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07 | QUEBRANDO PAREDES

07
    QUEBRANDO PAREDES
TATE

5 MESES ANTES
COMEÇO DO OUTONO EM BOSTON

O estridente barulho provocado pelo encontro da marreta com uma parede composta por drywall e madeira reverbera por todo o ambiente, junto com a poeira que acolhe nossos corpos, impregna nas narinas e pinica os olhos, mesmo a metros de distância. Um problema que não parecia incomodar o homem - de camiseta branca, calça marrom e coturno empoeirado – que acertava o "x" em vermelho, pintado com tinta spray,  com precisão, força e até prazer, juro que podia vê-lo mais relaxado, cada vez que batia na parede.

Talvez estivesse imaginando minha cabeça no lugar do "x". Principalmente depois da nossa última conversa. Seu braço tenciona-se mais uma vez, seus olhos estreitam-se, e a marreta choca-se contra o material que começa a se despedaçar. Não posso ver seus lábios cobertos por uma máscara branca, porém não me surpreenderia se encontrasse um sorriso sádico escondido.

A não ser, que aquela sessão de quebra de paredes terminasse com ele acertando os câmeras que o rodeavam. Adam os odiava, não precisava falar, sua mandíbula ficava tensa quase o dia todo, seus dedos batucavam na lateral do seu corpo, sempre inqiuetos, além das três carteiras de cigarro que eram consumidas em uma jornada de 6 a 8 horas de trabalho.

Sorte dele e da equipe, que todo aquele contingente de pessoas seria reduzido nos próximos dias. Era só darmos início a reforma da senhora Ortega e sua loja de chá – com tortas, bolos e outras guloseimas, que já eram conhecidas na cidade. Que a equipe seria reduzida a dois câmeras responsável pelas filmagens, um sonoplasta e dois técnicos, para acompanhar a obra em dias esporádicos, já que a emoção ficava para o começo e para o fim.

E claro, eu poderia voltar para o aconchego de Boston, prestar conta a Malori, apresentar os progressos e não ter que ficar acampada improvisadamente no quarto de hospede do Elliot.

Não era chato morar com meu irmão, pai e sobrinha. Até que era divertido, mas Riley acordava antes do Sol raiar. Tomar café como o meu pai era como nos velhos tempos. E Elliot, quase não via o meu irmão, ele sai cedo e chegava tarde. Mas, sentia falta das minhas coisas e do meu espaço, até dos gritos da Alice enquanto assistia série turca, droga, estava sentindo falta de assistir aquelas séries turcas chatas e as novelas latinas com temporadas intermináveis.

Como se a minha vida já não fosse um dramalhão  suficiente.

— Ele não sorri — o comentário ecoa em direção da minha orelha direita, invadindo meus pensamentos, pisco algumas vezes antes de encarar a figura do homem baixo, cabelos beirando para o tom grisalho e barriguinha saliente, além da credencial de diretor tatuada em sua postura — Por que ele não sorri? — Bob pergunta como se eu tivesse que ter a resposta na ponta da língua, enquanto contemplava a figura quebrando paredes.

Dou de ombros. Deixando as respostas voarem pela minha mente, poderia ser lógica e dizer que a máscara estava escondendo os seus belos lábios, não vamos esquecer daquela volumosa barba, talvez fosse esse o problema. Mas sabia que o meu diretor não estava falando daquele momento em questão, mas de todos os captados até então.

— Porque se ele sorrir o inferno congela — minha língua reproduz a resposta que parece mais lógica e meus lábios curvam-se humorados

Bob não sorri. Nada. Nem um vacilar de lábios. Se fosse outra pessoa estaria gargalhando comigo, nem que fosse uma risada gentil e sem humor. Até Adam acharia humor naquilo, lógico que não mostraria. Lentamente desfaço o sorriso em meus lábios, limpando minha garganta para quebrar o gelo do momento nada engraçado.

— Ou ele não ache graça no trabalho — dou de ombros com a versão seria da minha resposta — Mas não importa, a Malori gosta do jeito fechado dele.

— Ele precisa sorrir, Tate — a ordem é séria, conhecia seu tom para saber disso.

E uma risada nada humorada resfolega em minha garganta, como se alguém me pedisse para tirar achocolatado das tetas de uma vaca.

