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09 | ENTALADA

09
ENTALADA 
TATE

NOITE DE FESTA
5 MESES ANTES
COMEÇO DO OUTONO EM BOSTON

Agora não

Adam Baylor tinha sumido. Ótimo.

Largo Elliot com seu talento natural para conversar, sorrir e ser simpático. Meu irmão tinha aperfeiçoado seu carisma natural ao longo dos anos. Segundo ele, consequência de ser pai e ter que aprender a confraternizar com outros pais.

Abro caminho entre os convidados e garçons. Não poderia ser difícil achar um homem de 1,90 carrancudo. Não tinham muitos homens com àquela altura, rabugento e bebendo uísque puro. Nada.

Nada no bar. Nada na área de fumantes. Nenhum segurança tinha o visto sair. Não podia invadir o banheiro masculino para procurar. Porém pude interrogar dois ou três homens que saíram do banheiro, questionando se tinha alguém escondido lá dentro. Nada.

Ok.

Inspiro. Expiro. Sinto as pessoas passando por mim. Tento manter minha mente no lugar e não surtar. Fecho os olhos.

— Você está linda — aquele comentário me faz abrir os olhos.

Me deparo com o homem moreno sorridente, dentro de um smoking elegante e os olhos negros passeando pelo meu corpo.

— Ian — suspiro — Você está um arraso dentro desse smoking —deixo escapar aquela observação.

Seus lábios alargam-se com o meu comentário. As solas, do seu sapato de verniz, rodopiam no chão quando seu corpo dá uma voltinha exibicionista.

— Eu sei — seu cenho arqueia e os lábios sustentam o meio sorriso lateral.

Maneio a cabeça tentando não rir. E tentando não alimentar aquele ego em crescimento.

— Convencido.

Seus ombros balançam no ar como se não tivesse culpa. Seus pés quebram a distância entre os nossos corpos, impregnando minhas narinas com seu aroma quente e amadeirado. Seu cheiro era o mesmo. Reconheceria aquele cheiro de olhos fechados.

— Depois da sua amiga desfilar comigo por aí como se fosse um troféu — revela seus minutos de tortura — Não posso evitar.

Comprimo os lábios. Engulo a risada que é consumida pela culpa. Por isso não queria ele ali. Aquela noite era importante. Precisava que tudo saísse bem. Necessitava que Adam se comportasse. E agora ele estava sumindo e nem tinha conseguido decidir se aquilo era bom ou ruim.

— Desculpa — murmuro encontrando os seus olhos cheios de compreensão.

Suas mãos encontram as minhas. Um toque suave. Quase um dedilhar da ponta dos seus dedos que agarram minha mão e caminham sem pressa até a palma. Aquilo não me assusta. Aquilo me conforta. Fico confortável por meu corpo não se esquivar.

— Está tudo bem, foi divertido — o tom humorado em sua voz quase me faz acreditar — Está indo tudo bem?

Reviro os olhos, antes de apertar minhas pálpebras e manear minha cabeça para os lados. Uma risada de desespero formiga na minha garganta.

— Perdi o Adam Baylor — revelo amargamente, afundando meus ombros.

Ian assente. Comprimindo os seus lábios e balançando a cabeça para os lados.

— Não cruzei com ele por aí.

Suspiro cansada, sem opção e tentando não pular no desespero daquela situação. Se Adam tivesse se metido em problemas, a notícia já teria se espalhado. Se ele tivesse ido embora, teria que me dar algumas explicações. E se ele tivesse escondido, teria que acha-lo.

— Aposto que não — com a mão livre, massageio entre os meus olhos — Aquele sabe se esconder.

O cara era fuzileiro, poderia estar no foro, sentado, observando a festa, que nem eu, ou qualquer pessoa desconfiaríamos.

— Quer saber — a mão de Ian puxa o meu corpo em sua direção — Vamos beber algo para relaxar e depois te ajudo a procura-lo — o moreno enlaça meu  braço no seu, apoio minha mão em seu antebraço.

Seus dedos ficam sobre os meus. Em uma caricia suave e amigável, que aliviava todas as tensões da noite. Estar com Ian era como estar no passado, onde não existiam monstros, perigos ou segredos. Ele me guia em direção ao familiar bar. Solicita duas taças de vinho branco.

— Toma. O seu preferido — recorda meu ex.

Agarro a taça, em um curvar de lábios que esconde uma mentira. Não gostava mais de vinho branco. A algum tempo. Mentira, a muito tempo tinha adquirido um gosto por cerveja, ás vezes tequila, principalmente na noite das garotas. Guardo aquela pequena verdade para mim.

Beberico meu velho amigo e causador do primeiro porre. O gosto é nostálgico, mas nada relaxante. Assim como a velha melodia tocada pelo DJ. Os olhos negros como a noite encontram os meus, em seus lábios um sorriso resplandece ao reconhecer cada refrão.

