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☾✧ ━━ Ao vê-la, fiquei sem palavras. Ela estava absolutamente deslumbrante, e minha admiração por sua beleza era inegável (Qiang Huang) ━━✧☽

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Planeta: Azuma

País: Yeou

Data local: Liù, 05 Mac de 1503 do novo reinado Qiang (outono)

Data Universo Homines (Planeta Terra - Brasil): Segunda, 01 de dezembro de 2014 (primavera)


Durante os três dias, eu fiquei em casa, não me isolei, mas também não tinha vontade de fazer nada. Tales, Khalil e o Professor muitas vezes estavam comigo, me distraindo com trivialidades. Zyon se fez mais presente nesses três dias também e isso amenizou um pouco a minha dor.

Por mais que não quisesse admitir, o Imperador tinha razão e passado os três dias me arrastei até o palácio, negando qualquer tipo de ajuda que me ofereciam. Provavelmente estava com a cara péssima, hora ou outra alguém aparecia perguntando se eu estava bem, dizendo que estava pálida ou algo do estilo.

Quando cheguei em sua sala comum, ele não me notou, ou fingiu não notar. Seguiu vendo o que quer que fosse que tivesse nas mãos.

Fiquei ali parada, vendo-o. Ele devolveu para seu servo o que estava estudando enquanto Syaoran organizava algo. De maneira solene o Imperador começava a examinar o que tinha a sua frente me deixando realmente muito curiosa.

— O que são? — perguntei me aproximando.

— Vasos, senhorita — Syaoran suspirou, como se estivesse perdendo seu tempo ali.

— É uma coleção incrível — o Imperador falou satisfeito — examinarei cada um deles de perto, para que você possa dispensar quaisquer explicações professor.

Olhei com mais atenção para a sala e me sobressaltei ao notar o professor praticamente oculto em um canto da sala.

— Tudo bem — o professor respondeu se aproximando de mim — leve o seu tempo Majestade. Boa tarde, senhorita. Te vejo abatida, está tudo bem?

— Tão mal me vejo, Professor? — perguntei em um suspiro — escutei essa mesma pergunta diversas vezes hoje.

— Sim — ele respondeu sinceramente — parece que está terrivelmente doente. Devo buscar uma solução para isso?

— Talvez — respondi e fiquei em silêncio, não sei que tipo de solução ele planejava buscar, mas senti que qualquer coisa podia ser útil.

O Imperador foi fiel a sua palavra e examinou deliberadamente cada um dos vasos. Me perguntei se ele fez isso sem a faixa e fiquei tentada a perguntar, mas não o fiz. O professor parecia esperar pacientemente e eu comecei a ficar ansiosa em seu lugar. Esperava que ele gostasse de pelo menos um daqueles vasos, apenas para que o professor ficasse feliz com sua conquista. Depois de um longo período de inspeções silenciosas, o Imperador parou antes do vaso final e se virou para nós. Sua luz indicava que ele estava satisfeito e eu me senti de certa maneira aliviada por isso, mas não entendia o porquê.

— Eu sempre soube que o senhor tem bons olhos para esse tipo de coisa — a voz do Imperador soava mais satisfeita do que eu esperava. Fiquei feliz pelo professor — Eu devo ter todos eles.

— Todos? — perguntei quase caindo para trás. De certa maneira era fácil me encaixar nessas conversas tediosas e triviais, mas sempre me impressionava o quão fácil era para o Imperador conseguir aquilo que queria.

Certamente para o professor essa era uma notícia maravilhosa, mas não conseguia ver utilidade para tantos vasos distintos. Em relação a parte artística eu possivelmente podia reconhecer o real valor daqueles vasos, mas como nunca pude acumular nada, não via motivos para ter todos eles. Eu certamente estava surpresa, mas antes que o professor falasse alguma coisa, o silêncio foi rompido pela voz de Syaoran.

— Majestade, posso lembrá-lo que não faz muito tempo que o senhor comprou vários vasos com o design semelhante? Devo me livrar deles?

