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☾✧ ━━ Minha alma se despedaçava na mesma rapidez que a vida deixava o seu corpo, e a dor insuportável me consumia, deixando um vazio que jamais será preenchido (Qiang Huang) ━━✧☽
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Quando Tales e o Professor chegaram na casa, eles sentiram que algo estava errado. Eles deixaram Khalil para trás, ajudando Zyon com as fendas enquanto passavam civis confusos até o universo de Naksar, no reino de Kai. Zyon precisava manter uma concentração absurda para poder manipular todos os civis para que entrassem nas fendas sem questionarem e para a sua sorte, sua filha Lissa o estava ajudando. Se seguissem assim, talvez em pouco tempo eles poderiam de fato salvar uma boa parte da população.
Tales suspirou, ele esperava que Ohime e o Imperador estivessem bem, mas depois balançou a cabeça. Que infernos, ele não podia estar preocupado com o Imperador no fim das contas, poderia?
O professor parou na porta e antes de entrar segurou Tales pelo braço.
— Sinto que se entrarmos, encontraremos algo terrível aí dentro. A casa cheira a morte e o ar está pesado. Talvez eu não tenha tempo para dizer uma coisa e necessito aproveitar antes que as coisas piorem.
Tales o olhou intrigado, ele já havia notado a tensão da casa, o que quer que tivesse acontecido, já tinha acabado, e sabendo disso, ele parou e olhou para os olhos ansiosos do professor.
— A herdeira do trono dos nefilins está a salvo com as divindades — o Professor soltou a frase — Quem apagou seu rastro para que ela ficasse a salvo foi o Imperador Qiang, achei que você deveria saber disso.
Tales engoliu em seco e respirou fundo. O professor estava falando a verdade?
— A Ambar está viva? — Tales perguntou com o choro entalado na garganta.
— Teoricamente não era para ninguém saber, mas confio em você Tales — o Professor sorriu — está na hora de dar um voto de confiança para o Imperador. A Ambar está viva e está bem e o irmão adotivo dela irá nos ajudar por acreditar ter uma grande dívida com o Imperador. Você o tem julgado mal por muito tempo, vamos terminar essa guerra bem, vamos vencer e você vai precisar parar de se preocupar com a Ohime o tempo inteiro, nesse momento o Imperador está com ela e Syaoran também, vamos confiar neles.
— Como você sabe de tudo isso? — Tales dificilmente demonstrava esse tipo de emoção de maneira tão forte, mas saber que Ambar, a herdeira do trono, sua prima e uma das pessoas que mais amava no mundo estava a salvo o havia desestruturado e quem a tinha salvado fora alguém que ele só havia julgado.
— Eu estive com as divindades a pedido do Imperador. Ela está viva e está bem e você precisa manter a sua cabeça na guerra de agora. Apesar do Imperador fingir muito bem, ele nunca nega ajuda a quem precisa, não importa de que universo seja... Dê um voto de confiança a ele. Talvez um de nós morreremos, talvez seja a Ohime, mas se ele pensou em fazer as coisas dessa maneira, eu acredito que é porque não há outra saída por enquanto.
Tales acenou com a cabeça, ele não sabia se seu orgulho o iria permitir pedir desculpas a Qiang e nem muito menos passaria a gostar dele, mas internamente, ele decidiu que enfim ele havia achado alguém que valia a pena seguir e para o seu espanto, não parecia ser Ohime.
— Quando fui para Himura, encontrei o Ceifeiro Apollyon — Tales falou quase em um sussurro — eu pude falar com o Yohan... ele está morto, mas eu pude vê-lo — Tales olhou para cima para evitar que as lágrimas caíssem. Eu já sei o porquê a Ohime selou o ruah do Qiang e sei o porquê o Yohan morreu.
Sem conseguir realmente conter as lágrimas, Tales, depois de muito tempo, acabou chorando.
— Quando estiver pronto para compartilhar isso, estarei aqui para ouvir — o Professor falou de maneira calma e compreensiva.
— O Qiang foi amigo do Yohan até o fim — Tales já tinha deixado tantas lágrimas rolarem que ele mal se importou em não secá-las — Ele foi amigo do Yohan até o fim... e eu o julguei todo esse tempo. Eu ficava com ainda mais raiva por ele não lembrar de nada, ficava com mais raiva porque mesmo naquela época, ele nunca desmentiu minhas acusações... eu fui embora achando que o Yohan tinha sido assassinado... Eu odiava esse laço que me unia ao Imperador, eu odiava esse laço que me unia ao assassino do meu amigo...