— Não pode ser — o homem ao meu lado murmura incrédulo — A nossa música.

E lá estava ecoando  As long As you love me do do Backstreet  Boys a música que embalou nossa primeira dança na festa do porão dos Jones. E o nosso primeiro beijo no furgão de entregas da Nora.

Os dedos finos e magros de Ian dançam em minha direção, em um convite silencioso que me obriga a abandonar a taça do vinho que não queria.

— Você lembra — comento surpresa enquanto sou guiada em direção a pista.

Os olhos do meu acompanhante estreitam-se ofendidos.

— Como esquecer? — seu tom mantem a ofensa em cada palavra, suavemente sua mão desliza pelas minhas costas, nossos corpos não se colam, mas minha mão apoia-se em seu ombro, nossas mãos unidas balançam junto com nossos corpos — Como esquecer minha música com a Elizabeth Francis Evans.

Rio. Abaixando os olhos, permito-me ser guiada pela pequena pista quase vazia.

— Isso está ficando formal demais — brinco.

— Isso lembra o meu baile de formatura — recorda em um sussurro caloroso que bate em minha orelha.

Minha boca fica seca. Mordo o interior do meu lábio. Flashes da noite antes de Ian ir para faculdade invadem a minha mente. A despedida na porta da sua casa. O caloroso beijo. A promessa de nos vermos no primeiro feriado. O baile na noite anterior. Eu na cama dele na mesma noite. Nossos corpos unidos em um só. Meu estômago se revira. Aquelas lembranças pareciam de outra vida. Lembranças de outra garota. Ao lado de Ian conheci o amor. Longe dos seus braços fui apresentada ao inferno.

— Você estava linda naquela noite — aquele comentário rouba a atenção dos meus olhos e invade a minha mente.

Encontro os olhos negros cheios de emoção. Meu estômago se revira. Flashes de um passado que preferia enterrar ameaçam a minha mente. Lanço lhe um olhar confuso e cheio de discordância.

— O que? — ele pergunta como se tivesse dito algo — Não estou mentindo — meu corpo é guiado — Você sabe. Nem corou.

— Você quer me deixar corada? — estreito os olhos curiosa, preferindo focar naquela conversa.

— Adorava te deixar corada — suas palavras calmas e cheias de emoção são como um soco na boca do meu estômago.

Amo quando você cora.

Aquelas palavras em outro contexto. Ditas por outros lábios. Em uma época depois de Ian. Em uma época antes daquela. Aquelas palavras ecoam na minha cabeça.

Abaixo o olhar, preferindo encarar o seu ombro.

— Não sou mais a menininha ingênua que você conheceu — digo contra o seu paletó, repito a mesma frase que disparei para Gus na nossa última conversa.

— Eu amava aquela menininha ingênua — o comentário aumenta a minha náusea.

Sinto um dedo tocar meu rosto e deslizar algo até atrás da minha orelha. Meu corpo paralisa em resposta. Meus pés param. Dou um passo para trás, desvencilhando-me dos braços de Ian. Precisava de espaço. Urgentemente precisava de espaço.

— É — pisco algumas vezes ao encontrar os olhos negros confusos em minha direção — Eu preciso ir ao banheiro — balbucio, evitando olha-lo por muito tempo.

Temendo que Ian encontrasse algo que queria esconder.

— Está tudo bem, Tate ?

Maneio a cabeça positivamente.

— Bebi muita água — minto retrocedendo alguns passos.

Desvio de várias pessoas pelo caminho. Não planejo aonde ir. Meus pés apenas me guiam. Alguns corpos esbarram em mim, com murmúrios de desculpa. Percebo que estou diante do banheiro feminino. Paro a poucos passos da entrada. A porta se abre, revelando que o número de pessoas lá dentro é maior do que eu gostaria de encarar.

Giro no mesmo lugar. A placa com o aviso em manutenção em uma das portas me chama. Não penso. Irrompo para dentro, desejando não ser pega ou seguida. Finalmente solto o ar preso em meus pulmões quando percebo que estou sozinha. Caminho até em frente aos espelhos. Espalmo minha mão no mármore gelado que alivia meus pensamentos.

Eu queria ser a garota que Ian via. Eu gostaria de voltar a ser a garota das lembranças dele. Porém não era. Jamais voltaria a ser. Tinha superado isso e aprendido ao longo dos últimos anos, com dois relacionamentos sérios que não passaram de seis meses e sempre eles diziam o mesmo: você me afasta. Você não deixa eu me aproximar. Parece que fico do lado de fora da sua vida.

