Tempos tempestuosos
Por Gisinha Lima
Yorkshire, Inglaterra.
Seis horas depois.
Apesar da tranquilidade e rapidez com que viajavam, a situação ficava mais soturna a cada quilômetro avançado mais para o norte. Como o trem onde viajavam era mais usados pelos trouxas, uma TV de plasma instalada no vagão restaurante permitia a Claire e o trio de jovens bruxos observar, pelos olhos dos jornalistas trouxas, o que acontecia ao redor do mundo. Mudanças climáticas severas, desastres e acidentes mostravam aos garotos o imenso poder acumulado pelo Lorde das trevas. Os olhos sérios de Harry ainda encaravam a TV que falava para ninguém em especial, já que, exceto por eles, nenhum passageiro se dava o trabalho de prestar atenção ao noticiário. Já passavam das dez da noite quando o trem se aproximava de Yorkshire, onde combinaram de desembarcar. Pensaram primeiro em ir direto para Hogsmeade, porém a necessidade de treinar os poderes recém-descobertos de Claire tornava imperativo adiantar a descida na cidade trouxa mais próxima.
Rony, os olhos pesados de sono, arrastava os pés pelo corredor do vagão, a mochila nos ombros; Hermione, igualmente cansada, apenas jogou sua pequena bolsa nos ombros. Os jovens ponderaram bastante, mas optaram por usar as barracas guardadas na bolsa da garota. Um hotel a essa altura chamaria a atenção. Claire ainda pensou em questionar a resolução da outra, mas preferiu ficar em silêncio. Harry, meio que lendo seus pensamentos, sorriu para a jovem.
- Aqui não é Las Vegas. – ele suspirou, de repente sentindo saudades da cidade artificialmente suntuosa. – Se a gente se registrar em um hotel, a chance de vermos bruxos que nos reconheçam é enorme. Não podíamos arriscar.
A garota entendia, ela e o irmão também passaram um tempo fugindo. Por outros motivos, claro.
Os jovens conseguiram chegar em uma floresta densa após meia hora de caminhada da estação de trem, que os deixara em uma cidade quase que abandonada. Claire, que lera As crônicas de Nárnia quando menina, não pode deixar de sorrir ao se sentir exatamente como os irmãos Pevensie ao descer em Yorkshire. Ao chegarem a uma clareira, examinada por Hermione, os garotos arrumavam a barraca onde dormiriam, enquanto a amiga, varinha em punho, cercava a clareira com todos os feitiços defensivos que garantiriam um sono sem surpresas para o quarteto. Como gostaria que Chris estivesse ali. Mesmo não sendo bruxo, seria uma companhia no meio de tanta angústia. Ao concordar em ajudar Potter a se livrar de um psicopata que aterrorizava o mundo bruxo, não imaginava ficar com a sensação horrível de que talvez não houvesse volta para ela. Com os braços em volta dos joelhos, a jovem ainda se balançava um pouco, tentando espantar o frio, quando Harry veio em sua direção, a mão estendida. A barraca já erguida a convidava para uma longa noite de sono.
Os garotos arrumavam as camas, a de Harry sendo cedida para Claire, que sorriu imediatamente com o gesto. Durante a viagem toda, ele foi um perfeito cavalheiro para com ela. Não apenas por ela representar a personificação das histórias que o velho Prof. Dumbledore contava (ele vibrava à lembrança delas, para depois ficar triste outra vez), mas porque ele tinha novamente a sensação de estavam ganhando de novo. O cuidado de Harry também a fez se sentir aquecida, esquecendo por um instante do que passara em Raccoon City e Rockfort Island. O rapaz voltou a encará-la, um sorriso vacilando no rosto ao ver que ela também o observava. Ele corou de leve. Rony ficou ligeiramente carrancudo por um segundo. Hermione, em silêncio, uma xicara de chocolate quente diante dela, os olhava, feito uma partida de pingue-pongue, sem saber o que fazer. Só quando Claire havia se recolhido, foi que o rapaz decidiu chamar a atenção do amigo, um pequeno gesto para viesse para a mesa de refeições. Resignado, Harry foi sentar-se com os outros, uma xícara de chocolate sendo empurrada em sua direção. Ele ainda sorvia os primeiros goles, soprando um pouco, quando Rony cruzou os braços, uma expressão fechada no rosto. Hermione voltou a olhar para os amigos, Harry sentado ao seu lado, igualmente confuso. O ruivo quase cuspiu o que disse em seguida.
- O que é que foi isso que eu vi agora? – Harry o encarou, as sobrancelhas franzidas, ainda sem entender. – Você tá quase lambendo os pés dessa garota! O que aconteceu com a Gina?! – Hermione imediatamente fechou a cara.
Harry ficou ligeiramente corado ao ouvir isso. Estava tão preocupado em rastrear a feiticeira de ouro e garantir sua segurança após encontra-la que não imaginou o que seus amigos pensariam desse cuidado. Mas, em geral, Hermione o avisava quando estava tomando decisões erradas, mesmo quando se decidia por apoiá-lo. Rony agora estava espumando, o rosto tão vermelho que não sabia onde terminava o cabelo e começava o rosto. O rapaz baixou os olhos um segundo, respirou fundo e voltou a encará-lo.
