O último dia do ano.
31 de dezembro do ano passado.
— Esse ano vou me jogar de cabeça em todas as oportunidades que a vida me proporcionar. – falei para Isabela que olhava pro horizonte. Hoje é dia trinta e um de dezembro, ano novo e meu aniversário.
— Feliz aniversário Sabrina! – Henrique se aproxima com um cupcake cor de rosa com uma vela vermelha.
— Vai assopra a vela e faça seu pedido. – Isabela fala com um sorriso. Olho pra vela e fecho meus olhos.
"Quero uma lista de desejos, esse ano desejo entrar na faculdade, comprar um carro, adotar um gato, sorrir mais e me apaixonar perdidamente."
Passo a mão no meu pescoço procurando o colar com um pingente de estrela banhado a ouro que ganhei da vovó mas ele não está lá, fico desesperada e começo a procurar o colar que tanto me traz sorte, mas não o acho.
31 de dezembro deste ano.
Já se passou um ano desde aquele dia e as lembranças ainda continuam frescas em minha mente a noite em que perdi meu colar e fiz uma lista de desejos para realizar nesse ano que acaba hoje, e fico feliz em dizer que realizei a maior parte, a única coisa que não realizei foi a de me apaixonar perdidamente.
— Vamos! – ouvi Isabela me chamar. Todo final de ano vou com minha irmã e meu cunhado para a casa dos meus pais e esse ano não foi diferente.
— Acho que quero passar naquela livraria que fica perto da loja de discos. – digo tentando acompanhar os passos da Isabela.
— Sério? – ela me olha com uma cara de tédio e eu confirmo com minha cabeça – Sabrina eu não estou com paciência para passar três horas em uma livraria para você no final comprar um livro e sair falando que devia ter pegado outro. – faço bico e ela não segura um sorriso – tá bom!!
Entramos na livraria e depois de duas horas acabo fazendo o que Isabela disse que eu iria fazer. Estamos conversando enquanto caminhamos com certa rapidez pois Henrique ligou e disse que não aguentava mais esperar para almoçar. Viramos a esquina correndo atrás de um táxi.
— Me desculpa. – falei ao me abaixar pra pegar as sacolas que derrubei ao esbarra em um homem.
— Tudo bem. – ele fala rindo do meu desespero, termino de pegar as sacolas dele e ele pega meu livro que também caiu – aqui está. – me estende o livro, olho pra ele com mais atenção e me surpreendo com a sua beleza, ele sorri fazendo meu coração disparar, penso em pegar o livro mais estou paralisada olhando seus olhos cor de mel.
— Obrigada e desculpa minha irmã desastrada. – Isabela diz ao pegar o livro da mão do homem e me puxar pra dentro do táxi. – pode ir moço. – minha irmã fala com o motorista enquanto continuo encarando o homem que ficou parado no meio da calçada me olhando um pouco surpreso.
Me sento no banco de balanço na varanda após almoçar e fico vendo minha sobrinha brincando com a minha gata Pompom. Ana tirou seu laço de cetim vermelho dos cabelos loiros e estava balançando de um lado para o outro enquanto Pompom tentava pegar.
— Pensando naquele cara gato lá do centro? – minha irmã senta ao meu lado e me abraça com carinho.
— Talvez. – nós rimos.
—Olá – ouvimos uma voz masculina e viramos a cabeça para o lado e vimos o homem que estava tomando conta dos meus pensamentos à horas – o senhor Christian está? – continuamos olhando pra ele sem dizer nada – meu nome é Eduardo eu sou filho do vizinho e ele me pediu para vir ajudar a arrumar a caminhonete. – ele aponta para o carro amarelo parado à alguns metrôs. Quando penso em dizer alguma coisa meu pai aparece.
— Eduardo meu rapaz! – meu pai disse cumprimentando o homem que sorria gentilmente para ele – que bom que você veio seu pai disse que você é muito bom com mecânica e eu estou precisando muito da minha lata velha pra trabalhar.
— Eu vou dar o meu melhor para consegui conserta o carro do senhor. – Eduardo avisa e meu pai sorri e dá três tapas no ombro do filho do vizinho e depois o conduz até o carro mas antes de ir Eduardo olhou para mim e sorriu.
Passei os próximos trinta minutos olhando o filho do vizinho arrumando o carro enquanto tomava um chá. Vejo ele se aproximar enquanto finjo presta atenção em Ana que brinca com algumas bonecas no quintal.
– Oi, de novo – ele diz sorrindo – será que você poderia me dar um copo d'água? – olho pra ele que me olhava nos olhos e gaguejo um sim. Quando volto da cozinha com um copo e uma garrafa de água gelada Eduardo está sentado nós degraus da varanda me aproximo devagar e sento ao seu lado – obrigado – ele diz pegando o copo e segurando para que eu o servisse, Eduardo começa a beber e olha pra Ana que está com duas bonecas nas mãos fazendo elas se beijarem. – eu lembro de você. – ele quebra o silêncio.