Abro os olhos, encarando o meu reflexo. Não vejo a menina ingênua, mas a mulher madura que tinha me tornado. E essa mulher tinha passado a preferir relações transitórias, nada dos três encontros, ou o trabalho, meu adorável amante.

— Ele não tem culpa — digo para a mulher madura refletida — O Ian não é ele. O Ian é legal e seguro — reafirmo para a minha nova versão — O Ian não é ele. 

Encaro meu reflexo. Respiro fundo. Tento colocar tudo no lugar.

Meu corpo pula em um giro, com um estrondo que ecoa por todos os cantos do banheiro vazio, meu coração pula dentro do peito. Meus olhos passeiam pelo ambiente, finalmente esbarrando na última cabine.

— Adam? — murmuro incrédula.

Com a figura do homem com a madeixas desgrenhadas, olhos negros e obscuros como a noite, arfando o ar pelas narinas, sentando como o diabo na descarga do sanitário, parecia até um pesadelo. Ele me encara com uma expressão que não consigo definir. Os dentes trincados só se abrem quando a garrafa toca seus lábios e é virada em um gole demorado.

— O que você está fazendo aqui? — finalmente consigo esboçar, mais incrédula do que confusa.

Seu cenho dança para cima crispando a sua testa. A garrafa abandona os seus lábios, ainda sustentada por sua mão, entre suas coxas, onde seu braço está apoiado.

— Aparentemente assistindo você ter algum tipo de crise existencial  — o moreno, com o nó da gravata desfeito e a camisa aberta, murmura desconfortável com a minha presença.

Ok. Adam Baylor me pegou. Porém, ele não deveria estar ali. Cruzo os braços.

— Você não deveria estar aqui— aponto.

Seus lábios comprimem-se em um sabor amargo, lançando seu melhor olhar de cinismo.

— Acho que nem você, Sunshine — ele bebe — Mas todos queremos nos esconder as vezes.

Meu estômago revira. Minha bunda bate contra o mármore, e mesmo querendo negar, nem sonho em fazer, não para Adam Baylor. Aperto as pálpebras, aceitando a derrota que desce acidamente pela minha garganta. Eu tinha minhas merdas na cabeça.

— É complicado — resumo.

Ele bebe.

— Sempre é — murmura compreensível.

Eu não conhecia as merdas daquele homem. Sabia que nossos fantasmas eram diferentes. O meu se resumia a uma decepção e desilusão. A dele era contabilizada por corpos.

— Passei os últimos trinta minutos te procurando— recordo.

Seus ombros dançam em desdém, arrancando uma carteira de cigarro do bolso do seu paletó e sustentando o papelote entre os lábios, posicionando o isqueiro logo à frente.

— Precisava fumar — revela, com os lábios fechados.

— Você está se escondendo — o acuso — É diferente.

Seus lábios sopram a fumaça para cima – que saí pela janela - , sem pressa alguma. E sem qualquer movimento que fizesse mostrar que ele tinha a intenção de sair de cima daquela privada.

— Podemos dizer que nós dois estamos tomando um ar — rebate, arqueando as sobrancelhas sugestivamente.

Suspiro. Não estava em posição de julga-lo. Mordo o interior do meu lábio, odiando o fato dele ter razão quando não deveria.

Dou-lhe as costas, arrumando minhas madeixas com os dedos. Não consigo ignorar seu reflexo, mesmo de soslaio, lá está ele, obrigando meus olhos a correrem em sua direção, não conseguindo evitar. Lavo as mãos. As seco e jogo o papel na lixeira logo abaixo da bancada.

— Nós precisamos voltar —ordeno, voltando a encara-lo.

Seu corpo relaxado não reage.

— Eu vou ficar aqui — anuncia.

Arfo o ar entre os lábios, querendo arrasta-lo para a festa, contudo a minha vontade de retornar não era das maiores, não naquele momento, não depois de tudo. Não sabia se seria capaz de encarar Ian.

— Sunshine, você precisa relaxar um pouco — as palavras saem coesas e firmes para alguém que já tinha bebido meia garrafa de uísque — Desfilamos pelo salão. Ninguém vai morrer se você sumir por dez minutos.

— Quer saber? — falo mais para mim, do que para o homem diante dos meus olhos — Foda-se — jogo minha pequena bolsa sobre a bancada de mármore — Eu não estou com paciência para fingir que estou animada — seus olhos de âmbar se estreitam quando meu salto batuca em direção a sua cabine — Dá isso aí — agarro a garrafa de uísque da sua mão.

Viro. Queima na garganta. Desce quente e desconfortável. Queima no estômago. Limpo a garganta amortecida.

— Isso é forte — minha voz sai entalada.

Sinto minhas bochechas queimarem. O calor se espalha por cada centelha do meu corpo. Aquilo que era amortecer algo. Estico o braço. Adam agarra a garrafa.

Sopro o ar para fora.

