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A dama da neve

Por Gisinha Lima

Era noite quando se viu diante de um calor infernal, que fazia as costas suadas grudarem na camiseta cinza que usava, as gotículas espalhadas na testa larga, mesmo com o ventilador ligado, a hélice girando com toda a força. O ar condicionado só seria ligado se houvesse mesmo necessidade. Essa prometia ser a noite mais quente do ano e o verão, segundo os meteorologistas, ainda nem havia começado. O noticiário ainda passando na TV, a âncora que dava as notícias do tempo em todo o Reino Unido, arrancou-lhe um sorriso.

Desde que se entendia por gente, não acreditava muito em notícias relacionadas ao clima; na verdade, não ligava muito para programação alguma da TV, só tinha o aparelho em casa, uma TV de Plasma de 55 polegadas, por causa do padrinho, que assistia aos jogos do Manchester United, algo muito peculiar para um bruxo, mas que trazia momentos de muita diversão para os dois homens; a filhinha também era outro forte motivador, os cabelos ruivos grudados nos ombros devido o calor intenso que a fez suar, estava sentada em frente ao telão, o desenho favorito dela, Scooby-doo, fazendo a menininha rir. As risadas agudas assustavam Edwiges, que volta e meia piava, zangada, outro sorriso se formando em seu rosto.

Mesmo a urgência de entregar aquelas plantas para a prefeitura não o demoveu do impulso de ir até a janela observar a noite estrelada de Godric's Hollow, o reflexo na vidrada da janela, um raio atravessando sua testa. Apesar de todo o calor intenso, a noite estava linda e muito estrelada, a aurora boreal convidando o homem agora relaxado a observar a paisagem noturna, as árvores de pinheiros belíssimas, parecendo ter sido polvilhadas com açúcar. Espera um pouco, neve nas árvores? Ainda estava em Junho, como assim?

Foi quando viu, entre as árvores, a neve parecendo meio suja e lamacenta em comparação, a figura de uma jovem mulher, os cabelos dourados soprados pelas rajadas de vento, os flocos de neve caindo ao seu redor. Via aquela figura, ainda espantado, quando esta voltou-se, como que sentindo-se observada. Suas faces ficaram em brasa ao ver o rosto suave, as bochechas rosadas pelo frio intenso que agora o enregelava, um arrepio sacudindo seu corpo. Os olhos claros, duas belas gemas de esmeralda, o encararam, os lábios rosados num leve sorriso. Aquele olhar poderia ter durado talvez uns dez, quinze minutos no máximo, quando o sorriso se desfez, a mão delicada estendida, apontada para ele, uma voz muito suave, sussurrada, como se a mulher estivesse atrás de suas costas. O mais pavoroso é que a voz feminina ESTAVA colada às suas costas. Seu coração se apertou de terror ao ouvir o sussurro macio.

- Meu eleito... Hora de acordar!

*****

Um estalo sacudiu Harry, o terror fazendo-o puxar a respiração várias vezes, a mão indo ao peito com muita frequência. A vigília foi péssima para o rapaz. No lugar dos olhos abertos, esperando pela aurora, uma madrugada repleta de terríveis pesadelos ocupou a mente de Harry, a maioria com Voldemort em pé sobre uma pilha de corpos. Um rosnado o fez voltar a cabeça para a saída da barraca.

- Bom dia, Bela Adormecida, como passou a noite?

Harry se sentou apressadamente na neve, o frio arrepiando seu corpo todo. Rony carregava um pouco de lenha para dentro da tenda, enquanto Hermione e Claire preparavam o café da manhã, uma omelete de espinafre e tomates verdes perfumando o ambiente, os ovos com certeza furtados de algum galinheiro ali próximo. O olhar do rapaz recaindo nos ovos ainda na cestinha em cima da mesa da cozinha fizeram a amiga sorrir.

- Relaxa, não foi dessa vez. – ela sorriu, a espátula virando a camada amarela e temperando-a com alecrim e sálvia. – comprei os temperos num mercado na cidade mais próxima. O que um feitiço não faz por alguém que quer fazer compras sossegada? – a frase arrancou um risinho de Claire. Rony, a cara amarrada, não participou da conversa, limitando-se a entregar a lenha para Hermione.

