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06 | FERIDAS

06
FERIDAS
ADAM

MAIS UM DIA NO INFERNO
6 MESES
DÍVIDA PAGA
COMEÇO DO OUTONO EM BAYFIELD

— Filho da mãe — o homem de cabelos castanhos, curtos, dá um soco no ar, assim que a defesa do Capitals agarra com as mãos Bergeron dos Bruins e o juiz não marca falta — Foi um holding juiz idiota, até eu vi.

A torcida grita em torno do rinque de gelo. O jogador reclama e resmunga patinando atrás do juiz.

— Porra — resmungo irritado diante da tela plana que transmite o jogo ao vivo do Bruins contra os Capitals — Esse jogo tá uma merda — rosno, engolindo alguns goles de cerveja.

Bufo. Não menos irritado com o toque do sinal para o fim do segundo tempo. A imagem corta para os apresentadores tagarelas. Enfio algumas batatas chips na boca.

Era tradição assistir aos jogos dos Bruins de Bonston com o Elliot. Desde a adolescência nos reuníamos para aquele ritual. O tempo que estive na marinha não acompanhei o mundo esportivo. Sempre algo impedia, fosse fuso horário, falta de energia, no meio do nada, lugares sem transmissão esportiva, trabalho e falta de companhia. Os caras do Mad Dogs amavam assistir a futebol americano e basquete. Ou seja, hóquei ficava em segundo plano nas escolhas de programação em grupo.

Então o hóquei tornou-se algo meu e do Elliot. Quando era pequeno, Tomás Baylor era meu companheiro. Meu pai ia a todos os meus jogos. Eu achava aquilo incrível e admirável, a ponto de tolerar todas as suas falhas. Isso até descobrir o real motivo para ele ir aos meus jogos.

Bufo. Bebo.

— E como ficaram as coisas com o seu pai? — o homem curvado para frente, pegando três chips, questiona, antes de enfia-las na boca.

Dou de ombros. Não muito à vontade em falar sobre aquilo. Mas devia explicações ao meu amigo.

— O mesmo de sempre — resumo, apoiando o pé na beirada da mesa de centro, com os olhos fixos na televisão — Ele promete parar. Eu pago a dívida. Eu finjo que acredito. Ele finge que não aconteceu nada — engulo a cevada que não amortece nada — O Jim e eu vamos revezar a noite com ele, por alguns dias, mas sabemos que isso não vai durar muito.

Sinto o par de olhos castanhos fixos em mim.

— Você contou para ele sobre o programa?

Encaro Elliot. Aperto os lábios.

— Eu menti — revelo em um tom amargo— Disse que vamos gravar alguns pilotos e que talvez seremos pagos no fim.

O homem sentado ao meu lado assente compreensivelmente. Sem qualquer censura em seu olhar.

— Então não contou como arrumou o dinheiro?

— Não.

Meu amigo balança a cabeça, como se entendesse a minha decisão e respeitasse.

— Obrigado por ter aceitado fazer o programa.

Ele ri. Agarrando sua cerveja esquecida na mesa e bebendo.

— Você me deve alguns favores pelo resto da vida — recorda em um tom brincalhão — Mas, meu pai está feliz em ter a Tate por perto. A Riley também. Então todos ganharam — sua mão erguer a garrafa na altura dos seus olhos, constatando o fundo vazio.

Elliot suspira, impulsionando o seu corpo para frente, contornando o sofá em direção ao cômodo ao lado

— Quer mais cerveja? — a pergunta vem quase da cozinha.

— Quero — assinto — Mas antes preciso aliviar.

Repito seu gesto, fincando os coturnos no assoalho de madeira da perfeita casa de dois andares, sala e cozinha integradas, com paredes em tons claros igual aos móveis.

— Nem sei porque pergunto — meu amigo resmunga enquanto o sigo, em direção ao pequeno lavabo no andar debaixo, com a porta ao lado da cozinha — Você vai beber até dormir mesmo — a alfinetada é explicita.

— Fico feliz que você me conheça bem, querido — meus dedos envolvem a maçaneta.

— Sempre benzinho — brinca humoradamente.

O barulho da porta da geladeira se abrindo mescla-se com o tom da sua voz.

— Droga, a válvula da descarga está quebrada nesse banheiro, esqueci de consertar — a voz do homem segurando a porta da geladeira me detém, abandonando a maçaneta — Usa o lá de cima — sugere.