— Dá um cigarro — peço, recebendo como resposta um olhar confuso — Um cigarro — aponto para o papelote suspenso entre os seus lábios.

Seu cenho arqueia-se e em um movimento receoso o moreno entende o cigarro branco com filtro marrom em minha direção. Me aproximo. Agarro o papelote e sustento entre os meus lábios. Baylor risca o isqueiro descartável vermelho, me oferecendo a chama. Equilibro o cigarro em frente ao fogo, sugando a nicotina a muito tempo abandonada.

Agradeço por ainda ser capaz de fazer aquilo sem tossir. Não lembrava a última vez que tinha fumado um.

— Não sabia que você fumava.

Balanço a cabeça para os lados.

— Não fumo — retrocedo alguns passos, sento sobre o mármore gelado — Mas na universidade você acaba experimentando uma coisinha ou outra. E sendo amiga da Alice você acaba sendo obrigada a experimentar uma coisinha ou outra — revelo dando mais uma tragada.

As ambares do homem dentro da cabine queimam em minha direção. Seus lábios colados escondem qualquer comentário. E pela primeira vez naquela noite, sinto-me a vontade. Sinto-me bem diante da pessoa mais improvável. Não precisava fingir ser quem não era diante de Adam. Ele não procurava em mim alguma figura esquecida no passado.

— Por que você finge ser mau? — disparo não conseguindo segurar aquela curiosidade.

Meus olhos não ficam focados para esperar a resposta. Preferindo focar em  bater o excesso de cinza na cuba ao meu lado.

— Porque talvez eu seja.

Paro. Sustento o cigarro entre os meus dedos. Adam amassa o papelote branco  contra a tampa do sanitário, antes de joga-lo no lixo ao seu lado. Ele não me olha. Observo sua postura inatingível, como uma armadura que o cercasse. Pessoas más não usam armaduras. Sabia disso por experiência. Pessoas feridas as usavam. 

— Você não é — balbucio calmamente, atraindo seus olhos surpresos— Você apenas está ferido.

Seus olhos estreitam-se, como se não esperasse aquelas palavras. Seu corpo reclina-se para frente, usando habitual armadura com os olhos insondáveis, os músculos rígidos e a junção da sua mandíbula pulsante.

— E você deduz isso com base em que? — seu cenho arqueado lança um desafio que não me abala.

Dou uma última tragada no cigarro quase no fim. É minha vez de vestir a minha armadura e fugir dos seus olhos. Esmago o cigarro dentro da cuba ao meu lado. Meus olhos assistem aquela tarefa sem muita atenção.

— Eu conheço feridas — balbucio com pesar.

— Já ralou os joelhos, Sunshine? — seu tom não é debochado.

Finco os dentes do meu lábio inferior. Odiando entender sobre aquele assunto. Encontro seus olhos atenciosos.

— Algumas vezes, senhor Rabugento — o cutuco, evitando me aprofundar naquele tema.

Adam estreita seus olhos quando retribuo o apelido.

— O que? — disparo curiosa — Só você pode me cutucar? Eu fui a miss Sunshine e você é um Rabugento — solto, enrugando meu nariz.

O moreno com o nó da gravata desfeita balança a cabeça. O tom sério da conversa some por alguns segundos. Seus dedos agarram a garrafa e tocam o gargalo em seus lábios, que sugam o liquido maltado. Sem comentários. Seu jeito calado de retribuir o que o incomodava.

— Por que você finge? — insisto, inquieta por saber um pouquinho mais do meu não astro, que estava odiando cada segundo daquela noite.

Ele engole o liquido como se fosse um carroço de azeitona. Seus olhos disparam uma chama de insatisfação por minha insistência que não se abala. Não temia Adam Baylor. Do outro lado da porta tinha outras pessoas que me assustavam mais, não ele.

— Por que você é tagarela e cheia de perguntas?

Dou de ombros.

— Eu sou assim, não te contei? — alargo meus lábios em um sorriso convidativo — Adoro fazer perguntas. Sou curiosa. Tenho sempre uma trilha sonora na cabeça. E minhas melhores ideias são quando estou tomando banho — reviro os olhos com a última revelação — E é o meu trabalho ser assim, descobrir coisas e pessoas novas — suspiro ao terminar de resumir tudo em um só parágrafo — Sua vez?

Baylor abandona a garrafa novamente. Seu corpo empertiga-se desconfortável. As pontas dos seus dedos tamborilam inquietas sobre sua coxa.

— Eu sou assim — resume em um tom seco.

— Você não era

Ele balança a cabeça para a frente, como se estivesse se obrigando a aceitar que não daria o assunto por encerrado.

— As pessoas mudam — devolve com seus olhos desviantes.

