5- Dangerous
Uma semana havia se passado desde que nos encontramos pela última vez. Aceitei o contrato e também o convite para o jantar na casa do magnata.
Tudo já estava em seu devido lugar, prataria, entradas, ornamentação e o prato principal: Bella Gonzalez.
Não tive muita escolha pois nesta profissão, ou você mata ou matam você. O valor faria qualquer outro assassino matá-la sem pensar duas vezes. Então, meu trabalho deveria ser ágil e prático.
Visto meu melhor smoking junto com sapatos exageradamente lustrosos, dava quase para ver até o meu próprio reflexo; passo perfume e vou ao meu destino.
Estaciono o carro e observo dúzias de seguranças por toda parte. Sorrio amigavelmente para eles e dou boa noite antes de adentrar no saguão principal. Tudo era um misto de dourado e vermelho. A família descia formalmente enquanto as mulheres seguiam juntas e inabaláveis degrau por degrau.
Caminho até o bar e peço um copo de uísque, para aguentar tanta gente esnobe em um só lugar, era necessário não estar tão sóbrio. Suspiro fundo e notavelmente entediado quando escuto alguém dizer:
— Ela está deslumbrante — uma mulher anunciou e as demais voltaram sua atenção para a escada.
Dou de ombros, mas ao ouvir o segundo comentário, não resisti à vontade de saber de quem estavam falando. Arqueio uma sobrancelha e viro lentamente ainda com o copo em mãos, então, eu a vejo descer as escadas.
Diferente de todas as mulheres de sua família que usavam um vestido mais formal e de tons fechados e discretos, Bella descia triunfante as escadarias num vestido vermelho com um decote em V e uma fenda na perna. Sua mãe lançou um olhar de reprovação, de uma maneira discreta e comentou algo com a filha Helena que olhou da mesma forma.
Nossos olhares se encontram novamente, ela parece emanar uma vitalidade incrível, jovial e perfeita. Desvio os olhos rapidamente, não quero que algo fique entendido de outra forma. Eu sou o caçador e ela a presa. Voltei à minha atenção para outras coisas, a fim de que isso acabasse logo.
Havia esquecido o quão chato esses jantares diplomáticos podem ser. Um convidado ilustre aqui, outro ali. O jantar estava sendo servido e todos estavam unidos em uma grande mesa. Todos estavam lá, os noivos, os pais cheio da grana e Bella com aquele olhar curioso sobre mim. Aposto que deve achar que sou um riquinho esnobe, um cara solitário e cheio da grana. Talvez eu seja a segunda opção, mas a primeira está totalmente fora de cogitação.
O jantar seguiu da forma que eu esperava, piadas sem graça, uma família mostrando que era perfeita e feliz, quando na verdade eles parecem uma colcha de retalhos.
Após o término das refeições e alguns elogios quanto à ornamentação e a singularidade dos meus pratos, todos já estavam começando a ir embora. No meu curto tempo lá dentro, aproveitei para conhecer mais as instalações, a cada passo fico mais próximo de arquitetar um plano em minha mente. Pus um utensílio pessoal no banheiro, usaria como desculpa para entrar depois que todos fossem embora. Vou para o estacionamento e espero pacientemente, acendo um cigarro e reflito sobre o valor alto que ainda despertava minha curiosidade.
Após perder a noção de tempo, sinto as cinzas caírem em meu smoking e também em meus sapatos, praquejo e limpo os resíduos quando escuto alguém adentrar no carro pelo banco traseiro.
— Por favor, me ajude. Dirija o mais rápido que puder. Por favor. — Dissera uma voz feminina que acabara de se aconchegar no banco traseiro. — Por favor. Eles irão me matar.
Rapidamente pus a chave na ignição e liguei o carro rapidamente, ajustei o retrovisor e pude vê-la. Bella Gonzalez estava no meu banco detrás, agachada e amedrontada, completamente vulnerável.
— Vá por ali. Eles não vão conseguir te achar — ela surgiu rapidamente e apontou para uma estrada sinuosa.
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Continuamos o percurso em silêncio por uns 10 km, uma parte minha queria matá-la agora mesmo, afinal, Bella já deve estar sendo caçada por outra pessoa. Ou será que ela sabe algo sobre mim?
— Para onde você quer ir? — quebrei o silêncio e também seu momento de reflexão.
— Não sei. Poderia me levar para algum lugar? Sua casa ou sei lá... Estou com medo de que alguém me encontre. Você poderia me levar até lá? Só por hoje? Juro que vou embora amanhã. — Bella quase implorou e agora ao invés da mulher fatal, vejo apenas uma garota assustada.
— Claro. Como quiser — volto à atenção para o trânsito e dirijo com calma. — Quando estivermos próximos, você tem que abaixar a cabeça para que as câmeras não capturem seu rosto.
O que está fazendo? Você tem que matá-la...
Meu subconsciente grita e suspiro fundo para evitar pensar nisso.
O caminho foi marcado por mais silêncio até que finalmente chegamos ao meu apartamento. Bella Gonzalez escondeu-se e andei ao lado dela o tempo todo para evitar que as câmeras registrassem o rosto que em breve estaria em todos os jornais.
Ficamos a cara a cara no elevador e parei de frente para ela, que por sorte era menor e minhas costas impediam a visão de seu rosto.
— Por que estão querendo matar você? — questiono rapidamente enquanto ela parecia perdida em pensamentos.
— Não sei — a morena deu de ombros e parecia tremer, ansiedade, medo...
— Tudo bem — sei que ela não vai falar agora, então, apenas evito o assunto. — Não precisa ter medo. Não vou machucar você, Srta. Gonzalez.
Suspiro fundo transparecendo toda calma e confiança em minha voz, realmente não iria matar uma pessoa em meu próprio apartamento. O elevador se abriu já dando espaço para o meu andar, ou melhor, simples apartamento e vejo-a prestando atenção nos detalhes e na silhueta sensual da cidade.
— Quer alguma coisa? Água? Ou um calmante — ponho as mãos nos bolsos da calça, sem saber o que dizer.
— Não. Obrigada. Não posso dormir. Posso ficar no seu sofá? — ela passou as mãos no cabelo e seu desespero era notável, prestes a morrer e na casa de um desconhecido.
— Tenho quartos de hóspedes, mesmo sem ter visitas... — rio baixo do meu próprio comentário, não por achar engraçado, mas por perceber agora o quão solitária era a minha vida.
— Não precisa se incomodar. Ficarei bem. É só por uma noite — ela sorriu brevemente e tirou os sapatos caros.
— Se precisar de alguma coisa é só chamar, estarei na primeira porta à direita, logo que você subir a escada. É só chamar, ou gritar. Não precisa se preocupar, ninguém irá te achar no meu apartamento — passo as mãos no cabelo e sorrio tímido.
— Obrigada novamente, Antony. Prometo que amanhã irei explicar tudo para você. Enquanto isso, só preciso descansar um pouco. E não me chame de senhorita. Meu nome é Bella — ela sorriu novamente e suspirou fundo, logo acomodou-se no sofá.
Subi as escadas enquanto pensava se estava louco de vez. Por que a ajudei? Eu deveria tê-la matado quando tiver a oportunidade. Agora, meu alvo está aqui, dentro do meu apartamento. Isso não poderia ficar pior, poderia?
Ah, e como poderia... Eu só não sabia disso ainda...
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