— Por que diabos eu iria querer que você jogasse fora vasos perfeitamente bons? Não há duas coisas exatamente iguais nesse mundo. E isso é especialmente verdadeiro quando se trata de arte.

— Talvez — Syaoran retrucou — mas não é totalmente sensato coletar um grande número de objetos quase idênticos.

— Pelos céus — o Imperador falou de uma maneira tão natural que eu fui obrigada a ocultar a risada, ele falando de maneira informal era novidade para mim — você está comigo há quantos séculos e ainda não consegue entender? São suas semelhanças que tornam as diferenças sutis tão agradáveis. A cerâmica é especialmente assim. O calor do forno dá a cada objeto um detalhe único. Você não concorda, Ohime?

Eu paralisei por um momento, o Imperador nem me cumprimentou e falou comigo como se eu estivesse ali o tempo inteiro.

— Am, sim? — tentei responder de maneira natural — é verdade que o material e a idade do item os marcam de diferentes maneiras. Além, obviamente, das marcas que cada artista usa como assinatura para fazê-las.

— Você ouviu a minha senhora — meu coração acelerou, "minha senhora"? — Agora Syaoran, eu apreciaria se você parasse de me tratar como se eu fosse um perdulário.

— Cada um desses vasos parece exatamente o mesmo para mim — Syaoran suspirou.

O Imperador estava certo, no entanto, qualquer coisa feita a mão nunca pode ser duplicada exatamente, cada objeto sempre seria diferente. Fiquei feliz que ele apreciasse esses detalhes. O professor certamente também apreciava, afinal ele era um negociante das mais diversas artes, cujo trabalho era entregar peças únicas para aqueles que podiam compreender seu valor. Mesmo assim, também conseguia entender o ponto de vista do Syaoran, que pelo estado de sua luz, parecia querer quebrar os vasos com o olhar, mas ele somente suspirou se dando por vencido.

— Professor — Syaoran se virou para ele — Você vai fazer os papéis necessários para nós? Tenho entendido que essas artes são daqui, sendo assim precisamos de documentação.

— Claro — o professor respondeu tranquilamente.

Eu não conseguia calcular o valor daquilo tudo, acho que nunca tinha visto ninguém gastar tanto dinheiro antes.

— Algum problema, senhorita? — Syaoran me perguntou enquanto o professor fazia os cálculos de quanto sairia tudo e só então notei que eu estava praticamente paralisada olhando para o professor.

— Não — respondi rapidamente — não exatamente...

— Coisas que valem a pena raramente saem baratas — o Imperador falou tranquilamente como se tivesse lido a minha mente — Fico muito feliz em desembolsar o dinheiro para itens de qualidade.

Ele parecia seguir me olhando e por um momento me senti avaliada do mesmo modo como ele fez com os vasos. Eu poderia quebrar o sorriso que ele provavelmente mantinha, dizendo que o dinheiro seria melhor aplicado entregando-os aos pobres, que sem dúvidas haveria alguém que necessitava de dinheiro, mas de fato não conseguia me lembrar de ninguém passando necessidades durante a minha estadia e preferi não falar sobre o que eu não entendia.

— E agora, senhorita — ele se aproximou — iremos deixar o Syaoran resolver isso com o professor. A senhorita tem um treino pela frente.

— Certo — gaguejei com o toque da sua mão e me irritei comigo mesma por isso — o que iremos fazer?

— Primeiro, a senhorita irá se arrumar, já que está terrivelmente desalinhada — ele falou parecendo sorrir — venha comigo.

Fui arrastada por alguns corredores até um cômodo que eu não conhecia ainda.

— Senhora Ah-Kum — o Imperador a chamou — preciso das melhores senhoritas para ajudar Lady Ohime a se arrumar. Use a suíte ao lado da minha. A roupa já está lá.

— O quê? — perguntei atônita, mas ele apenas me ignorou.

— Senhor, se me permite — Ah-Kum falou parecendo dar uma bronca no filho — Mesmo que tenha recusado o noivado, An Shang segue no palácio. O que os conselheiros vão dizer se te virem publicamente com outra mulher?