Reclino-me para frente, apoio meus cotovelos nos meus joelhos e o observo atentamente. Tento captar tudo, como uma informação que substituiria minhas antigas lembranças e informações relacionadas a ele.

— O que aconteceu?

O moreno bebe desconfortável evitando me olhar.

— Você já deve saber — rebate irritado — A cidade inteira comenta.

— A cidade é fofoqueira e aumenta as coisas — minhas palavras ganham a atenção dos seus olhos.

Juro que vejo um relampejo de surpresa com a minha afirmação. Como se esperasse o contrário de mim. Eu tinha morado em Bayfield e sabia como pequenas estórias poderiam se tornar homéricas. E Adam era mais uma vítima de línguas desocupadas que diziam que ele entregou o último jogo dos Angels em troca de dinheiro. As mesmas línguas comentavam por suas costas que ele era perigoso. Outros mais espertos preferiam vê-lo como o herói da cidade.

E para o meu desconforto é a vez dele inclinar-se para frente e estreitar os olhos analiticamente em minha direção.

— O que aconteceu com você?

Minhas costas batem no espelho. Eu merecia aquela pergunta depois de tantas. Porém, não estava esperando. Bufo. Um zumbido irritante quebra a conversa. Minha bolsa remexe-se contra a pia. Sem vontade a agarro e abro, pegando o celular e encarando a tela.

MALORI: cadê você?

ALICE: cadê você? A Malori a está procurando

MALORI: Tate, gostaria da sua presença no salão de festa, o dono da emissora está aqui.

ALICE: S.O.S

— Droga — resmungo, jogando o aparelho dentro da bolsa — Precisamos voltar.

O baque seco do meu salto reverbera quando pulo da bancada. Encaro, Adam, que estreita os olhos em minha direção.

— Adam — insisto, o chamando com  mão.

Sua mão balança a garrafa quase vazia, sem ainda deixar sua língua enrolada, ou olhos baixos ou qualquer outro sinal de embriaguez, aquele homem poderia beber um barril, que não seria derrubado.

— Assim que terminar eu volto — propõem.

O celular vibra na bolsa já apoiada entre os meus dedos. O observo, tentando descobrir se a proposta era sincera, ou apenas estava ganhando tempo para fugir pelos fundos. Novamente o aparelho vibra, me roubando o tempo para uma discussão adequada.

— Quando terminar isso — aponto para sua garrafa — Você volta e fica mais trinta minutos.

Ele concorda com a cabeça e os lábios calados. Sabia que não podia confiar nele, mas não tinha outra escolha, além de refazer meus passos até a entrada daquele banheiro. Agarro a maçaneta arredondada – sem força – e a giro, ela saí na minha mão. Elevo o objeto prateado até a altura dos meus olhos. Simplesmente saí, quando deveria estar presa na porta.

— Sério? — rosno para o ser inanimado — Droga — tento enfia-la de volta para o seu lugar, o baque seco do metal é audível do outro lado da porta.

Dobro os joelhos, encarando o buraco vazio para o outro lado do ambiente. O desespero me invade, como se meus nervos não suportassem lugares pequenos e fechados. A coisa na minha bolsa não para de vibrar. O desespero aumenta.

— Adam — grito a plenos pulmões, tentando não gaguejar e surtar, ainda incrédula.

— Hum — o gemido de resposta não me ajuda.

— Estamos trancados — anuncio.

Tento inutilmente enfiar a maçaneta no buraco e girar. Nada. Absolutamente nada. Cerro meu punho, golpeando a madeira que me prendia.

— Tem certeza? — nenhuma preocupação passa por seu tom — Você não tem muita credibilidade para dizer algo assim depois de não conseguir fechar um vestido e uma sandália sozinha — aquelas palavras me irritam, fervem meu corpo — Talvez não consiga abrir uma porta.

Marcho até a última cabine da nossa prisão. Com os dentes cerrados, jogo o objeto redondo de metal contra o seu peito. Surpreso, seus dedos o agarram, analisando a maçaneta.

— Será que isso é suficiente para você acreditar em mim?  — bufo, irritada, desesperada e frustrada.

— É — seus lábios balbuciam sem nenhuma alteração  — Estamos trancados — seus ombros dançam, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo.

Meus lábios grunhem exaltados com a falta de atitude de Adam. Arfo o ar entre as minhas narinas, querendo ver nele o mesmo desespero que o meu.

— E você diz isso com a maior naturalidade — esbravejo alguns tons mais alto, atirando o único objeto em minha mão na sua direção, minha bolsa. Ele se defende, com os antebraços  — Me ajude a sair — praticamente grito.

Ele agarra a minha bolsa, engolindo a saliva e dando de ombros calmamente.

— Eu não faço muita questão de estar lá fora — seu dedo aponta simbolicamente em direção a única saída daquele espaço.

