas com o meu pai.
Enfio os dedos no bolso da frente do meu jeans marrom. Arranco o aparelho prateado de flip. No visor preto encaro um nome inesperado: Sunshine. Passeio com a língua no interior da minha boca, decidindo se devo ou não atender. O celular continua a tocar.
— Preciso atender — bufo para a morena ao meu lado — Alô — solto pouco amigável.
Enfio o dedo dentro da orelha livre, tentando ouvir do outro lado da linha, que parecia ter mais ruídos que o normal.
— A Alice está errada — finalmente a voz familiar com a língua enrolada solta, me ajeito sobre o banco — Você não faz o meu tipo. É alto demais, odeio ter que ficar na ponta dos pés ou com dor no pescoço só para te encarar . Odeia a tudo e a todos. Nem gosta de música ou filme, quem não gosta de filme ou música? — Tate grita algumas oitavas mais alto do outro lado da linha, em um tom de completo absurdo — É a mesma coisa que dizer que odeia chocolate.
Que caralhos ela está fazendo? Ainda bêbada. Ótimo. Escuto em silêncio.
— Você está bêbada, Tate? — é mais uma constatação furiosa do que uma pergunta.
Ranjo os dentes irritado com aquela pirralha que só se metia em problemas e me envolvia junto. Ignoro o olhar ao meu lado cheio de perguntas que se volta para mim.
— Ótimo — seu grito é ensurdecedor — Hoje eu sou a Tate. Viu, odeio quando você me chama de Sunshine, mas é estranho quando me chama de Tate. Isso que você faz só para me provocar — choraminga furiosa e pouco compreensível — Vou deixar uma coisa clara, Adam Baylor você não faz o meu tipo. Não tem nada que me atraia em você, exceto o seu belo corpo — seu tom diminuiu.
Ok. Tento não processar aquela última parte. A pirralha estava bêbada. Bêbada em um lugar cheio de pessoas. Finco os dedos no meu joelho. Ela arrumaria problema. Alguém arrumaria problema com ela. Ela estava sendo invasiva mais uma vez. E tagarela.
— Onde você está ? — disparo firme.
— Shi — ela assopra do outro lado da linha — Eu estou falando sr. Rabugento.
— Você está bêbada — rebato amargamente — Eu vou ligar para o Elliot.
— Não — ela grita, me obrigando a afastar o telefone da orelha — Você não vai ligar para ninguém, não sou mais uma criança eu sei me cuidar.
E lá estava ela sendo teimosa mais uma vez. Aquela garota fazia meu sangue ferver. Bufo.
— Me diz, onde você está? — insisto.
A ponta da sua língua estala no céu da boca em um som de recusa.
— Adeus, sr. Rabugento — Sunshine desliga.
Afasto o telefone da orelha. Encaro a tela que confirma que a ligação tinha sido finalizada. Fecho os olhos. Eu não deveria me importar. Cacete. Eu deveria deixa-la ser adulta e resolver os seus problemas sozinha. Mas, Sunshine estava bêbada, em um lugar público, possivelmente com alguns tarados por perto. Meu estômago se revira com os malditos resultados daquela combinação catastrófica.
— Problemas? — Teresa me lança seu olhar felino cheio de desconfiança.
Arranco algumas notas do bolso de trás. Bato no balcão e arrasto para debaixo do copo vazio.
— Preciso ir — decreto ao saltar do banco.
A morena ao meu lado sorri de forma amargurada. Seus lábios abocanham a garrafa de água quase vazia.
— Vou voltar a vê-lo ou você arrumou outra distração? — sua pergunta é acida.
Bufo. Ela olha para o outro lado do bar, sem me encarar.
— Não faz isso Teresa — peço, antes de partir.
♦
Caçar uma pirralha bêbada em Bayfield não era uma tarefa difícil. A cidade não tinha inúmeras opções de entretenimento para mulheres. E durante a maldita ligação, foi impossível ignorar alguém desafinado contando ao fundo. A conclusão foi simples: noite de karaokê no Flannigan's.
Empurro a porta metálica. Bufo. Corro os olhos pelos metros quadrados daquele espaço abarrotado de pessoas bêbadas, animadas e com o insuportável som ao fundo. Odiava noite do karaokê no Flannigan's. Abro caminho até o bar. Colo no extenso balcão de madeira. Corro os olhos pelas pessoas sentadas em torno. Uma gritaria ritmada ganha a minha atenção.
— Vira. Vira. Vira. Vira — um grupo de idiotas gritam.