— OK — dou alguns passos em direção ao silencioso andar de cima.

Não muito diferente com os degraus revestidos de laminado e as paredes pálidas, o corredor com quatro portas branca tinha a mesma sensação de casa padrão de revista. O silêncio é confortável no andar de cima, já que a Riley estava dormindo na casa de uma amiga.

Giro a maçaneta. A porta é puxada antes que possa empurra-la. A porta se abre. Um corpo pequeno, com uma toalha na altura dos seus seios e outra na cabeça choca-se contra o meu corpo com um grunhido que queima na altura do meu pescoço.

— Droga — o rosnar feminino é familiar.

Solto a maçaneta. As pequenas mãos afundam-se contra o meu peito, empurrando meu corpo que a encurrala.

— Sunshine — resmungo irritado e desconfortável.

Dou um passo para trás.

— Droga, Adam — ela dá dois passos para trás revelando algo curioso em seu rosto — Não sabe bater? — esbraveja irritada, mas não consigo me ofender, não com aquela coisa cobrindo a sua pele.

Paro. Meus olhos não conseguem parar de encarar o rosto verde. Todo o seu rosto estava verde. Não consigo parar de olhar para o contraste dos seus olhos cheios de pedido de explicação e a boca irritada em linha reta. E o resto verde. Caralho. Aquela garota era. Não saberia como defini-la.

Tate Evans não podia ser definida como normal. Beirava a anormalidade com sua determinação e teimosia insuportáveis. Mas aquilo na sua cara a colocava em outro patamar. E pela primeira vez em muito tempo poderia rir de uma garota.

Seus olhos encaram-me desconfortáveis.

— O que você está olhando? — seu cenho arqueia-se, a gosma verde continua intacta.

Não resisto. Com o indicador em riste aproximo até o seu rosto. Seus olhos recuam espantados, mas seu corpo não. Com a ponta do dedo pego uma generosa porção da gosma verde e a levo entre os lábios, sentindo o inconfundível gosto de abacate.

Seus olhos arregalam-se surpresos. Ficam presos por alguns segundos no dedo na minha boca. Com a confusão e horror estampados naquelas íris cor de mel.

— Prefiro temperado — comento.

Seus lábios entreabrem-se, finalmente caindo a porra da fixa. Seus olhos apertam-se irritados. E quase posso ouvir sua mente a amaldiçoando e me amaldiçoando.

Seus olhos abrem-se. Sem qualquer abalo. Aquela garota era curiosa, nada a abalava. Nada a impedia. Nada barrava sua necessidade de intrometer-se. E aquilo era irritante pra cacete. Ela era irritante. Ela me irritava ao aparecer em todos os lugares. Agora teríamos que trabalhar juntos durante meses. Seus olhos estreitam-se – fazendo aquela coisa irritante de novo — tentando ler os meus malditos pensamentos.

— Adam, o jogo já vai voltar — o grito no andar de baixo me obriga a engolir o amargor daquela intromissão.

— Posso usar o banheiro? — aponto com o indicador sobre o seu ombro para o ambiente tomado por vapor de água.

Ela suspira, projetando seu corpo em minha direção. Seu ombro esbarra em mim, assim que seu 1,60 afasta-se do batente. Finalmente meu pé toca a lajota para dentro do espaço impregnado por aquele perfume floral com um toque cítrico. Então é o shampoo. Concluo com uma maldita sensação de deja vu.

— Espera — suas palavras me detêm, a encaro, seus pés retrocedem alguns passos em minha direção.

Não consigo ignorar como a garota pirralha tinha se transformado em uma mulher. Talvez fosse a maldita toalha cor de rosa, as pernas torneadas amostra. Seus ombros magrelos ainda úmidos chamavam meus olhos. Porém a cara verde tornava o resto terrivelmente brochante. Quem caralhos usava abacate na cara?

Aquela garota era real pra cacete. E não se parecia em nada com qualquer uma que tinha cruzado o meu caminho. Era assustador.

Era assustador e irritante a sua língua tagarela e impaciente, que começava a estalar antes de dizer qualquer coisa. E pode apostar que ela diria.

— O que? — disparo, quando seu corpo para a alguns passos de distância do meu.

Seu queixo empina-se em minha direção assim que seus olhos estreitam-se focando em mim.