Bufo, querendo gritar, arrancar os meus e os cabelos dele.

— Mas eu preciso estar — esbravejo — Resolva isso — suplico.

Seus ombros dançam em desdém.

— Problema seu.

Fecho meu punho, fervendo de irritação, estreito meus olhos em direção do cara que voltava a agir como um idiota desprezível.

— Odeio quando você age que nem um idiota — resmungo, começando a andar de um lado para o outro, retornando até porta e encarrando pelo buraco vazio da fechadura — Eu preciso sair daqui — apalpo a folha de madeira, como se implorasse para que ela se abrisse, mesmo sem maçaneta dos dois lados.

Mas nada acontece. Absolutamente nada.

— Lamento informar, mas essa porta só pode ser aberta com as duas maçanetas unidas — a voz ressoa da outra extremidade do banheiro — E teremos sorte se ninguém tiver chutado a outra parte para o meio do salão — aquela previsão catastrófica não ajuda em nada.

— E como saímos daqui, seu idiota? — grito alterada.

Respira. Respira Tate. Só respira.

Ordeno mentalmente para mim. Mordo o interior do meu lábio, nervosa, encaro o ambiente ao meu redor, em busca de solução, uma solução rápida e fácil. Refaço meus passos até o homem relaxado e despreocupado sentado em uma privada. Agarro minha bolsa apoiada na tampa de plástico, pegando o celular.

EU: Alice, estou trancada no banheiro

EU: H E L P

EU: preciso de ajuda

EU: AGORA

Nada, nenhuma resposta.

— Sério? Quando é comigo preciso responder na hora — rosno para o aparelho nas minhas mãos. Jogo dentro da bolsa.

Volto a analisar o espaço, encontrando a única outra saída daquele lugar, uma janela. Uma pequena e retangular janela. Um espaço pequeno, mas a única outra opção. Uma janela em cima da cabeça do ser desprezível.

— Saí daí — ordeno para o homem que estreita os olhos em minha direção ainda imóvel — Anda, saí daí, Adam —repito decidida, gesticulando com a mão, preste a puxa-lo se necessário.

Finalmente ele obedece, agarrando sua garrafa de uísque, passando por mim e recostando-se em silêncio na pia, com os braços cruzados.

— O que você vai fazer? — pergunta, finalmente esboçando algum interesse.

Ergo a saia do vestido, pisando com o salto sobre o sanitário, abro a pequena janela, percebendo que meu corpo poderia passar por aquele espaço.

— Sair desse lugar — revelo, antes de impulsionar o meu corpo, que com a ajuda do salto fica mais fácil.

— Você não vai? — a pergunta incrédula é a primeira reação naquele homem.

Graças as aulas de ioga aos sábados com Alice, consigo forçar meus braços, que prendem-se na abertura, as pontas das minhas sandálias raspam a tinta da parede, elevando meu corpo, que se arrasta passando os seios pela fenda. A brisa gélida do lado de fora acaricia meu rosto quente, olho para baixo, agradecendo por estarmos no primeiro andar e a lixeira de plástico logo embaixo tampada. A queda não seria tão dura.

— Mulher teimosa — a voz masculina resmunga do outro lado — Você vai se machucar — rosna impaciente.

Rio, animada e vitoriosa para uma lateral – quase um beco – bem iluminado e vazio. Empurro meu corpo, tentando passar os quadris, mas eles não passam.

— Não. Não. Não — tento empurrar com mais força, meus braços que se apoiam na parede de fora — Adam, entalei — grito, desesperada — Meus quadris estão presos.

Não consigo ver nada do lado de dentro, mas percebo uma movimentação incomum. Não tenho certeza, mas posso jurar que Adam está logo atrás de mim, ou pelo menos próximo.

— Faz força — a sua voz mais audível confirma as minhas suspeitas.

Obedeço, tentando passar os meus pequenos e magros quadris pela abertura que resiste. Droga. Deveria ser o tecido volumoso do vestido que estava prendendo.

— Não vai — reclamo, desesperada e ainda presa. Aquilo era ridículo, certamente em algum momento iria rir, mas agora estava com vontade de chorar — Me empurra — suplico.

Silêncio. Nada de resposta. Balanço minhas pernas do lado de dentro, tentando acertar algo ou alguém para saber que não estava sozinha.

— Adam? — grito.

— Não tem onde encostar — a resposta é audível.

Bufo, ciente de que minha bunda estava dançando na sua cara, mas era a única parte do meu corpo para ser pressionada.

— Empurra a minha bunda — ordeno asperamente e desesperadamente — Você já pegou em várias bundas, vai ser apenas mais uma — recordo — Então enfia logo essa mão.

Silêncio. Novamente o perturbador silêncio. Mas dessa vez pude ouvir o solado do seu sapato pisar sobre a privada.