— Sério, Bob? — tento enfiar incredulidade em cada uma das minhas palavras — Deixa assim.

Porém o homem estático ao meu lado parece não perceber, ou fazer de conta que não sentiu.

— Vamos tentar — seu tom ponderado me agrada, mas não torna a tarefa menos impossível — Ele precisa soar mais simpático — suas mãos gesticulam junto com suas palavras, seus lábios delineiam o sorriso que esperava que eu arrancasse no moreno carrancudo — Quando for gravar com ele, tente fazê-lo falar mais e ficar mais relaxado.

Arqueio meu cenho, enquanto meus dentes mordiscam meu lábio inferior.

Acho que seria mais fácil tirar achocolatado de uma vaca.

Aponto em direção do homem de 1,80, que seca o suor da sua testa no lençol preto amarrado em seu pulso. 

— Eu acho que não conseguiremos ver ele mais relaxado do que isso — comento, tentando transparecer toda a minha credulidade em alguém que sabia um pouco mais sobre a lenda de Bayfield.

Acho que nem se ele acertasse as nossas cabeças com aquela mareta ficaria relaxado.

— Vai ficar melhor na câmera — o homem quase da minha altura insiste — Tente.

— Bob — balanço meu dedo em direção da figura a metros de distância — Ele não é — reviro meus olhos a procura da melhor definição, passeando entre sociável, gentil, fotogênico, adorável, simpático, falante, educado. Jesus. Como definir Adam Baylor? — É é é  — ainda não acho as palavras — Ele não é como as pessoas que estamos acostumados a trabalhar. Ele não quer aparecer e ficar famoso — respiro aliviada com a melhor definição que acho, ou um resumo de tudo.

Mas o homem responsável pelas filmagens maneia sua cabeça positivamente, crispando sua testa, ciente de que teria aquela missão sozinha, porque ele também cairia fora pelos próximos dias.

— Tente — a ordem é inquestionável.

— Vamos dar tempo ao tempo — murmuro a contragosto — Se a Malori achar que ele precisa sorrir, resolveremos isso.

Bob resmunga insatisfeito.

Fazer Adam Baylor ser simpático. Acho que nem se eu o chupasse ele seria gentil e simpático. Passo a mão entre os meus olhos, deslizando por minhas madeixas, tombando a cabeça para trás, em um preludio da dor de cabeça que me acometeria se tivesse que fazê-lo sorrir, quando estivéssemos diante do Elliot e do senhor carrancudo, com um câmera filmando eles e os obrigasse a falar sobre o dia de reforma.

Aperto minhas pálpebras, contorcendo todos os músculos do meu rosto, na minha melhor careta, abaixo o olhar. E lá está meu desafio, de costas para mim, ainda batendo com a marreta na madeira interna da parede. Ele para. Tento fingir que não estou olhando, mas seus olhos não correm sobre o ombro em minha direção, suas mãos ocupam-se em agarrar e barra da camiseta branca e esfrega-la em seu rosto, recordando o calor que ainda fazia de dia. Meu desinteresse quase desaparece, mas meus olhos esbarram na parte a mostra da suas costas, nada significativo, nada muito evidente, porém tinha algo lá. Algo que tinha evitado olhar daquela manhã que ele saiu de toalha do banheiro.

Já tinha sido demais para mim vê-lo de frente. De toalha. Com o abdômen com alguns músculos. O peitoral era largo e magro.

Estreito meus olhos em direção das marcas uns quatro dedos acima de onde começava o cós da calça. Eram como riscos, não era uma tatuagem, sabia disso, porque não era preta ou outra cor, eram marcas diferentes, algo mais permanente. Eram cicatrizes. A resposta reluz na minha mente.

Cicatrizes que não conseguia parar de olhar e desvendar, não que fosse fácil, pois com a mesma rapidez que meus olhos esbarraram nas marcas, o tecido voltou a cobri-las, como um segredo.

Adam parecia ter cicatrizes mais profundas do que poderia imaginar. E mesmo Bob querendo o contrário, eu o entendia. Entendia a falta de vontade de sorrir daquele homem. Um dia – que hoje parecia distante – já havia estado em seu lugar.

— Quem diria que um programa de reforma poderia ser sexy — a voz arranca meus pensamentos.