Sunshine
A encontro. Quase na ponta oposta. No meio de quatro machos e três garotas bêbadas. Fecho o punho. Ela vira a dose de tequila, abocanha o limão e bate o copo vazio satisfeita com sua performance infantil.
— Isso — ela grita ao cuspir o bagaço verde.
— Outra — alguém do grupo grita.
— Pirralha teimosa — rosno entre os dentes.
Marcho até a pequena aglomeração. Bato a mão no ombro de um dos caras com camisa xadrez. Ele grunhe quando o puxo abrindo passagem.
— Acabou a festa — anuncio em alto e bom som.
Sou vaiado.
Paro atrás da garota com o inconfundível cheiro de flores. Passo minha mão sobre o seu ombro e arranco o pequeno copo de tequila das suas mãos.
— Que diabos você pensa que está fazendo? — disparo, dissipando o resto da galera.
— Ei — ela pestaneja finalmente me notando — Me devolve isso.
Bato o copo longe dela. Agarro seu braço com firmeza.
— Vamos — ordeno, balançando a cabeça para a saída.
Sunshine arranca seu braço dos meus dedos. Seu pequeno corpo gira sobre a banqueta. Sua bota bate no piso com o seu pulo. Seu queixo se empina em minha direção. Seus braços se cruzam desafiadoramente.
— O que você está fazendo? Eu não te chamei aqui — sua língua enrolada resmunga.
Bufo impaciente.
— Vamos, vou te levar para casa.
Tate nega com a cabeça.
— Eu não te chamei aqui, sr. Rabugento.
Reviro os olhos sem paciência.
— Não deveria ter me ligado — observo o óbvio.
Seus braços se descruzam. Seu indicador bate contra o meu ombro repetidas vezes. Seus olhos focam no ponto onde seu dedo bate e cutuca meu peito.
— Eu queria deixar claro para a Alice e você que é impossível algum dia você fazer o meu tipo— ela continua a me cutucar com as pálpebras baixas.
Estreito os olhos. Sobre a cabeleira castanha olho ao redor a procura da loirinha. Nada. Perfeito. Duas garotas bêbadas para cuidar era tudo o que eu precisava. Ignoro a bêbada que balbucia algo contra o meu peito. Aceno para o garoto magrelo com cabelo de tigela do outro lado do balcão.
— Cadê a loirinha, Parker? — questiono para o jovem com duas garrafas de cerveja na mão.
— A amiga dela está lá nos fundos se agarrando com o Justin — revela.
— Ela está bem?
— Mais sóbria que a amiga — revela apontando para a jovem me cutucando.
— Se ela perguntar avisa que já cuidei da bêbada aqui.
Bufo. Um problema a menos. Envolvo o pulso que ainda me cutuca. Encontro os olhos cor de mel que estreitam-se confusos em minha direção. Ela me observa.
— Vamos, vou te levar para casa — a puxo.
Tate arranca sua mão dos meus dedos. Balançando a cabeça insistentemente, com os olhos estreitados e um cara de ânsia. Seu pequeno corpo recua alguns passos.
— Não, é a minha vez — decreta se afastando e se misturando no meio da multidão.
Não consigo segura-la. Ela escapa entre os meus dedos se afastando cambaleante.
— Teimosa — rosno.
Esfrego minhas mãos no rosto. Caralho. Eu não deveria me importar. Deveria larga-la lá e que as coisas se resolvessem sozinhas. Por que diabos estava me importando? Ela não era problema meu. Não era nada minha. Fazia minha vida um inferno, era um pé no saco na maioria das vezes e só me metia em problemas, que não eram problemas meu. Já tinha problemas o suficiente. Não precisava cuidar de uma pirralha.
Ela me quebrava. Me impregnava. Parecia estar em todos os lugares. E malditamente começava a invadir meus pesadelos, sempre com aqueles olhos redondos esperando uma resposta para a sua insistente pergunta: você está bem?
Ela não dizia nada além daquilo. Era uma gentileza em meio de tanta desgraça que me assustava. Ela estava começando a me assustar. Era assustador a forma como não a assustava, como começava a me importar e a fúria que corria em minhas veias, uma maldita sensação de vida.
Sopro o ar para fora. Ergo a cabeça e a encontro em cima do pequeno tablado de show dos horrores. Ela cuspe as palavras enroladas contra o microfone na sua mão. A melodia começa a tocar. Seus olhos procuram algo na multidão. Seus olhos me encontram. Seus lábios curvam-se.