Harry sentou-se à mesa ao ver tudo ali pronto, os outros se servindo, o pequeno rádio enfeitiçado de Rony transmitindo as notícias trouxas matinais. Pelo jeito, as invasões de domicilio e os crimes seguidos de morte aumentaram muito na grande Londres. Pessoas eram mortas em plena luz do dia. Além disso, uma doença infecciosa muito grave se espalhou pelas outras cidades, chegou até mesmo no País de Gales, assustando muito a população, que foi orientada pelas autoridades locais a permanecer em casa. Como nem o que os trouxas diziam animou o quarteto, Rony agitou a varinha, a barraca ficando em silêncio.

Harry sentiu a pressão no peito aliviar um pouco com isso.

- E aí? Qual é o plano? Nós temos um plano, né? – Ron o encarou por alguns segundos, o aperto voltando ao peito de Harry.

- Como assim?

- Harry, não podemos ir para Hogwarts, não sem um plano. – tornou a amiga, sensata. Claire, que ainda se inteirava dos acontecimentos do mundo bruxo, optou pelo silêncio.

O rapaz ajeitou os óculos capengas que ainda usava, um suspiro pesado de preocupação.

- E quando foi que algum dos nossos planos deu certo?

Rony apontou para a jovem defronte, os cabelos ocultos no xale que ainda usava na cabeça. A moça corou de leve.

- O que?

- Você mesmo disse, as histórias do Dumbledore foram a melhor pista até agora e... a menos que ele tenha sempre sido caduco, acho que ela pode nos ajudar.

- Como? – tornou Claire, agora ligeiramente assustada. – não sei nem usar uma varinha e olha que eu...

- Você não precisa de varinhas. – sorriu Hermione, a única ainda confiante desde que as coisas começaram a dar errado no Ministério. – Andei lendo os livros de feitiços e tudo que pude pegar na biblioteca de Hogwarts (um olhar espantado de Rony foi solenemente ignorado), você é talvez mais poderosa até que um elfo, e eles não precisam de varinha, quer dizer...

- Agora você está xingando os elfos que tanto defende. – Rony deu um sorriso debochado, que Hermione ignorou também. Harry, no entanto, ficou preocupado.

- O que você quis dizer com isso? Mione, é claro que ela é bem mais... por favor, Claire, sem ofensas, mais poderosa...

- Não ofendeu... eu espero. – Mas Claire baixou os olhos, um rubor leve nas bochechas. Por um breve instante, a moça e a dama do sonho que tivera lhe eram extremamente parecidas.

- Não falei desses elfos. – Rosnou Hermione, aborrecida com os rapazes. – Eu falava dos outros, de Valfenda.

Os três engasgaram, Claire e Harry, principalmente. Os dois sendo trouxas, viram e ouviram muito sobre a trilogia O senhor dos anéis e não conseguiram segurar uma risada. Hermione esperou eles se acalmarem, a cara amarrada.

- Já acabaram?

Rony ainda se sacudia com os risos.

- Desculpa, Mione, eles riram, quer dizer...

- Mione, J. R. R. Tolkien é o escritor da trilogia O Senhor dos anéis e ele era trouxa...

- Você tem certeza disso?

Os três se voltaram para a amiga ao ouvir a pergunta.

- Espera aí, quer dizer que o meu escritor favorito... é bruxo? – Claire encarava a garota, abismada.

- Pois é, a gente nunca sabe tudo sobre mundo. – Hermione pegou um volume imenso e surrado da biblioteca da escola de Magia e Bruxaria, intitulado Lendas do mundo élfico, também de autoria dele e folheou-o, procurando algo em particular. Os rapazes olhavam espantados para o livro, mexendo com os nervos da amiga.

- O que foi? Eu disse que tinha pego alguns livros na biblioteca.

Eles hesitaram.

- Alguns? Parece que você saqueou a biblioteca. – Rony segurou uma risada. – quem é você e o que fez com a Hermione Granger?

A garota sorriu, encarando aquilo como um elogio.

- Podemos ir às cegas para Hogwarts e perder a batalha, ou carregar nossa melhor arma e esperar que possamos virar o jogo. - e voltando-se para a jovem, Hermione apontou para a saída, fazendo sinal para ela e Claire se levantarem, os rapazes ainda aturdidos com a reviravolta. – que tal a gente treinar um pouco?


Fim.


Não permita a morte de duendes, fadas e unicórnios, incentive o trabalho do escritor.

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