7- Drink Me
“...Você está comprometida,
mas eu sou seu crime
Me encha o saco quando quiser
Você está com o dedo no gatilho, mas o dedo que é o seu gatilho é meu...”
– Copycat, Billie Eilish
No restaurante, a pacata rotina incomodava o homem de vários segredos e muitas missões. Antony Sanders acatou cada pedido com o máximo de carinho que pôde. Cozinhar era uma de suas aspirações na vida e ele era dono de uns dos restaurantes mais cogitados de Chicago.
Entretanto, seus pensamentos estavam pairando longe, mas não o bastante. Tony agora só conseguia pensar na mulher desconhecida em sua casa. Afinal, quem iria querer a morte de uma das filhas de um político importante? Muitos talvez, mas por alguma razão estranha, seu desejo era apenas saber o que causara uma proposta tão alta por uma morte simples e rápida. Quem colocara um alvo nas costas de Bella Gonzalez?!
— Antony, já acabamos a limpeza. Gostaria de mais alguma coisa? — Fred perguntara enquanto de forma nervosa torcia o esfregão.
— Nada mais. Acho que por hoje é o bastante. Diga ao Brandon que irei ficar ausente hoje, mas confio em vocês e sei que o jantar vai ocorrer conforme o planejado. Certo? — Tony esboçou seu melhor sorriso, mas algo em sua expressão sempre causou pânico entre os funcionários, mesmo que ele não seja chefe tirano.
— Si... Sim, senhor — O rapaz forçou um sorriso nervoso e saiu rapidamente do recinto.
Sanders pegou alguns itens para o jantar de hoje à noite e suspirou fundo enquanto pensava em roupas e acessórios femininos. Ele balançou as chaves do carro e levou as sacolas para a mala, ao fechar se deparou com um homem familiar e uma troca de olhares foi estabelecida.
— Ora se não é o grande cozinheiro. Onde está a Bella? O que você fez com ela? — Henry, o homem que quase sufocou a morena no depósito indagou.
— Não sei. Talvez você tenha a enforcado em algum lugar da casa dela. — Tony retrucou e segurou a chave entre os dedos, pronto para o ataque.
— Você se acha muito esperto, não é mesmo? Vai me atacar com uma panela, Antony Sanders? — Henry gargalhou e acenou com a cabeça fazendo com que três homens ficassem atrás dele.
— Covardes não estão no meu cardápio, Henry. — Sanders retrucou quase cuspindo o nome do homem loiro à sua frente, ele apenas trincou os dentes e cerrou os punhos.
— Está tudo bem aí, Sr. Anders? — O chefe de segurança apareceu com mais cinco homens e lançou um olhar hostil para Henry e seus amigos.
— Tudo ótimo, só estou conversando com um amigo, sobre ter modos. — Sanders sorriu diabólico e percebeu a notável frustração no semblante de Henry.
— Isso não ficará assim, nos encontraremos novamente, Sanders. Garanto que você não irá gostar. — Frustrado, Henry saiu com seus capangas.
Sem nenhum vestígio de medo ou covardia, Antony manteve seus olhos fixos nos homens cada vez em que eles se afastavam. Henry era culpado, mas o moreno ainda não sabia qual o interesse em Bella Gonzalez. Depois de alguns segundos de reflexão, ele lembrou-se que precisava de roupas novas e alguns acessórios para a morena. Sendo assim, o chef voltou sua atenção para as compras e o carro. Havia pouco tempo entre comprar utensílios femininos e preparar o jantar.
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Bella estava distraída lavando alguns pratos, apenas por não saber ao certo como passar seu tempo no apartamento dele. Tudo era tão calmo, Antony morava sozinho e não tinha empregados. Ele era definitivamente uma caixinha de surpresas. Bella iria gostar de descobrir ou abriria uma caixa de Pandora?!
A morena ouviu a porta se abrir rapidamente e ela tentou ajustar os cabelos soltos, dando uma aparência mais agradável.
— Boa tarde. Seu namorado foi te procurar. — Antony pôs as sacolas com as roupas em cima da mesa e segurou outras com os ingredientes do jantar.
— Namorado? — Bella franziu o cenho e secou as mãos na lateral da calça. Só agora havia notado as várias sacolas, inclusive, de marcas famosas.
— Sim. Aquele cara no fundo do restaurante. Que levou um soco. Ah, aqui está. — O assassino entregou as sacolas com os itens para ela.
— Henry...? O quê...? — Bella pegou as sacolas e ficou confusa. Rapidamente, lembrara das roupas que precisava. Ele não havia esquecido.
— Provavelmente o vestido cairá perfeitamente no formato do seu corpo. Se não ficar bom, tem mais roupas aí. — Antony anunciou e sem responder foi em direção ao quarto dele.
Restara apenas uma Bella confusa e ao mesmo tempo curiosa sobre o que Henry poderia ter dito para Sanders. E se ele já soubesse onde ela está?!