Quando o choro do Tales passou a ser mais desesperado, o Professor o abraçou e esperou, esperou que todo o choro de anos e anos acumulado se dissipasse. Yakumo entendia a dor de Tales, Yohan havia sido muito querido por todos e ter uma desconfiança sem poder saná-la era sem dúvidas torturante.
— Quando todos estivermos reunidos — Tales falou se desfazendo do abraço e olhando para o outro lado para não precisar encarar o Professor Yakumo — eu irei contar tudo e iremos desfazer o selo que aprisiona o ruah do Imperador.
— Sim, nós iremos fazer isso — o Professor garantiu.
— Sim — Tales levantou os olhos e respirou fundo — Eu irei fazer o Qiang se lembrar do que ele precisa fazer... Yakumo, você alguma vez jurou lealdade a ele? — Tales perguntou fazendo o Professor rir.
— Eu sou leal ao Imperador há muito tempo, assim como Zyon e Khalil. Apesar de arrogante e muitas vezes mimado, ele sempre será o nosso Imperador.
— Está me dizendo que vocês não seguem Himura, então? — Tales perguntou espantado.
— Eu prefiro seguir um monarca que recebe até o mais ordinário dos seres e não aquele que caça mestiços e os mata. Nós juramos lealdade a ele, de maneira interna, desde a caçada aos mestiços e eu continuarei seguindo o homem arrogante que se recusa a ver o sofrimento reinar.
— E se ele mudar? — Tales perguntou com uma emoção estranha tomando conta dele.
— Então iremos nos preocupar somente quando esse dia chegar — o Professor sorriu — preparado para enfim começar essa guerra?
Eles levaram seus olhos até o teto da mansão e novamente para o portão.
— Seja o que seja que tenha acontecido aí dentro, não há volta — Tales respirou fundo — vamos entrar.
Quando eles abriram a porta, o primeiro sinal de perigo foi a facilidade em que a porta fora aberta. E apesar disso, o portão não parecia ter sido arrebentado.
— Meihui — Tales a chamou, mas não houve respostas — vamos nos separar. Tudo parece no lugar, mas essa tranquilidade não está normal.
O Professor acenou e eles se separaram e revisaram a maior parte da casa de maneira minuciosa.
— Isso está muito estranho — Tales voltou ao encontro do Professor.
— Achou alguma coisa? — o professor perguntou, só faltava o jardim dos fundos para verificar.
— Minhas ferramentas de trabalho foram reviradas e há coisas faltando
— Você acha que alguém mexeu em suas ferramentas?
— Com certeza! Se alguém mover um objeto nem que seja cinco centímetros eu percebo.
— Sim, eu sei, nenhuma memória é como a sua. E o que sumiu?
— Tesouras, estiletes, a corda... teria que ver com calma para ter certeza de tudo.
— Acho que você já sabe onde devemos ir... — o professor olhou para o jardim dos fundos e respirou.
— Vamos — Tales o puxou, era melhor acabar com aquilo de vez.
A cena que se desenrolou na frente dos dois era pior do que previram. Olharam primeiro para o muro e depois para um corpo pendurado pelos braços. Duas vítimas, uma com o corpo mutilado e pregado no muro em uma sequência que deixava um pequeno recado: Para o meu deus, 1ª Obra e a outra pendurada em uma árvore, com o corpo inteiro cortado, cortes imitando artes em formas geométricas.
— Chame o Imperador — o professor falou mantendo a voz controlada — a guerra finalmente começou.
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A festa já estava para acabar, o que era bom. Ohime havia dormido do meu lado e não dava mostrar de que iria acordar tão cedo e aquilo começava a me preocupar de verdade, por mais que ela tivesse me garantido de que tinha certeza de que não era uma droga tão forte assim. Por um lado, fingir que não estávamos à beira de uma guerra não era tão difícil, não quando eu a tinha ao lado, mas tinha que admitir, meu corpo gritava para apenas ocultá-la de todos os perigos que ela passaria a partir dali.
Quando estava prestes a acordá-la, Tales entrou de maneira apressada e furiosa salão adentro, deixando vários guardas desesperados para trás. Me levantei. Para que ele estivesse daquele jeito, coisa boa sem dúvidas não era.
Os guardas o iriam alcançar, o ideal era acalmá-los antes que eles o fizessem e antes que aquela cena ficasse ainda pior, mas quando fui dar o segundo passo, Tales fez algo que eu não esperava, ele conseguiu, pela primeira vez, me deixar completamente sem reação.
