
AGORA
Percy queria morrer.
Ele não era suicida, ao menos achava que não, mas ele queria morrer. Queria deitar naquele chão frio do hospital, com sua esposa - se é que ainda poderia chamá-la assim - deitada na cama com um monte de fios ligados a seu copo logo ali ao lado e parar de respirar. Só parar de respirar, sem pânico ou dor, seu coração pararia de bater e ele morreria rapidamente. Sentia-se como se nada tivesse resposta, razão ou vontade.
Claro, Percy queria seu filho com ele e Annabeth acordada e se recuperando, mas querer não era mais o suficiente. A falta de controle que ele tinha sobre as resoluções que queria era tão grande que ao mesmo tempo em que a vontade de fazer tudo era gigantesca, a de querer deitar, morrer e nunca mais levantar era maior.
Não era mais nem cansaço físico ou mental, era apenas uma falta de vontade vinda da própria vontade de querer fazer algo mas não ter ideia do que.
Percy era muito bom em situações que exigiam resposta rápida. Sejam elas perigosas, algum problema que surgiu e precisava de solução rapidamente, Percy era criativo, mas ao que parece esse poço era finito e ele já tinha esgotado cada centímetro de água dele.
Tudo estava se esvaindo. Sua vontade, sua energia, sua força, seus sentimentos. Ele não queria mais sentir nada, viver nada.
Queria apenas deitar no chão e definhar até que seu corpo apodrecesse e fosse consumido por vermes, virando barro novamente. Por mais assombroso que esse pensamento fosse, parecia algo natural.
Uma parte de si também desejava ter um botão mágico que ao apertar, desliga-se todos os seus sentimentos e esse pensamento sim era espantoso. Porque desligar seus sentimentos significava deixar de amar e ele sentia-se um filho da puta egoísta por uma parte de si querer deixar de amar seu filho, de amar sua esposa, sua mãe, Estelle, Paul. Parecia errado e imoral ter esse desejo no fundo de sua mente, arranhando as paredes levemente como se dissesse "eu estou aqui, não importa o quanto você me empurre" e nunca desapareceria completamente, se mantendo ali como um carrapato. Mas amar doía tanto que quase valia a pena desejar fortemente, sem se reprimir. Amar era suposto doer tanto?
Amor não era pra ser algo fácil, ser aquilo que te aquecia nas noites frias? Não era o aconchego de chegar em casa? Amor não era para ser aquele aconchego do pôr do sol em um dia ameno?
Então porque parecia que o amor era uma tempestade e Percy era o capitão de um navio tentando sobreviver? Porque parecia que a única coisa que ele estava fazendo era isso, se manter com a cabeça pra fora do mar no meio das ondas tentando pegar lufadas de ar para não morrer afogado. Às vezes ele se perguntava se valia a pena.
Amar era isso?
Ele levantou a cabeça e olhou para Annabeth. Ela estava pálida e tinha círculos pretos em volta dos olhos, seus lábios rachados brancos e os fios loiros caídos ao longo do travesseiro. Percy sentia tanto a falta dela que seu corpo doía. Seu coração doía, sua cabeça doía, a porra da sua alma doía como o inferno. Valia a pena toda essa dor? Era isso que era a recompensa por amar outra pessoa? A dor interminável da impotência e da saudade?
Porque se fosse, Percy não sabia se ainda conseguiria sobreviver.
Não mais.
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