— Essa é para você sr. Rabugento — seu dedo aponta para mim — Acho que essa você vai gostar— ela me lança uma piscadela.
Fecho o punho. Ranjo os dentes. Não consigo evitar alguns olhos curiosos que me encaram surpresos. Atenção. Tudo o que eu amava. Muita atenção dada de presente pela pirralha bêbada em cima do palco.
Tombo a cabeça para frente. Aquela garota sabia foder com a minha vida. Eu deveria larga-la ali. Mas ela sabia atrair atenção de machos covardes dispostos a levar uma bêbada para qualquer lugar. A simples fantasia daquela ideia revira meu estômago.
— Every now and the I get a little bit restless and I dream of something wild — seus olhos de mel focam nos meus, entre inúmeras pessoas sentadas ao meu redor, suas esferas redondas se focam nas minhas — Every now and then I get a little bit helpless and I'm lying like a child in your Arms — não tenho certeza se ela simplesmente repete a letra ou tenta dizer algo a mais — Every now and then I get a little bit terrified and I kown I've got to get out and cry.
Ela me quebra. Ela me vê. Uma maldita sensação de existência queima dentro de mim. Fecho o punho com mais força. A estrofe de Total Eclipse of the Heart muda. Seus olhos assumem um tom travesso ao cantar para os desconhecidos. Queria abandona-la ali. Precisava de ar. Necessitava de distância.
E contra todas as minhas necessidades.
Foda-se.
Furioso marcho até o palco. Empurro alguns obstáculos que resmungam. Os olhos cor de mel encontram os meus. Ela balbucia algo. Em erguer do pé bato o coturno sobre o tablado oco. Tate recua alguns passos assustada. A alcanço em um esticar de pernas e dobrar de costas.
— Vamos — rosno.
Inclinando-me para frente, agarro suas pernas cobertas pelo tecido fino de uma meia calça e quase transparente, jogando seu corpo sobre o meu ombro, com vários murmúrios de surpresa e indignação saindo dos seus lábios, que faço questão de ignorar.
Ao meu redor o povo resmunga. Ela resmunga. Os ignoro. Pulo e marcho até a porta com minha melhor máscara de mau. Alguns recuam. Outros olham curiosos. Abro a porta metálica, finalmente do lado de fora daquele inferno. Ninguém nos segue.
— Ei — finalmente a escuto, apesar da língua dormente, enquanto marcho na direção oposta — O que você está fazendo? — resmunga, com as pernas se debatendo, obrigando a abraçar com mais força suas coxas e seus punhos acertando minha bunda.
— Acho que é meio óbvio — respondo — Eu estou te levando para casa.
— Seu idiota, me solta — reclama, com a língua menos enrolada — Eu não sou um saco de farinhas para ser carregada desse jeito — Eu não pedi a sua ajuda.
Seus punhos continuam a acertar minha bunda, as vezes as costas e outras as coxas.
— Não é mesmo um saco — rebato — Um saco de farinha é mais silencioso, menos teimoso e não merece uns tapas na bunda — não sei porque digo aquilo, mas meus olhos caem sobre aquelas duas nádegas tão próximas do meu rosto, mais uma vez, dançando na minha cara.
Porra
Aquelas redondas nádegas pareciam me perseguir fosse presa na janela de um banheiro ou dançando na minha cara. Meus dedos formigam, como se meu corpo me provocasse a deslizar minha palma e tocar aquela pele quente, firme e atrativa por debaixo do vestido.
Cacete
Aquela menina estava começando a brincar com a minha cabeça e não gostava disso. Agradeço quando um casal falante vem em nossa direção, ficando logo em silencio assim que se deparam com a cena da mulher sendo carregada nos meus ombros.
— Eu estou de vestido — Sunshine continua a pestanejar se debatendo no meu ombro, tornando cada vez mais difícil a tarefa de carrega-la.
— Ninguém quer ver a sua bunda — rosno entre os dentes.
Ciente que talvez eu pudesse querer vê-la. E que não queria que ninguém também a visse.
O casal para, olhando para nós dois como se fossemos a coisa mais esquisita da cidade. Fecho a cara, tentando afugentar qualquer questionamento daqueles dois pares de olhos.
— Socorro — ela os vê e grita — Ele está me sequestrando.