— Você quem pediu — avisa, colocando suas grandes mãos contra as minhas nádegas e fazendo força. E mais força. Ele empurra e meu corpo não saí do lugar — Não vai.

Aperto as pálpebras, desesperada e desejando para que aquela noite desastrosa terminasse logo, eu deveria saber que tudo daria errado, no momento em que o meu vestido não entrou, eu deveria saber. Tento desfazer o trajeto e voltar para o banheiro, mas meus seios prendem o meu corpo.

— E agora? — choramingo, segurando a vontade de cair em prantos e tendo que conter as lágrimas que ardiam meus globos oculares.

— Você tem algum grampo? — Adam pergunta calmamente.

— Grampo? — replico confusa.

Enquanto nenhuma alma viva passa pela lateral do hotel, que dava saída pela cozinha, direto ao estacionamento logo ao lado.

— É. Grampo de cabelo.

Penso.

— Tenho uma pinça na bolsa, serve? — questiono, não querendo alimentar o fio de esperança no meu interior, mas curiosa com o que ele faria com uma pinça.

Ele não responde. Não responde nada. Posso ouvir as coisas de dentro da minha bolsa serem espalhadas pela bancada de mármore. O silêncio continua. O silêncio me inquieta. Volto a tentar empurrar meu corpo, mas nada, minha coluna começa a se sentir cansada em tentar manter meu tronco ereto. Definitivamente aquilo tinha sido uma péssima ideia. Arfo o ar, espalmando as mãos na parede, para sustentar o restante do meu corpo.

— Adam — chamo, sentindo o desespero bater em mim — Adam — o desespero toma conta.

Silêncio. Debato as minhas pernas, não sentindo nada nem ninguém. Nenhuma resposta, nenhum barulho. Nada. Não. Não. Não. Ele me abandonou. A derrota se abate sobre mim e a ardência nos meus olhos tomam forma de água, que escorrem dos meus olhos.

— Adam — esbravejo — Seu babaca, idiota e desprezível — grito a plenos pulmões para o vazio diante dos meus olhos — Você é um ser egoísta. Eu odeio você Adam Baylor — bato meu punho cerrado contra a parede que sustentava meus quadris, querendo esmurrar ele — Eu vou fazer a sua vida um inferno. Vou te torturar todos os dias, até o final da sua vida. Você vai se arrepender por ter me abandonado.

Um baque seco da porta metálica a metros de distância ao meu lado se abre e a figura do homem de cabelos negros desgrenhados, gravata pendurada no pescoço, camisa aberta e sério aparece.

— Adam — suspiro aliviada e confusa, as lágrimas param — Achei que tivesse me abandonado.

Seu rosto continuava sério. Parando diante da minha patética figura, seus olhos analisam a minha momentânea situação.

— Eu vou te puxar — anuncia.

Empurrando a lixeira de plástico e posicionando-se em seu lugar. Concentrado e calado, arranca o paletó do seu corpo, deixando amostra o suspensório que prendia as calças em seu corpo. Ele arregaça as mangas, revelando sua tatuagem no braço esquerdo. O moreno passa seus braços por baixo das minhas axilas.

— Só relaxe — ordena.

— Como você conseguiu sair? — questiono, enquanto ele ainda faz força, movimentando um pouco meu corpo.

Seu corpo quente abraça o meu que começava a ficar gélido, minhas narinas resfolegam na lateral do seu corpo, inalando todo o seu aroma. Seus lábios se contorce com a minha pergunta e mesmo que não pudesse encará-lo de frente, ainda tinha certa visão. Seu rosto estava vermelho por fazer força.

— Eu abri a porta com a pinça — revela sem emoção alguma.

Ele me puxa. Eu quero empurra-lo irritada.

— Como? — grito indignada — Você sabia como nós tirar de lá todo esse tempo?

Ele se afasta, torcendo seus lábios e estreitando os olhos em minha direção, com amargor pela pergunta ou pela resposta.

— Eu não gosto de festa, estávamos bem lá até a merda do seu celular tocar — começa comprimindo os lábios — E antes que pudesse impedi-la, você já estava com a bunda pendurada na janela — a frase sai entre os seus dentes, minhas palmas ainda apoiadas em seus ombros, mas agora podia encara-lo de frente — Você é uma pirralha teimosa, decidida e incontrolável, que não me dá tempo. Agora posso te tirar daí? — questiona impaciente.

Não queria dar razão, mas talvez ele tivesse. Droga. Ele não poderia ter razão. E eu deveria estar indignada com aquelas palavras, mas não estava, afinal não conseguia pensar com clareza para decretar quem tinha razão: eu ou ele. Talvez nós dois tivéssemos errado. E não era hora de brigar, ele era minha única chance de sair dali.

— Pode —  balbucio.

Ele assente, voltando a encaixar seus braços em meu corpo, colando nossos troncos e comprimindo todos os músculos do seu rosto ao fazer força, finalmente movimentando meu corpo.

— Está saindo — comemoro, sentindo meu quadril desprender.

O solado da minha sandália chuta a parede, assim que meus pés livram-se, impulsionando nossos corpos, empurrando Adam que caminha para trás, proferindo algum palavrão que não consigo entender, antes do meu corpo ser arrastado para fora. O corpo do meu salvador se desiquilibra, me levando junto e antes que qualquer um de nós dois pudéssemos reagir, estávamos estirados sobre sacos fofos e fedorentos de lixo. Eu na verdade estava com o corpo sobre um monte de carne musculosa e quente. E confortável.

Sério? Acabamos no lixo? Ótimo.

— Você está bem — o homem embaixo de mim pergunta.

Rio. Olho ao nosso redor e uma gargalhada explode por meus lábios. Eu rio de nervoso. Rio para não chorar. Rio achando graça daquela trágica noite que não tinha fim. Apenas rio, convulsionando cada parte do meu corpo sobre o homem que me encara sério, com os olhos estreitados em minha direção  e confuso. E eu rio daquele olhar.

— Isso não tem graça, Tate — seu tom sério só aumenta a minha vontade de rir e frustra qual tentativa de levantar nossos corpos.

Gargalho. Afundo meu pescoço contra o seu corpo. Encosto minha testa no seu ombro, rindo contra o seu corpo.

— Desculpa — fecho os lábios tentando engolir o inapropriado humor.

Sinto o abdômen abaixo de mim oscilar quando seus lábios cospem o ar. Seu corpo relaxa, em uma desistência momentânea.

— Você precisa sair de cima de mim — suas palavras são calmas e insatisfeitas — Para que possa me levantar. E por favor não comece a rir.

A risada ainda viva resfolega em minhas narinas. Adam Bufa irritado. Ergo os olhos. Ele olha para o céu. Percebo que nunca estivemos tão próximo. Ops. Na noite em que ele me pegou com a cara verde estivemos perto, mas em pé era tão difícil analisar qualquer coisa do homem uns 30 centímetros mais alto do que eu.

A risada morre. Meus olhos encaram a barba grossa e negra. Seus pelos tem um cheiro suave de loção, nada enjoativo, até agradável, quase natural. Seus lábios são grossos e pálidos. Sua cabeça reclina-se para frente. Seus olhos encontram os meus. Seus olhos prendem-se nos meus surpresos.

Analiso suas ambares cristalinas. Suas íris com pequenas pontinhas negras dava um tom quase ofuscante. De perto. Tão perto. Com o meu corpo sobre o seu. Por uma fração de segundos vislumbro aquele homem sem armaduras. E o que eu vejo é como um soco que rouba o ar dos meus pulmões.

Encontro todo um mundo em seus olhos. Não consigo decifrar aquele mundo, mas não me assusta. Aguça a minha curiosidade.

Seus lábios retornam a habitual linha reta. Seus dedos correm em direção a minha face, passam para o lado, colocando um cabelo atrás da orelha – que nem tinha notado que estava lá, afinal eu deveria estar um desastre – seu dedo fica um tempo parado encostado na minha pele, assim como os seus olhos. Meu corpo não se esquiva com aquele toque.

Seu toque quente atrás da minha orelha provoca um calafrio invasivo que passeia pelo meu corpo. Não quero fugir como quis com Ian. Estranhamente quero ficar. E não entendo aquela confusão.

Posso sentir as lufadas de ar quentes expelidas por suas narinas, que acariciam os meus lábios. Seus lábios entreabertos são tão atrativos, como se quisessem dizer algo e pudessem ser calados tão facilmente.

Meus lábios formigam com um desejo desconhecido. Adam não me assustava. Não me fazia querer fugir de quem havia me tornado e nem lamentar por quem tinha deixado de ser. Meu corpo não reagia com medo do seu.

Abruptamente seu dedo deixa de tocar minha pele. O vazio é gritante. O barulho na porta atrás de nós também.

— Está tudo bem aí? — alguém pergunta ao se aproximar.

As ambares desviam das minhas. Deixando um vazio que obriga os meus olhos fugirem.

— Ajuda a moça aqui — Adam pigarreia junto com o pedido.

E sem muita opção, o jovem vestido de garçom me estende a mão. E antes que pudesse perceber estávamos em pé e retornando para o interior do hotel, com Adam resmungando.

CAPÍTULO NOVO PARA ANIMAR A SEMANA.
As apostas que Adam estragaria tudo foram altas. E aí ?

Gostaram? 🤔

Sexta-feira novo capítulo 😍

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