— Lembra? – pergunto confusa – De onde?
– Ano passado, na praia – ele me olha me analisando e causando calafrios por todo meu corpo – você estava na praia com sua irmã e um cara.
— Você estava lá? – pergunto e logo em seguida me arrependo da pergunta, é claro que ele estava.
— É. – ele ri – você chamou minha atenção com aquela jaqueta vermelha. – ele brinca com o copo e depois pega na parte de baixo da sua camiseta e leva até a testa limpando o suor e um pouco da graxa, deixando a mostra seu abdômen malhado e bronzeado. – você vai a praia esse ano?
— Vou sim – sorri voltando minha atenção para seu rosto – ir a praia é meio que uma superstição entre eu e minha irmã. Nos gostamos de dar um mergulho quando o ano vira pra limpar todas as energias negativas e começar o ano bem. – ele se levanta e entrega o copo e sorri.
— Talvez esse ano eu mergulhe com vocês. – seu sorriso aumenta e ele volta para a caminhonete enquanto eu o observo.
Quando começou a escurecer fui para o meu quarto tomar banho e me arrumar para minha festa não tão surpresa de todos os anos e para ir a praia, depois do banho, de arrumar meu cabelo em um coque um pouco baguncado no topo da cabeça e passar uma maquiagem leve, coloco um vestido prateado na altura da coxa e um tênis branco, me olho pela última vez no espelho e desço; o andar de baixo está totalmente escuro.
—SURPRESA!!! – as luzes se acendem assim que término de descer o último degrau da escadas, estão todos com chapeuzinhos na cabeça e com língua de sogra e apitos, até Pompom está com um chapeuzinho, contra sua vontade claro.
Meus pais são os primeiros a me abraçarem seguidos da minha irmã, meu cunhado, minha sobrinha com minha gata, meus tios e meus avós paternos. Recebo cada presente com um sorriso de orelha a orelha ao mesmo tempo que agradeço.
— Querida cadê a correntinha que a vovó te deu? – minha mãe pergunta enquanto me observa do outro lado da ilha.
— Eu perdi – explico sentindo minhas bochechas queimarem por causa da vergonha – me desculpa mamãe. – sinto uma tristeza ao lembrar da perda daquele colar.
— Tudo bem meu amor – minha mãe se inclinou na minha direção sobre a ilha e segurou uma das minhas mãos – sua avó dizia que aquela correntinha era como um amuleto da família que trazia sorte, e ela sempre iria pertencer a nós e que se algum dia à perdessemos ela iria encontrar o caminho de volta. – ela sorri apertando minha mão para me dar conforto, sorri de volta.
— Querida – me viro para olhar minha tia Melissa que me chamou – tem um rapaz muito bonito lá fora querendo falar com você.
— Rapaz muito bonito… – repito em um sussurro tentando pensar quem poderia ser ao mesmo tempo que me dirigia a porta da entrada.
Através da tela da porta vejo Eduardo parado de costas para a casa, ele estava com uma jaqueta preta e segurava um capacete de moto e batia o pé repetidas vezes no assoalho.
— Oi — falei e ele se virou me olhando com um sorriso que se destacava na noite pouco iluminada da varanda.
— Você quer dar uma volta comigo? – ele parecia um pouco ansioso.
— Claro. – sem pensar muito segurei a mão que Eduardo esticou para mim e fui até sua moto que estava estacionada na frente de casa, ele me deu um capacete e me ajudou a subir na moto. Saímos com uma velocidade razoável mas mesmo assim me assustei com o barulho que a moto vez e como instinto apertei com mais força a cintura dele, Eduardo até se virou para perguntar se eu estava bem, respondi que sim, ele sorriu e acelerou um pouco mais.
Eu estava me sentindo tão bem ali com ele, a velocidade o perfume dele que preenchia cada espacinho entre a gente, e nem percebi quando tirei o capacete e coloquei entre a gente deixando o vento balançar meus cabelos e abri meus braços e gritei, gritei porque eu estava me sentindo livre, estava me sentido completa e nem sabia o porque.
Paramos no topo de uma estrada que não dava a lugar nenhum mas tinha uma visão incrível da cidade, desci da moto com a ajuda de Eduardo, entreguei o capacete a ele e me aproximei da beirada da estrada que dava a lugar nenhum, as luzes da cidade de onde estávamos parecia até pisca pisca que não piscavam.
— É bonito né? – ouvi a voz de Eduardo como um sussurro no meu ouvido, sabia que ele estava atrás de mim e bem próximo porque senti sua respiração em meu pescoço, então permaneci parada olhando pra cidade.
— É muito bonito – engoli em seco e segurei a barra do meu vestido que voou com uma brisa forte que passou por nós – porque você me trouxe aqui? – senti uma mão do Eduardo passar pelo meu pescoço e tirar meu cabelo do lugar que estava e jogando pro outro lado.