— An Shang já deveria ter saído desse palácio há muito tempo — por algum motivo que eu desconhecia a luz do Imperador ficou terrivelmente hostil ao falar sobre a jovem e me peguei perguntando o que tinha de fato acontecido entre os dois para que ele deixasse sua raiva transparecer com tanta naturalidade — os conselheiros insistiram e por isso segue aqui, mas não me venha falar dela agora, não quero nem mesmo estar no mesmo ambiente que aquela mulher.

— Eu... — comecei a me sentir constrangida — eu não quero problemas. Talvez isso tenha sido uma má ideia.

Tentei sair, mas o Imperador não soltou o meu braço, tive a impressão de que inclusive o apertou com mais força para que eu não saísse dali, como se estivesse me pedindo de maneira interna e desesperada que não o deixasse naquele momento. Ele não estava conseguindo se controlar, sua luz estava agitada de uma maneira extremamente incomum.

— Apenas faça o que eu mandei, senhora Ah-Kum — ele retrucou com sua voz firme, ela faz uma pequena reverência e saiu para buscar as tais ajudantes, mas certamente não parecia feliz com aquilo. Suspirei enquanto o Imperador virava na minha direção. Sua fúria repentina me fez tremer, mas pouco a pouco ele pareceu retomar sua postura e seu corpo relaxou perto do meu, inclusive imaginei que ele até sorria — Não tente escapar, senhorita Ohime. Não estou fazendo isso para ir em um encontro com a senhorita e nem para cortejá-la. A senhorita irá fazer o que eu mandar durante o seu treino, lembra?

Senti o rosto esquentar com essa fala.

— Eu não disse que iríamos para um encontro e nem que o senhor quer me cortejar — falei baixo — só não quero problemas para o senhor. O senhor me pareceu terrivelmente afetado com o que aconteceu agora.

Ele suspirou e senti seu corpo tensionar novamente, mas foi algo passageiro.

— Então, está preocupada comigo? — ele segurou meu queixo fazendo nossos rostos quase se encostarem.

— Não — o empurrei com força incapaz de esconder a vergonha e para a minha sorte, Ah-Kum chegou com mais três serventes do palácio.

Elas me levaram praticamente arrastada para a suíte indicada pelo Imperador. Esquentaram meu banho, me tiraram a roupa, me fizeram entrar na banheira e senti diversos tipos de pétalas ali. Insisti para que elas me deixassem tomar banho sozinha e mesmo assim elas ficaram na porta, olhando para o outro lado. Saí, elas não deixaram nem que eu me secasse. Tentei controlar a ansiedade e raiva que sentia por perder a autonomia sobre o meu próprio corpo. Ficar ali com elas era terrivelmente sufocante e para tirar meu foco das pessoas que me arrumavam quase como se quisessem me matar, espiei o vestido que o rei deixou, era um hanfu vermelho, preto e dourado.

Quase sem tempo para seguir admirando aquela roupa, me vestiram, fizeram a minha maquiagem e me pediram para abrir os olhos. Eu tremi, pensei em recusar, mas simplesmente obedeci. Me colocaram grandes brincos dourados e huzhi nos dedos. Fizeram um penteado típico do local e colocaram alguns adornos também dourados, que se destacavam no meu cabelo preto. Não me deixaram colocar a faixa, disseram que iria borrar a maquiagem, então optei apenas por manter os olhos fechados.

Quando terminaram, me levaram pela mão até a porta da suíte e um cavalheiro foi me acompanhar até a carruagem, onde o Imperador já me esperava. Eu não estava entendendo nada, mesmo assim, segui a corrente. Promessa era promessa.

Entrei na carruagem e me sentei ainda de olhos fechados. Evitei propositalmente me virar para o Imperador.

— A senhorita está muito bonita — ele falou e eu senti o coração acelerar. Ele estava me vendo?

— Obrigada — respondi tentando não demonstrar o nervosismo na minha voz.