Pisco algumas vezes, processando a figura loira estática ao meu lado, mas com os olhos concentrados no homem que quebrava a parede e, aparentemente, tinha cicatrizes.

— Sério, Alice? — estreito os olhos em sua direção, tentando entender os seus pensamentos e o que tinha de sensual naquilo de homem suado, fedendo, grudento e sujo.

Seus olhos se reviram, mais por irritação pela minha não concordância do que de delírio.

— Qual é Tate — a loira joga as mãos para o alto — Imagine, aquele homem — seus olhos dançam em direção das costas suadas de Adam, que ignora a nossa conversa — Com a marreta na mão, quebrando a parede, todo suado, ofegante e sem camisa — sua palma abana em direção das suas rosadas — Aí que calor.

Uma gargalhada explode em minha garganta, abano minha cabeça, tentando não entrar naquela fantasia. Não podia me perder na imagem do sr. Rabugento suado, caminhando me minha direção e tomando meu corpo em seus braços, como um adolescente cheia de hormônios incontroláveis.

— Você é terrível — afirmo — E isso não é sexy, é nojento.

Ciente de que aquelas palavras eram sérias. Alice podia não ser o modelo de beleza vendido pelas revistas, mas tinha uma legião de homens aos seus pés, era só estalar os dedos, que todos se encantavam por sua personalidade nada cativante, mas sincera. Os homens gostavam do seu jeito nada pegajoso.

— Vai dizer que nunca fantasiou com ele? — seu cenho arqueia-se desafiadoramente, junto com a pergunta que pinica em seus lábios vermelhos.

Dou de ombros, girando os calcanhares, mas sem sair do lugar. Uma fuga estratégica, não tão estratégica assim.

— Tate — Alice insiste.

Sim

— Eu estava no começo da adolescência, fantasiava até com um pôster — minha resposta faz os seus lábios curvarem-se em satisfação com aquela revelação.

Era uma garota ingênua, entrando na adolescência, começando a conhecer o meu corpo. E lógico que fantasiaria com o amigo do meu irmão, afinal ele sempre estava lá em casa sem camisa, jogando basquete sem camisa e suado, saindo do banho com uma toalha enrolada na cintura, pegando garotas no banheiro da nossa casa. Era como usar o vibrador na minha cabeceira em momento de necessidade, algo inevitável.

— Danadinha, você fantasiava com o amigo do seu irmão — as pontas dos seus dedos cutucam minhas costelas, fazendo meu corpo contorcer.

— Eu era ridícula — com a voz meio engasgada pelos cutucões tento explicar — E ele era diferente.

Ela para, eu me recomponho. Olhando sobre os ombros para certificar-me que não tínhamos chamado muito atenção alheia.

— Não fantasiou com ele mais? — a loira insiste.

Bufo, maneado negativamente a cabeça.

— Pode apostar que vou fantasiar com um homem que me olha feio o dia inteiro, é grosseiro a outra metade do tempo e ainda me detesta — respondo algumas oitavas mais baixo — Pode apostar que vou querer um homem assim no meio das minhas pernas.

Alice gargalha, contudo sua gargalhada chama atenção de alguns pares de olhos curiosos. Curvo os lábios forçosamente, logo os crispando e acenando para baixo, para que ela risse mais baixo. Suas bochechas avermelhadas se descontraem, assim que diminui o som.

— Poderia ser um sexo selvagem — seus ombros dançam ao dar uma nova perspectiva para a fantasia — Você está precisando, não faria mal —  observa — A não ser que você esteja fantasiando com um ex fofo, do qual não me falou nada 

Não tinha o que falar sobre Ian, apenas tínhamos jantado e trocado algumas mensagens. Nada demais.

— Vamos trabalhar — anuncio, girando os calcanhares em direção a outro cômodo.

— Olha aí — ela me segue, fungando as palavras na minha nuca — Fugindo do assunto de novo.

Paro. Ela para, quase me atropelando. A encaro. Respiro fundo, tentando não alimentar suas palavras cheias de razão.

— Não tenho o que falar sobre o Ian.

Ela cruza os braços em um bico lateral cheio de desconfiança. Mentalmente suplico para colocarmos terra sobre aquele assunto.