— Você não me respondeu o que aconteceu na outra noite? — e lá estava a necessidade irritante de usar a língua, com um questionamento intrometido, de algo que poderia passar batido, mas não para ela — Aquilo — seu dedo dança em direção ao meu rosto ainda com marcas daquela noite — Aquilo foi o motivo de fazê-lo mudar de ideia?

Reviro os olhos, sentindo minhas bolas apertarem dentro da cueca com a bexiga cheia. Cerveja dava mijadeira. E aquele papo me dava dor de cabeça. Não queria compartilhar as minhas merdas.

Bufo.

— Aquilo — enfatizo o pronome escolhido por ela — Não é da sua conta.

Sua mão impaciente prende-se contra seus seios, os apertando para cima. Droga, o que ela está fazendo? Tentando me seduzir ou apenas sendo infantil? É inevitável não prestar atenção nas curvaturas espremidas contra o seu braço, um convite até para mim, que vivia mole perto das suas intermináveis falas.

Meu pau se aperta contra a cueca e não tenho mais certeza se é pelo líquido na minha bexiga ou outra coisa. E a ideia de ser outra coisa me deixa mais enfurecido do que constrangido.

— Aquilo — ela repete a minha ênfase — É da minha conta — discorda, enrugando sua testa e pendendo a cabeça para os lados.

Bufo.

— Não é — insisto cruzando os braços.

Sunshine dá um passo para frente. Posso sentir o calor do seu braço que quase toca no meu. Ele me desafia. Ela me persegue cheia de perguntas ou propostas. E é fodidamente assustadora a sua curiosidade sincera.

— Você é minha responsabilidade pelos próximos meses, Adam — recorda meu maldito futuro, após assinar o contrato com a Stay Home — Você assinou o contrato sem qualquer coação e já recebeu metade do dinheiro — a merda do dinheiro que já estava nas mãos do Nigel — Espero podermos manter a paz até a finalização das gravações. E não vai ser interessante se vez ou outra você aparecer cheio de cortes e roxos — a toalha pendurada em sua cabeça balança um pouco.

Balanço a cabeça para a frente.

— Aquilo. Não vai se repetir

— Você não vai me contar nada, certo? — conclui amargamente.

Nego com a cabeça.

— O que faço na minha vida particular não é da sua conta.

Tate concorda com a cabeça.

— Desde que não afete o profissional.

— Não vai — comprimo os lábios em um sorriso sem humor — Agora você pode parar de esfregar os seus peitos na minha cara e me deixar usar o banheiro?

Sua boca se abre em um círculo perfeito e horrorizado. Seus olhos correm até seus peitos esmagados para cima da toalha que os cobria. Ela me olha, arqueio o cenho em resposta. Seus lábios maneiam um som que não sai. Sua cabeça parece pensar, e a resposta vem com seu indicador que balança no ar. O horror passa.

— Você estava olhando os meus peitos? — pergunta soa mais curiosa do que horrorizada.

Reviro os olhos.

— Não — decreto. Meus dedos indicador e médio dançam no ar, pairando sobre os peitos de tamanho médio, nem pequeno, nem grandes, cabíveis nas palmas de quaisquer mãos — Eles que estão jogando-se na minha cara. Agora eu posso usar o banheiro? Ou prefere que eu faça aqui mesmo? — aponto em direção ao zíper apertando o meu pau.

Seus olhos cor de mel encaram meu zíper. Aquilo me inquieta. Finalmente ela volta a encarar meu rosto, com aquela mania de morder o interior do seu lábio.

— Cara, o jogo — Elliot grita do andar de baixo.

Sunshine me encara. Suas mãos balançam no ar em negativa.

— Não, obrigado — seus lábios recusam apressadamente.

Amém

Sua cabeça dança para o lado, com os lábios selados, em uma ordem silenciosa de que estava liberado. Amém. Finalmente consigo colocar os dois pés dentro do banheiro e fechar a porta atrás de mim. Um erro impensado, pois sou envolvido pelo seu familiar aroma que me recordar como é a vida, uma sensação inquietante.

— Não esqueça de baixar a tampa do vaso — o grito do outro lado da porta era a irritante necessidade daquela pirralha em dar a última palavra.

— Sim senhora — grito.

Tic. Tac.

Tic. Tac. Tic. Tac.

Tic. Tac. Tic. Tac. Tic. Tac.

O relógio parece que está dentro da minha cabeça. Ele não para. O barulho não para. Meus coturnos afundam-se na areia fina. O Sol a pino queima nossas cabeças. O uniforme cola em meu corpo. O equipamento pesa.

