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Personagens introduzidos neste capítulo:
☾✧ ━━ KHALIL (ESPÍRITO DO FOGO) ━━✧☽
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☾✧ ━━ TALES (NEFILIM) ━━✧☽
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☾✧ ━━ O passado esquecido é como uma página em branco, esperando para ser reescrito com novas histórias e lições (Professor Yakumo) ━━✧☽
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Dizer que consegui dar dez passos para fora do palácio é um exagero; eu mal tinha me despedido. Syaoran permanecia na porta, aguardando minha partida... o som de algo se arrastando atingiu meus ouvidos com uma frequência crescente. Parei abruptamente, esperando com o corpo tenso, desejando que meus sentidos estivessem enganados. Eles não atacariam fora de sua jurisdição, certo? O som de sinos preencheu meus ouvidos, misturando meu pânico com uma sensação desconhecida... olhei para onde o servo do Imperador estava e finalmente me lembrei de onde o conhecia. Meu corpo, já tenso, ficou ainda mais rígido, e a cena do sonho surgiu intensamente em minha mente: "Te aconselho a não interferir senhorita, a senhorita não está em condições para isso."
Então eles estavam realmente no meu sonho, ele e o Imperador.
O som ficou mais alto e afastei qualquer outro pensamento da cabeça. Meu corpo estava em estado de alerta e eu tentei buscar a origem do som.
— Senhorita, está tudo bem? — Syaoran perguntou parecendo enxergar a minha tensão, mas eu não dei atenção para a preocupação em sua voz.
O som vinha de dentro do castelo, o rastejar repugnante de uma maldita divindade parecia estar vindo exatamente do caminho de onde eu acabara de passar. Sabendo do tempo curto que qualquer um dali teria se esse som fosse do que eu temia, eu corri novamente para a entrada, afinal, era atrás de mim que estavam, não deixaria que atacassem a outros.
— Senhorita, o que você está fazendo? — Syaoran tentou me deter, mas eu apenas abri uma fenda diante dele e escapei pela retaguarda. Eu estava ciente de que, quanto mais fendas abrisse, maior seria o risco de ser descoberta, mas naquele instante, meus instintos gritavam mais alto, e já havia uma divindade ali de qualquer jeito. Os passos rápidos do servo do Imperador sinalizavam que ele ainda me perseguia, chamando a atenção dos guardas próximos, enquanto o estrondo de coisas se partindo me impelia a acelerar o passo em direção ao local dos meus pesadelos, e para minha surpresa, o barulho vinha da mesma sala onde estivéramos antes. Entrei sem anunciar minha presença ou me preocupar com etiqueta. Com os olhos ainda vendados, procurei desesperadamente pelo desgraçado que, sem dúvidas, me seguira até ali. O Imperador mantinha-se em guarda, porém não atacava o homem à sua frente. Quando Syaoran entrou, dei um chute na porta para impedir a entrada de mais alguém.
— O que você pensa que está fazendo? O que você é afinal de contas? — a voz fria como o gelo de Syaoran atingiu meus ouvidos de maneira ponderada, mas não deixava em dúvidas sua ameaça.
Mesmo tentando pensar racionalmente diante da situação, se a divindade atacasse o Imperador, poderia ser seu fim, ou talvez não. De repente, senti um ruah tão poderoso emanando do Imperador que me questionei se ele realmente precisava da minha ajuda. Ainda assim, eu não estava disposta a apenas observar. Syaoran, percebendo finalmente a ameaça diante de seu senhor, soltou-me rapidamente e desembainhou sua espada, mas eu sabia que uma espada não seria suficiente para deter uma divindade.
— Ei, coisa feia — chamei a atenção do homem — mas que falta de respeito, eu tenho a sensação de que você não foi convidado para o chá. Sou eu que você quer, não? Estou aqui.
— Aí está você, ratinha — ele falou com a voz maliciosa — dessa vez você não escapa.
— Acha que vai me afetar atacando outra pessoa? Pensei que vocês fossem mais inteligentes, claramente me enganei, divindade inútil.
Minha provocação provocou o efeito esperado e senti seus olhos em chamas vermelhas de puro ódio cravados em mim, deixando o Imperador livre da ameaça.
— Eu vou te matar — senti o corpo tremer com sua ameaça — sua vida me pertence, Rainha Carmesim.
— É mesmo? Então vem me pegar — falei tentando manter a voz firme.
Seus olhos vermelhos pareciam sangrar de uma maneira raivosa e descomunal. Encontrá-los nunca foi uma tarefa fácil e todas as vezes eu parecia me impressionar com o medo que sentia deles, apesar de saber que tecnicamente eu poderia matá-los sem dificuldades.