A vontade de chocar a palma da minha mão naquela bunda aumenta e não é por algum ato sexual selvagem, é mais por disciplina mesmo. O que ela estava pensando naquela noite? Beber. Me ligar. Me ligar bêbada. Ficar bebendo no meio de desconhecidos sozinha. Cantar para mim bêbada. Atrair a atenção de homens nojentos naquele lugar. Correr o risco ser agarrada por algum tarado ou qualquer outra coisa, que fazia meus nervos tencionarem-se só de pensar. Eu não me importava, porém nada poderia acontecer com ela.
— Ela está bêbada, não sabe o que está dizendo — grito para as duas pessoas que ficam para trás — Briga de casal — completo mal-humorado.
— Não somos a droga de um casal — Sunshine rebate com a língua enrolada — Jamais namoraria alguém como você.
Seu punho para de acertar minha bunda, passando a belisca-la, contraindo meus músculos das nádegas que sentem cada firme e forte puxada, mesmo por cima da calça.
— Você é cruel, Adam Baylor — seus lábios rosnam com raiva — Não sabe tratar uma mulher — a mulher bêbada no meu ombro continua a me beliscar, tornando o curto trajeto uma tortura sem fim — A Alice está maluca em achar que você poderia fazer o meu tipo — revela, diminuo os passos — Um troglodita com uma bunda musculosa — suas unhas apertam mais um pedaço de pele debaixo da calça.
— Você não sabe o que está falando — por um momento concluo que a bebedeira tinha sido grande — Está bêbada.
— Em pensar que um dia fantasiei com você.
Meus passos largos tornam-se curtos. E algo adormecido dentro de mim desperta, algo parecido com curiosidade. Sinto um relâmpago de curiosidade.
— Logo você vai se livrar de mim — decreto rispidamente — Vou te deixar em casa.
Percebo que estamos diante da minha Ford F100. Pego as chaves no meu bolso, abrindo a porta que range. A ideia de colocá-la no chão morre quando seus lábios voltam a tagarelar e seu corpo a se remexer.
—Não— pestaneja desesperada , com a língua enrolada e sem parar de judiar da minha bunda— Me solta seu idiota, eu não vou para casa — decreta se debatendo.
Ela quase cai no chão. Me abaixo a apoiando sobre a calçada, antes de tentar me afastar.
— Não — ela recua — Eu vou voltar lá dentro e esperar a Alice — decreta mal conseguindo andar em linha reta.
Agarro seu cotovelo. Seu corpo cambaleante choca-se com o meu. Seus dedos ágeis agarram minha camiseta, se segurando, e seu hálito alcoólico acaricia minha pele já em chamas, com o seu inconfundível aroma floral, que estava mais saliente naquela noite. Olho para baixo. Olho para ela. Seus olhos queimam de irritação e estreitam-se confusos. Seus lábios entreabertos chamam a minha atenção. Os meus lábios formigam de um forma que nunca tinha sentido antes.
— Me solta, Adam — meus dedos permanecem em torno do seu braço.
— Por que?
Sua testa enruga-se confusa com a pergunta. Seus lábios se entreabrem liberam o cheiro inebriante de tequila. Quase um convite silencioso que toma conta da minha vontade.
Pigarreio desconfortável.
— Por que não quer ir para casa?
Sunshine bufa impaciente.
— Eu deveria ter ligado para o Ian — dispara desconfortável.
Seu pequeno corpo se solta do meu, recuando alguns passos para trás, meus dedos não a soltam. Inexplicavelmente não me sentia capaz de solta-la. Não naquele estado.
— Me deixa — insiste manhosa — Eu não pedi nada para você. Então me deixa aqui — seu salto batuca retomando nossa aproximação como uma maldita dança sem ritmo, sua mão espalma-se em meu ombro — Me deixa aqui — sua língua enrolada suplica.
Queria manda-la se foder. Mas algo me impedia. Uma fome, uma necessidade uma sensação não me deixa solta-la. Seus dedos fincam no meu ombro.
Seu queixo inclina-se, com o hálito quente acariciando meu queixo. Seus olhos desafiadores estão lá, me encarando a espera.
— Eu não posso te largar aqui — olho o deserto ao nosso redor preenchido por carros vazios.
Sunshine sorri.
— Eu prometo não contar nada para o Elliot — ela sussurra sua oferta de segredo.
— Não — decreto friamente.
Mesmo que a merda daquela decisão fodesse comigo não a largaria ali. Tate Evans era irritante, insuportável, invasiva, mas não me perdoaria se algo acontecesse com ela. Já tinha machucado muitas pessoas, não deixaria que a machucassem. Não quando poderia evitar.
Ela suspira exausta e demorando cada vez mais entre um piscar e outro.