— A partir de agora, a senhorita irá abrir os olhos e mantê-los abertos. Pense da seguinte maneira, quando fechamos os olhos com a venda, é como se colocássemos um pano na frente de um espelho, então, ele não pode refletir nada — ele explicava e eu sentia como meu corpo começava a tremer apenas por imaginar passar por isso — Hoje, você irá fazer diferente. Com os olhos abertos, você irá refletir todos os outros. Imagine a seguinte situação, a senhorita precisa se arrumar, vai para a frente de um espelho e se olha, nesse caso, o espelho segue refletindo todas as coisas ao seu redor, mas você não as nota, porque o seu foco está na sua imagem e não nos objetos ao seu redor, mas se algo te ameaça, você consegue reagir, pois a sua visão e seu cérebro são rápidos o suficiente para notar quando algo muda no seu entorno. É basicamente isso que a senhorita irá fazer. Irá isolar o sentimento que não for seu, mas sem deixar de prestar atenção nas coisas a sua volta.

Parecia mais fácil falar do que fazer, mas se isso iria me ajudar a me deixar controlada como ele, eu precisava tentar. Abri os olhos de maneira relutante, mas não olhei para ele.

— Tome cuidado para não suar muito, ou irá borrar a maquiagem. Nem preciso te olhar para notar o seu nervosismo — ele deu de ombros e não me forçou olhá-lo, ato que me fez agradecer internamente diversas vezes.

Tentei manter os olhos abertos, mas minha visão ficava voltada apenas para o chão e para as minhas mãos. Manter os olhos abertos era difícil, a vontade de fechá-los era tentadora, mas não podia me dar por vencida tão rápido.

— Para onde estamos indo? — consegui perguntar quando tive certeza de que a minha voz não iria entregar minha ansiedade.

— Para o teatro — ele respondeu tranquilamente e senti meu mundo cair. Eu nunca fui em um teatro antes, não sabia o que esperar, mas sabia que seria doloroso.

A cortina da janela ao meu lado estava fechada, mas começava a notar luzes fortes através dela.

— Com medo? — ele me perguntou e por um momento eu pensei em mentir, mas descartei essa ideia. O terror no meu semblante devia estar visível de maneira gritante, além do mais, bastaria ele me ver para saber a verdade.

— Sim.

— Mantenha os olhos abertos. Haverá muita gente para me ver passar — ele avisou e eu mordi o lábio tentando me controlar.

Ele saiu da carruagem e deu a volta até onde eu estava, seu lacaio abriu a carruagem, mas quem me oferece a mão foi o próprio Imperador. Respirei fundo, aceitei sua mão e desci.

A vertigem de tantos sentimentos juntos chegou instantaneamente e eu precisei parar um minuto para respirar melhor. Fiz o possível para não dobrar o corpo, e para tentar controlar o tremor que tomou conta de mim, tentei puxar algum assunto.

— O senhor vem sempre ao teatro? — qualquer assunto era melhor do que seguir sentindo aquela confusão de sentimentos dentro de mim. Euforia, alegria, admiração, uma certa paixão que eu supunha que fosse de alguma jovem pelo Imperador, sentia ansiedade, raiva, tristeza, fome, talvez de alguém que estivesse passando por ali. Como eu iria descobrir o que era meu e o que era de outras pessoas? A dificuldade era grande. Olhei ao redor na tentativa de fugir dessa dor estranha. O teatro era grande, majestoso e muito bem iluminado. Eu nunca tinha estado tão perto de um antes e isso fez meu coração acelerar com uma euforia nova para mim. O primeiro sentimento que era realmente meu. Tentei me aferrar a ele com todas as forças e enquanto fazia isso tentava prestar atenção na resposta do Imperador.

— Às vezes — ele respondeu após ficar um tempo me observando — venho para manter meu círculo social ou me encontrar com alguns outros nobres. Não estou particularmente interessado em todas as peças, mas também posso desfrutar de uma ou duas horas de tranquilidade.