Ele me atacou uma primeira vez, ataque que eu desviei com facilidade. Depois uma segunda e uma terceira, me fazendo desviar com habilidade de todos os ataques.
— Se defenda, Rainha Carmesim — ele rosnou — se quer ter alguma chance, é melhor que lute. Mostre que sabe lutar!
— Está me achando com cara de idiota? — perguntei rindo de nervoso ao me desviar de outro ataque — quer que eu lute para ter mais essa acusação? Acho que já respondo por crimes o suficiente.
— Lute, desgraçada! — ele gritou de novo.
— Ei, quanto barulho na minha sala de descanso — o Imperador se colocou na minha frente.
— Saia da frente — a divindade gritou para ele.
— Interessante — o Imperador Qiang falou com a voz fria — tentar me dar ordens aqui não é muito inteligente para ser sincero.
— Está defendendo uma criminosa universal, Majestade — a divindade deixou seu corpo reto tentando evitar uma briga — e uma bem perigosa. Deveria repensar na sua decisão.
— Olha só — um espírito muito familiar entrou por uma fenda na sala me fazendo sorrir abertamente. Fazia muito tempo que eu não via Khalil — acho que cheguei a tempo, Rainha... E aí Tales?
Olhei para o lado e mais uma fenda foi aberta me fazendo sorrir ainda mais.
— Péssimo momento para precisar de ajuda, Rainha..., mas acho que posso fazer esse esforço para acabar com uma divindade inútil — na voz de Tales eu podia sentir a malícia escorrendo.
Tales era um nefilim, um nefilim nobre e grande amigo meu, e assim como muitos, ele tinha uma aversão gigante às divindades. Khalil, o espírito do fogo que chegou pouco tempo antes, também era um bom amigo, mas um pouco instável... se os dois estavam ali, só podia significar uma coisa...
— Acho que enfim estamos todos juntos de novo, minha doce boneca — o professor Yakumo apareceu de maneira graciosa pela porta — peço perdão, Majestade, mas precisei colocar alguns guardas para dormir.
— O que isso significa, Yakumo? — o Imperador perguntou quase rosnando, mas não se moveu da minha frente. Mesmo diante da situação incomum, ele continuou posicionando seu corpo entre mim e o meu agressor.
— Sinto muito, Majestade. Não tínhamos a intenção de causar uma comoção aqui — Yakumo respondeu, se reverenciou e se aproximou de mim — mas aqui é um dos únicos universos que não segue Himura que eu conheço e eu precisava proteger uma das pessoas mais preciosas que eu conheço.
— Vocês estão traindo Himura! — a divindade gritou — Tales, saiba que isso não ficará assim. Irei falar ao Rei sobre a sua traição, isso serve para você também Yakumo.
— Traição? — Tales cruzou os braços — mas eu não fiz nada. Apenas estou aqui, esperando para ver os olhos da Rainha Carmesim. Como pode me acusar só por isso? Posso muito bem dizer que eu estou aqui apenas como uma visita inesperada.
— Ela é um hansha — a divindade praguejou — sabe que estar aqui dá a ela a vantagem de te espelhar, isso é claramente uma traição.
— Não vejo como isso faça sentido — Tales deu de ombros.
Antes que a divindade pudesse seguir, um corvo grande e negro entrou pela janela, pairou acima da cena e em pouco tempo, voltou a ser o homem que eu conhecia.
— Ei, se vocês dois planejam seguir brincando, que tal fazerem isso em um lugar mais apropriado? — a voz inconfundível do Príncipe Corvo chegou até os meus ouvidos me dando um alívio instantâneo. Ele sempre chegava na hora certa — Estamos na sala particular do Imperador, onde está o respeito?
— Quem é você? — Khalil perguntou se colocando na defensiva.
— Está tudo bem, fique tranquilo. Não precisa me olhar de maneira tão assustadora. Eu apenas alterei um pouco a minha aparência, tenho feito isso com frequência, não há motivo para nervosismo.
— Oh, por favor. Você não está com medo dele e nós dois sabemos disso, Zyon — o Imperador falou parecendo se divertir finalmente — Então quer dizer que você tem a ver com essa confusão toda também?
— Príncipe Corvo — o alívio na minha voz foi quase instantâneo — você já conhecia o Imperador?
— Ah — o Príncipe Corvo se aproximou de mim — digamos que tive o prazer de conhecê-lo já, Rainha Carmesim.
— Que falta de educação você tem rapaz — o Imperador se dirigiu ao espírito de fogo próximo a mim — é preciso se apresentar antes de perguntar sobre a outra parte, não deveria ter falado daquela maneira com Zyon. Se me lembro bem, Yakumo me disse realmente que os espíritos de fogo podiam ser bem grosseiros as vezes.