— Ok — dispara ainda em dúvida consigo mesma — Mas, quero atualizações — pede em um lançar de olhos — E você não me contou como foi a sua conversa com a Malori.

Suspiro. Agradecendo a mudança de assunto e recordando os pesos colocado sobre os meus ombros naquela manhã, após uma chamada de vídeo totalmente profissional da minha chefe.

— Ela disse que se o programa for um sucesso — começo sem muita expectativa, não queria alimentar qualquer expectativa no meu interior, porém os olhos ansiosos de Alice não ajudam — Meu nome pode ser creditado junto ao seu como produtora — disparo em uma só frase.

Minha amiga arregala os olhos, alargando os lábios em um sorriso mais animado do que eu gostaria.

— Sem o assistente? — seus braços balançam animados.

— Sem o assistente — decreto.

A loira agarra as minhas mãos e dispara um grito pulando que chama a atenção de todos. Aperto os olhos, tentando não rir ou ser contagiada com aquela animação.

— É uma possibilidade — tento não aumentar sua euforia e ignorar os olhos curiosos.

— Uma possibilidade que jamais aconteceu — recorda sem perder a animação — Temos que comemorar.

Maneio a cabeça tentando afastar qualquer comemoração antecipada por algo que ainda não tinha acontecido. O programa estava só no começo. Lidar com Adam não estava sendo fácil. O desastre estava batendo na porta.

— Sem chance.

— Comemorar o que? — a pergunta humorada e curiosa do intruso rouba as nossas atenções.

Em um girar de cabeça encontro o moreno alto, com o familiar sorriso branco e contagiante que nos observa a espera de uma resposta. Ian. Animada, Alice envolve os meus ombros em um abraço de comemoração antecipada.

— A minha amiga está prestes a se tornar uma produtora.

O sorriso nos lábios de Ian aumentam, seus olhos brilham em minha direção.

— Sério? — quem confirma é a loira ao meu lado em um balançar de cabeça — Temos que comemorar, Tate.

— Não — me desvencilho do abraço da minha amiga. Tento manter meu tom realista — É uma possibilidade, não temos nada para comemorar.

A curvatura nos lábios de Ian não morre. Alice me lança um olhar cheio de decepção.

— Já tinha tudo planejado para sexta — o moreno sonha.

— Gostei desse cara, decidido — a mulher ao meu lado aponta para o meu ex — Alice — sua mão branca como neve estende-se em direção a ele.

Ian agarra a mão suspensa no ar.

— Ian.

— Ian — o grito da minha amiga faz com que eu quisesse que se abrisse um buraco no chão — Você é o famoso Ian Jones?

Meu ex lança um breve olhar cheio de questionamentos em minha direção.

— O próprio — responde agora com certo receio.

— Ouvi muitas coisas sobre você — minha amiga nada discreta revela, encantada com a figura masculina diante dos seus olhos.

Aquilo não acabaria bem. Não acabaria bem para mim, com Alice já imaginando nossos filhos. Ian lança-me um novo olhar. Desvio o meu olhar.

— Espero que boas — ele cometa com os lábios quase em linha reta.

— Ótimas — em um cutucão de cotovelo que atinge as minhas costelas, minha colega de apartamento chama a minha atenção — Você deveria leva-lo na festa de sexta.

— Não — respondo mais depressa do que deveria.

Jones olha-me com uma pontada de curiosidade e decepção. Suspiro, tentando organizar a minha mente para consertar aquela situação.

— Não posso — me corrijo — É um evento de trabalho, mal terei tempo. Preciso cuidar do Elliot e do Adam. Vai ser chato.

O moreno de cabelo bem aparado balança a cabeça, como se compreendesse a situação. A loira com os olhos estreitados e cheios de indignação me encara como se acabasse de falar algo absurdo.

— Eu me encarrego de cuidar dele enquanto você trabalha — a loira decreta, mudando de lado e enlaçando seu braço no do meu ex  e lançando um dançar de sobrancelhas cheio de insinuação — Depois podemos nos divertir.

Vocês podem ser divertir depois. Ele é um gato.

Os lábios de Alice silabam.

— Para mim parece bom, se não for atrapalhar — Ian concorda — Iria te convidar mesmo para algo na sexta.

— Então fechado — e a mulher que achava que eu precisava de uma vida romântica decreta por mim.