Olho ao meu redor. Vargas, Stone, Willians e Jansen andam em fileira a minha frente. Finley ao meu lado fala alguma coisa. Olho para ele, seus lábios movem-se sem qualquer som. Não tem som.

Tem algo errado.

Meu ouvido começa a zumbir. Um som agudo. Parece que meus tímpanos vão explodir. O zumbido me paralisa. Todos continuam andando, Filney continua a conversar com o vazio ao seu lado.

Meus malditos joelhos fraquejam , afundando meu corpo na fina areia. Tapo meus ouvidos com as mãos. O barulho não diminui, como se tivesse dentro da minha cabeça. O tic tac torna-se lento. Lentamente o barulho do relógio para.

Olho para frente. Os caras estão longe. Pisco. Eles não estão mais lá.

Cadê vocês, caralho? grito, com a voz ofuscada pelo zumbidoVoltem grito, meus pulmões doem, a garganta seca, o calor aumenta Seus idiotas.

Não tenho força para colocar meu corpo em marcha. O maldito zumbido me paralisa. Meu corpo curva-se para frente com uma dor agonizante. Dói por toda parte. Todo lugar dói.

Tem algo errado sussurro como uma oração.

O grito agudo de Vargas, obriga os meus olhos a se abrirem para a realidade ao nosso redor. O cheiro de enxofre ainda estava lá, impregnado em minhas narinas, o gosto de sangue na minha boca revirava meu estômago. Encaro minhas pernas, percebendo que meu corpo estava sendo arrastado sobre o solo arenoso, por alguém que me segurava pelas axilas. Mas minha cabeça estava pesada demais para tentar olhar para cima.

Os gritos de horror estavam por todos os lados, em um idioma desconhecido, eram gritos de mulheres e crianças, que chamam a minha atenção até o pequeno grupo formado por mães que seguram seus filhos entre os braços e assistem em choque algo. Corro até a cena.

Não.

Não tento gritar Não tento me debater horrorizado.

Mas só sai um grunhido desesperado dos meus lábios ao me deparar com os corpos suspensos de Williams, Jansen e Stone amarrados pelos punhos sobre um tablado improvisado. Tento me debater. Preciso desamarra-los. Não quero assistir a porra daquela cena, mas é impossível parar de olhar para os meus amigos amarrados como animais.

Não não tenho certeza se consigo gritar aquelas palavras ou se elas morrem em minha mente.

Os três homens fardados não se mexiam. Seus estavam pescoços caídos para o lado, seus pés suspensos no ar. O sangue vermelho como a morte pingava de suas gargantas cortadas.

Quero vomitar.

Porra, preciso vomitar.

O tempo acelera, se alonga. Segundos depois sou eu quem está com os punhos amarrados e os pés suspensos, em uma sala com uma janela de 0,50x0,50, com grandes que mal deixam a iluminação passar, o cheiro de mofo se mescla com o de carne queimada. A carne queimada era a das minhas costas e costelas. Meu coração bombeava o sangue aceleradamente com cada novo contato do fio desencapado com a minha pele exposta.

— O que vocês vieram procurar aqui ordena o homem com sotaque.

O cara de barba extensa até o seu peito, careca, trajando uma roupa camuflada e que falava o meu idioma repete a mesma pergunta de uma lista diária preparada com como:

Quantos vocês são?

Quais outras informações vocês tem?

Quem mais sabe que vocês estão aqui?

Quais são os planos?

Quem vocês estão procurando?

As perguntas eram as mesmas. As respostas também: o meu silêncio.

— Fala — o homem impaciente ordena, trincando os dentes irritado, por estarmos no vigésimo dia daquela rotina, sem respostas.

Minhas mãos estavam dormentes, mas já nem sentia nada. Minha cabeça estava cansada e mole, mas ainda consigo curvar os meus lábios, ciente do que aquilo acarretaria.

— Idiota — o fio toca nas minhas costelas, convulsionando todo meu corpo, que estremece com os pés suspensos no ar.

Meus pulsos doem. Minha cabeça queima. Meu coração galopa. Meu corpo amolece. Meu estômago se revira.

Meu carrasco deixa a sala enfurecido. Sustento os lábios curvados. A porta de madeira se bate na minha frente. O calor é uma maldição.

Adam uma voz familiar me chama Ei ergo os olhos, horrorizado com o que encontro.

Sunshine aquele apelido queima em meus lábios secos e cortados.