O quê? Então o Imperador sabia de tudo o que estava acontecendo? Eu já havia notado que o ruah dele não era comum, assim como o do seu servo, mas o que eles eram? Aquilo começava a passar de maneira estranha pela minha mente.
— Sinto muito, Zyon — Khalil falou — não te reconheci com essa aparência, peço desculpas pela minha grosseria.
— Eu acabei de entrar como um corvo, você poderia ao menos ter imaginado, mas não se preocupe — ele tirou importância daquilo fazendo algum gesto qualquer com a mão — e então mocinha — o Príncipe Corvo pareceu sorrir amigavelmente, ou assim o imaginava naquele momento — eu disse que nos veríamos em breve e disse que te ajudaria.
Podia sentir o sorriso brilhante como o sol da manhã que o Príncipe Corvo me oferecia e toda a tensão que havia restado nos meus ombros foram rapidamente drenadas. Ali estava alguém em quem eu confiava a vida.
— É uma pena, Rainha Carmesim, mas acho que não temos tempo para nos sentar e ter um bate papo tranquilo... As divindades conseguem ser um pé no saco quando querem. E então, divindade, o que vai ser? — Zyon suspirou — eu preferia evitar um confronto. Você está em terras desconhecidas. As leis de Himura não valem aqui.
— Isso é um absurdo! — a divindade se posicionou para uma luta de novo — acha que eu não vou levá-la por isso? Ela pagará pelo que fez e deixarei sua cabeça a mostra se preciso for.
— Majestade — Khalil se virou para o Imperador, levou seus dois joelhos ao chão e abaixou a cabeça — peço sua proteção para a Rainha Carmesim. Se assim o fizer, ficarei para servi-lo enquanto meus serviços forem necessários.
— Eu mal posso acreditar que finalmente pude te trazer de volta, Rainha Carmesim — Zyon sorriu — deu trabalho, mas a fronteira para esse universo finalmente foi aberta para você novamente. Majestade — Zyon fez o mesmo que Khalil e se ajoelhou para o Imperador a nossa frente — Peço sua proteção para a Rainha Carmesim. Se assim o fizer, ficarei para servi-lo enquanto o dever como sucessor dos Malphas não me for solicitado.
— O que você está fazendo, Zyon? — perguntei, abrindo mais os olhos. Afinal, o que o Imperador era, para que até mesmo o Zyon se curvasse?
— Então é isso? — a divindade abaixou sua arma entendendo algo além da minha compreensão — A Rainha Carmesim nasceu aqui?
— Uma hora ou outra ela voltaria às suas origens — Tales deu de ombros — Parece que as divindades usam o cérebro as vezes. Não gosto de você Majestade Qiang, na verdade tenho até uma certa aversão a tudo o que te rodeia, mas engolirei isso e pedirei a sua proteção para a Rainha Carmesim e enquanto ela estiver aqui, pode contar com a minha ajuda também.
— Majestade — Yakumo por fim se pronunciou também — peço a sua proteção para a Rainha Carmesim, que nasceu próximo e cresceu neste palácio. Peço a sua proteção para uma cidadã do seu reino que está sendo julgada injustamente, além disso, deixe-me te informar que o que o senhor procura está mais próximo do que imagina. Se a proteger, eu ajudarei a solucionar a ameaça que ronda Yeou.
— Não precisa tirar a venda, majestade — Zyon falou parecendo despreocupado — Não há falsidade em nossas palavras e ainda espero que isso seja resolvido de maneira pacífica.
— Venda? — minha surpresa era nítida, mas o Príncipe não me ouviu.
— Fala sério — o Imperador soltou um riso frouxo ao se dirigir a mim — para uma Hansha você não ajuda muito, não é? Syaoran, a partir de agora, pelo menos por enquanto, a moça terá a nossa proteção. Espero que tenha uma boa explicação para tudo isso, Zyon. Não estou a fim de fazer sua cabeça rolar.
— Venha. Não precisa ter medo — Syaoran apareceu rapidamente do meu lado e me ofereceu a mão — Você nos tem agora. Vamos mantê-la segura.
Essas pessoas, essas palavras... Eu comecei a rir de desespero, aquilo era mesmo possível? Tanto o Imperador como o seu servo reproduziram com perfeição a mesma fala que eu sonhei noite após noite.
— Você está bem, Ohime? — o professor Yakumo me perguntou estranhando minha reação.
— Depois de anos — eu falei parando de rir — depois de anos escutando as mesmas falas, vocês tinham mesmo que reproduzir tão fielmente aquele maldito sonho? Poxa... não sei se fico aliviada ou assustada, mas preciso te falar uma coisa, Majestade... você é insuportável.