— Tranquilidade, hein? — eu ri e me senti incapaz de seguir com aqueles sentimentos acumulados dentro de mim. Senti as pernas fraquejarem e para que eu não caísse, ele passou seu braço pela minha cintura, me sustentando. Ato que foi seguido de diversas exclamações surpresas.

A tontura ficou mais intensa, a fraqueza também. A minha visão embaçou um pouco e via manchas negras na minha visão periférica.

— Só mais alguns passos, senhorita Ohime — ele falou olhando para a frente sem tirar seu sorriso encantador do rosto.

— O Imperador está sem a faixa — alguém murmurou perto de nós — ele nunca está sem a faixa, a não ser em ocasiões muito especiais.

— Será por conta dela? — outra pessoa murmurou.

— Essa é a nova amante do rei? — escutei alguém de longe perguntar — ela não parece estar bem.

— Ela é linda — escutei outra voz feminina — mas parece debilitada. O que o Imperador viu nela? Ele sem dúvidas é muito mais bonito.

— Então era ela a possível noiva misteriosa? — alguém mais apareceu na conversa.

— E eu soube que ela é uma princesa de um reino distante, uma de um dos poucos reinos que ainda não pertencem ao Imperador — dessa vez foi a voz de um homem que chegou até mim — dizem que se ele não se casar com ela, teremos uma guerra contra um país de um poderio militar muito maior que o nosso.

— Impossível — a segunda moça voltou a dizer — nosso Imperador é perfeito, ele jamais deixaria isso acontecer. Além do mais, quase todo o mundo pertence a ele, como poderia existir tal país? Ah, o que eu não daria para passar uma noite apenas na sua cama...

— Não diga besteiras — o homem a repreendeu — a cama do Imperador não está feita para camponeses como nós. Isso seria um pecado gravíssimo.

— Tenho a sensação de que sua resposta apenas oculta o quanto o senhor ama tudo isso, Majestade — ri tentando manter o corpo reto, sentia como ele seguia me apoiando e fiz de tudo para não fechar os olhos apesar de toda a sensação sufocante que eu sentia — acredito que é apenas para poder escutar o quanto as mulheres estão caidinhas pelo Imperador perfeito.

— Quem sabe — ele respondeu — talvez eu só tenha vindo aqui para te exibir para os meus súditos e para que elas deixem de falar sobre a minha cama — senti o rosto esquentar pela vergonha, mais um sentimento que era meu — Então, e a senhorita? Não gosta de teatro?

— Eu não sei na verdade — respondi sinceramente — é a primeira vez que venho a um. Tenho que admitir que as luzes das lanternas contrastam bem com a noite, o cenário é deslumbrante.

Se eu fosse sincera com ele, apenas diria que nunca vi espetáculo nenhum. Teatros, shows, circo, apresentações em geral que exigisse a minha visão, mas guardei essa informação para mim. Sempre me senti incapaz de controlar o que eu sentia, e ver essas coisas apenas seria um suplício para uma vida atribulada de fugitiva.

— Então você ficaria menos animada com o cenário se fosse qualquer outra hora do dia?

— Não sei também para ser sincera — respondi enquanto sentia o caminho até a entrada do teatro interminável — essa é uma experiência que eu nunca tive.

Ele me apertou um pouco mais contra o seu corpo e não sabia se ele estava fazendo aquilo para me provocar ou apenas para se assegurar de que eu não iria cair.

— Devo dizer, porém, que gosto muito de sair à noite na cidade — ele aproximou sua boca ao meu ouvido para que eu o escutasse melhor — A capital fica quieta quando o sol se põe... Isso me permite ficar a sós com os meus pensamentos.

Essa última frase ele falou se afastando e de maneira baixa, como se fosse apenas para os seus ouvidos. Me perguntei se ele lutava contra os próprios pensamentos assim como eu. Todas as vezes que o vi, ele estava com aquele sorriso inescrutável no rosto e mesmo quando via apenas a sua luz, era impossível fazer uma leitura clara dela. Me perguntei com que intensidade os problemas o afetavam. Estava curiosa para saber mais, mas seria grosseria perguntar, então deixei para lá e virei meus olhos para os lampiões de gás acima de nós, sentindo um breve alívio ao notar todos os sentimentos confusos começando a deixar meu corpo quando fechei meus olhos.

— Gosto das noites nas cidades que eu vou — falei sem notar que eu não abri novamente os olhos — as luzes dos postes deixam tudo tão lindo.

— Esses fogos queimando na noite negra me lembram um fogo-fátuo, você não concorda? — ele se virou para mim — olhe para eles, Ohime. Aproveite a visão.

Ele parou na minha frente, sem se importar com o que todos estava falando ao redor e eu abri novamente os olhos para olhá-lo. Quando o vi, todas as estranhas sensações de sentimentos misturados voltaram com força, mas tentei me centrar na imagem do Imperador a minha frente, vendo como ele era iluminado com o fogo a gás forte atrás dele. Os sentimentos dele não eram fáceis de lidar quando eu o espelhava, e assim como tinha que ser, eu o espelhava e ele me espelhava de volta, intensificando ainda mais nossos sentimentos, mesmo assim, eu soube que ele se manteve tranquilo apenas para me ajudar, ele tinha tudo controlado, como se soubesse que eu precisaria daquilo para continuar.

— É algo bastante bonito, não é? — ele perguntou enquanto um sorriso encantador surgia em seus lábios.

Talvez fosse por causa da roupa incomum e cara que ele estava vestindo, talvez fosse o sorriso brilhante e os olhos escuros que me refletiam, mas quase parecia que o Imperador era de outro mundo. Como se ele fosse feito da mais pura magia. Essa beleza incomum era um lembrete de que embora ele fosse humano na aparência e na origem, ele não era humano de forma alguma, ele era um hansha assim como eu e sua beleza incomum só servia para instigar e fazer vítimas, beleza comum em qualquer demônio.

Meu coração bateu como louco dentro do peito e novamente tentei me agarrar a única sensação que eu sabia que era minha.

— Majestade, por aqui — um rapaz novo o chamou indicando o caminho que devíamos seguir.

— Ah, acho que essa é a nossa deixa. O show vai começar.

A multidão que já estava no salão principal, abriu caminho para que o Imperador passasse. Ele seguiu com sua pose firme e perfeita. Ele nunca se pareceu tanto a um rei aos meus olhos como naquele momento. Sua figura majestosa era de fazer qualquer um perder o fôlego.

— Eu sei que sou uma figura impressionante — ele falou sorrindo, mas não se virou para mim — mas a senhorita irá ficar olhando para mim a noite inteira? Temos uma apresentação para assistir e se a senhorita seguir me olhando dessa maneira, temo que não haverá um teatro para você.

Ele se virou para me falar essa última parte com o seu sorriso maroto brincando em seu rosto e eu me virei pela vergonha. Assim que girei a cabeça tentando evitar o constrangimento, eu me esqueci por segundos a prudência de tentar me focar em apenas um sentimento e o reflexo de todos os presentes me pegaram de maneira brutal me fazendo perder o ar. Eu não queria fechar os olhos, queria mostrar que eu podia fazer aquilo, mas o ar simplesmente não entrava nos meus pulmões e antes que eu pudesse sequer pensar em fechar os olhos novamente, meu corpo amoleceu e tudo ficou distante.

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Observações:

Perdulário: aquele que gasta excessivamente; esbanjador.

Huzhi: Durante a dinastia Qing, as unhas longas se tornaram um símbolo de status e nobreza. Para preservá-las, usavam acessórios especiais chamados huzhi, que significa "proteção dos dedos". Geralmente eram feitos de metais e enfeitados com pedras preciosas.

Fogo-fátuo é um fenômeno que ocorre sobre a superfície de lagos, pântanos ou em cemitérios. Quando um corpo orgânico entra em decomposição, ocorre uma liberação de gás metano. Existem diversas lendas criadas a partir desse fenômeno, uma das mais conhecidas aqui no Brasil é a do Boitatá.

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