Olho para trás dela. A porta sumiu. Uma rua longa e cercada por estabelecimentos está ao seu fundo. Pisco confuso.

Você precisa sair daqui ordeno com a boca seca, me debato com os braços pendurados, desesperado com a presença dela ali.

Ela parece me ignorar como sempre. A mulher de cabelos castanhos soltos sobre os ombros, usando um vestido floral caminha em minha direção.

Você está bem?

Me debato. Precisava me soltar. Precisava tirar ela dali. Seus olhos cor de mel parecem ignorar o meu desespero. A minha agonia aumenta.

Adam outra voz conhecida me chama.

Sinto um toque suave no meu ombro, como se me puxasse para algum lugar. Olho para frente. Tate não está mais lá.

Adam — o chamado se repete.

Preciso vomitar. Sempre preciso vomitar depois de cada sessão, mesmo com o estômago vazio.

— Adam, acorde — alguém ordena.

Acordo ensopado de suor e ofegante. Não consigo ignorar a realidade daquele meu sonho, nem a corrente elétrica que parecia ter acabado de passar por mim. Nem consigo ignorar o par de olhos claros de uma felina que me encaram com preocupação. Não me lembro da última vez que acordei com alguém me encarando daquela forma, mas nenhuma dessas pessoas se parecia com Teresa, ajoelhada na minha cama, usando minha camiseta dos Bruins. Na minha cama, porra.

Sei o motivo dos seus olhos assustados. Sei que devo tê-la acordado. Mas não me lembrava porque ela ainda continuava no meu apartamento depois do sexo. Ela sabia das regras e uma delas era não passarmos a noite juntos. Normalmente eu pegava no sono e ela saia de fininho.

Olho ao meu redor, como uma última medida de segurança para minha mente fodida.

— Você está bem? — seus lábios borrados perguntam tomados de preocupação.

Arfo o ar, irritado e enjoando. Sentindo o suor quente se transformar em frio.

— O que você faz aqui? — rosno desgostoso, me sentando e rolando para fora da cama, para longe dela — Você deveria ter ido embora.

Estou completamente suado e tremulo, constato isso ao encarar minha mão que ainda treme, como naquele dia, como dentro daquelas malditas lembranças que tinham se transformado em pesadelos confusos.

— Eu peguei no sono— suas palavras são calmas, enquanto seu corpo se arrasta para a beirada da cama — Você estava gritando — observa o óbvio, seus pés tocam o chão, rangendo o velho assoalho, recuo alguns passos — Você está tremendo — seu dedo aponta para a minha mão.

Cerro meu punho, não conseguindo mais segurar o suor gelado. Caminho até a cômoda – a poucos passos de distância da cama - , agarrando a garrafa esquecida, ainda com alguns goles de uísque, engulo o líquido que desce pela minha garganta e queima no meu estômago. Tento pensar em outra coisa que não seja meus companheiros pendurados ou eu eletrocutado. E ela. Por que diabos ela estava lá? Aquilo era novo.

— Você não deveria estar aqui — rosno, limpando a boca com as costas da mão — Você precisa ir embora — a encaro sobre os ombros.

Ansiando para que ela desaparecesse o mais rápido possível e sem perguntas.

O uísque ameaça voltar, revirando meu estômago e gelando meu corpo com o suor. Queria arrastar Teresa para fora, mas corro em direção ao banheiro, batendo com força a porta atrás de mim, me ajoelho diante do sanitário com a tampa aberta, colocando para fora todo o álcool. Tudo sai. Finalmente meu estômago está vazio.

Jogo meu corpo contra o azulejo branco, escorando minhas costas na velha banheira, dobro meus joelhos contra o meu corpo que ainda treme e soa frio. Passo a mão pelo meu rosto para ver se acordo. Tento afastar aquela sensação de frio, morte e medo.

E a imagem de corpos impregnada na minha mente. Mas é o som no cômodo ao lado que afasta os fantasmas, assim que Teresa fecha a porta.

Teresa não tinha culpa, mas não queria ninguém comigo, segurando a porra da minha mão e sentindo pena.

Eu não merecia que ninguém se preocupasse comigo. Não depois de tudo. Não depois do que eu tinha feito. Não depois do que eu tinha feito com o Vargas e o Finley.

Era assim que tinha que ser. Era a minha pena.

Eu sozinho com os meus fantasmas.