— Por que você se importa? — a lufada de ar quente bate contra o meu queixo. Você nem gosta de mim, poderia me largar em qualquer lugar — seus ombros dançam em desdém — Você nem me considera sua amiga — seus olhos arregalam-se, dando mais impacto para as suas palavras.
Abaixo meu queixo, encontrando seus carnudos e vermelhos lábios novamente. Minha boca seca. Sinto sede. Sinto fome. Sinto vontade de provar a vida que se oferece diante de mim. Sinto necessidade por permitir que aquele enjoativo aroma floral impregnasse em cada peça de roupa minha.
— Eu vou te levar para minha casa — decreto surpreso comigo mesmo ao ouvir aquelas palavras.
Seus olhos recuam surpresos, como se estivesse brincando.
Ofego confuso. Ofego ansioso por tira-la dali. Ofego como se meu corpo precisasse de ar para respirar.
Sua cabeça balança para os lados de um jeito terrivelmente infantil.
— O seu sofá é horrível — recorda — Duro demais.
— É o que você vai ter essa noite miss Sunshine — respondo feliz por conseguir recuperar o meu sarcasmo — Conforme-se alteza.
Balanço a porta entreaberta da caminhonete.
— Entra, Tate — ordeno.
Seus olhos se reviram, seus lábios crispam e suas botas marcham para dentro do veículo. Bato a porta com força. Inspirando. Expirando. Passo a mão no rosto, ansiando por uma dose caprichada de uísque e um masso de cigarro, porém em troca teria uma bêbada no meu sofá.
Contudo agora a tinha dentro de um espaço pequeno. Sopro o ar entre os lábios. Olho pelo vidro. E lá está ela, com a cabeça encostada na janela e os olhos mais fechados que aberto. E finalmente os lábios quase selados. Os braços cruzados com o rosto enrugado como uma criança infeliz.
— Você jamais vai fazer o meu tipo — resmunga, repetitiva, quase em um sussurro.
Não me ofendo. Aquela pirralha não fazia o meu tipo.
— Nem você o meu
Sento em frente ao volante. Enfio a chave e giro, o motor balança suavemente o carro, a mulher sonolenta, bem afastada de mim, resmunga.
— Deveria ter ligado para o Ian.
Uma irritação passa por mim com aquele comentário.
— E por que caralhos não ligou? — questiono manobrando a caminhonete.
Silêncio. Nenhuma resposta imediata. A ausência da sua voz faz meu pé soltar o acelerador. Olho para o lado. Encontro seus olhos fixos nos meus. Suas pálpebras estão baixas, mas seus olhos me encaram.
— Ele faria perguntas. O Elliot pode fazer perguntas. Meu pai vai fazer perguntas. Perguntas que não quero responder — seu tom diminui a cada nova palavras até tornar-se apenas um sussurro — Ainda mais bêbada.
Ela apenas resmunga. Acelero. Engolindo a curiosidade de que malditas perguntas ela tinha medo.
Sunshine dorme com os lábios entreabertos e balbuciando o tempo todo. O trajeto é rápido e tranquilo. Paro em frente a construção de dois andares, meu abrigo em cima e um espaço abandonado embaixo. A encaro, tão indefesa, sem tagarelar e cheia de vida, apesar de pontada de melancolia que parecia acompanha-la naquela noite. E ainda assim a invejava. Algo em meu interior parecia querer se rachar. Aperto as pálpebras, tentando evitar.
Pulo para fora da caminhonete, batendo a porta com força propositalmente para acorda-la, mas sua cabeça apenas balança para o outro lado. Olho para a porta a alguns passos de distância. Sem opção, abro a porta. A encaro, seu rosto está virado em minha direção, com algumas madeixas cobrindo seus olhos.
Pigarreio. Tate resmunga. Bufo. Inclino-me para frente, as pontas dos meus dedos tocam com delicadeza a sua pele e as madeixas soltas sobre os seus olhos, suavemente as puxo em minha direção e as coloco atrás da orelha. Seu pequeno corpo não reage. O meu corpo fica tenso com aquele gesto.
Tentando afastar tudo enfio o braço embaixo dos seus joelhos e apoio seu tronco contra o meu corpo. Seu corpo se acomoda em meus braços, sua cabeça esfrega contra o meu ombro, quase tocando o meu queixo. Ignoro tudo aquilo, fechando a porta com o pé. Abro a porta vermelha e subo as escadas.
— Você só tem pose de mau — a encaro surpreso.