Encaro a perfeita maquiagem improvisada de última hora para alguém que não teve tempo de marcar um horário no salão e tinha uma amiga capaz de ajudar em pequenos milagres. O improviso maior ficou para o cabelo, lavado a menos de uma hora atrás, recebeu apenas uma secada, uma boa penteada com as pontas unidas formando um coque quase na lateral.

— Preciso ir — a cabeleira loira presa em um penteado cheio de cachos, aparece na porta aberta, com um sorriso genuíno nos seus lábios vermelhos e trazendo um vestido branco, os olhos claros de Alice passeiam sobre o meu reflexo na penteadeira — Precisa de ajuda?

Maneio negativamente a cabeça.

— É uma bosta, mas tenho que ser uma das primeiras a chegar — resmunga minha colega de apartamento, apontando seu indicador em minha direção — Não esquece, você tem que entrar com o Elliot e o Adam, os posicionar para algumas fotos no tapete e fazer eles conversarem com os chefões — seus lábios curvam-se divertidos em um preludio das suas palavras — E não esquece de fazer o senhor Rabugento sorrir.

Reviro os olhos, alargando os lábios em uma risada humorada.

— Nem se eu fosse vestida de palhaça, ele acharia graça — brinco — Ele não riu nem quando me viu com a cara verde.

Ela ri, ainda com o corpo apoiado no batente da porta.

— E eu vou cuidar do seu gato com carinho — avisa em uma piscadela sugestiva, sumindo antes que pudesse me despedir.

Ainda não estava confortável com a ideia de Ian ir à festa. Porém ele iria. Não tinha como impedi-lo, então o jeito era aceitar.

— Nós vemos lá — grito, ao ouvir o baque seco da porta do pequeno apartamento.

Agarro o batom organizado na frente da minha prateleira e reforço o vermelho vivo em meus lábios.

Não tinha certeza aonde Ian queria chegar com tudo aquilo. Amizade? Reviver os velhos tempos? Era assustador. Amar Ian era fácil,  mas não era mais a mesma garota. E essa nova garota não queria mais as mesmas coisas que a Tate adolescente. Estar com o meu ex era confortável, como aquilo que você já conhece. Um terreno sem surpresas. Ou não. Já não acreditava mais naquilo que meus olhos viam. E essa pequena vozinha que trazia dúvidas, me segurava.

— Essa noite promete — murmuro para o meu reflexo, que perde o brilho — Tente não estraga-la.

Giro meu corpo sobre a banqueta, sentindo a vontade de ir diminuir, porém ciente de que a qualquer momento Elliot tocaria a campainha, anunciando a sua chegada para irmos juntos.

Tentando recuperar a euforia pela noite e focar que tudo seria trabalho. Fico em pé, encarando o suntuoso vestido arrumado por Alice, para a festa Black & White, com um decote em "v" perfeito, a parte de cima era um corpete bordado em preto, completo por mangas ¾, a parte debaixo do vestido trazia uma saia com um tecido leve, escuro como a noite, elegante como seda. Digno de uma noite de apresentações para a nova temporada de programação da Stay Home.

Arranco o velho roupão cor de rosa, o jogando do lado de vestido, início a incrível tarefa de cobrir minha lingerie rendada – também – escura. Pelo menos a calcinha, porque o traje não permitia sutiã.

Cobrir meus quadris com a parte debaixo é fácil, visto as mangas com dificuldade, devido ao tamanho certo – nem mais, nem menos – finalmente o tecido reveste meu colo, deixando exposto apenas um decote que se estende até o começo das minhas costelas.

Estico meu braço para trás, sentido o vestido resistir a todo o movimento, meus dedos tateiam vergonhosamente o zíper, sem realmente conseguir prende-lo entre os dedos e puxar pelo caminho menor que minha palma da mão.

— Merda — resmungo,  rodopiando no mesmo lugar, que nem cachorro correndo atrás do rabo — Vem aqui seu danado — dou a ordem ao objeto inanimado que não me obedece.

Em uma perseguição inútil e com os braços cansados, dou uma pausa, tombando a cabeça para trás e apertando as pálpebras.