E assim começamos a manhã infernal de gravações. Já tinha recebido metade do dinheiro, agora era trabalhar por ele. Em menos de duas semanas Bayfiel foi invadida por trailers, vans pretas e novos visitantes permanentes. Uma maldição. Um circo do qual fazia parte. Um circo chamado Hell's Reform.

Hell's Reform um programa de reformas conduzidas por Elliot e eu. Reformaríamos estabelecimentos comerciais para antigos e novos moradores, dando uma nova cara para a cidade esquecida pelo tempo. Tivemos que contratar duas equipes, assim com o intervalo de uma semana poderíamos começar uma reforma nova. Um processo caro que reduziria as gravações em poucos meses. Incrivelmente ninguém tinha se queixado dos valores cobrados.

Então trabalhar era a parte fácil. A parte difícil eram os holofotes queimando na cara, as câmeras captando tudo e um microfone – vez ou outra – pairando sobre nossas cabeças. Um inferno.

Um inferno do qual não poderia reclamar.

O circo estava armado e eu seria o palhaço.

— Preparados? — Tate pergunta.

— Sim — Elliot e eu respondemos em um coro.

Refazendo nossos passos até a porta, junto com um cara loiro, sardento e magricelo que acompanhava cada movimento, com uma câmera apoiada nos ombros.

— Take um — a assistente de direção morena grita, batendo a claquete.

Elliot e eu entramos, tentamos conversar naturalmente, mas ele não consegue parar de encarar a câmera a nossa frente.

— Corta — grita o homem gorducho, cabelos encaracolados e sentado confortavelmente em uma cadeira de lona — Finjam que as câmeras não estão aqui.

TAKE DOIS

Eu falo um palavrão no meio da conversa. Aparentemente crianças assistem programas de reforma.

Séria difícil eu não falar palavrão.

Porra.

Estava começando a me sentir sufocado.

TAKE TRÊS

O câmera esbarra em uma pilastras antiga que balança e o enche de poeira.

TAKE QUATRO

Eu dou as costas para o câmera, bloqueando a imagem em um momento importante. Aguçando a minha vontade de levantar o dedo do meio. Sair dali e fumar um cigarro.

Merda de programa.

Realmente séria uma reforma infernal, se tivesse que controlar a minha língua e meus movimentos.

TAKE CINCO

Eu falo palavrão de novo.

Cacete.

Era um porre repetir tudo de novo. E de novo.

TAKE SEIS

Elliot e eu esquecemos de explicar o que pode ser modificado no lugar, enquanto analisamos alguns cômodos separadamente. Aparentemente temos que fazer tudo junto. Isso que era para agirmos naturalmente

Definitivamente preciso de um cigarro. Urgentemente. E de ar, ironicamente.

TAKE SETE

O celular do Elliot toca

Preciso dar um trago

Meus dedos roçam na carteira de papel amassada no bolso da frente da minha calça, ansiando por agarra-la e acender um. Apenas para relaxar e recuperar minha paciência.

TAKE OITO

— Temos que trocar a merda do encanamento, é de cobre

— Corta — o diretor grita irritado, com os olhos fuzilando em minha direção — Palavrão de novo, Adam.

Bufo. Apertando minhas pálpebras e trincando os dentes. Balanço minhas pernas impaciente e imóveis, meus dedos batucam na lateral do meu corpo, sem conseguir ignorar a necessidade de sair de lá. O espaço era tão grande, mas com tanta gente, estava começando a me sentir sufocado. Sentia-me novamente preso em um espaço apertado.

—Chega — balbucio, girando os calcanhares em direção a saída de emergência daquele lugar — Preciso de ar.

Sinceramente seria capaz de pular por alguma janela para escapar daquela situação. E apesar dos protestos em direção a minha nuca, agradeço quando a brisa fresca acolhe meu corpo, meus dedos agarram a carteira e puxam com os lábios um cigarro, que acendo sem dificuldade.

Dou uma longa e prazerosa tragada, aperto minhas pálpebras ao expelir a fumaça, permitindo que a nicotina passeasse por meu corpo, impregnasse minha narina e aliviasse minha tensão.

— Já vai desistir, Adam? — o questionamento impaciente rouba meus segundos de paz — Você não pode dar as costas para todos e sair quando bem entender.

Bufo.

Ignoro aquele comentário, para dar mais uma tragada longa no papelote entre os meus dedos. Você pediu isso, Adam. Ela tinha razão eu tinha escolhido. Mas não era obrigado a concordar. Giro os calcanhares, encontrando a jovem com os cabelos castanhos que cobrem os seus ombros, sobre a camisa amarela larga, que cobria a calça jeans escura. A encaro. Seus olhos castanhos me devolvem o olhar.