- Rony, o que você acha que está acontecendo? – ele rosnou, quase um silvo, a fim de não acordar Claire, que dormia o sono dos justos na cama que seria de Harry.
- Me diz você! – tornou o amigo, ainda aborrecido. – é você que vai dormir no chão só pra ela...
- Rony, vê se cresce! – Hermione sibilou, irritada. – Ele ia fazer o que? Deixá-la dormir no chão? Ou eu? - Rony corou por um segundo, mas ainda mantendo a postura de irritação. – porque eu não vi em nenhum momento você ceder a cama pra mim!
Apesar de dar razão para a amiga, Rony ainda manteve a cara fechada quando abriu a aba da barraca, anunciando que faria o primeiro turno de vigia. Estupefato, Harry olhava para a saída da barraca e depois para a amiga que voltou a saborear o chocolate quente. Ele ainda quis perguntar a ela o que havia sido aquilo, mas preferiu o silêncio. Um pote de biscoitos que estava ali agora estava quase vazio, consumido pelos amigos. Quando os dois foram dormir, Harry soltou um profundo suspiro, quase se esquecendo da jovem Redfield, que ainda dormia profundamente. Hermione deu um sorriso enviesado e deitou na cama de cima do beliche, encarando o amigo por um segundo.
- Obrigado, Mione, eu não...
- Acho que o Rony só tá cansado. – ela também suspirou. – Todos nós estamos. Toda essa coisa com Você-Sabe-Quem e mais a nossa amiga ali, no fim, só queremos que isso acabe logo.
Harry por um instante sentiu os ombros arriarem.
- Vivemos tempos tempestuosos, Harry, - Hermione sussurrou, pressurosa. – Tivemos muitas baixas. Perdemos muitas pessoas queridas. As pessoas estão com medo. Tudo pode acontecer. Não é hora de perder a serenidade.
Deitando, Harry olhou mais uma vez para Claire. Com a cabeça deitada no travesseiro, encarou a amiga por um instante.
- Estou com medo, também. – o rapaz suspirou outra vez. – Por todos nós. Por que ele acha que eu esqueci a Gina? Será que ele pensa que...
- E você não ficou nenhum um pouquinho interessado nela? – Hermione agora sorriu. – Ela é realmente muito bonita. Mas não é uma Veela... – a garota agora sufocou um risinho. Harry ergueu as sobrancelhas, surpreso.
- Sério?
- É. – ela ria, sufocando os risos no travesseiro, um olhar travesso. – eu o vi dando em cima dela no aeroporto ainda em Vegas. Ele tava dando uma de machão, imitando o irmão dela o tempo todo. Acho que ela levou na esportiva. Já deve estar acostumada.
Harry levou um segundo para processar o que acontecia. Que Rony tinha ciúme e até um pouco de inveja da indesejada popularidade dele (um pouco, não, muita!), ele já sabia. Agora ele dar em cima de uma garota com quem ele apenas estava dispensando cavalheirismo... Essa era nova.
O rapaz voltou a deitar-se, os olhos imediatamente pesando, quando algo chamou sua atenção. O lenço turquesa que escondia os cabelos dourados de Claire mais cedo jazia esquecido na beira da cama, os fios de ouro espalhados no travesseiro, iluminando completamente o interior da barraca. Por um instante, Harry encarou a jovem, completamente embevecido, a ponto de não perceber que havia levantado, sentando perto da jovem, cujo peito subia e descia de forma plácida, à medida que o sono se aprofundava. Um beijo delicado fora depositado na testa da jovem, que tremeu de leve embaixo do cobertor. Isso fez Harry corar ao perceber o que havia feito. Era como despertar de um transe.
Ele voltou imediatamente para a própria cama, respirando fundo várias vezes, até que finalmente pegou no sono; a voz de Dumbledore embalou seus sonhos, as histórias de sua infância sendo revisitadas. Enquanto isso, Hermione, que também foi atraída pela estranha luminosidade, acompanhou todo esse desenrolar, um olhar enigmático, até que ela finalmente adormecera, também, o sono embalado por sonhos indolores. Enquanto todos dormiam, um grito terrível cortou a madrugada gélida, tomando todos de assalto. Rony entrou correndo na barraca, assustando os outros que ainda dormiam. Claire encolheu-se no canto da cama, pálida.
- O que foi isso? – ele a interrogou, vendo o rosto aterrorizado. Os dois amigos correram para ela, Harry abraçando a jovem, os braços sendo esfregados com força em suas costas.
- Eu o vi.
- Quem? – Hermione olhou para os lados, tentando ver além da claridade excessiva.
Harry a encarou por um segundo. Ele também tivera sonhos perturbadores; só que no caso dele, não fora apenas sonho...
- As narinas... e-ele... não tinha... – Os três se apavoraram. Sabiam com que ela tinha acabado de sonhar.
Aquela seria uma noite bem longa.
Fim.
Não permita a morte de duendes, fadas e unicórnios, incentive o trabalho do escritor.
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