— Merda. Merda. Merda — amaldiçoo o meu atraso, o fato de Alice ter saído cedo, eu sair tarde e aquele maldito zíper, que não poderia sair daquele apartamento aberto.

A campainha toca, um som desesperador, mas que desperta um alivio em minha mente.

Elliot, meu salvador.

— Já vou — grito estridentemente, temendo que fosse embora. 

Finalmente vejo a luz no fim do túnel e o zíper puxado até o seu caminho final. Meus pés descalços atravessam a minúscula sala com sofá verde água, almofadas florais, um poltrona com uma estampa quase igual e uma pequena – quase inexistente – cozinha conjugada. Apressadamente giro a maçaneta.

— Graças a Deus, Elliot — o nome do meu irmão morre em meus lábios de forma decrescente, quando afasto a folha da porta e não encontro o homem de cabelos castanhos, sorriso fácil e debochado, trajando sua roupa de galã — Adam? — meus lábios vacilam em um não sorriso.

E a figura mais perturbadora fica parada diante dos meus olhos. Eu não consigo parar de olhar. Olhar seu corpo dentro do perfeito smoking negro com lapela de veludo. A gravata borboleta que se apertava perfeitamente em torno do seu pescoço. Os cabelos. Os cabelos estavam pecaminosamente penteados para o lado, como se ele tivesse saído de uma capa de revista, capaz de molhar a calcinha de qualquer mulher.

E aquela barba? Dava um ar misterioso. Tão misterioso, que se ele fosse um estranho, o ficaria encarando durante toda a noite, só para descobrir quem ele era. E o cheiro. Um cheiro quente e envolvente, sem cigarro ou álcool. Ok. Aquilo podia ser uma realidade paralela em que eu sairia com um cara decente e gato.

Só que não.

O cara em questão era, Adam Baylor. Era um ser cheio de restrições, placas de "afaste-se" e nenhum sorriso que fizesse minhas pernas tremerem.

— O seu pai se atrasou — seus lábios se movem, arrancando-me do transe — O Elliot vai chegar alguns minutos atrasado. Então pediu para vir busca-la —revela, com as mãos inquietas dentro do bolso, mas como se sempre as usasse.

Tinha quase me esquecido que o meu irmão viria direto de Bayfield para a festa. Adam faria o mesmo, mas já estava em Boston, para os ajustes finais – que tinha fugido toda a semana – em sua roupa.

Meus lábios se abrem estupidamente em um momento cheio de desconforto e pela primeira vez sou eu quem está sem palavras. Trago a amarga saliva.

— O carro está esperando lá embaixo — sua mão abandona o bolso, para apontar com o polegar em direção as escadarias que davam para a porta de saída do meu prédio.

Assinto. Em silêncio. Seus cenhos elevam-se, enrugando sua testa.

— Vamos? — finalmente seus olhos passeiam por meu corpo, provocando um calor inapropriado. Seus olhos param nos meus pés ainda descalços — Você ainda não está pronta? — a impaciência toma seus olhos — Estamos atrasados — como se ele se importasse com aquele fato.

Bufo, rendida. Dou alguns passos para o lado, em um convite silencioso. E mesmo não querendo, contudo mais por necessidade eu revelo o motivo do meu atraso.

— Eu preciso de ajuda — arfo o ar em desespero.

O moreno elegante não pergunta nada. Estreitando os olhos, entra na minúscula sala, que fica ainda mais minúscula quando seus sapatos envernizados tocam o tapete persa comprado em uma loja de antiguidades, que Alice e eu gostávamos de frequentar. Fecho a porta.

Caminho em sua direção, mordendo o interior do meu lábio.

— O que foi? — questiona sem paciência alguma.

Dou lhe as costas, apontando sobre os ombros para o meu problema complicado, que tinha se tornado simples se fosse meu irmão que estivesse ali, para transformar-se em algo esquisito.

— O zíper, não fecha — encaro suas ambares sobre o ombro.

Adam fita o objeto metálico por mais segundos do que era normal, como se tivesse tomando coragem ou analisando outra coisa. Ou talvez tudo fosse coisa da minha mente e ele apenas estivesse calculando os seus movimentos.

— Você não consegue fechar um zíper, Sunshine? — não tenho certeza se seu tom é debochado ou impaciente — Esperava mais de você.

