☾✧ ━━ 59 ━━ ✧☽
Personagens introduzidos neste capítulo:
☾✧ ━━ KOARU (KITSUNE) ━━✧☽
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☾✧ ━━ ANTON (KITSUNE) ━━✧☽
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☾✧ ━━ NATSUME (KITSUNE) ━━✧☽
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☾✧ ━━ É difícil virar as costas quando vejo alguém precisando de ajuda sabendo que poderia ser eu em seu lugar (Natsume) ━━✧☽
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Apenas pelo ar mais puro, já podia definir que estávamos próximos da vila.
— Quero descer aqui — falei, precisava de um pouco de ar.
— Mas Majestade, ainda não chegamos — escutei o cocheiro dizer.
— Não escutou o Imperador? — Syaoran falou de maneira fria — ele quer caminhar um pouco, não o faça repetir as ordens.
A carruagem parou, eu desci e coloquei a mão em um tronco de uma árvore enquanto um vento forte me envolvia. Era refrescante estar ali. Caminhei por volta de dez minutos até chegar à aldeia.
— Bem-vindo, Majestade.
Uma fileira de cada lado de kitsunes estava na entrada da aldeia para me receber, todos se reverenciaram e pareciam felizes com a minha chegada.
— Mestre — a voz de Húlí chegou de maneira estridente aos meus ouvidos — eu estava aguardando a sua chegada!
Ele deu um passo à frente da fila.
— Húlí — minha alegria era nítida ao vê-lo — Já faz um tempo.
— Sim — ele respondeu, mas sem perder a animação — Estou feliz em ver que vocês dois estão bem. Então, vamos. Hoje à noite prepararemos um banquete para o senhor, Majestade.
Ele saiu apressado, como se não precisasse falar mais do que uma vez. Gostava daquele espírito dele e apenas o segui. Fui para a casa que todas as vezes era reservada para mim. O palácio da aldeia era modesto, mas aconchegante.
— Vamos chamá-los quando o banquete estiver pronto — ele parou na porta e faz uma reverência — por enquanto, sintam-se à vontade. Sinto informar que devido ao trabalho, mestre Anton não pode comparecer ao banquete desta noite.
— Já soubemos disso — Syaoran respondeu.
— Ah, claro... sinto muito. E então, hum...
— Húlí — o chamei e estreitei os olhos por trás da faixa enquanto olhava-o detidamente, seu ruah estava agitado de uma maneira nervosa — O que aconteceu?
Ele ficou quieto, parecendo pensar se deveria ou não falar alguma coisa.
— Não é preciso ser um estudioso para ver que você está agindo de forma estranha — falei encorajando-o.
— Apesar de não ver a sua Majestade há algum tempo, você está extremamente dócil, muito mais do que seria normalmente, Húlí — Syaoran complementou.
— Não, eu não estou — ele emburrou — Por que eu ficaria feliz em ver sua Majestade?
Ele negou prontamente, mas depois olhou detidamente para a residência que iria ficar.
— Agora, devo sair para preparar o banquete — ele fez uma reverência final e fugiu rapidamente.
Seu comportamento era estranho, mas evitei pensar naquilo.
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Quando chegou à noite, começou o banquete em minha homenagem.
— Esperamos tanto pelo seu retorno, Majestade — uma Kitsune falou ao se aproximar.
O jantar apenas havia começado e, no entanto, várias Kitsunes se aproximavam para me cumprimentar, todas com saquês em mãos.
— Preparamos um saquê de alta qualidade para comemorar a sua chegada — a jovem voltou a falar.
— Obrigado — agradeci assim que ela me entregou a bebida enquanto lhe oferecia um sorriso amável.
— Muito tempo se passou desde a sua última visita — ela seguiu — Espero que tenha considerado a nossa oferta de ficar no palácio da montanha.
— Quem sabe — respondi vagamente para não dizer que não iria aceitar a proposta por um bom tempo ainda.
— Por favor, o senhor sabe que aqui será muito mais seguro para o senhor. Sem a intromissão dos humanos. Embora eu duvide muito, não podemos permitir que você se sinta sentimental sobre eles...
— Pare de tagarelar — uma outra kitsune entrou na conversa — Vossa Majestade jamais se rebaixaria a tão baixa raça.
— Eu sei, mas... — a primeira voltou a dizer.
— Eu não sabia que servir saquê levava tanto tempo — falei um pouco irritado. As duas kitsunes se curvaram com a minha repreensão e rapidamente saíram.
Eu não via seres humanos como inferiores e nem poderia, além disso Ohime jamais me perdoaria se eu os considerasse assim. Além do mais, eram meus súditos assim como as Kitsunes e eram a minha origem.
Mesmo que eu quisesse estar tranquilo, aquela era a minha recepção, menos mal que ali eu podia manter os olhos fechados enquanto mais e mais aldeões me abordavam para dar as boas-vindas e depois de algum tempo a fila finalmente pareceu chegar ao fim.
— Já faz um bom tempo, majestade — um jovem se aproximou.
— É verdade, Koaru — respondi enquanto Koaru alegremente me servia outra taça de saquê — Eu acredito que não houve nenhum problema enquanto eu estava fora, estou certo? Tenho certeza que não, considerando que é de você que estamos falando.
— Estou honrado por Vossa Majestade pensar tão bem de mim — meu representante na vila respondeu sorridente — Eu humildemente cuidei dos preparativos do festival em seu lugar antes da sua chegada — Kaoru falou com orgulho e olhou em volta para as outras kitsunes se divertindo com suas bebidas antes de abaixar a cabeça e a voz — este festival é uma chance para que Vossa Majestade mostre suas habilidades de liderança, faremos de sua estadia aqui um enorme sucesso.
— Eu sabia que estava certo em escolher você — olhei para o meu entusiasmado atendente com um olhar e um sorriso satisfeito.
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Universo: Faaliye (Quadrante 2)
Planeta: Azuma
País: Yeou
Data local: Liù, 9 Pí Ting de 1503 do novo reinado Qiang (inverno)
Data Universo Homines (Planeta Terra - Brasil): Terça, 24 de fevereiro de 2015 (verão)
Já haviam se passado alguns dias desde que o Imperador viajou para a aldeia e as coisas pareciam tecnicamente tranquilas pela capital. Obviamente todos sabiam que não deveriam baixar a guarda.
— Ei, como vão as coisas na loja? — Zyon perguntou para um lojista conhecido dele.
— Maravilhosas, graças a sua ajuda — ele respondeu realmente agradecido.
— Ah, fico feliz em escutar isso. O senhor tem certeza de que não deveria ir embora com os outros refugiados?
— Ah, não — o lojista falou calmamente — minha vida inteira está aqui, não tenho a intenção de deixar a minha casa.
Enquanto ele o dono conversava em frente à loja familiar do homem, uma mulher com aparência triste passou.
— Ainda não conseguiu encontrar a sua filha? — o dono da loja perguntou.
— Não... — a voz chorosa da mulher fez Zyon olhar automaticamente para ela com o coração aos pulos.
— Lissa? — de repente o mundo de Zyon pareceu desabar — O que aconteceu?
— Sua filha está desaparecida há alguns dias — o dono da loja praticamente sussurrou os acontecimentos para Zyon — ela inclusive perguntou de você, mas ninguém sabia onde o senhor estava.
Zyon fez um sinal qualquer com a mão e puxou Lissa pelo braço, ele olhou para o rosto acabado de sua filha, sem dúvidas havia chorado muito.
— Ela foi sequestrada? — Zyon perguntou tentando conter sua ansiedade.
— Eu honestamente não tenho ideia. Ela estava brincando no navio com a Aya. Ela desapareceu de repente, a Aya jura que viu uma raposa pouco antes de perdê-la de vista, ela jura que uma raposa a levou embora... pai, me ajuda...
— Uma raposa, né? — Zyon colocou a mão na cintura. A raiva queria explodir dentro dele, ele mataria qualquer um que ousasse tocar na Kat, faria questão de não deixar sobrar nada... — Venha Lissa, vamos primeiro para a minha casa. Como você veio até aqui?
— Aylin me ajudou, mas só eu consegui vir — mais lágrimas escorreram pelo rosto de Lissa deixando rastros em seu rosto já sujo — o feitiço que ela fez me fez seguir o rastro da Kat, mas o rastro estava fraco, só consegui chegar até aqui... pai, se eu não a encontrar de maneira pacífica, irei matar a todos até que ela apareça.
— Nós iremos encontrá-la.
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Eu já estava esgotado mentalmente de examinar os relatórios de cada responsável por partes do evento, mas aparentemente estava indo tudo bem.
— Sem problemas aqui — falei para Syaoran que tinha os olhos fixos em outro papel.
— Os preparativos estão avançando sem demora — Syaoran falou sem perder a concentração.
Enquanto repassávamos a programação do festival, uma voz de repente surgiu de fora da sala.
— Qual o significado disso?
— Essa voz — meu humor rapidamente caiu quando a escutei.
Saímos da sala para encontrar três kitsunes no corredor.
— O que você estava pensando — Kaoru repreendia Húlí com raiva enquanto outra Kitsune estava apenas calada olhando.
— Sinto muito — Húlí respondeu preocupado enquanto mantinha os braços cruzados ao lado de Koaru.
— Não há nada que possamos fazer sobre o que já aconteceu — Kaoru continuou — Ouça, nem uma palavra disso pode chegar a Sua Majestade.
— Por que não? — perguntei assustando Koaru — Se a intenção era me esconder isso, claramente não deveriam estar discutindo na minha porta.
— Ma... Majestade — Húlí gaguejou.
Os três se viraram em choque total e abaixaram a cabeça.
— Peço desculpas por causar tal perturbação — Kaoru se apressou em dizer — mas não é nada com que o senhor precise se preocupar, Majestade.
— Isso sou eu quem irei decidir — respondi deixando claro que não aceitaria outra recusa.
— Entrem — Syaoran os convidou para entrar na sala enquanto eles seguiam olhando para o chão.
— Não me façam esperar — eu entrei e em poucos segundos todos eles já haviam entrado — Agora, vocês irão explicar o que está acontecendo?
Húli suspirou e se encolheu um pouco.
— Permita-me — Kaoru ajeitou a coluna deixando-a reta e olhou para o menino parado ao lado de Húlí — Este servo, Natsume, trouxe uma criança humana para a aldeia...
— Um humano... — eu praticamente sussurrei.
Uma energia nervosa percorreu a sala e a luz de Natsume pareceu empalidecer e encolher pelo medo.
— E onde está esse humano agora? — Syaoran perguntou cruzando os braços.
— Escondido, na casa de Natsume — Kaoru respondeu prontamente. Tínhamos sorte de ninguém ter notado, mas isso se tornaria um pandemônio assim que alguém o fizesse.
— Por favor, não o repreenda muito por isso — a voz de Húlí tremeu enquanto ele me implorava jogando o corpo inteiro ao chão — Natsume é meu melhor amigo e eu sei que ele é terrivelmente gentil, por isso trouxe uma criança para aldeia, ele a salvou.
— Para salvá-la? — perguntei, sei que minha voz parecia dura, mas trazer um humano para a vila das Kitsunes era uma coisa proibida e podia colocar em risco toda a aldeia.
— Sim, ela é apenas uma garotinha — Húlí seguiu com a cara pegada no chão, mas falava alto o suficiente para se fazer ouvir — Natsume a encontrou quando ela caiu na entrada da vila. Ela provavelmente se perdeu na floresta, ela parecia ausente e estava com febre alta. Ele não podia deixá-la para morrer ali e a abrigou. Além disso ela não tem nem um dos braços e nem uma das pernas, ele se preocupou de que ela pudesse ser devorada por algum animal.
Como uma garota sem braço e sem perna podia ter chegado até a entrada da aldeia? Outro arrepio nervoso percorreu meu corpo, eu estava com um sentimento terrivelmente ruim.
— Isso é verdade, Natsume? — perguntei para a Kitsune apavorada ao lado de Húlí.
— Sim... — Natsume finalmente virou o seu olhar e falou com uma voz rouca — Sinto muito por agir sozinho, mas eu pensei que a doença dela seria curada, se ela entrasse em contato com a vontade do fogo.
— A vontade do fogo? — perguntei tentando entender o raciocínio da pequena raposa.
— Sim, da grande tocha que dizem queimar sem parar durante o festival — Húlí explicou no lugar do amigo — Natsume pensou em trazer a garota para o festival para que ela pudesse se banhar no fogo.
— Isso é um absurdo — Embora Syaoran estivesse assistindo em silêncio até aquele momento, ele finalmente os interrompeu com um suspiro — o fogo do festival é uma chama sagrada destinada a iluminar o caminho para a prosperidade da aldeia. O desejo da boa saúde é necessário para esta prosperidade, mas isso não quer dizer que é algo literal, a chama não pode curar qualquer doença.
— Não... não pode? — tendo sua crença inabalável quebrada, Natsume olhou para baixo em desespero.
— Quaisquer que sejam as circunstâncias, não posso ignorar isso — Kaoru falou com a sua voz retumbante — Que um humano esteja agora aqui na aldeia é um problema em si. Esta não é uma ofensa que será facilmente perdoada.
Eu observei silenciosamente enquanto o aviso de Kaoru colocava Natsume no limite. Olhei para Natsume, com os nervos quase explodindo seu corpo.
— Quando você ouviu falar disso, Kaoru? — perguntei me virando para ele.
— Só agora. Enquanto eu caminhava pelo corredor, por acaso ouvi Natsume e Húlí conversando sobre um humano — Kaoru respondeu humildemente e então atirou em Natsume o que eu suponho que tenha sido um olhar reprovador e severo — nenhum humano é permitido na aldeia. Essa é uma regra de longa data. Especialmente agora, quando estamos prestes a realizar um de nossos ritos mais sagrados.
— Eu entendo — Natsume abaixou a cabeça novamente.
— Você entende o que poderia acontecer se esse segredo vazasse e o festival terminasse em fracasso? Pense nos problemas incalculáveis que você estaria causando a Sua Majestade.
— Eu... eu sinto muito — Natsume se curvou tão baixo que sua testa bateu no chão, assim como Húlí fez e estava até então — Eu entendo que agi precipitadamente, mas eu simplesmente não podia deixá-la sozinha.
— Natsume era doente quando era criança, Majestade — Incapaz de ficar em silêncio por mais tempo, Húlí voltou a implorar por seu amigo — ele era muito, muito doente. Tendo passado por tudo o que passou, ele não poderia virar o olhar quando viu a pobre menina e fingir que nada aconteceu. Então, por favor, não o repreenda com tanta severidade.
— Húlí... — a voz de Natsume estava cortada por um choro entalado na garganta.
— Mas... — Kaoru tentou falar, mas eu o interrompi.
— Pare Kaoru — tentei manter a raiva de Kaoru sob controle enquanto lentamente olhava para os dois pequenos a minha frente — eu entendo a situação. Syaoran.
— Sim?
— Leve a criança humana ao médico. Podemos confiar nele.
— Entendido.
— Majestade, o senhor realmente pretende ajudar o humano? — Kaoru pareceu espantado com a minha decisão.
— Teríamos mais problemas em mãos se ela morresse aqui, e mais pandemônio se ela fosse vítima de uma doença infecciosa — expliquei o que eu não deveria nem precisar explicar — além do mais, ela também faz parte do meu reino, meu tratamento especial a vocês não pode colocar em risco a vida de outros nos meus domínios. Além do mais, há coisas que devo perguntar a essa criança. Como diabos ela conseguiu cruzar a barreira, por exemplo, ou como chegou até aqui não tendo uma das pernas?
— Essa é uma pergunta pertinente, mas... — Kaoru tentou engolir as minhas palavras a todo custo.
— Assim que ela estiver curada, eu a enviarei imediatamente de volta para a Capital. Natsume e Húlí, levem Syaoran para onde vocês estão mantendo a garota escondida.
— Sim, Majestade — a vida pareceu voltar para a luz e para a voz dos dois quando eles se levantaram rapidamente.
— Muito obrigado, Majestade — eles agradeceram fazendo diversas reverências.
— Apenas se apressem agora e tomem cuidado para não chamarem atenção.
— Sim, majestade.
Syaoran seguiu Natsume para fora da sala, mas Húlí parou um pouco antes de sair pela porta e se virou.
— Sim? — perguntei ao notar a hesitação do garoto.
— Não, não é nada — ele mudou de ideia — Obrigado, majestade.
Ele pareceu querer desviar o olhar de mim enquanto expressava a sua gratidão e finalmente saiu da sala.
— Eu realmente sinto muito por tudo isso, majestade — Kaoru esperou que o som dos passos do lado de fora desaparecesse antes de se virar para mim — tudo isso aconteceu porque eu não fui cuidadoso o suficiente.
— Você não tem culpa nisso.
— Discordo. Se eu tivesse observado melhor as pessoas ao meu redor, isso nunca teria acontecido. E pensar que de todos os desastres, foi acontecer logo o do pior tipo — suas mãos se fecharam em punhos, sua frustração era aparente em todo o seu corpo, mas em sua luz a frustração chegava a ser gritante — E eu luto para entender por que Natsume se preocuparia tanto por um ser humano. Nós não temos permissão para sermos tão amigáveis com os humanos. Se fossemos, já estaríamos extintos há muito tempo.
— Felizmente, apenas as cinco pessoas que se reuniram nesta sala sabem deste acidente. Enquanto lidarmos com isso com a devida diligência, tudo terminará sem incidentes.
— Entendido, Majestade.
Embora ele não parecesse totalmente satisfeito com a forma como esse evento terminou, ele apenas acenou com a cabeça e se retirou.
Assim que a noite caiu, eu saí para dar uma volta pela vila. Gostava de estar ali e gostava especialmente da liberdade que tinha quando visitava a aldeia das Kitsunes.
— Majestade — uma jovem Kitsune me parou pouco tempo depois de eu ter saído.
— Boa noite — eu sorri para ele — vejo que os preparativos estão indo bem.
Eu não estava vendo realmente, mas se algo estivesse errado sem dúvidas eu já saberia.
— Sim! Faremos tudo o que pudermos para que seja um sucesso para o seu bem — uma outra jovem falou de maneira animada.
— Estou feliz em ouvir isso — ri e olhei em direção ao local do festival. Via muitas luzes de Kitsunes trabalhando diligentemente, mas uma das luzes se destacava enquanto se dirigia a mim e eu nem precisava enxergar para entender que devia segui-lo.
— E a criança? — perguntei assim que entramos em um beco um pouco mais afastado.
— Embora ela esteja em um estado delicado, ela recuperou a consciência — Syaoran respondeu calmamente — Apesar da aparência frágil, felizmente não passa de um resfriado terrível e não parece ser infeccioso. O remédio da aldeia é muito potente, portanto, é do interesse dela que ela seja devolvida a Capital imediatamente, mas devo admitir que nunca vi criança como aquela antes.
— O que quer dizer?
— Um dos seus braços e uma das suas pernas foram substituídas por perna e braço mecânico, nada parecido as próteses que usamos por aqui.
— Entendo — respondi imaginando como levaríamos a criança até lá enquanto novamente tentava entender meus instintos gritando, me indicando a aproximação do perigo.
— E como ela ainda é bem jovem, ela deseja desesperadamente ver sua mãe — Syaoran seguiu — ela enrijeceu ao ver as orelhas de Húlí e começou a chorar sem parar dizendo para não a matarem — ele suspirou — que aborrecimento.
— Ela deve estar confusa, talvez com medo — eu ri de maneira desprovida de humor imaginando como a garota devia se sentir naquele momento.