— Estou ofendido — ele respondeu sem de fato parecer se importar com aquilo enquanto interceptava a divindade que tentou um ataque surpresa contra ele — Depois da conversa tão agradável que tivemos hoje...
— Você é um Hansha, me sinto enganada.
— Será que a discussão de vocês dois não pode esperar um pouco? — Khalil perguntou em um suspiro. Um grito horrível saiu da garganta do homem a nossa frente enquanto ele desesperadamente se jogava tentando me alcançar.
— Vamos, apressem-se. Acho que a divindade escolheu o caminho mais difícil no fim das contas. Ohime, você terá que selá-lo para mandá-lo de volta para casa se não quiser matá-lo — Zyon nos chamou a atenção se defendendo, claramente tentando não matar o homem que atacava a todos em uma tentativa desesperada de chegar até mim.
— Quem morreu e fez de você o líder? — o Imperador perguntou de maneira orgulhosa — Mas tudo bem, em suas marcas eu suponho.
— Todos ao meu redor morrem... isso sem contar o apocalipse que eu causei — eu falei em um sorriso triste — Tento a todo custo não ficar em um único lugar para que ninguém corra mais esse risco... e aqui estão vocês, juntos de novo por mim.
— O que você disse? — o Imperador Qiang Huang perguntou na tentativa de escutar novamente o que eu falei.
— Ohime, isso não foi sua culpa... — Yakumo tentou se aproximar — Você sabe disso.
— Não — respondi — eu não sei e esse é o problema, mas estou cansada. Fugir pode ser bem cansativo as vezes. Você venceu Zyon, aceitarei a sua ajuda. Quero acabar com isso de uma vez.
— Ah — Zyon pareceu satisfeito — então, a Rainha Carmesim finalmente se decidiu a parar de fugir. Gosto dessa atitude.
— Que admirável — o Imperador pareceu sorrir — espero muito não ter que juntar seus pedaços futuramente.
— Quanta amabilidade, Majestade — sorri também me sentindo mais relaxada do que eu esperava — acho que eu me enganei, você é ainda mais insuportável fora dos meus sonhos. Infelizmente, eu não tenho mais condições de aumentar as mortes nas minhas costas. Isso é algo que eu tenho que fazer, uma hora eu teria que parar de fugir.
— Me sinto lisonjeado por saber que anda sonhando comigo, senhorita — o Imperador falou e eu ri.
Eu tinha que ficar bem, eu tinha que conseguir fazer aquilo. Eu não podia ficar fugindo para sempre. 7 bilhões de pessoas morreram por uma doença pulmonar causada por mim, mesmo que indiretamente e apesar de me sentir culpada, eu também não queria morrer, mas estava cansada de fugir.
— Eu gosto desse fogo em seus olhos — Zyon riu — mas não os abra, por favor, não por enquanto pelo menos. Abriremos caminho para a Rainha Carmesim, então.
— Obrigada, Príncipe Corvo — falei realmente agradecida e com um alívio nítido em minha voz — Me emprestem os seus poderes.
Sem esperar muito tempo, eu abaixei a minha faixa, controlei o fluxo do meu ruah e abri os olhos. Cada ruah era refletido por mim de maneira calorosa e aproveitei a visão que meus olhos captavam. Eu queria ter tempo de ver a aparência de cada um ali, mas sabia que não tinha tempo e antes de sucumbir ao meu desejo de fazê-lo, eu desenhei uma estrela de seis pontas no ar e recitei o meu selo, o selo na qual eu já havia prendido tantos outros seres: "Nam omnis iste dolor." A divindade a minha frente se debateu sentindo o calor do meu ruah o queimando.
— Que nostalgia ver a Rainha Carmesim de novo — Zyon estava realmente feliz com aquilo.
Sentindo como Zyon entregava mais de suas forças para mim, eu recitei o resto "Regina, fac illud ardere". A divindade se contorceu em gritos desesperados de agonia, para a sorte dele, ele seria liberto assim que chegasse na sua casa, eu não tinha a intenção de matá-lo e nem de mantê-lo preso no vazio por muito tempo. O som de diversos sinos tocando novamente preencheu o ar e no momento seguinte toda a minha visão foi tomada por uma grande luz branca deixando-me completamente cega por um momento, quando minha visão voltou, só havia um resto de energia que o meu selo havia deixado para trás.
Respirei fundo e imagens minha fazendo isso em outras épocas preencheu a minha cabeça me deixando tonta repentinamente, ocasião que me fez fechar os olhos no mesmo momento.
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