— Fiquei sabendo que hoje é seu aniversário e gostaria de te dar um presente, e sim eu poderia ter te presentiado na sua casa mesmo, mas – ele para por alguns segundos – eu pensei em ter você pra mim só um pouquinho. – sorri com sua confissão, Eduardo encostou o nariz entre meus cabelos perto da minha orelha eu não consegui segurar um pequeno gemido.
— E qual é o meu presente? – perguntei de uma vez pois o ar já me faltava com a aproximação dos nossos corpos. Ele pediu para que eu ficasse parada no mesmo lugar e fechasse meus olhos, fiz o que ele pediu e ouvi um barulho de uma caixinha sendo aberta, logo em seguida senti algo tocar a parte da frente do meu pescoço, era gelado e me fez ri, Eduardo pediu para que eu segurasse meu cabelo, eu fiz assim já tendo uma ideia do meu presente.
— Pronto, pode abrir os olhos. – ele se afastou um pouco de mim.
Ao abrir meus olhos a primeira coisa que vi foi a luzes da cidade um pouco desfocada, assim que minha visão estabilizou olhei para meu pescoço e vi aquela correntinha que tanto me fez falta, ela brilhava de uma maneira que nunca havia visto brilhar, passei minhas mãos nela e senti uma felicidade preencher cada pedacinho do meu corpo e da minha alma. Me virei para o homem de olhos cor de mel.
— Mas como… quando…. – perguntei um pouco desorientada, ele sorria – eu não entendo.
— Ano passado eu vim passar o final de ano aqui com meus pais depois de muitos anos sem colocar os pés nessa cidade – ele olhou pro chão e pareceu estar lembrando de algo – eu decidi ir ver os fogos na praia, estacionei meu carro de frente com o mar e sentei no capô enquanto observava as pessoas se preparando para a virada do ano, e foi aí que eu te vi – ele me olhou novamente – com um vestido branco, um sapato amarelo e a jaqueta vermelha – sorri com a forma carinhosa que ele falava de mim – você parecia feliz com sua irmã e seu cunhado, eu observei vocês por um longo tempo, eu pensei em me aproximar mas não sabia se seria certo – ele faz uma pausa – você acredita em amor à primeira vista Sabrina? – Eduardo se aproximou mais e eu pude sentir sua respiração, o hálito de champanhe que provavelmente ele bebeu antes de sair de casa, o seu corpo quente que encostava no meu, eu mudava meu olhar dos seus olhos pra sua boca em uma rapidez que eu não controlava, vi quando ele sorriu e depois disso me beijou.
O beijo dele era quente, intenso, com uma das mãos ele segurava minha cintura e a outra ele segurava meus cabelos e me puxava mais a cada movimento de nossas línguas, eu nunca havia me sentido tão desejada como naquele momento e eu gostava daquilo. Senti ele se afastar e encostar a testa na minha ainda me segurando, só aí percebi o quanto estava sem ar, ele estava na mesma situação e tentava puxar o ar com mais força.
— Aonde você achou? – perguntei com dificuldade e aproximei nossas bocas novamente. Ele me beijou de novo mas dessa vez foi um beijo curto e lendo, fazendo com que cada parte do meu corpo se arrepiasse e internamente pedisse por mais. Eduardo afastou seu rosto novamente e me olhou nos olhos, ele passou os dedos entre as mechas do meu cabelo é com a outra mão que ele estava segurando minha cintura agora ele acariciava minha bochecha com o polegar.
— Eu vi você procurando alguma coisa depois de assoprar a vela do cupcake e pelo seu desespero e sua tristeza quando você não achou deduzi que fosse algo importante pra você – ele beijou a ponta do meu nariz – então quando você se afastou um pouco fui até onde você estava e procurei, eu já estava desistindo mas a luz dos fogos refletiu no colar e eu achei – ele desceu a mão pra minha cintura de novo me puxando contra seu corpo e me arrancado mais um gemido.
— E você guardou o colar esse tempo todo?
— Eu tive esperanças de encontrar você novamente. – ele sorriu – eu meio que pedi você de presente pro Papai Noel. – nós rimos.
— Que bom que ele atendeu seu pedido.
Fui para a praia com o Eduardo e encontrei minha irmã e meu cunhado na areia e eles seguravam o cupcake que me davam todos os anos. Assobrei a vela desejando mais uma lista de desejos para o ano que iria iniciar à alguns minutos. E desejando que aquela história com o homem dos olhos de mel mais bonitos que já tinha visto em minha vida fosse além de uma paixão de momento, eu queria mais dele, queria que funcionasse a ponto de eu poder finalmente construir uma família.
Eduardo pegou na minha mão quando nossos pés tocaram a água, eu o olhei e vi seu semblante sereno e feliz e naquele momento tive certeza que eu iria fazer o possível e o impossível para ficar pra sempre com aquele homem.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro