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☾✧ ━━ Preocupar-se profundamente com alguém que ama é o reflexo do carinho e cuidado que esse amor genuíno inspira, mas isso deixa de ser amor quando tiramos a liberdade de quem queremos proteger, eu sabia disso e sabia que me doeria deixá-la. (Qiang Huang) ━━✧☽
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— Agora que elas já foram, talvez vocês queiram se explicar? — virei em direção a Zyon, Professor e Tales.
— Ohime está definhando — Zyon deu de ombros — eu só estava preocupado. Só quero saber o que ela tem.
— Ela está triste, é isso que ela tem — falei suspirando — quando alguém se entrega para a tristeza, ou quando a tristeza é grande demais é isso que acontece.
— Tem certeza de que é só isso? — Zyon bufou — então é só deixar ela feliz de novo.
Eu respirei fundo, sair de uma tristeza como a da Ohime não era fácil e eu bem que queria ajudar, mas meu medo era grande também. Como eu explicaria para eles que a maneira certa de ajudá-la seria deixando ela livre para ajudar no que quisesse, mesmo que soubéssemos que correríamos o risco de perdê-la? No fim eu deixei quieto, a jovem que a acompanhou era inteligente sem dúvidas nenhuma, provavelmente falaria tudo o que eu pensava e esse seria o tempo que eu levaria para decidir o que fazer também.
Algum tempo depois Niely voltou com o professor e pareceu nem se dar conta da ausência de Green. Aquele jeito delas me desconcertava sem dúvidas nenhuma.
— Eu sabia — Niely falou de maneira triunfante — Foi mais fácil do que eu pensei, graças a você Professor.
— E então? — perguntei, eu precisava voltar aos meus afazeres, mas sem dúvidas, imaginar que Ah-Kum podia sair daquela situação estava me deixando eufórico como uma criança que receberia um presente de Natal.
— O veneno usado possui uma toxina chamada hipoglocina, é uma toxina comumente encontrada em uma fruta chamada ackee de um planeta chamado Terra de acordo com as informações do livro do Professor. Essa toxina existe em outros lugares, mas é uma toxina rara de encontrar e ela inibe a função do gliconeogênese, em outras palavras, ela impede a produção de glicose no fígado e nos rins. Como eu disse, uma dose dessa já teria matado um ser humano há muito tempo e acho que a intenção era essa, o que me leva a acreditar que quem está fazendo isso não sabe que a senhora aqui não é humana.
— Então o que precisamos fazer é controlar a glicose — falei e me senti estúpido por não ter nem pensado nisso antes.
— Exato, mantenha a glicose dela na dose certa e mantenha-a vigiada. Sem dúvidas alguém está tendo acesso a esse quarto e está fazendo isso.
— Não se preocupe, eu já sei quem é — falei irritado — essa ala está liberada apenas para mulheres como já foi pontuado antes, homens só entram na minha presença... e só há uma mulher que faria isso com Ah-Kum...
— An Shang... — Syaoran concluiu.
— Prendam-na — ordenei.
— E o que alegaremos, senhor? — Syaoran perguntou pacificamente.
— Nada — respondi sem me dar o trabalho de esconder a minha raiva — irei sentenciá-la e irei alterar a memória dos conselheiros. Estou cansado de buscar provas concretas enquanto pessoas inocentes morrem.
— Isso será arriscado — Tales falou — mas estou de acordo. Sabemos exatamente quem são os culpados e ficar esperando provas não está nos levando a lugar nenhum.
— Sei que não sou daqui nem nada, mas posso dar a minha opinião? — Niely falou se encostando na parede e por algum motivo eu sorri com o jeito nada educado dela.
— Por favor — respondi.
— Eu cresci em um lugar pobre, não tinha o que comer e tinha mais duas irmãs, uma extremamente doente e a outra muito nova para trabalhar. Apesar do meu esforço como irmã mais velha, minha mãe definhou, meu pai definhou, minha irmã que estava doente foi usada como brinquedo sexual até morrer e sabe quantas pessoas da nobreza souberam disso? Apenas a Lissa e somente porque eu contei. Os nobres nunca sabem da realidade do povo, do mesmo jeito que o povo nunca sabe da realidade dos nobres... o que deixa o Imperador com uma escolha importante a fazer agora... ele precisa escolher entre a massa e a nobreza..., mas me fala, quem irá ao campo de batalha com o senhor? Algo me diz que não são os nobres. Em tempos de guerra é importante buscar alianças com países vizinhos, mas tenho entendido que praticamente o mundo inteiro te pertence, então qual o sentido de tentar agradar os nobres se não são eles que irão lutar por você? Com todo o respeito, majestade, o senhor está no trono há muito tempo e tenho certeza de que não o manteve sem rolar algumas cabeças, mostre para o povo que os nobres não podem pisoteá-los e ganhe a confiança das massas. Julgue os nobres como qualquer outra pessoa e logicamente, você tem um dom, se precisa alterar a cabeça de algumas pessoas, altere e pronto, você é o rei, sempre terá a palavra final.
— Está dizendo para eu usar do autoritarismo?
— Estou dizendo que você é o rei e que na sua situação, você não dispõe de tempo para pensar no julgamento dos outros. Faça o que acha justo e depois você pensa nas consequências. Ohime uma vez falou para o Kai o seguinte: "Kai, você é o rei, nunca abaixe a cabeça para ninguém", me admira que o senhor viva com a Ohime e esteja abaixando a cabeça para um bando de nobres que possivelmente nem sabem a gravidade real da situação.
— É assim que pensa quem não é da nobreza? — perguntei com um sorriso gigante no rosto, eu realmente estava precisando escutar aquilo tudo.
— É assim que pensa aqueles que sofreram com a nobreza.
— Obrigado, senhorita — por um momento ela pareceu sem reação, até mesmo a sua luz ficou estática.
— Está me agradecendo? — ela perguntou atônita. Era tão estranho assim eu agradecer?
— Por que isso te admira? — perguntei ainda estudando a sua luz.
— Porque você é homem, nobre e essa é sem dúvidas a primeira vez que ela escuta um agradecimento de alguém assim — Ohime apareceu parecendo bem mais animada.
— Que tipo de lugar vocês vivem? — perguntei estranhando aquela resposta.
— Ah, não — Green deu de ombros também entrando — Desde que o Kai assumiu o trono as coisas têm mudado, mas tenho que admitir que eu teria ficado tão surpresa quanto ela se eu escutasse um agradecimento vindo do senhor.
— Resumindo — Ohime parou perto de mim, talvez notando a minha confusão — elas viveram em um lugar onde mais da metade dos homens eram como Katriel, talvez não tão inteligentes e sem dúvidas sem os dons, mas a maioria com a mesma mentalidade que ele ou o visconde têm.
Meu estômago revirou e me peguei pedindo desculpas mentalmente por tê-las julgado em relação ao comportamento. Eu certamente podia entendê-las.
— Bom, se já acabaram as coisas por aqui, então... — Ohime falou praticamente expulsando as duas dali.
— Ei, Zyon — Niely o chamou já recuperada — vem me visitar logo, ta bom? E continua pensando naquela proposta.
— Vamos, eu irei levá-las — o Professor se prontificou ao abrir uma fenda.
Olhei novamente para Ah-kum sentindo um alívio intenso por saber que ela ficaria bem. Eu queria de fato ficar e conversar com Ohime, mas eu não podia, mesmo assim me dignei a parar na sua frente e abraçá-la.
— Obrigado, por salvar Ah-kum — minha voz saiu cortada.
Ela não respondeu, apenas ficou ali, com seu braço enlaçado na minha cintura.
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Ohime está bem fisicamente e tenho certeza de que você já sabe disso. Ela não quis me falar uma única palavra, mas eu vou dizer o que eu notei e espero que seja o suficiente para ajudá-la. Vocês a estão matando aos poucos. Ohime é um espírito livre e vocês a prenderam como um pássaro em uma gaiola. Ela não quer ser objeto de proteção, ela quer ser útil. Segundo Zyon, ela escolheu ser selada e ela escolheu isso por amar o ser que ela quer proteger, resumindo: você. Ela anseia por liberdade, ela anseia poder escolher estar com vocês e não ser obrigada a isso. Ela quer ter o controle da própria vida, um controle que foi tirado dela desde seu nascimento e vocês, com a proteção sufocante que dispensam a ela, seguem tirando. Se você a ama, deixe-a livre para que ela faça as próprias escolhas. Pode ser que você sofra com as escolhas dela, mas é assim que mostramos o nosso amor.
Qiang releu o mesmo recado milhares de vezes, ele já sabia de tudo aquilo, mas tinha medo, mesmo assim, a culpa por fazer aquilo com ela o corroía. Ele a perderia e sabia disso. Sentiu o peito apertar com essa certeza e sentiu um sufocamento intenso, mas ele não era seu dono e não queria tirar a liberdade da pessoa que mais amava.
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Universo: Faaliye (Quadrante 2)
Planeta: Azuma
País: Yeou
Data local: Sì, 20 Rénmen de 1503 do novo reinado Qiang (prevernal)
Data Universo Homines (Planeta Terra - Brasil): Domingo, 15 de fevereiro de 2015 (verão)
Me dirigi calmamente até a biblioteca, lugar onde o Professor provavelmente ainda estaria e acabei me deparando com Ohime encostada em uma poltrona, dormindo tranquilamente. Me abaixei perto dela enquanto a via dormir, a posição sem dúvidas não era uma das melhores, mas me dava pena acordá-la, principalmente quando sua luz parecia mais tranquila do que o normal e mesmo eu tentando não fazer barulho, ela se move lentamente e acordou.
— Majestade, bom dia — sua voz seguia embargada pelo sono — eu só tinha vindo procurar um livro.
— Perdoe-me atrapalhar o seu sono, senhorita, mas você sabe onde está o professor?
— Eu não estava dormindo — tive vontade de rir, ela claramente estava dormindo — Ele saiu para fazer algumas entregas — ela respondeu ainda parada no mesmo lugar — disse que demora para voltar. Quer deixar algum recado.
Aquela cena me deu ainda mais vontade de rir.
— Ah, não se preocupe, eu mesmo posso passar o recado — suspirei, tinha a intenção de perguntar para ele como Ohime estava com os remédios, eu sabia que não resolvia perguntar para ela, ela apenas diria que estava tudo bem, como sempre fez, além do mais, queria pedir para que ele retirasse sua ordem, havíamos errado ao fazer aquilo com ela e não queria seguir com aquilo — Momento infeliz da minha parte então. Aparentemente ele pediu para chamar-me, mas eu estava ausente.
— Deve ser importante, já que o senhor deixou as suas coisas e veio até aqui para isso — ela respondeu ainda sem se levantar — Sinto muito que tenha sido uma viagem perdida.
— Não é como se vir para a biblioteca do palácio fosse uma grande viagem, no entanto. Mas não se preocupe, a culpa é minha por ter demorado — olhei para a sua luz sem evitar sorrir, já estávamos com o teatro da cortesia e educação novamente, pelo visto a minha ausência em sua vida estava maior do que eu esperava — Além disso, mesmo que eu não tenha conseguido cumprir minha missão original, esta visita não foi um desperdício.
A luz dela se agitou um pouco.
— Não foi? — era fácil tirá-la de sua pose e vê-la daquele jeito era realmente prazeroso. Sentia como meu sorriso se alargava um pouco e me aproximei.
— Isso me deu a chance de ver você — falei próximo dela. Ela ficou muda, mas notei como seu coração acelerava — ver esse tipo de reação sua sempre me ajuda a relaxar. Me diga, por que estava dormindo na biblioteca? — falei colocando a mão em seus cabelos — seu cabelo parece que não vê um pente há dias.
Ela tirou minha mão da cabeça dela de maneira brusca, mas sabia que ela estava arrumando o cabelo pelo movimento da sua luz e eu não contive mais a vontade de abaixar minha faixa e depois fazer o mesmo com ela.
— Que tal conversar sem a faixa por um tempo? — falei sem esperar a sua resposta. Ela manteve os olhos fechados por alguns segundos, mas se deu por vencida rapidamente.
Coloquei a mão no queixo observando suas roupas e seu cabelo, ela de fato parecia ter acabado de sair da cama e o sono que ela sentia não me dizia o contrário. Possivelmente só havia arrastado o corpo até a biblioteca sem se dignar a se arrumar.
— Então você realmente acabou de acordar? E não digo só por ter te pegado dormindo aqui na biblioteca — perguntei ainda estudando-a — dormir até essa hora não é uma prática totalmente louvável, honestamente.
— Eu não estava dormindo — ela resmungou e olhou para o lado, sabia que estava fazendo o possível para não olhar para mim e isso não iria ajudá-la — além do mais, a hora que eu acordo ou deixo de acordar não é da sua conta.
Ali estava, a Ohime afiada que eu tanto senti falta. Eu ri.
— Você sempre faz com que as provocações valham o esforço, não é? — cruzei os braços e encostei na parede próximo a ela — Olhe para mim, não vai te ajudar em nada se você seguir desviando o olhar.
— Vai para o inferno — ela virou de costas para mim.
— Vou deixar a capital por um tempo — falei para informá-la — não devo demorar, obrigado pela diversão.
— Você irá... — ela ficou triste. Eu não esperava por isso.
— Sim — falei cortando-a — Devo visitar uma pequena aldeia que faz parte dos meus domínios. Como Imperador deles, eu devo fazer essa visita, principalmente em momentos como esse.
— Uma pequena aldeia? — ela de repente se virou para mim — por quê? Pensei que todos haviam sido evacuados.
— Está interessada em política? Ou está preocupada com eles? — o sentimento confuso dela fez com que eu tivesse vontade de me virar também, isso não acontecia com muita frequência — Se você está curiosa, por que não me acompanha?
— Para a aldeia? — ela perguntou piscando várias vezes.
— Isso mesmo — respondi à pergunta óbvia dela — Poderíamos aproveitar a oportunidade para eu apresentá-la para eles.
Sorri esperando qualquer reação da parte dela, qualquer resposta, mas a verdade é que realmente queria que ela fosse. Os segundos me pareceram horas, mas realmente demorou somente alguns segundos até ela realmente fixar seus olhos nos meus, fazendo o tão conhecido reflexo por repetição.
— Nesse caso — ela sorriu de maneira desafiadora — eu adoraria.
Eu abri mais os olhos com a surpresa. Eu esperava que ela fosse recusar, me mandar para o inferno, ou dizer qualquer coisa sobre ela ser uma camponesa como fazia as vezes. Talvez ela quisesse aproveitar a minha ausência para voltar a fugir pelas ruas, ou pelo menos tentar, já que ela não sabia que eu pediria para o professor retirar a ordem. Talvez ela tentasse convencê-los na minha ausência, ou qualquer coisa do tipo. Eu tinha certeza de que ela tinha notado a redução considerável de pessoas seguindo-a. Eu tinha certeza de que ela tinha notado que eu abri o espaço para ela, mas ao invés de ela aproveitar, ela preferiu me acompanhar.
— Você não acha que eu vou te deixar levar a vantagem todas as vezes, não é? — ela se aproximou um pouco mais e dessa vez fui eu que me senti encurralado precisando de alguns segundos para me recompor. Senti meu humor se elevando, eu não esperava por essa resposta, mas havia sido um belo presente.
— Estou ansioso por isso então — fechei um pouco mais da pequena distancia que ela deixou entre nós. Eu não podia fazer nada ali, não sabendo que alguém poderia entrar, mas era bom provocá-la.
— Apenas espere, e veja, Majestade.
A visão do sorriso satisfeito dela me fez sorrir de volta. Ela estava de bom humor também, se sentia ansiosa de uma boa maneira e estava feliz como eu não via já há algum tempo. Era raro senti-la daquela maneira e tentei aproveitar a situação.
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