— Majestade — um dos seus joelhos encontrou o chão e ele abaixou a cabeça, meu mundo girou completamente e o único que eu consegui fazer, foi um sinal com a mão para que os guardas não se aproximassem mais — por favor, peço que o senhor venha comigo para um assunto urgente.
Eu não falei nada, todos tinham os olhos voltados para mim. A luz de Tales não era a luz hostil que ele sempre me oferecia. Sua luz estava sem dúvidas agitada, mas toda a hostilidade que ele havia me mostrado, havia desaparecido por completo. Syaoran chegou apressado de algum canto da festa e se aproximou de Tales. Tales se levantou, falou algo em seu ouvido e quando Syaoran virou para mim, sua luz estava tensa, mesmo assim, quando ele falou, sua voz estava pacífica e controlada.
— Peço desculpas a todos os presentes pelo inconveniente e pelo susto — ele falou para todos — Não se preocupem com a emergência que nosso amigo colocou na voz, apesar de ser um assunto delicado, não há nada que tenham que se preocupar. Por favor, continuem aproveitando o fim da festa.
Syaoran se aproximou de mim, mas eu sabia que ele não falaria muito ali e eu agradeci por isso. Não era hora para um pânico generalizado.
— Majestade, devemos ir até a casa da senhorita Ohime. Acompanhe Tales e leve-a. Eu irei até o exército. Tales irá te explicar o que aconteceu no caminho.
— Muito bem — acenei com a cabeça e fui acordar Ohime — Ohime — chamei-a e ela resmungou alguma coisa sobre querer dormir mais e por um momento meu coração amoleceu — Vamos, Ohime. Devemos ir — a chamei de novo e ela acenou levemente a cabeça e se levantou no automático. Ela precisou de mais do que só alguns passos para de fato acordar.
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Fui praticamente sendo arrastada pelo Imperador até uma carruagem. Eu me sentia tonta, parecia que tinha bebido demais, apesar de saber que não era isso que tinha acontecido. Ainda na carruagem, enlacei de maneira quase involuntária meu braço no pescoço do Imperador e dormi novamente sentindo seu perfume aconchegante e familiar.
— Eu sei que quer dormir, mas precisamos que a senhorita acorde — o carinho que o Imperador colocou na voz me despertou de maneira automática, se ele estava sendo carinhoso sem pregar nenhuma peça, então sem dúvidas algo grave tinha acontecido.
— O que aconteceu? — perguntei sentindo o coração chegar na garganta.
— Tales foi nos chamar — ele falou baixo — me explicou algumas coisas já. Olha, Ohime... Meihui está morta. Se não quiser entrar, eu vou entender, mas acho que você, assim como todos, precisamos ver a realidade em todos os pontos.
Meihui estava morta? Como assim? Estávamos na frente da minha casa? O que tinha acontecido?
Me levantei sem falar nada, Qiang provavelmente não estava no seu momento perfeito também, pois não houve outras palavras vindas dele depois disso. Deixei meus passos me guiarem pelo caminho que o Professor indicava até o jardim dos fundos, sua luz estava tensa assim como a de Tales.
Ao chegar na entrada do jardim, o cheiro de sangue invadiu meu nariz e ao olhar para as luzes distorcidas a minha frente, eu me abaixei.
Na arte usamos diversos elementos básicos, como tintas, ferramentas para entalhar, podemos usar até mesmo o fogo. Não há limites para a arte, mas deveria existir. Para explicar o que eu via, eu teria que dizer o como seria bonito ver as ondas sonoras pelo ar combinadas com a densidade de recepção da luz que produziam as mais diversas cores que fogem a maioria dos olhos. A sincronia perfeita que o medo causou no ruah simples de Meihui foi uma combinação perfeita e doentia com a luz ainda sofrida do corpo de Ah-Kum. Ah-Kum provavelmente havia ido pedir algum serviço extra para Meihui naquele dia, eu não teria como saber, mas aquela combinação estava sem dúvidas milimetricamente planejada e era sem dúvidas, fascinantes aos olhos de um Hansha.
— Majestade... — minha voz praticamente travou na minha garganta.
— Já sei — para a minha surpresa, sua voz saiu forte e controlada — se não fosse trágico e extremamente brutal, essa poderia ser considerada uma das mais belas artes que eu já vi — a raiva escorreu nas suas últimas palavras, Katriel sem dúvidas era sádico, mas encontrou a sintonia perfeita para os elementos que estavam a nossa volta. Depois ele se virou para os guardas que nos acompanhavam — Ah-Kum está viva. Tirem-na daí e preste os atendimentos necessários.