A morena por ora deixou que esses pensamentos não perturbassem sua mente e foi tomar um banho demorado. Após sair do banheiro, ela deu uma olhada nas sacolas e ficou surpresa com a quantidade que Antony havia comprado de roupas, sapatos e até maquiagens. Como ele poderia saber tanto sobre isso? Sequer havia perguntado quanto ela calçava e os sapatos lhes serviam perfeitamente.
[...]
Devidamente vestida e perfumada, Bella desceu as escadas de forma cautelosa e tudo que conseguia sentir era um aroma agridoce que invadia suas narinas. Ela tateou o corrimão e tentou não cair com aqueles saltos enquanto sua curiosidade era em saber se Antony Sanders tinha algum segredo culinário. Como ele poderia ser tão perfeito assim? Todos têm defeitos, onde está os dele?
— Está com fome, Srta. Gonzalez? — Antony questionou ainda de costas segurando uma garrafa de vinho em mãos.
— Como você... — ela ficou confusa por alguns segundos e um pouco frustrada. Ele sempre sabia quando estava sendo observado. — Você tem algum poder ou algo do tipo?
— Não. Sou apenas um cara normal de vinte e oito anos. — Antony retrucou com um sorriso divertido nos lábios, logo após olhar para ela. — Boa escolha.
— Não me agradeça. E sim para a funcionária que te atendeu. — Bella puxou uma cadeira e apoiou os cotovelos na parte de vidro da mesa.
— Eu que escolhi. Não tenho cara de quem leva jeito com vestuário feminino? — Ele pegou uma taça e serviu os dois, despejando uma boa quantidade do líquido escuro.
— Só achei que... — ela engoliu em seco e usou o vinho para disfarçar que o olhar dele estava deixando-a sem graça. — Deixe para lá. Qual o cardápio de hoje? Não achei que você fosse cozinhar. Quer dizer... Já que faz isso todo dia.
— Coq Au Vin é nossa entrada principal hoje. Já dizia Confúcio: “Escolha um trabalho que você ame e não terás que trabalhar um único dia em sua vida.”
— Frango ao vinho tinto. Meu prato favorito. — Bella ficou pensando se estava louca ou Antony era um psicopata que sabia tudo sobre ela.
— Ah, é mesmo? — ele perguntou distraído enquanto higienizava as mãos para o preparo do jantar. — Acertei em cheio então.
— Sim... Isso é bem estranho. — Bella mordeu o lábio e fico pensativa, no entanto, pela primeira vez percebeu que ele estava mais descontraído.
— Então... Quem é Henry? E por que ele iria querer encomendar a sua morte? — Antony foi até as sacolas e pegou o frango semi pronto.
— Por que você acha que ele mandou alguém me matar? — Bella ainda não havia pensando nessa possibilidade. — Quer dizer... Todos querem me matar. Meu pai não é só um político, Tony.
Os dois se entreolharam rapidamente e algo no modo em que Bella o chamou, despertara toda a atenção dele.
— O que ele é? — Antony pôs o vinho tinto em outra travessa e começava a procurar a louça para organizar tudo.
— Bem, meu pai tem grande envolvimento com mafioso do Texas e por todo o México... — Bella mordeu o lábio tentando deixar com que as palavras não escapassem de sua boca, mas o jeito que Antony buscava respostas, era impossível não responder qualquer pergunta que ele fizesse.
— Interessante. Você acha que algum rival encomendou a sua morte? Isso é um pouco bizarro, eu diria.
— Eu não sei mesmo. Mas não duvido que seja algo assim. Quem sabe possa ter sido alguém da minha própria família. Não sou bem a filha imaculada e perfeita que eles esperam. — Bella passou o indicador ao redor da taça e suspirou fundo antes de bebericar o vinho.
— Então, somos dois... — Tony esboçou um sorriso e depois voltou à atenção para a finalização do prato.
Após algum tempo, de tantas conversas bobas, e segredos revelados devido a algumas taças de vinho, o jantar já estava pronto. Antony tomou um banho relaxante e pôs uma roupa casual: bermuda preta e uma camiseta branca que deixava suas tatuagens um pouco livres no campo de visão da morena que não tirava os olhos dele. O vestido preto que ele havia escolhido caía perfeitamente na cintura fina e marcada dela. Tony suspirou fundo ainda se fazendo as mesmas perguntas de sempre: por que ela ainda estava lá?!
— O jantar está servido, o que você está assistindo aí? — ele sorriu brevemente e foi até a sala chamá-la.
— Ah, os preparativos do casamento daquele astro do rock chamado Michael Garrigton, eu gosto das músicas dele e algo na noiva dele me desperta muito interesse. Ela é uma mulher de atitude, adoro essas roupas pretas e o olhar hostil dela. Certamente, seríamos boas amigas.
— Casamento de gente famosa nunca dura mesmo, seria engraçado se ele fosse abandonado no altar, quer dizer, se fosse comigo eu certamente iria entrar em depressão. — Tony sorriu e Bella fez o mesmo após desligar a televisão e ir até a cozinha pequena e charmosa.
Seus olhares se encontraram novamente e ela sorriu quando Antony fez a gentileza de puxar o assento dela.
— Espero que não tenha veneno no meu prato favorito, Sr. Sanders. — Bella sorriu e pôs o guardanapo no colo, o chefe por outro lado ficou tenso por dois segundos, mas logo mudou sua expressão.
— Como eu não pensei nisso antes? — Antony sorriu e trouxe os pratos com cuidado, ele já havia pensado nisso antes, pensava nisso sempre, mas algo o impedia de prosseguir.
Os dois começaram a degustar tudo em silêncio e Bella Gonzalez tinha uma expressão de felicidade extrema a cada garfada que dava em seu Coq Au Vin. Fez-se um longo silêncio por muito tempo e Bella já estava ficando constrangida com o olhar dele, como se estivesse analisando-a com os olhos, lendo sua áurea e descobrindo todos os seus segredos sujos.
— Até quando você pretende ficar aqui? Não que eu esteja te expulsando, é só curiosidade. Pode ficar o tempo que quiser. — Tony consertou a própria colocação e Bella sorriu com o jeito desajustado dele.
— Não sei. Até amanhã, preciso arrumar algum lugar para ficar, não quero te trazer mais problemas. Você parece gostar da solidão. — Ela bebeu um pouco mais do vinho e logo percebeu o que havia acabado de falar, quase engasgou e se apressou a dizer: — Desculpe, quis dizer que você está sempre sozinho, não quero ser um incômodo. A propósito, gostei das suas tatuagens, eu não imaginaria que por trás daquelas roupas de chefe de cozinha havia tanta beleza escondida.
— Andou me imaginando sem roupa, quer dizer, sem a roupa de chefe? — Um sorriso malicioso cresceu em seus lábios enquanto notavelmente a morena ficava sem graça. — Não precisa se desculpar e se quiser pode ficar. Não tenho muito tempo para relacionamentos, por isso vivo sozinho.
— Eu não sei... Acho que te julguei sem conhecer, digo, você não se encaixa muito no estereótipo de chefe de cozinha. No entanto, eu adoro a sua comida e acho que engordei alguns quilos. — Bella fingiu tristeza e ele sorriu, fazendo com que ela fizesse o mesmo. A cada dia em que passava nesse apartamento, mais o espaço entre eles se tornava inexistente, ela odiava admitir, mas estava começando a gostar disso.
— Que bom que gosta da minha comida. Eu aprendi a cozinhar com a minha falecida mãe. Carmen era um ser divino até fazendo macarrão instantâneo. — Tony suspirou e foi juntar toda a louça, Bella ainda estava na cozinha e ele se perguntava se os dois partilhavam dessa energia estranha que sempre pairava no ar quando ela estava por perto.
— O jantar estava delicioso, assim como tudo que você faz. — Bella tentou iniciar outra conversa antes que o assunto morresse definitivamente.
— Você ainda não provou de tudo que eu faço, Bella... — Tony lançou um olhar ambíguo e ela prendeu a respiração por um tempo, fazendo a mente imaginar que coisas seriam essas. — ... Eu faço uma torta de maçã deliciosa, você precisa experimentar.
Bella suspirou fundo e sorriu nervosa enquanto o ar parecia ter ficado denso. Céus, que mente maliciosa, o rapaz só estava falando em tortas.
A campainha foi acionada e deixou os dois em alerta, Antony pôs o indicador nos lábios e pediu silêncio para a mulher que estava com os olhos saltados quando viu ele sacar uma arma de uma das gavetas do armário. Seu coração pulsava frenético enquanto duas perguntas pairavam no ar: Por que ele tinha uma arma? Quem poderia estar tocando a campainha de um homem que não recebe visitas?
Antony fez um aceno que Bella conseguia identificar em filmes de ação, significava: se esconda. Ela assentiu e subiu as escadas enquanto de longe tentava ver quem poderia estar tocando a campainha. Quando Tony abriu a porta, ele se deparou com o vazio e uma caixa de presentes que sabia bem o que era, após verificar se não tinha ninguém no andar dele, o moreno fechou a porta e guardou a arma no lugar que estava.
Bella suspirou fundo quando a tensão havia se dissipado e sorriu quando Antony disse que estava tudo bem, após passar com a encomenda para o quarto e não sair mais de lá. A única certeza que ela tinha, é que não era tão seguro assim ficar na casa de um desconhecido que no mínimo tinha um transtorno de personalidade e graças a sua recente descoberta, ele tinha uma arma carregada e sabia como manuseá-la. Ela não pensou duas vezes antes de pegar uma sacola plástica e pegar umas roupas que ele havia comprado hoje cedo.
A mulher teve o cuidado de verificar que ele estava na sala e sentia o coração pulsar cada vez mais forte quando a ideia de fugir parecia se tornar real a cada passo que ela dava. Bella tentou não fazer barulho pelas escadarias e abriu a porta lentamente, mas uma voz conhecida chamou sua atenção, impedindo-a de sair.
— Para onde você pensa que vai, Bella? — Antony indagou com a pistola apontada para ela.
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