Ao mesmo tempo que ela era a menina que conhecia, não era mais. Estranhamente o rosto era o mesmo, mas o resto era diferente e aquilo incomodava minha mente, assim como aquele aroma de flores, cheio de vida e aquele olhar. Ela era viva, cheia de vida, planos e sonhos. Como uma flor viva ao lado de uma erva daninha putrefata que eu era.

— Eu — desisto da minha frase, com um negar de cabeça.

Eu era um idiota por ter aceitado fazer aquilo e agora não podia voltar atrás.

— Você? — o cenho pintado da Sunshine arqueia-se. Sua paciência me irrita.

Queria desistir, mas não estava fazendo aquilo por mim.

— Esquece — rosno irritado, jogando o maldito cigarro para longe.

Caminho em sua direção, com a intenção de entrar pela porta que tinha saído minutos atrás.

Mas seus dedos finos e gélidos se enroscam quase na altura do meu cotovelo, detendo meu corpo. Institivamente encaro suas unhas negras que ameaçam afundarem em minha pele. Anseio por desvencilhar-me do seu toque, não gostava de ser tocado, porém não o faço. Percorrendo até os seus olhos castanhos que penetram em minha direção.

— Não tem problema ter medo ou ficar nervoso, você é novo nisso — seus lábios pintados balbuciam em um tom sincero — Você só precisa dizer. Estamos aqui para ajudar, não tornar a sua vida um inferno. Todos queremos a mesma coisa, fazer o programa — seu tom mudo em um tragar de saliva — Eu não sou sua inimiga, Adam.

Assinto. Incomodado com o toque. Irritado com a sua presença e aproximação. E por estar em uma situação que não poderia sair, afinal já tinha gasto boa parte do dinheiro ao pagar o Nigel. Tudo era uma grande e enorme, merda.

— Mas também não é minha amiga, Tate — dou voz a resposta que pinica em minha língua — Você não sabe nada sobre mim . Eu não sei nada sobre você.

Ela estava muito próxima. Eu não lidava bem com aproximação. E nem um pouco bem com aquela garota que parecia tentar me entender. Eu não queria ser entendido. Eu queria ser esquecido.

Seus lábios se comprimem em uma linha reta, parecendo processar aquelas palavras, que sabíamos que eram verdadeiras, apesar de rude. Abruptamente seus dedos abandonam o meu braço. Um alivio para mim. Um alivio para ela.

— Podemos voltar? — peço retomando meus passos — Quero terminar isso o quanto antes.

— Você tem razão — mas aqueles lábios tagarelas me seguram — Nós não somos amigos. Não sabemos nada um do outro — continuo a dois passos da porta azul — Eu adoro comida caseira, mas sou péssima na cozinha. Amo filmes, novelas, séries e música. Escuto música todos os dias. Leio pelo menos um livro por mês. Moro com a Alice, a loirinha irritante responsável pelo marketing na Stay Home, talvez vocês tenham se cruzado, mas você vai reconhece-la acredite — Sunshine fica em silêncio entre um suspirar e outro — E como você, odeio ter que falar sobre algumas coisas do meu passado.

Me viro. A encontro parada no mesmo lugar, com os malditos olhos redondos cheios de doçura e sinceridade.

— Que caralhos você está fazendo? — disparo confuso com aquela confissão.

Ninguém nunca tinha falado comigo daquele maldito jeito.

Tate dá de ombros caminhando em minha direção em passos lentos.

— Você disse que não sabíamos nada um do outro — ela para diante de mim — Agora você sabe um pouco mais sobre mim — seus lábios curvam-se em um sorriso que não consigo parar de olhar — E quando quiser, pode me contar um pouco mais sobre você.

Aquela garota era inacreditável. Sustentando o sorriso ela se aproxima. Para ao meu lado. Sua mão dá um suave tapa no meu ombro.

— Agora podemos tentar terminar isso — a produtora comenta, antes de bater à porta atrás de mim.

Cacete.

Por um momento me sinto quebrado. Não quebrado, estraçalhado como nss últimos meses da minha vida. Ela tinha me quebrado de uma forma diferente. Aquela garota era diferente.

CAPÍTULO NOVO
AMANHÃ TEM OUTRO

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