Reviro os olhos. Querendo virar e dar um soco na boca do seu estômago, o que não seria tão difícil.

— Sério? — giro os calcanhares, inclino meu queixo para cima e pouso minhas mãos no quadril, irritada com aquele comentário — Quer saber? Esquece.

Mas suas mãos são mais ágeis cobrindo meus ombros e girando meu corpo para a posição anterior.

— Vira aí e fica quieta — a ordem é seca e autoritária.

Aperto minhas pálpebras, desejando para que fosse Elliot e não Adam a fazer aquele favor por mim. Afinal seu humor que nunca era dos melhores, estava pior.

— Claro — seus lábios murmuram em um som esquisito em análise.

Sobre os ombros encontro seus olhos pousados na região de trás do meu corpo. Ou seria minha bunda? Não sabia como reagir a aquela ideia.

O solado do seu sapato de couro não faz barulho quando diminui a distância dos nossos corpos, ao invés de simplesmente esticar os braços, sinto o calor do seu corpo atrás do meu, praticamente exposto. Seu aroma amadeirado com menta pinica em minhas narinas.

Não sei se por ilusão ou um desejo obscuro, sinto o calor da ponta dos seus contornando minha coluna. Sem nenhum contato. Uma falsa ilusão que seca a minha boca e deixa as minhas pernas bambas.

— Uma tatuagem — o comentário surpreso me recorda do desenho acima do meu rego — Uma escolha interessante.

Quase tinha me esquecido da rosa vermelha, com um caule quase preto cheio de espinhos. Um desenho escolhido para esconder uma palavra escrita em momento de paixão cega. Uma imagem para me lembrar que o bonito podia machucar.

Trago a quase inexistente saliva.

— Apenas uma rosa — observo secamente.

Adam não diz nada. Posso sentir seus olhos queimando contra a minha pele. Quero me remexer. Quero me afastar. Porém fico. Fico até sentir a ponta dos seus dedos roçando o tecido que revestia meu corpo em busca do zíper.

As pontas dos seus dedos tocam o zíper e a minha pele junto. A extremidade do seu polegar toca minha pele, provocando uma corrente elétrica que inquieta algo embaixo das minhas costelas, esvaindo com a minha impaciência e momentânea irritação. Meu corpo empertiga-se em resposta, meus dedos correm até meu estômago, apertando o tecido contra o meu corpo ou simplesmente apertando aquela parte de mim, já não tenho mais certeza.

— Está emperrado — suas palavras quentes acariciam minha nuca expostas, meus dedos afundam-se contra as minhas costelas.

E algo que não sentia a muito palpita inquieto em meu peito. Não tinha certeza do que estava acontecendo, mas estava nervosa. E por algumas frações de segundo não queria que aquilo terminasse.

Droga.

Finalmente, após longos segundos ensurdecedores, a ponta do seu polegar arranha minha coluna ao fazer o curto trajeto sem pressa. Provocando uma corrente elétrica que acompanha seu toque, enrubesce minhas bochechas em um calor crescente que termina em meu ventre. 

Ele para.

Meu corpo mantêm o ar prendido nos pulmões, não querendo perder nenhum momento daquela sensação com outra função. Era estranho. Terrivelmente estranho ser tocada por outro homem. Talvez fosse a reação dele ser um estranho. Era como estar viva e a beira de um precipício encarando a morte, ao mesmo tempo. Normalmente queria sair correndo e fugindo, mas naquele momento não quis.

Aquilo, aquele toque, o toque do senhor Rabugento, era como flertar com a morte e gostar. Ele não me assustava. Estranhamente eu sabia o que esperar daquele homem. Um desconhecido que não trazia surpresas.

O pigarro produzido pela garganta atrás de mim some com todas aquelas sensações, assim como o toque que deixa uma curiosidade desperta em meu corpo.

— Pronto.  — sua voz profunda anuncia, em lufadas de ar que acariciam minha nuca — Podemos ir, agora?  — e quando a pergunta termina, ouço seus passos quase na porta — Preciso beber algo e que essa palhaçada acabe logo — sua voz ressoa do corredor.

Eu fico. Fico perdida nas sensações que mal consigo entender ou temer.

Que droga acabou de acontecer?

E mais um capítulo pessoal.
SEXTA TEM NOVO!

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