Seus olhos continuam fechados, mas ela parecia ciente de tudo. Seguro o ar no peito tenso.
— Eu sou perigoso, Sunshine — rebato secamente.
Sua bochecha esfrega contra o tecido da camiseta que não segura o calor da sua pele.
— Não — sua língua enrolada demora-se naquela palavra — Você está ferido. Não é de ferir ninguém.
Paro a poucos passos do topo da escadaria. Encaro seu rosto com feições suaves e serenas. Pela primeira vez percebo que as sardas da sua infância ainda cobrem sua pele abaixo dos olhos. Aquela constatação me surpreende.
— Você não sabe disso.
Seus lábios vermelhos curvam-se com melancolia.
— Eu sei. Eu já conheci o mau — revela, meu estômago se revira e minha mente gira confusa — E você não age como ele — ela abre os olhos — Você poderia ter me abandonado hoje — seu indicador toca minha barba — E está me trazendo para a sua casa.
Quase começo a me arrepender. Pigarreio desconfortável, voltando a subir os degraus. Evito olha-la.
— Olha que posso mudar de ideia.
— Não vai.
— Você é confiante.
Seu riso é fraco, mas é seu riso. Conhecia aquele riso. Aquele riso tinha ficado em minha mente depois do jantar na casa do meu pai. O som mais vivo que tinha ouvido em anos.
Chego no segundo piso. Empurro a porta deixada aberta na minha saída. Nem um idiota ousaria entrar ali. E se ousasse não tinha nada para ser levado. Fecho a porta com o pé. Olho para o sofá ao meu lado e passo direto. Marcho até o fundo, apoio o pequeno corpo sobre a cama desarrumada.
— Pensei que fosse me colocar naquele seu sofá horrível — o comentário não me alarma.
A ignoro. Preferindo abrir o zíper das suas botas e livra-las dos seus pés.
— Eu gosto daquele sofá horrível — justifico sem emoção — Não quero ter que troca-lo caso você vomite nele.
E lá está o som gostoso da sua ridícula risada de novo. Um ritmo que suaviza a tensão no meu corpo. Tento arrancar as cobertas amassadas embaixo dela. Finalmente consigo um pedaço de pano para cobrir o corpo da pirralha. Levo a ponta da coberta até os seus ombros.
Seus dedos envolvem meu pulso. A encaro.
— Adam — meu nome saí estranho dos seus lábios que se comprimem— Não deixe as suas feridas definirem quem você é — seus dedos me soltam.
Endireito as costas. A observo confuso e desconfortável com aquelas palavras. O que diabos ela entendia de feridas? Aquilo era o álcool ou ela falando?
— E o que você entende de feridas, Sunshine?
E lá está o sorriso melancólico em seus lábios.
— Mais do que você pode imaginar — seu pequeno corpo vira-se de lado, sua bochecha afunda-se no meu travesseiro.
— O que aconteceu com você?
— Eu disse que conheci o mau — reafirma.
Fecho meu punho, temendo as diferentes versões de mau que uma simples palavra pudesse significar. Eu tinha conhecido o mau. Ninguém merecia ter conhecido o mau. Ela, apesar de tudo, não merecia aquela sina.
Esfrego a mão no meu rosto as levando até a nuca me afasto. A curiosidade afasta o arrependimento por tê-la ali. Caminho até a janela a poucos passos da cama. Encosto-me no parapeito, arranco a carteira de cigarro no meu bolso da frente. Trago a nicotina assim que a chama a queima. E observo o inocente rosto da mulher de cabelos castanhos, pele clara e lábios carnudos dormindo na minha cama. E roncando. Entre seus lábios abertos saí um suave ronco. Curvo os lábios com aquele som. Ela não era perfeitinha.
Recosto-me na armação de vidro quadriculado atrás de mim.
E pelo que parecia tinha passado por algo.
— Que caralhos aconteceu com você? — questiono mais para mim mesmo do que para a jovem que ronca.
Trago a nicotina. A observo temendo pelo que não sabia. Algo se quebra dentro de mim, um pavor que me acolhe naquilo que me ligava a Tate: o mau que tínhamos encarado.
Mesmo torcendo para que o seu mau se resumisse a um bicho peçonhento.
CHEGOU CAPÍTULO
Não postei ontem como prometido porque tive algumas coisas para fazer.
COMENTÁRIOS? TEORIAS? OBSERVAÇÕES?
ATENÇÃO
Caso não carregue amanhã o capítulo de sexta, até sábado eu posto.
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