Assim que olhei para o corpo pendurado com mais atenção, eu pude ver o quanto ela estava se agarrando ao último fio de vida. Talvez o fato de ela ser uma jiwa a tenha ajudado.
O exército chegou e eles começaram a trabalhar de maneira frenética. Qiang estava mudo, sua luz estava controlada e eu não conseguia imaginar nem o começo da sua dor. Ah-Kum o havia criado, havia estado com ele por longos anos e agora estava lutando entre a vida e a morte.
— Qiang — sussurrei para ele, eu queria poder consolá-lo, eu queria poder fazer algo por ele... eu queria dizer que tudo acabaria bem...
— A senhorita virá para o palácio e ficará lá a partir de hoje — sua voz cortou o ar de maneira imperativa fazendo o meu chão sumir.
— Eu não acho que isso seja necessário — falei tentando me controlar, ele estava bravo, tinha motivos de estar e estava preocupado — Qiang... — sua luz afiada praticamente me transpassou.
— Eu devo lembrá-la que a senhorita faz parte da minha guarda pessoal? Minha guarda pessoal deveria estar no palácio sempre, que é onde eu estou — suspirei com as suas palavras duras — além do mais, eu não vou deixar a minha noiva aqui desprotegida. Seja qual for o papel que a senhorita queira fazer daqui em diante, ficar no palácio não é opcional, ficar lá será a sua obrigação. Não se preocupe, mandarei alguém arrumar as suas coisas. A senhorita voltará comigo.
Olhei para o professor e para o Tales, que pareciam um pouco ausentes. Qiang passou reto por mim para falar com o major e eu deixei meus passos me guiarem até meus dois amigos.
— Ficaremos bem — o Professor me garantiu — ficaremos juntos a partir de agora, eu, Tales, Khalil e o Zyon. Você ficará no palácio, é a melhor solução.
Acenei com a cabeça. Fazer meu papel a partir daquele momento não seria fácil. Não lutar, apenas ficar na defensiva, não mostrar nossas habilidades, fingir que vivíamos apenas uma vida patética e que não sabíamos de nada, que não havíamos solucionado nada do que estava acontecendo até os civis estarem a salvo não seria fácil.
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Universo: Faaliye (Quadrante 2)
Planeta: Azuma
País: Yeou
Data local: Liù, 01 Rénmen de 1503 do novo reinado Qiang (prevernal)
Data Universo Homines (Planeta Terra - Brasil): Terça, 27 de janeiro de 2015 (verão)
A sala de reuniões, apesar de agitada, também estava silenciosa. Todos andavam de um lado para o outro de maneira frenética, tentando manter uma postura que há muito já se havia perdido.
— Por que a Ohime não irá participar? Por que ela nem ao menos sabe que estamos aqui? — Khalil seguiu andando de um lado para o outro enquanto perguntava a mesma coisa pela milésima vez.
— Tales disse que queria falar com todos, mas que ela não podia saber — respondi tranquilamente. Aparentemente eu era o único que seguia com algum certo controle — Syaoran irá buscá-lo para poder guiá-lo até aqui sem que Ohime o veja. E em relação a ela não saber, talvez seja melhor esperar por Tales e perguntar diretamente a ele.
— Eu sabia que isso não ia dar certo — ele falou abanando as mãos para o alto — eu sabia.
— O que não ia dar certo, Khalil? Eu acho que você está muito agitado e muito preocupado antes de saber alguma coisa — apesar do Zyon ter tentado acalmar Khalil, ele também não parecia muito calmo.
— Será que os dois poderiam se sentar, esse vai e vem de vocês dois está me dando nos nervos — falei suspirando — do que resolve vocês ficarem assim agora? Vamos esperar que eles cheguem para sabermos o que aconteceu.
Os dois suspiraram audivelmente, mas se sentaram. Olhei para a luz do Professor, ele parecia sereno e eu até acreditaria nisso, se não fosse os picos enervantes que seu ruah dava hora ou outra. Os minutos pareceram horas, mas em um dado momento Syaoran chegou junto com Tales.
Assim que Tales entrou, ele novamente se reverenciou, me deixando completamente admirado. O que aquilo significava? Talvez eu não tenha sido o único a se espantar com isso, porque todos se viraram para Tales de uma única vez, apenas o professor que pareceu não estranhar.
— Não irei me estender — ele falou ao se levantar e ir para um lugar vago — Quando estive em Himura, tive a oportunidade de falar com o ceifeiro Apollyon, pois lembrei que ele havia dito que nos ajudaria se precisássemos.
Nem foi preciso pedir para que todos prestássemos atenção em sua narração, ninguém ali estava para conversa fiada e por algum motivo, naquelas palavras, eu sentia que teríamos respostas que precisaríamos.
— O Apollyon me levou até Yohan — ele seguiu e ninguém foi capaz de esconder o espanto — enfim, não importa o como ele fez isso e nem se ele podia, mas o fez.
— E isso nos soluciona algo? — Syaoran perguntou com a sua voz gélida de sempre.
— Infelizmente não, ou pelo menos não em sua totalidade, mas vai ser bom todos conhecerem a história por trás da morte do Yohan — ele pareceu dar de ombros e isso chegou a me surpreender também — eu sei que vocês querem a solução, mas eu quero contar como tudo aconteceu...
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Enquanto divindades atacavam de maneira enfurecida os habitantes da cidade, havia um Imperador olhando fixamente para o seu amigo, ele não parecia bravo ou mesmo triste, tudo o que ele demonstrava era uma confusão imensa.
— Eu não vou fazer isso — Qiang falou firme — eu me recuso a fazer isso.
— Por favor — Yohan implorou mais uma vez — eu a amo... é minha irmã. Não posso deixá-la morrer.
— Eu não vou te matar para que a sua irmã sobreviva, por que acha que eu vou fazer isso? Isso é um absurdo.
— Porque você a ama — Yohan tinha a voz desesperada. Os gritos que vinham de fora deixavam tudo pior.
— Eu nem a conheço! — Qiang se levantou finalmente demonstrando a raiva.
— Você a conhece, e sei que se lembrará dela... algum dia, sei que você irá me agradecer... — Yohan olhou de maneira afiada para o Imperador, ele não cederia assim como o monarca não tinha a intenção de ceder em sua negativa — Se você for embora, eu não irei te perdoar, Qiang.
— Então não perdoe — o Imperador deu mais alguns passos em direção a porta — nunca me perdoe, mas siga vivo.
Mas antes que de fato Qiang saísse pela porta, ele ouviu o barulho de uma espada sendo desembainhada e em poucos segundos, ele ouviu uma espada perfurando um corpo. Yohan não podia ter feito aquilo? Podia? Por um breve momento a coragem de se virar foi embora.
— Se eu seguir vivo, esse contrato não chegará até ela — a voz sussurrada do amigo fez seu coração doer. Ele lentamente tirou a faixa e respirou fundo. Se era para ver o amigo morrer, então ele queria sentir tudo o que o amigo sentia.
Quando ele se virou, sentiu a espada cravada no peito e o olhar do seu amigo era de puro ódio e desespero.
— Eu irei morrer de qualquer jeito... — Yohan cuspiu um pouco de sangue ao falar, fazendo Qiang se contorcer pela dor também — se você sair por essa porta, eu... nunca... — ele falava com esforço enquanto estendia a mão para o Imperador, ofegante de angústia enquanto lutava para mover seu corpo encharcado de sangue — Eu nunca vou te perdoar...
— Você é meu único amigo, Yohan — a voz do Imperador saiu quebrada pela dor — como... como eu posso fazer isso?
— Não — Yohan sorriu — você conheceu a minha irmã muito antes de me conhecer... inclusive foi ela que te ensinou a nunca tirar a faixa dos olhos.
Qiang apertou a faixa em suas mãos enquanto sentia as lágrimas quentes escorrerem pelo rosto.
— Sim... — Yohan seguiu — ela é a lacuna que falta na sua vida... ela se apagou da sua memória porque não queria te perder — a voz de Yohan seguia cada vez mais baixa e em uma tentativa desesperada de salvar seu amigo, Qiang segurou a empunhadura da espada que atravessava seu peito.
— Não morra, Yohan — ele falou desesperado — por favor... não morra... fica aqui comigo, por favor...
— Leve o contrato... — Yohan falou uma última vez — estou confiando minha irmã aos únicos que eu confio cegamente a minha vida. Por favor... cuidem bem da Ohime...
Seu último suspiro foi doloroso enquanto Qiang segurava toda a dor que sentia. Sua mão não saiu da empunhadura da espada, ele não tentou limpar o sangue que cobria o seu corpo... ele nem mesmo tentou se afastar quando os amigos de Yohan chegaram e o viram ali. Segurando a mesma espada que tirou a vida do homem que os uniu.
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