— Dizem que a saúde mental de uma pessoa pode afetar sua saúde física, por isso devemos devolvê-la à família em breve.
— Concordo — acenei brevemente.
— Então vou levá-la para a Capital amanhã — ele se prontificou.
— Não — respondi tranquilamente — Kaoru fará isso, mas fará ainda essa noite, é melhor não esperar com a garota aqui.
— Mestre Kaoru? — Syaoran perguntou confuso.
— Seria muito suspeito que você volte para a Capital quando todos sabem que sempre me acompanha em todo o processo do festival. Seria muito mais crível dizer que eu enviei Koaru para entregar algum recado por mim ou algo do tipo.
Olhei para as poucas luzes das lanternas do festival que passavam pela minha faixa, luzes muito diferentes das que eu via nas pessoas em geral. Por algum motivo, eu sabia que aquela seria uma das últimas vezes que veria a aldeia de maneira tão pacífica.
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Era um saco... tinha que admitir que era um tédio quando o Imperador não estava. Até mesmo as patrulhas cessaram enquanto ele estava fora, por ordens dele mesmo. Estava caída na varanda sem fazer nada em particular quando Zyon apareceu de surpresa por uma fenda.
— Desculpa pela visita repentina — ele se sentou ao meu lado enquanto eu seguia esparramada com o rosto virado para o céu, que possivelmente estava bem estrelado.
— Tudo bem — dei de ombros — aconteceu alguma coisa?
— Preciso que me faça um favor — ele não entrou em rodeios, o que era bom e preocupante ao mesmo tempo — Você poderia enviar uma mensagem para o Imperador?
Ele queria que eu enviasse uma mensagem para Qiang? Por quê? Me sentei curiosa com esse pedido repentino e antes que eu perguntasse o motivo, ele seguiu:
— Eu preciso perguntar a ele sobre uma coisa, mas eu nunca estive na vila das Kitsunes antes e além do mais a sua mensagem consegue alcançá-lo ainda esta noite, certo? Tentei abrir uma fenda até lá, mas sem visualizar o lugar fica realmente difícil.
— Não me importo em mandar uma mensagem para ele, mas o que aconteceu?
— Alguns dias atrás, uma garotinha desapareceu — ele suspirou.
— As pessoas andam desaparecendo ultimamente Zyon, o que o Imperador vai poder fazer estando na aldeia?
Ele suspirou mais uma vez e me relatou com a voz grave sobre o que aconteceu ainda naquele dia mais cedo e na crença de que a sua neta tinha sido levada por uma raposa.
— Se Aya realmente viu uma raposa, e o rastro da Kat acabou nesse mundo, há uma chance de uma Kitsune estar envolvida no desaparecimento dela. Se for um mal-entendido, podemos solucioná-lo, se não for, já sabemos sobre mais um ser que está por trás dos ataques. É bem simples. Como o Imperador está lá, quero saber se ele tem alguma ideia do que aconteceu ou se ele pelo menos pode tentar descobrir alguma coisa.
A tranquilidade do Zyon me assustou, sua luz mostrava um ódio descomunal e ele sem dúvidas estava se controlando muito.
— Entendi — o raciocínio dele era bem lógico apesar de tudo — Irei enviar uma mensagem agora mesmo e olha, não se preocupe, iremos achá-la.
— É bom que achemos mesmo — ele suspirou — eu não irei responder por meus atos e sem dúvidas não irei parar a Lissa — só quem já havia presenciado a Lissa matando poderia entender o mal-estar que tomou conta de mim ao ouvir aquilo.
Senti uma onda de adrenalina percorrer meu corpo.
Levei meu ruah até a palma da minha mão e vi uma borboleta vermelha e negra sendo formada. "Por favor, vá até o Imperador o mais rápido que puder". Apenas murmurei essas palavras para o ruah na minha mão e com isso ele seguiu para o céu azul escuro da noite. Preferi ocultar que a menina era neta de Zyon, pelo menos até ter uma resposta dele. Não queria acusar ninguém injustamente e certamente não queria que ele se preocupasse quando estava tentando manter suas alianças intactas.
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